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domingo, 15 de novembro de 2020

Um depoimento extremamente tocante do meu colega e amigo Gustavo Bezerra sobre sua visita na fronteira da Covid

O motivo de meu sumiço:
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Acho que já é hora de explicar meu sumiço. Finalmente me sinto em condições pra isso. Como alguns já sabem, passei por um sufoco e tanto nos últimos meses. O maior que já passei em toda a minha vida. Espero nunca mais passar novamente por experiência semelhante, e que ninguém que leia estas linhas passe por isso também. Em meados de Junho, ao levar minha filha para tomar uma vacina, fui diagnosticado com Covid-19. Fui imediatamente internado, com uma forte pneumonia. O quadro logo se agravou, e tive de ser entubado, em coma induzido. Fiquei 58 dias na UTI, muitos deles sedado. Todo esse tempo passei sem nenhum contato com o mundo exterior, incomunicável, dopado, traqueostomizado, perfurado, examinado de todas as formas possíveis. Foram dias de angústia, dos quais felizmente (ou não) não me lembro de nada. Quando acordei, ainda na UTI, fui informado que cheguei bem perto de passar para o país dos pés juntos – até um padre foi chamado para me dar a extrema-unção. Meus pulmões ficaram bastante comprometidos, e só não pararam de funcionar porque fiquei atado a uma máquina chamada ECMO, que drenou, segundo me disseram, todo o meu sangue (era o último recurso pra evitar que eu virasse estatística). Fiquei mais umas semanas no hospital, e desde então estou em casa, em regime de “home care". Fiquei com algumas sequelas – perdi mais de 20 kg, minha capacidade pulmonar ficou diminuída, fiquei com uma lesão no quadril por causa da posição deitada, e a perna esquerda, devido a uma compressão no nervo e à perda de massa muscular, ficou com os movimentos prejudicados, de modo que estou andando igual ao Mazzaropi, agora com a ajuda de uma elegante bengala... Agora estou melhor, me recuperando pouco a pouco. Vai demorar ainda alguns meses para eu retomar ao que eu era antes, e meus dias têm se resumido a idas ao médico, exames clínicos (ressonância magnética, ecografia etc.) e sessões de fisioterapia. Enfim, o susto foi realmente grande, e gostaria de agradecer a todos que rezaram/oraram/ torceram por mim. Agradeço de coração por todas as mensagens, votos, rezas, orações, correntes, virgens marias, santinhos (até um preto velho) que me mandaram, pedindo minha recuperação. Glória a Deus. Aleluia. Epa, rei. Alahu akbar. Não vou dizer que foi um milagre (foi a medicina), nem repetir clichês do tipo “nasci de novo" etc. (sai do hospital não muito bem de saúde, ao contrário de quando nasci), mas devo dizer que cheguei muito, mas muito perto mesmo, de passar desta pra melhor. Tive a sorte (sic) de poder ser internado num hospital particular; se fosse pelo SUS, provavelmente eu não estaria aqui contando esta história. Tudo isso, na verdade, é para dizer apenas uma coisa, algo que qualquer pessoa com um mínimo de juízo e/ou inteligência já está careca de saber: somente alguém muito desonesto ou mal-intencionado, um canalha, um psicopata ou um perfeito idiota, é capaz de dizer que o vírus que quase me levou – e que já ceifou a vida de mais de 150 mil pessoas no país - é uma “gripezinha". Não é. Estou aqui pra provar.
Gustavo Bezerra
Acho que já é hora de explicar meu sumiço. Finalmente me sinto em condições pra isso.
Como alguns já sabem, passei por um sufoco e tanto nos últimos meses. O maior que já passei em toda a minha vida. Espero nunca mais passar novamente por experiência semelhante, e que ninguém que leia estas linhas passe por isso também.
Em meados de Junho, ao levar minha filha para tomar uma vacina, fui diagnosticado com Covid-19. Fui imediatamente internado, com uma forte pneumonia. O quadro logo se agravou, e tive de ser entubado, em coma induzido. Fiquei 58 dias na UTI, muitos deles sedado. Todo esse tempo passei sem nenhum contato com o mundo exterior, incomunicável, dopado, traqueostomizado, perfurado, examinado de todas as formas possíveis.
Foram dias de angústia, dos quais felizmente (ou não) não me lembro de nada. Quando acordei, ainda na UTI, fui informado que cheguei bem perto de passar para o país dos pés juntos – até um padre foi chamado para me dar a extrema-unção. Meus pulmões ficaram bastante comprometidos, e só não pararam de funcionar porque fiquei atado a uma máquina chamada ECMO, que drenou, segundo me disseram, todo o meu sangue (era o último recurso pra evitar que eu virasse estatística). Fiquei mais umas semanas no hospital, e desde então estou em casa, em regime de “home care".
Fiquei com algumas sequelas – perdi mais de 20 kg, minha capacidade pulmonar ficou diminuída, fiquei com uma lesão no quadril por causa da posição deitada, e a perna esquerda, devido a uma compressão no nervo e à perda de massa muscular, ficou com os movimentos prejudicados, de modo que estou andando igual ao Mazzaropi, agora com a ajuda de uma elegante bengala...
Agora estou melhor, me recuperando pouco a pouco. Vai demorar ainda alguns meses para eu retomar ao que eu era antes, e meus dias têm se resumido a idas ao médico, exames clínicos (ressonância magnética, ecografia etc.) e sessões de fisioterapia.
Enfim, o susto foi realmente grande, e gostaria de agradecer a todos que rezaram/oraram/ torceram por mim. Agradeço de coração por todas as mensagens, votos, rezas, orações, correntes, virgens marias, santinhos (até um preto velho) que me mandaram, pedindo minha recuperação. Glória a Deus. Aleluia. Epa, rei. Alahu akbar.
Não vou dizer que foi um milagre (foi a medicina), nem repetir clichês do tipo “nasci de novo" etc. (sai do hospital não muito bem de saúde, ao contrário de quando nasci), mas devo dizer que cheguei muito, mas muito perto mesmo, de passar desta pra melhor. Tive a sorte (sic) de poder ser internado num hospital particular; se fosse pelo SUS, provavelmente eu não estaria aqui contando esta história.
Tudo isso, na verdade, é para dizer apenas uma coisa, algo que qualquer pessoa com um mínimo de juízo e/ou inteligência já está careca de saber: somente alguém muito desonesto ou mal-intencionado, um canalha, um psicopata ou um perfeito idiota, é capaz de dizer que o vírus que quase me levou – e que já ceifou a vida de mais de 150 mil pessoas no país - é uma “gripezinha". Não é. Estou aqui pra provar.

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 Creio que este pungente depoimento, este relato aflitivo em sua pura expressão formal e literária, oferece uma resposta adequada a dois grandes canalhas que minimizaram a pandemia, e que, com essa mentalidade doentia, causaram milhares de mortes adicionais (ou "inúteis") entre a população ingênua, desinformada ou seguidora dos mentecaptos que assim se comportaram (e que ainda se comportam de forma irresponsável).

Toda a minha solidariedade ao amigo Gustavo Bezerra na sua penosa, longa, mas a termo exitosa recuperação. Eu o estou aguardando para avançarmos na cooperação intelectual em torno de novos projetos.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 15 de novembro de 2020


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