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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Cuba: da vanguarda na AL, e no mundo, para o atraso absoluto sob a ditadura castrista - Marcelo Aleixo e Gustavo Bezerra

 Reproduzo as glosas feitas sobre Cuba por Marcelo Aleixo, que agradeceu a deferência. Ele as fez com base apenas em dados factuais. Cuba tinha desigualdade de renda? Teve ditadura? Sim, como muitos outros paises na América Latina, mas estava muito à frente dis demais pauses, e não apenas devido à “dominação imperialista” americana. Muito tinha sido feito pelos próprios cubanos. O socialismo simplesmente estrangulou o desenvolvimento cubano e levou a ilha para o mais abjeto subdesenvolvimento. 

Agreguei igualmente as observações de Gustavo Bezerra, pois elas são absolutamente relevantes sobre a realidade cubana antes que o castrismo destruísse o país. PRA


GLOSAS POR MARCELO ALEIXO:

Eu citei alguns dados de Cuba antes de 1959, e de fato era um país mais industrializado do que hoje. Busquei mais informações sobre a história econômica cubana em um texto do Dr Mario Guerreiro, professor da UFRJ, para ilustrar melhor o que era Cuba antes da revolução: foi a primeira nação da América Latina (AL) que utilizou máquinas e barcos à vapor, isso em 1829, foi a terceira a ter uma ferrovia, em 1937, a primeira a usar éter medicinal em 1847. A primeira demonstração mundial de uma indústria elétrica foi em Hanana no ano de 1877, mesma cidade onde em 1900 viu o primeiro bonde elétrico e rodou o primeiro automóvel da AL. Em 1881 um cubano foi o primeiro médico do mundo a descobrir o tratamento para febre amarela, e em 1889 Cuba instalou o primeiro sistema elétrico de iluminação pública de toda AL. Havana também foi onde teve a primeirta ligação telefônica direta, sem a necessidade do apoio de uma telefonista central, isso em 1906. Um ano depois esta cidade teve o primeiro aparelho de raio-x da AL. O primeiro voo da AL foi em 19/05/1913, realizado pelos cubanos Agustin Parla e Rosillo Domingo, entre Cuba e Key West. Em 1954, Cuba tinha uma cabeça de gado por pessoa. O país ocupava a terceira posição na AL no consumo de carne per capita, perdendo apenas para Uruguai e Argentina. O Hotel Riviera em Havana foi o primeiro do mundo a ter ar-condicionado, em 1951. O Focsa em Havana foi o primeiro prédio do mundo construído em concreto armado, em 1952. Em 1958, Cuba foi o país da AL com maior número de automóveis: 160.000, ou 1 para cada 38 habitantes, e o que tinha mais eletrodomésticos. O país com o maior número de km de ferrovias por sua área territorial e o segundo no número total de aparelhos de rádio. Em 1958, apesar da sua pequena extensão e com apenas 6,5 milhões de habitantes, Cuba era a 29ª economia do mundo. A produtividade da cana de açúcar era de 55 ton/ha, mais do que o dobro da produtividade no Brasil, que era de 22 ton/ha. A produtividade no Brasil atualmente é cerca de 70 ton/ha, mais do que o dobro da produtividade de Cuba, ceca de 30 ton/ha. Em 1959 a renda per capita em Cuba era a segunda maior da AL, hoje é a segunda menor.

A ilha mostrava evolução no pensamento, na cultura e na liberdade das pessoas em relação aos outros países. Cuba foi uma das primeiras nações a se preocupar com o trato de animais, abolindo as touradas ainda no século XVIII. O primeiro país da AL a conceder o divórcio a casais em conflito, em 1918. O primeiro da AL a ganhar um campeonato mundial de xadrez foi o cubano José Raúl Capablanca, o primeiro campeão mundial de xadrez nascido em um país subdesenvolvido, sendo que ele venceu todos os campeonatos mundiais de 1921-1927. Cuba foi o segundo país no mundo a abrir uma estação de rádio e o primeiro país do mundo a transmitir um concerto de música e apresentar uma notícia pelo rádio, em 1922. Esther Perea de la Torre foi a primeira locutora de rádio do mundo, uma cubana. Em 1928 havia 61 estações de rádio em Cuba, ocupando o quarto lugar no mundo, perdendo apenas para os EUA, Canadá e União Soviética. Cuba foi o primeiro no mundo em número de estações por população e área territorial. Cuba decretou, pela primeira vez na AL, a jornada de trabalho de 8 horas, o salário mínimo e a autonomia universitária, isso em 1937. Em 1940 foi o primeiro país da AL a ter um presidente de pele negra, eleito por sufrágio universal, por maioria absoluta, isso quando a maioria da população era branca, e 68 anos antes disso ocorrer nos EUA. Em 1940 Cuba adotou a mais avançada Constituição de todas as Constituições do mundo. Foi o primeiro país da AL a conceder o direito de voto às mulheres, igualdade de direitos entre os sexos e etnias, bem como o direito das mulheres trabalharem, e foi onde surgiu o primeiro movimento feminista da AL, 36 anos antes da Espanha, esta que só concedeu às mulheres espanholas o direito de voto, a posse de seus filhos, e o poder tirar passaporte e ter o direito de abrir uma conta bancária sem autorização do marido, em 1976. Ernesto Lecuona foi um cubano que se tornou o primeiro diretor musical latino-americano de uma produção cinematográfica mundial e também o primeiro a receber indicação para o Oscar norte-americano, isso em 1942. Cuba foi o segundo país do mundo a emitir uma transmissão pela TV, em 1950. Era comum estrelas de TV de toda a América irem para havana, onde havia mais chances que em seus países para atuarem em canais de televisão. Em 1958, Cuba foi o segundo país do mundo a emitir uma transmissão de TV a cores. Em 1959, Havana era a cidade do mundo com o maior número de salas de cinema: 358, mais que Nova York e que Paris, segundo e terceiro neste ranking, respectivamente.

Em 1955 Cuba foi o segundo país na AL com a menor taxa de mortalidade infantil: 33,4 por mil nascimentos. Em 1956 a ONU reconheceu Cuba como o segundo país na AL com as menores taxas de analfabetismo, apenas 23,6%. As taxas do Haiti eram de 90%; e Espanha, El Salvador, Bolívia, Venezuela, Brasil, Peru, Guatemala e República Dominicana, 50%. Em 1957 a ONU reconheceu Cuba como o melhor país da AL em número de médicos per capita, 1 para 957 habitantes, com o maior percentual de casas com energia elétrica, depois do Uruguai; e com o maior número de calorias 2870 ingeridas per capita.

Mas, Cuba não apresentava só números e informações positivas, e tinha seus problemas como todos os países do mundo. Lá havia muita pobreza, que era dominante na área agrícola de produção do seu famoso tabaco e da cana-de-açucar. O que seria de Cuba hoje sem a revolução nós não sabemos, mas os números mostram que houve grande piora nas condições socioeconômicas da ilha.


REGISTRO DE GUSTAVO BEZERRA: 

Outros fatos geralmente esquecidos pelos adoradores da ditadura cubana: em 1958, Cuba tinha um nível de desenvolvimento comparável ao da Espanha, sua antiga metrópole, e quase igual ao da Itália. A ilha importava migrantes da Europa, ao invés de exportar refugiados, como é hoje. Em nível de desenvolvimento econômico e social, estava atrás apenas, na AL, de Uruguai e Venezuela (outro país que foi destruído pelo delírio socialista) e na frente de Coreia do Sul e Cingapura, países em que poderia ter se transformado, se não fosse o totalitarismo castrista. É importante frisar também que Cuba, de 1940 a 1952, foi uma democracia, assim como a ex-Tchecoslováquia antes do comunismo. Inclusive, o 1o governo de Fulgêncio Batista promulgou uma Constituição democrática (a de 1940) e tinha 2 ministros comunistas (antes de os comunistas se bandearem para o lado da ditadura dos Castro). Castro, aliás, enganou a todos, inclusive os EUA, que acreditaram no começo, ingenuamente, que ele era um líder democrata e até mesmo anticomunista. Tudo isso foi convenientemente "apagado" da história oficial do país pelo regime totalitário e seus propagandistas.

quinta-feira, 21 de março de 2024

O comunismo no Brasil: livros de Hugo Studart e de Gustavo Bezerra - colaborações de Paulo Roberto de Almeida

O comunismo no Brasil: 

livros de Hugo Studart e de Gustavo Bezerra

Colaborações de Paulo Roberto de Almeida

 Um gentil leitor disse-me ontem que havia penado para achar uma apresentação em vídeo, no YouTube, a respeito de dois livros com os quais colaborei, respectivamente: 

3255. “Uma tragédia brasileira: a loucura insurrecional do PCdoB”, Brasília, 24 março 2018, 6 p. Texto de caráter ensaístico-histórico, oferecido como comentários sobre uma aventura irresponsável, a guerrilha do Araguaia, em conexão e em colaboração a livro de Hugo Studart, sobre o tema. Feita versão resumida para publicação como posfácio, sob o título de “Uma tragédia brasileira: a loucura amazônica do PCdoB”, 5 p.;  Revisão em 12/05/2018, nos dois últimos parágrafos. Publicado no livro de Hugo Studart: Borboletas e Lobisomens: vidas, sonhos e mortes dos guerrilheiros do Araguaia (Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 2018, 660 p.; ISBN: 978-85-265-0490-5; p. 503-507). Versão original publicada no blog Diplomatizzando (9/07/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/07/golpes-revolucoes-e-movimentos-armados.html). Relação de Publicados n. 1285.


3441. “O passado de uma ilusão que ainda não passou: o comunismo no Brasil”, Brasília, 26 março 2019, 5 p. Prefácio a livro de Gustavo Marques: O livro negro do comunismo no Brasil: mitos e falácias da esquerda brasileira (Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2019). Publicado in: Bezerra, Gustavo Henrique Marques, O livro negro do comunismo no Brasil: mitos e falácias sobre a história da esquerda brasileira (Rio de Janeiro: Jaguatirica, 2019, 872 p.; ISBN: 978-85-5662-205-1; p. 15-20). Relação de Publicados n. 1334.


Coloquei a íntegra dos materiais na plataforma Academia.edu: 

https://www.academia.edu/116493042/4612_O_comunismo_no_Brasil_livros_de_Hugo_Studart_e_de_Gustavo_Bezerra_Colabora%C3%A7%C3%B5es_de_Paulo_Roberto_de_Almeida


O que encontrei na Internet como vídeo no YouTube: 


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO DF-IHGDF Debate sobre a Trajetória do Comunismo no Brasil: 

https://www.youtube.com/watch?v=LueQRy9yzxI


A apresentação que preparei para o vídeo está aqui: 


3545. “O movimento comunista internacional e seu impacto no Brasil”, Brasília, 7 dezembro 2019, 24 slides. Apresentação no IHG-DF, em companhia de Hugo Studart (autor de livros sobre a guerrilha do Araguaia) e de Gustavo Bezerra (autor: O Livro Negro do Comunismo no Brasil), para apresentação de meu próprio livro: Marxismo e socialismo no Brasil e no mundo: trajetória de duas parábolas da era contemporânea (Brasília: Edição de autor, 2019, 304 p.), no dia 11/12/2019. Disponibilizado na plataforma Research Gate (8/12/2019; link: https://www.researchgate.net/publication/337824903_O_Movimento_comunista_internacional_e_seu_impacto_no_Brasil;DOI: 10.13140/RG.2.2.15046.63047) e na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/41219238/O_Movimento_comunista_internacional_e_seu_impacto_no_Brasil_2019_).


Uma resenha saiu desta forma: 


3717. “A guerrilha do Araguaia por um experiente jornalista”, Brasília, 13 julho 2020, 3 p. Resenha do livro de Hugo Studart, Borboletas e Lobisomens: vidas, sonhos e mortes dos guerrilheiros do Araguaia (Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 2018, 660 p.; ISBN: 978-85-265-0490-5), adaptada do trabalho n. 3255, que serviu, no formato abreviado, como posfácio ao livro em questão. Publicado na Revista do IHG-DF (n. 10, 2020, ISSN: 2525-6653; p. 2459-262; link: http://www.ihgdf.com.br/wp-content/uploads/2021/01/revista_IHGB_10_completo.pdf). Relação de Publicados n. 1380. 


Coloquei a íntegra dos materiais na plataforma Academia.edu: 

https://www.academia.edu/116493042/4612_O_comunismo_no_Brasil_livros_de_Hugo_Studart_e_de_Gustavo_Bezerra_Colabora%C3%A7%C3%B5es_de_Paulo_Roberto_de_Almeida


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Alocução no IHG-DF por ocasião da recepção de dois novos membros - Paulo Roberto de Almeida

 Alocução no IHG-DF por ocasião da recepção de dois novos membros: Rogerio Farias e Gustavo Bezerra 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor; diretor de publicações do IHG-DF 

 

Caros colegas, confrades, amigos e familiares,

Estamos reunidos novamente, alguns de nós pela via virtual, para mais uma edição de um ritual que repetimos a algumas décadas, no nosso caso desde 1964, ou seja, há 57 anos. No caso da nossa instituição-mãe, o IHGB, ela está ativa desde 1838, há 183 anos portanto, sendo que sua revista é publicada desde 1839. Ambas as instituições se fundam nos mesmos princípios e valores e cada uma, ademais de congêneres nos estados, se empenham em uma nobre missão: efetuar a síntese histórica e geográfica sobre os mais importantes eventos, processos e fatos objetivos que, direta ou indiretamente, exerceram impacto sobre a vida da nação e sobre os itinerários de seus entes constitutivos. 

Desde que aqui ingressei, em meados de 2019, tendo como patrono o grande intelectual das letras jurídicas Tobias Barreto, tenho procurado convidar novos valores para o nosso convívio. Tenho feito isso de forma consciente e certo de que devemos buscar sempre insuflar nosso trabalho com a ajuda das novas gerações, que ou trazem novas pesquisas sobre assuntos ainda não, ou insuficientemente trabalhados, ou trazem novos olhares sobre velhos assuntos, que são os já conhecidos da história do Brasil ou da história e da geografia de Brasília, que já se tornou uma senhora sexagenária, mas ainda na sua adolescência como cidade. Este é o caso dos dois novos colegas que assumem hoje suas cadeiras: Rogério de Souza Farias e Gustavo Henrique Marques Bezerra.

Rogério eu conheço desde os bancos escolares, se ouso dizer, na verdade seu mestrado em História das Relações Internacionais, em 2007, sobre as negociações e os negociadores do Brasil no âmbito do Gatt, o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, de 1947. Ao mestrado, seguiu-se um doutoramento ainda mais ambicioso, na mesma área, em 2012, ampliando seu olhar sobre como o Brasil se inseriu no sistema multilateral de comércio, o que lhe permitiu traçar uma cobertura completa sobre “A Palavra do Brasil” nesse sistema, que foi justamente o título da grande obra de referência documental que ele produziu e que foi acolhida na coleção de livros da Fundação Alexandre de Gusmão, e como tal disponibilizado em sua biblioteca online. Ele continuou pesquisando e produzindo inúmeros artigos e livros de forma incessante, como a biografia do grande negociador brasileiro no campo do comércio internacional, Edmundo Barbosa da Silva, no âmbito dos “secos e molhados”, que é como o Itamaraty de antigamente se referia à diplomacia econômica. Tivemos a oportunidade de trabalhar juntos nos escritos de relações internacionais e de política externa do grande chanceler Oswaldo Aranha, e mais recentemente ele editou as memórias de outro grande diplomata, Maurício Nabuco, filho do primeiro embaixador do Brasil durante a gestão Rio Branco à frente do Itamaraty. Ele agora está partindo para Lisboa, para acompanhar sua esposa, diplomata, assim como já havia feito anteriormente em Chicago, quando aproveitou para fazer um pós-doutorado na Universidade de Chicago. Tenho certeza de que em Portugal ele vai não só continuar seu trabalho de pesquisa em fontes primárias, assim como vai aprofundar relações institucionais e pessoais junto a colegas de estudos na área da historiografia.

Quanto a Gustavo Bezerra, antes de conhecê-lo pessoalmente, eu já tinha tomado conhecimento de dois trabalhos que ele produziu como resultado de sua passagem pelo Mestrado em Diplomacia do Instituto Rio Branco, publicados pela Funag: “Brasil-Cuba: relações político-diplomáticas no contexto da Guerra Fria (1959-1986)”, de 2010, e “Da revolução ao reatamento: a política externa brasileira e a questão cubana (1959-1986)”, de 2012. Mais recentemente ele conduziu uma pesquisa que deu origem a uma obra que pode ser considerada ciclópica, “O Livro Negro do Comunismo no Brasil: mitos e falácias sobre a história da esquerda brasileira”, publicado em 2019, e que já tivemos a oportunidade de apresentar aqui, numa das últimas sessões presenciais mantidas antes da pandemia, na companhia de nosso colega Hugo Studart, que também fez pesquisas sobre o comunismo brasileiro no período do regime militar, tendo produzido duas obras de referência nesse terreno, a última resultado de sua tese de doutoramento em História na UnB. Eu disse ciclópica em relação ao livro mais recente de Gustavo, pois que essa obra, retirando inspiração de obra quase homônima publicada na França, mais de duas décadas atrás, mas cobrindo quase todo o mundo (menos o Brasil), tinha sido composta por uma equipe inteira de pesquisadores e historiadores experientes. No caso do Gustavo, ele pesquisou e trabalhou solitariamente, conduzindo uma obra realmente magnifica de exploração de terrenos pouco devassados até aqui, a despeito de já existir muitos livros publicados sobre a trajetória do movimento comunista no Brasil. 

Estou absolutamente seguro de que ambos continuarão a produzir obras de referência nos próximos anos, engrandecendo o prestígio do IHG-DF, assim como a própria distinção pessoal de cada um deles no terreno que é geneticamente o nosso. Sobre seus patronos, não me estenderei sobre eles, pois que cabe a cada um buscar o que melhor caracteriza as figuras cujos nomes enfeitam suas respectivas cadeiras. Afonso Arinos de Melo Franco, grande prócer da política mineira, batalhador das lutas democráticas desde o Estado Novo, autor da primeira lei antirracista no Brasil, chanceler do Brasil na fase parlamentar, coordenador, como o pai em 1934, de uma comissão de estudos constitucionais que antecedeu nossa atual Carta Magna, em 1987, e apoiador da adoção do regime parlamentarista no país. Já Câmara Cascudo, do mesmo estado no nosso potiguar Gustavo Bezerra, nascido na mesma capital dos potiguares 76 anos antes, foi simplesmente o maior folclorista do Brasil, mas não apenas isso, pois foi historiador, como é o Gustavo, e, além disso, sociólogo, como eu sou, e, também, musicólogo, antropólogo, etnógrafo, poeta, cronista, professor, advogado e jornalista. Um homem, portanto, de dez instrumentos, cujas obras são incontornáveis, sobretudo no campo das tradições populares brasileiras.

Meus cumprimentos aos nossos dois novos membros, e meus votos de continuado trabalho em suas áreas de especialização respectivas, que correspondem às suas vantagens comparativas ricardianas, que também vão se incorporar ao rico patrimônio do IHG-DF.

Muito obrigado.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 8 setembro 2021, 3 p.


sexta-feira, 19 de março de 2021

O porão no poder - Gustavo Bezerra

 O PORÃO NO PODER

Gustavo Bezerra, 01/03/2021

Em 5 de outubro de 1988, o deputado Ulysses Guimarães, segurando um exemplar da recém-aprovada Constituição Federal, proclamou, em um famoso discurso perante seus pares na Câmara dos Deputados: "Temos ódio e nojo da ditadura. A sociedade é Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram".
Ulysses estava se referindo ao ex-deputado Rubens Beirodt Paiva, torturado até a morte em 1971 pelos esbirros da repressão a serviço da ditadura militar. O corpo dele jamais foi encontrado. Os carrascos do DOI-CODI que o assassinaram trataram de destruir a prova do crime, transformando-o num "desaparecido politico".
A data do discurso de Ulysses marcou o fim, de direito, do regime militar iniciado em 1964. Desde então, oficialmente, o Brasil é uma democracia, com uma Constituição democrática.
Trinta anos depois, esse regime, a Democracia, que está longe de ser um fato da natureza, está enfrentando sua maior ameaça. E vinda de quem exerce os mais altos cargos do país. Os facínoras de que falou Ulysses chegaram ao governo. O porão está no poder.
Muito se discute sobre a relação do atual PR com os militares. Boçalnato, como se sabe, não esconde sua devoção ao regime de 64, à mesma ditadura odiosa e nojenta repudiada por Ulysses em seu discurso histórico. Isso já seria o suficiente para desqualifica-lo como o contrário de um democrata. Mas acontece que a ameaça bolsonarista ao regime democrático é ainda mais perniciosa, pois está baseada naquilo que o regime dos generais tinha de pior, de mais repulsivo e execrável: não é exatamente os supostos dotes de estadista dos generais-presidentes, mas o que acontecia nos porões da repressão política - no DOPS, na OBAN, no DOI-CODI, no esquadrão da morte -, o que ele louva e reivindica. É a tortura. É o.assassinato de presos políticos. É Ustra. É o delegado Fleury. É o Riocentro. 
São esses personagens - a escória moral da ditadura, aliás da humanidade .-, mais do que Médici ou Costa e Silva, os heróis e ídolos do atual PR. A "tigrada,", como os definiu o ex-ministro (de Costa e Silva, Médici e Figueiredo) Delfim Netto. O, digamos assim, baixo clero da ditadura. Os agentes da repressão. Aqueles que faziam o serviço sujo. Os que acionavam a máquina de choques elétricos. Que quebravam ossos. Que dependuravam no pau de arara. Que torturavam até a morte. E que, depois que matavam, sumiam com os corpos. Gente que atacava teatro, e que jogava bomba em banca de revista. Em nome do regime do AI-5, tão defendido por Boçalnato e seus filhos.
Não é somente Boçalnato e sua prole, claro. Os militares que o sustentam também pensam da mesma forma. Basta lembrar do episódio do deputado bolsonarista que tomou uma merecida cana do STF por ter pregado contra a Democracia. O deputado em si é irrelevante, ele não é ninguém (um parlamentar invocando a imunidade parlamentar e a liberdade de expressão para defender o AI-5, que acabou com a imunidade parlamentar e a liberdade de expressão, é roteiro de comédia besteirol); o fato é grave porque o que o motivou foi a reação de um ministro do STF a um tuite do ex-comandante das Forças Armadas, o general Villas-Boas, claramente ameaçando o STF caso o resultado de um julgamento não fosse o esperado por Villas-Boas. Um claro flerte com o autoritarismo. Outro general das hostes governistas, Augusto Heleno, chefe do GSI, já foi flagrado praguejando em público contra o Congresso. Augusto Heleno, aliás, que foi assessor do chefe da linha-dura militar, o então ministro do Exercito, general Sylvio Frota, quando de sua demissão por Ernesto Geisel em 1977, por se opor ao processo de abertura política iniciada por Geisel (mesmo Geisel que chamou Boçalnato, então deputado, de "mau militar"). E há o vice Mourão, que muitos consideram "moderado" (até Atila, o Huno, parece "moderado" perto de Boçalnato), o qual vira e mexe solta um elogio a Ustra, um "bom instrutor". Ustra, o torturador que o atual PR considera um herói. Liguem os pontos. 
É esse setor - militares saudosos da repressão -, o principal esteio do desgoverno Boçalnato. É o ódio à Democracia, juntamente com o lavajatismo (a corrupção da Lava-Jato), o liberalismo de fachada (encarnado pelo vendedor de redes Paulo Guedes), a truculência parapolicial e miliciana e o moralismo de galinheiro (a "guerra cultural" dos fanáticos religiosos, gurus de internet e evangélicos dinheiristas), o que move os que fizeram campanha para essa figura grotesca e caricatural, elevando-o desgraçadamente ao cargo máximo da nação. A internet, com sua vocação para a.boçalidade, fez o resto. Sem falar nos oportunistas de sempre. Houve quem acreditasse que seria um governo liberal, honesto, de perfil técnico, sem viés ideológico - e democrata (!). Pois é.
Villas-Boas, Heleno, Mourão e mesmo Boçalnato (este mais pela idade, e não por falta de vontade) não foram torturadores, mas se identificam com quem o foi. E, no caso do PR, têm neles um modelo e uma inspiração. Só isso já bastaria para considerá-lo um inimigo da Democracia e da Civilização. Mas tem mais. 
Boçalnato se elegeu com um discurso - infelizmente, popular, ou melhor dizendo: populista -, anti-política, contra o "sistema". Que sistema? O da Constituição de 1988. O sistema democrático. Seu objetivo não é outro senão destruir a Democracia, e isso não é (ou não deveria ser) segredo pra ninguém. 
Como JB faz isso? Ele já deu algumas pistas. Um dos caminhos é se aproximando de setores subalternos dos militares, participando de eventos como formação de cadetes (sua principal agenda nos últimos meses, além de provocar aglomerações em meio à pandemia) e apoiando projetos que visam a aumentar o poder das PMs, de modo a retirá-las da alçada estadual para a federal. Outro sinal é a obsessão com a liberação de armas - algo que não tem absolutamente nada a ver com segurança pública ou liberdade individual, como creem alguns incautos, mas com o armamento de milícias pró-governo, à moda chavista (fato confessado pelo próprio PR, naquela famosa reunião ministerial no ano passado).
Boçalnato e sua corja conspiram contra a Constituição no que ela tem de melhor- os direitos e garantias individuais -, mas não no que ela tem de pior- o corporativismo, a defesa de privilegios, o excesso de intervencionismo estatal (a intervenção desastrosa na Petrobras é o último exemplo; há outros). Nisso, aliás, eles se aproximam dos petistas (o PT, é bom lembrar, se recusou a assinar a CF-88).
Enfim, é um projeto claramente autoritário, urdido por um ex-milico de passado terrorista, que sempre odiou a Democracia, embora deva tudo a ela. Um projeto autoritário e golpista. "Ah, mas e o Centrão?". O Centrão está com qualquer governo. E a aproximação só se deu pelo medo do impeachment, assim como a aproximação com o STF só se deu por causa do medo da condenação do filhote Zero Um no caso das rachadinhas. Alguém vê algo de republicano nisso? 
Há alguns anos, foi inaugurado um busto de Rubens Paiva num dos anexos da Câmara dos Deputados, em Brasília. Presente ao local, a família dele. No meio da cerimônia, um deputado apareceu causando tumulto. Inclusive, cuspiu no busto do homenageado. O nome do então deputado? Ele mesmo, o atual PR.
O atual governo brasileiro é um governo de facínoras. De inimigos da Democracia. De adoradores da morte. Merece, portanto, todo o asco e repulsa, como discursou o Dr. Ulysses.

domingo, 15 de novembro de 2020

Um depoimento extremamente tocante do meu colega e amigo Gustavo Bezerra sobre sua visita na fronteira da Covid

O motivo de meu sumiço:
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Acho que já é hora de explicar meu sumiço. Finalmente me sinto em condições pra isso. Como alguns já sabem, passei por um sufoco e tanto nos últimos meses. O maior que já passei em toda a minha vida. Espero nunca mais passar novamente por experiência semelhante, e que ninguém que leia estas linhas passe por isso também. Em meados de Junho, ao levar minha filha para tomar uma vacina, fui diagnosticado com Covid-19. Fui imediatamente internado, com uma forte pneumonia. O quadro logo se agravou, e tive de ser entubado, em coma induzido. Fiquei 58 dias na UTI, muitos deles sedado. Todo esse tempo passei sem nenhum contato com o mundo exterior, incomunicável, dopado, traqueostomizado, perfurado, examinado de todas as formas possíveis. Foram dias de angústia, dos quais felizmente (ou não) não me lembro de nada. Quando acordei, ainda na UTI, fui informado que cheguei bem perto de passar para o país dos pés juntos – até um padre foi chamado para me dar a extrema-unção. Meus pulmões ficaram bastante comprometidos, e só não pararam de funcionar porque fiquei atado a uma máquina chamada ECMO, que drenou, segundo me disseram, todo o meu sangue (era o último recurso pra evitar que eu virasse estatística). Fiquei mais umas semanas no hospital, e desde então estou em casa, em regime de “home care". Fiquei com algumas sequelas – perdi mais de 20 kg, minha capacidade pulmonar ficou diminuída, fiquei com uma lesão no quadril por causa da posição deitada, e a perna esquerda, devido a uma compressão no nervo e à perda de massa muscular, ficou com os movimentos prejudicados, de modo que estou andando igual ao Mazzaropi, agora com a ajuda de uma elegante bengala... Agora estou melhor, me recuperando pouco a pouco. Vai demorar ainda alguns meses para eu retomar ao que eu era antes, e meus dias têm se resumido a idas ao médico, exames clínicos (ressonância magnética, ecografia etc.) e sessões de fisioterapia. Enfim, o susto foi realmente grande, e gostaria de agradecer a todos que rezaram/oraram/ torceram por mim. Agradeço de coração por todas as mensagens, votos, rezas, orações, correntes, virgens marias, santinhos (até um preto velho) que me mandaram, pedindo minha recuperação. Glória a Deus. Aleluia. Epa, rei. Alahu akbar. Não vou dizer que foi um milagre (foi a medicina), nem repetir clichês do tipo “nasci de novo" etc. (sai do hospital não muito bem de saúde, ao contrário de quando nasci), mas devo dizer que cheguei muito, mas muito perto mesmo, de passar desta pra melhor. Tive a sorte (sic) de poder ser internado num hospital particular; se fosse pelo SUS, provavelmente eu não estaria aqui contando esta história. Tudo isso, na verdade, é para dizer apenas uma coisa, algo que qualquer pessoa com um mínimo de juízo e/ou inteligência já está careca de saber: somente alguém muito desonesto ou mal-intencionado, um canalha, um psicopata ou um perfeito idiota, é capaz de dizer que o vírus que quase me levou – e que já ceifou a vida de mais de 150 mil pessoas no país - é uma “gripezinha". Não é. Estou aqui pra provar.
Gustavo Bezerra
Acho que já é hora de explicar meu sumiço. Finalmente me sinto em condições pra isso.
Como alguns já sabem, passei por um sufoco e tanto nos últimos meses. O maior que já passei em toda a minha vida. Espero nunca mais passar novamente por experiência semelhante, e que ninguém que leia estas linhas passe por isso também.
Em meados de Junho, ao levar minha filha para tomar uma vacina, fui diagnosticado com Covid-19. Fui imediatamente internado, com uma forte pneumonia. O quadro logo se agravou, e tive de ser entubado, em coma induzido. Fiquei 58 dias na UTI, muitos deles sedado. Todo esse tempo passei sem nenhum contato com o mundo exterior, incomunicável, dopado, traqueostomizado, perfurado, examinado de todas as formas possíveis.
Foram dias de angústia, dos quais felizmente (ou não) não me lembro de nada. Quando acordei, ainda na UTI, fui informado que cheguei bem perto de passar para o país dos pés juntos – até um padre foi chamado para me dar a extrema-unção. Meus pulmões ficaram bastante comprometidos, e só não pararam de funcionar porque fiquei atado a uma máquina chamada ECMO, que drenou, segundo me disseram, todo o meu sangue (era o último recurso pra evitar que eu virasse estatística). Fiquei mais umas semanas no hospital, e desde então estou em casa, em regime de “home care".
Fiquei com algumas sequelas – perdi mais de 20 kg, minha capacidade pulmonar ficou diminuída, fiquei com uma lesão no quadril por causa da posição deitada, e a perna esquerda, devido a uma compressão no nervo e à perda de massa muscular, ficou com os movimentos prejudicados, de modo que estou andando igual ao Mazzaropi, agora com a ajuda de uma elegante bengala...
Agora estou melhor, me recuperando pouco a pouco. Vai demorar ainda alguns meses para eu retomar ao que eu era antes, e meus dias têm se resumido a idas ao médico, exames clínicos (ressonância magnética, ecografia etc.) e sessões de fisioterapia.
Enfim, o susto foi realmente grande, e gostaria de agradecer a todos que rezaram/oraram/ torceram por mim. Agradeço de coração por todas as mensagens, votos, rezas, orações, correntes, virgens marias, santinhos (até um preto velho) que me mandaram, pedindo minha recuperação. Glória a Deus. Aleluia. Epa, rei. Alahu akbar.
Não vou dizer que foi um milagre (foi a medicina), nem repetir clichês do tipo “nasci de novo" etc. (sai do hospital não muito bem de saúde, ao contrário de quando nasci), mas devo dizer que cheguei muito, mas muito perto mesmo, de passar desta pra melhor. Tive a sorte (sic) de poder ser internado num hospital particular; se fosse pelo SUS, provavelmente eu não estaria aqui contando esta história.
Tudo isso, na verdade, é para dizer apenas uma coisa, algo que qualquer pessoa com um mínimo de juízo e/ou inteligência já está careca de saber: somente alguém muito desonesto ou mal-intencionado, um canalha, um psicopata ou um perfeito idiota, é capaz de dizer que o vírus que quase me levou – e que já ceifou a vida de mais de 150 mil pessoas no país - é uma “gripezinha". Não é. Estou aqui pra provar.

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 Creio que este pungente depoimento, este relato aflitivo em sua pura expressão formal e literária, oferece uma resposta adequada a dois grandes canalhas que minimizaram a pandemia, e que, com essa mentalidade doentia, causaram milhares de mortes adicionais (ou "inúteis") entre a população ingênua, desinformada ou seguidora dos mentecaptos que assim se comportaram (e que ainda se comportam de forma irresponsável).

Toda a minha solidariedade ao amigo Gustavo Bezerra na sua penosa, longa, mas a termo exitosa recuperação. Eu o estou aguardando para avançarmos na cooperação intelectual em torno de novos projetos.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 15 de novembro de 2020


sábado, 14 de dezembro de 2019

PCdoB: a proeza subintelequitual de criticar um evento que ainda não tinha ocorrido

O PCdoB continua igual ao que sempre foi: inacreditavelmente sectário, dogmático, ultra-stalinista e, desta vez fantasmagórico: consegue criticar um evento antes de sua ocorrência, o que revela seus dons premonitórios.
O autor conhece o livro de Hugo Studart e já o decretou falso. Mas faz o mesmo com o meu livro e o de Gustavo Bezerra, que ainda não leu: ou seja, uma literatura com a capacidade de adivinhar o desconhecido.
Paulo Roberto de Almeida


A vulgaridade de um “debate” anticomunista em Brasília

Osvaldo Bertolin

O outro lado da notícia, 11/12/2019


Indústria do anticomunismo voltou a ser mais ativa com a escalada da extrema direita. Livros e “debates” são, além de usinas de propaganda ideológica de caráter fascista, fontes de renda e até de títulos acadêmicos. 
Por Osvaldo Bertolino 
O Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal anuncia para o próximo dia 11 de dezembro o debate intitulado “A trajetória do comunismo no Brasil”. Quem abordará o tema é ninguém menos do que os anticomunistas Paulo Roberto de Almeida (embaixador), Hugo Studart (jornalista e historiador) e Gustavo Bezerra (diplomata e historiador), este autor do infame O livro negro do comunismo no Brasil. O evento faz parte do “Ciclo de Diálogos sobre o Pensamento Político Brasileiro”, diz o Instituto. 
Segundo anuncia Studart em seu Facebook, “Paulo Roberto vai abrir tecendo uma breve panorâmica sobre o movimento comunista e sua trajetória no Brasil, palestra baseada em seu próximo livro, Marxismo e Socialismo”. Ele, Studart, “vai falar da crise ideológica do Partido Comunista Brasileiro, PCB, que resultou em sua fragmentação e criação das organizações da luta amada, palestra baseada no livro Borboletas e Lobisomens”. E Gustavo Bezerra “ficará com o fecho de ouro, apresentando sua obra monumental”.
Ainda segundo Studart, Paulo Roberto de Almeida é o proponente do “debate” anticomunista. O nome não seria exatamente “debate”, porque trata-se de três personagens com pensamentos semelhantes, todos beneficiários da indústria do anticomunismo. Paulo Roberto de Almeida escreveu o posfácio do livro-farsa de Studart Borboletas e lobisomens— uma ficção barata vendida como história —, que conseguiu a proeza de ser mais vulgar do que a própria obra. 
Técnica goebbeliana
O anticomunismo existe desde que o comunismo é comunismo. Já no Manifesto do Partido Comunista, considerado a primeira obra programática do marxismo, Karl Marx e Friedrich Engels escreveram que “todas as potências da velha Europa unem-se numa santa aliança para conjurá-lo (o espectro do comunismo): o papa e o czar, Metternich (estadista austríaco) e Guizot (estadista francês), os radicais da França e os policiais da Alemanha”.
Desde então, em nome do combate ao “comunismo” muita vulgaridade rotulada de história, filosofia ou coisa parecida foi produzida. Tudo com generosa publicidade, sem que os caluniados possam abrir a boca para dizer uma única palavra em sua defesa. É assim que eles tentam envenenar os que lhes dão ouvidos, conhecida técnica goebbeliana para manipular os incautos.
Cata de mitos
Paga-se bem por qualquer obra produzida para difamar e caluniar os comunistas. Concedem-se títulos acadêmicos — essa obra de Studart, pasmem, saiu de uma tese de doutorado aprovada na Universidade Nacional de Brasil (UnB) — e abrem-se espaços generosos na mídia — Studart deitou falação mentirosa sobre a minha produção que desmascara seu livro-farsa sem que ninguém se dignasse a me ouvir, ou mesmo a publicar algo do que escrevi e falei. 
É um comportamento bem ajustado ao figurino da escalada da extrema direita, que impulsionou a indústria anticomunista. Poucas vezes na história do Brasil se falou e se escreveu tanto a palavra “comunismo”. Ela é falada ou escrita sem nenhum contexto, acompanhada de números e citações sem comprovações; e sempre repisando e reforçando grotescas mentiras factuais e históricas. 
Um princípio básico para quem fala ou escreve algo sem ser vulgar é saber do que está falando, não sair por aí à cata de mitos na tentativa de fraudar a realidade e manipular os fatos. Os personagens desse “debate”, por exemplo, já demonstraram que nada sabem a respeito ou ignoram o que sabem porque optaram pelo rentismo do anticomunismo.
Para se falar de comunismo — contra ou a favor — é preciso compreender o que os seus teóricos produziram, em especial Karl Marx, Friedrich Engels e Vladimir Lênin. E ter em conta que essa corrente filosófica, ideológica e política enfrentou e venceu diferentes fixações fanáticas de seus detratores. Não será com a repetição de velhos e surrados chavões do mais rudimentar anticomunismo histórico que agora terão êxitos.
Código da economia
O marxismo representou uma ruptura de parâmetros. É o fenômeno mais relevante, no campo do estudo científico da história, da economia e da filosofia, nesses dois últimos séculos, quando a humanidade mudou mais do que no milênio anterior. Marx decifrou o código da economia de crise. E isso não está em nenhum livro em particular. Está no conjunto de sua obra, da qual a parte mais importante é, certamente, O Capital
Ele está longe de ser apenas mais um nome no balaio de gatos de pretensos contestadores da sua obra. Sua teoria difere substancialmente das ideias voláteis que são propagadas por gente que ganha a vida montando frases de efeito e expelindo perdigotos em palestras como essa desses anticomunistas escalados para o “debate” do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.
A interpretação científica dos seus princípios radiografa casos de sucesso e fracasso em uma sociedade, gera novas interpretações da realidade, cria novos paradigmas e equações para entender e explicar o que ocorre no mundo. Por tudo, Marx precisa ser estudado. Por sua originalidade, pela seriedade e consistência de sua obra, porque escrevia bem. Exatamente por isso é difícil contestar o comunismo sem apelar para a vulgaridade e para a desfaçatez, como fazem Paulo Roberto Almeida, Hugo Studart e Gustavo Bezerra.   
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Acompanhe o caso aqui:

O jabuti de Hugo Studart e os jornalistas que roubam