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sexta-feira, 20 de novembro de 2020

A diplomacia bolsonarista servil a Trump continua impérvia - Jamil Chade (UOL)

 A maior parte dos países que seguem os EUA na submissão em votações na ONU é extremamente dependente da ajuda americana, em vários casos em questões cruciais de segurança militar ou ajuda humanitária. 

Não é certamente o caso do Brasil, o que torna ainda mais inaceitável a sabujice de Bolsonaro e de Ernesto Araujo em relação a Trump e ao Departamento de Estado. Inaceitável e vergonhoso para a diplomacia profissional brasileira.

Paulo Robeto de Almeida


Brasil se transforma em um dos últimos aliados dos EUA de Trump na ONU

Jamil Chade
Colunista do UOL
20/11/2020 04h00

Derrotado nas urnas nos Estados Unidos (EUA), Donald Trump vê seu apoio internacional também desaparecer e poucos países ainda votam ao lado do governo do republicano em decisões internacionais. Mas um deles não da sinal de trair o presidente derrotado: o Brasil.

Em votações na ONU (Organização das Nações Unidas) nesta semana, o Itamaraty optou por manter seu alinhamento automático com os EUA, o que passou a ser a marca da diplomacia do chanceler Ernesto Araújo, admirador declarado de Trump. Hoje, o Brasil é um dos raros países do mundo que não reconhece a vitória do democrata Joe Biden nas eleições americanas.

Numa resolução colocada em votação sobre o compromisso de todos os governos a eliminar qualquer tipo de violência contra a mulher, a Casa Branca exigiu que um parágrafo inteiro fosse abolido do texto. O Brasil apoiou.

O trecho que deveria ser eliminado indicava que governos deveriam "garantir" o direito das mulheres à saúde sexual e reprodutiva, além de assegurar que sistemas de saúde dessem acesso a tais serviços. Entre eles: métodos contraceptivos modernos.

O texto ainda pedia que governos garantissem que, onde a lei permita, serviços para abortos seguros sejam prestados.

Os americanos ainda pediram que fosse retirado do texto um trecho que indicava que mulheres têm o direito de ter "controle e decidir livremente e de forma responsável em assuntos relacionados com sua sexualidade, incluindo saúde sexual e reprodutiva, livre de coerção, discriminação e violência".

17 fiéis aliados
113 países votaram contra a proposta americana e 33 optaram pela abstenção. Mas 17 fieis aliados de Trump decidiram manter sua postura e votaram ao lado do americano. Além do governo Bolsonaro, apoiaram a proposta americana países como Líbia, Belarus, Paquistão, Iraque e Egito.

O Brasil ainda não votou contra uma emenda apresentada pelos americanos para modificar outro trecho da resolução, também sobre educação sexual. Nesse caso, o Itamaraty optou por uma abstenção.

Derrotado em seus votos, o Itamaraty ainda assim acabou se juntando aos demais países que aprovaram a resolução.

O Brasil ainda foi um dos raros países que se absteve em uma proposta americana para eliminar de uma outra resolução qualquer referência ao trabalho da OMS (Organização Mundial da Saúde). O texto original se referia a um compromisso de governos para garantir tratamento de obstetrícia adequado para mulheres.

153 votaram contra o projeto americano e a Casa Branca contou com apenas 11 países que optaram por se abster. Um deles foi o Brasil.

Antes da derrota de Trump nas urnas, o Brasil foi um dos cerca de 30 países que assinou uma declaração conjunta com o governo americano para montar uma aliança antiaborto nos organismos internacionais. Uma das metas do grupo era a de frear qualquer tipo de resolução que pudesse abrir brechas para o aborto como método contraceptivo.

Na primeira votação após a derrota do americano, porém, nem todos os países que se aliaram ao consenso seguiram o compromisso de votar ao lado dos EUA.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/11/20/bolsonaro-se-transforma-em-um-dos-ultimos-aliados-de-trump-na-onu.htm

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