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sexta-feira, 20 de novembro de 2020

A diplomacia bolsonarista servil a Trump continua impérvia - Jamil Chade (UOL)

 A maior parte dos países que seguem os EUA na submissão em votações na ONU é extremamente dependente da ajuda americana, em vários casos em questões cruciais de segurança militar ou ajuda humanitária. 

Não é certamente o caso do Brasil, o que torna ainda mais inaceitável a sabujice de Bolsonaro e de Ernesto Araujo em relação a Trump e ao Departamento de Estado. Inaceitável e vergonhoso para a diplomacia profissional brasileira.

Paulo Robeto de Almeida


Brasil se transforma em um dos últimos aliados dos EUA de Trump na ONU

Jamil Chade
Colunista do UOL
20/11/2020 04h00

Derrotado nas urnas nos Estados Unidos (EUA), Donald Trump vê seu apoio internacional também desaparecer e poucos países ainda votam ao lado do governo do republicano em decisões internacionais. Mas um deles não da sinal de trair o presidente derrotado: o Brasil.

Em votações na ONU (Organização das Nações Unidas) nesta semana, o Itamaraty optou por manter seu alinhamento automático com os EUA, o que passou a ser a marca da diplomacia do chanceler Ernesto Araújo, admirador declarado de Trump. Hoje, o Brasil é um dos raros países do mundo que não reconhece a vitória do democrata Joe Biden nas eleições americanas.

Numa resolução colocada em votação sobre o compromisso de todos os governos a eliminar qualquer tipo de violência contra a mulher, a Casa Branca exigiu que um parágrafo inteiro fosse abolido do texto. O Brasil apoiou.

O trecho que deveria ser eliminado indicava que governos deveriam "garantir" o direito das mulheres à saúde sexual e reprodutiva, além de assegurar que sistemas de saúde dessem acesso a tais serviços. Entre eles: métodos contraceptivos modernos.

O texto ainda pedia que governos garantissem que, onde a lei permita, serviços para abortos seguros sejam prestados.

Os americanos ainda pediram que fosse retirado do texto um trecho que indicava que mulheres têm o direito de ter "controle e decidir livremente e de forma responsável em assuntos relacionados com sua sexualidade, incluindo saúde sexual e reprodutiva, livre de coerção, discriminação e violência".

17 fiéis aliados
113 países votaram contra a proposta americana e 33 optaram pela abstenção. Mas 17 fieis aliados de Trump decidiram manter sua postura e votaram ao lado do americano. Além do governo Bolsonaro, apoiaram a proposta americana países como Líbia, Belarus, Paquistão, Iraque e Egito.

O Brasil ainda não votou contra uma emenda apresentada pelos americanos para modificar outro trecho da resolução, também sobre educação sexual. Nesse caso, o Itamaraty optou por uma abstenção.

Derrotado em seus votos, o Itamaraty ainda assim acabou se juntando aos demais países que aprovaram a resolução.

O Brasil ainda foi um dos raros países que se absteve em uma proposta americana para eliminar de uma outra resolução qualquer referência ao trabalho da OMS (Organização Mundial da Saúde). O texto original se referia a um compromisso de governos para garantir tratamento de obstetrícia adequado para mulheres.

153 votaram contra o projeto americano e a Casa Branca contou com apenas 11 países que optaram por se abster. Um deles foi o Brasil.

Antes da derrota de Trump nas urnas, o Brasil foi um dos cerca de 30 países que assinou uma declaração conjunta com o governo americano para montar uma aliança antiaborto nos organismos internacionais. Uma das metas do grupo era a de frear qualquer tipo de resolução que pudesse abrir brechas para o aborto como método contraceptivo.

Na primeira votação após a derrota do americano, porém, nem todos os países que se aliaram ao consenso seguiram o compromisso de votar ao lado dos EUA.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/11/20/bolsonaro-se-transforma-em-um-dos-ultimos-aliados-de-trump-na-onu.htm

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

O novo discurso da servidão voluntária: Bolsonaro e o servilismo pró-EUA no 5G - Infobae

 Jair Bolsonaro evalúa prohibir que Huawei participe de la construcción de la red 5G de Brasil

Un alto funcionario de Brasilia confió a la cadena Bloomberg que el Ejecutivo ve al régimen de Xi Jinping como una amenaza global a la privacidad y soberanía de los datos

Infobae, 15 de Octubre de 2020

https://www.infobae.com/america/america-latina/2020/10/15/jair-bolsonaro-evalua-prohibir-que-huawei-participe-de-la-construccion-de-la-red-5g-de-brasil/

Jair Bolsonaro está considerando prohibir que gigante tecnológico chino Huawei participe del suministro de componentes para construir la futura red de 5G en Brasil.

Según confió un alto miembro del gabinete del presidente brasileño a la cadena Bloomberg, Brasilia ve a China como una amenaza global a la privacidad y soberanía de los datos.

La fuente aclaró que, no obstante, todavía no se ha tomado una decisión definitiva. En medio de la puja entre Estados Unidos y China, hasta el momento Brasil se abstuvo de decir si cederá a las peticiones de Washington de que efectivamente se mueva en esta dirección.

Según consigna Bloomberg, el miembro del gabinete de Bolsonaro descartó, no obstante, la posibilidad de represalias por parte de Beijing. El funcionario sostuvo que el gigante asiático depende de las importaciones agrícolas brasileñas.

Reconoció, además, que la percepción en el seno del Gobierno es que otros países que prohibieron las operaciones de Huawei no han sufrido grandes consecuencias por parte del régimen de Xi Jinping.

En contraste, Yang Wanming, embajador de China en Brasil, manifestó recientemente en una entrevista que la decisión sobre las operaciones de Huawei ayudará a definir la relación entre los dos gigantes de los mercados emergentes. “Lo que está en juego es si un país puede establecer reglas de mercado basadas en la apertura, la imparcialidad y la no discriminación para todas las empresas”, apuntó.

El Ministerio de Comunicación de Brasil, por su parte, indicó en un breve comunicado que la definición sobre el 5G de Huawei representa un asunto de seguridad nacional que involucra a muchas partes interesadas, incluidos los ministerios de economía y de asuntos exteriores. El texto difundido por esa cartera añadió que los líderes de todos los países involucrados se encuentran discutiendo el tema.

La decisión del gobierno de Bolsonaro no es sencilla, ya que China no es cualquier socio comercial. El gigante asiático fue el destino del 40% de las exportaciones brasileñas en el primer semestre del año, según datos del Ministerio de Agricultura. Las ventas al país, sobre todo de soja, generaron más ingresos que las de Estados Unidos, América Latina, Europa, África y Medio Oriente juntas.

Sin embargo, las relaciones entre Brasilia y Beijing han sido tensas desde que Bolsonaro asumió el poder en 2019. El presidente brasileño incluso criticó duramente al régimen de Xi Jinping durante la campaña electoral. Meses atrás, el ministro de Relaciones Exteriores, Ernesto Araújo, sostuvo en su blog personal que la pandemia de coronavirus revivió “la pesadilla comunista”. En esa línea también se pronunció Eduardo Bolsonaro, hijo del presidente y legislador de la cámara baja, quien responsabilizó del Covid-19 “a la dictadura china”.

Sumado a esto, Bolsonaro se ha mostrado como un aliado cercano al presidente norteamericano, Donald Trump.

Otros funcionarios han expresado opiniones más pragmáticas sobre China, como los casos del vicepresidente Hamilton Mourao, y el ministro de Ciencia y Tecnología Marcos Pontes, quienes han abogado por un proceso de licitación abierto y justo para elegir a los constructores de la red 5G de Brasil.

Fabio Faria, ministro de Comunicaciones de Brasil, adelantó recientemente que el país planea seleccionar las empresas responsables de la red 5G el próximo mes de mayo.

El Departamento de Comercio de Estados Unidos restringió este lunes aún más el acceso de Huawei y sus filiales extranjeras a la tecnología del país, como chips y software, por razones de seguridad nacional, ante las sospechas sobre los vínculos entre la empresa china y el régimen de Xi Jinping.

“Huawei y sus filiales extranjeras han extendido sus esfuerzos para obtener semiconductores avanzados desarrollados o producidos a partir de software y tecnología de EEUU con el fin de cumplir los objetivos de la política del Partido Comunista Chino”, advirtió el secretario de Comercio, Wilbur Ross. “Como hemos restringido su acceso a la tecnología de los Estados Unidos, Huawei y sus afiliados han trabajado a través de terceros para aprovechar la tecnología de los Estados Unidos de una manera que socava la seguridad nacional y los intereses de la política exterior de los Estados Unidos. Esta acción en varios frentes demuestra nuestro compromiso continuo de impedir que Huawei pueda hacerlo”.

Según el comunicado del gobierno, las 38 entidades añadidas a la lista de negra de la Norma de Productos Directos Extranjeros (para un total de 152 afiliados) elaborada en mayo, presentan un riesgo importante de actuar en nombre de Huawei en contra de los intereses de seguridad nacional, ya que “hay motivos razonables para creer que, de otro modo, Huawei trataría de utilizarlos para eludir las restricciones impuestas”.

La empresa se ha convertido en una de las principales razones del deterioro de las relaciones entre Washington y Beijing, ya que el gobierno de Donald Trump alega que el mayor fabricante de equipos de telecomunicaciones del mundo podría espiar para China, algo que la empresa ha negado varias veces.


sábado, 15 de agosto de 2020

Os sete pecados da diplomacia bolsolavista - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente trabalho publicado:


1360. “A relação Brasil-EUA e os sete pecados capitais da diplomacia bolsolavista”, jornal Zero Hora (RS; 14/08/202; link: ); e postado no blog Diplomatizzando (15/08/2020; link: ). Relação de Originais n. 3733. 

Eis o texto original: 

Sete pecados capitais da diplomacia bolsolavista

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata de carreira, professor no Uniceub (Brasília)

A diplomacia bolsolavista, formulada em grande medida fora do Itamaraty e operada apenas formalmente por auxiliares da Casa, é feita de rupturas com respeito aos padrões históricos da política externa brasileira, que sempre foi tradicionalmente caracterizada pela busca de autonomia e comprometida, antes de mais nada, com o interesse nacional. Ela é tão bizarra no horizonte bissecular de nossa diplomacia que sequer pode ser assemelhada a uma espécie de desvio padrão numa linha de tendência da política externa nacional, pois ela se situa completamente fora do quadro. Observando-se cronologicamente seu desempenho em um ano e meio de esquisitices de inspiração bolsolavista, pode-se identificar os sete pecados capitais dessa diplomacia sui generis
1) Ignorância: não parece haver dúvidas de que os que conduzem, de fato, as relações exteriores do Brasil são profundamente ignorantes sobre as relações internacionais e sobre a própria política externa do Brasil. O filho 03 do presidente, que exerce esse papel, não tem a menor ideia de quem foi, nem nunca ouviu falar de Henry Kissinger.
2) Irrealismo: esses “decisores” começam partindo de uma fantasmagoria, o tal de globalismo – que nunca demonstram existir empiricamente – e passam daí a atacar o método por excelência da diplomacia contemporânea: o multilateralismo.
3) Arrogância: como a anterior tribo dos lulopetistas, eles acham que tudo o que existia antes deles foi errado; o chanceler acidental vive apontando distorções na política externa dos últimos 30 anos (falou até “depois de Rio Branco”), não mencionando que serviu de forma obediente todas essas distorções até com entusiasmo (existem provas disso). Ele fez uma completa reforma do Itamaraty sem jamais consultar seus colegas de carreira: por cima.
4) Servilismo: a frase símbolo desse alinhamento automático é o famoso “I love you Trump”, disparado pelo presidente a seu colega americano em setembro de 2019 na ONU. Teve início no primeiro dia de governo quando se ofereceu uma base militar americana no Brasil, prontamente rejeitada pelos ministros militares; mas tem muitos outros exemplos.
5) Miopia: já manifestada numa alegada “ameaça globalista”, tem recusado a cooperação multilateral no combate a um desconhecido, até aqui, “comunavirus”; ela se manifestou em especial na animosidade em relação à China e numa adesão unilateral ao governo de Israel, desconhecendo a complexidade dessas relações e ameaçando negócios e investimentos extremamente relevantes para o presente e o futuro do Brasil.
6) Grosseria: Ela se manifestou sobretudo em direção de líderes estrangeiros que não pensam como o presidente, com ofensas a estadistas europeus comprometidos com a defesa do meio ambiente e também a dirigentes vizinhos de outras correntes políticas.
7) Inconstitucionalidade: a primeira já está comprometida no servilismo, ou seja, a renúncia à independência nacional, para subordiná-la a um dirigente estrangeiro, mas também existe a intervenção nos assuntos internos de outros países; a mais grave é o desconhecimento do Direito Internacional, manifestado no apoio às sanções unilaterais do governo americano, o que pode concretizar-se inclusive contra o próprio Brasil, como no caso das salvaguardas abusivas (e ilegais) contra exportações brasileiras de aço e alumínio. 
Todos esses pecados se revelaram abertamente na recusa do multilateralismo, na negligência de normas consagradas do Direito Internacional, no abandono da formulação autônoma da política externa brasileira, na relativização da noção de interesse nacional, na substituição da diplomacia profissional pelos preconceitos de amadores ignorantes, assim como o desprezo pelos princípios constitucionais das relações internacionais. Dois exemplos, entre outros, da subordinação aos EUA: a aceitação do candidato americano à presidência do BID e a adesão ao veto de Trump à participação da empresa chinesa Huawei no leilão do 5G.
  
[Brasília, 3733, 12 de agosto de 2020]


Esse trabalho, na verdade, teve de limitar-se à imposição dos 2.000 caracteres com espaço, mas a intenção seria publicar um trabalho mais amplo, como reproduzido abaixo: 

As eleições americanas e a política externa bolsonarista
  
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata de carreira, professor no Uniceub (Brasília)
  
O primeiro elemento do título é, como dizem os americanos, self-explaining: desde George Washington, que exerceu dois mandatos sucessivos numa espécie de concessão inaugural a um dos “pais fundadores” de um regime presidencialista até então inédito na história dos sistemas constitucionais modernos, os Estados Unidos têm conduzido eleições regulares a cada quatro anos para escolher, sob o formato de colégio eleitoral, os seus dirigentes executivos. A limitação a dois mandatos foi introduzida em tempos excepcionais, depois que Franklin Roosevelt venceu quatro escrutínios, em meio à crise da Grande Depressão e à Segunda Guerra Mundial. É possível que Donald Trump não consiga renovar o seu, em virtude de erros sucessivos na condução do país, não apenas por causa da pandemia.
O segundo elemento requer uma explicação, justamente porque não se refere à política externa brasileira e sim bolsonarista. Isso se deve a que, nunca antes na história do Brasil, estivemos confrontados a uma diplomacia tão distante dos padrões habituais a que estamos acostumados no Itamaraty e nas relações exteriores do país. Alguns exemplos desse caráter inédito das posturas externas do governo Bolsonaro, aliás desde antes, são ilustrativos dessa caracterização. Logo após as eleições de outubro de 2018, o filho 03, tido como chanceler real do Brasil e candidato, por um tempo, à embaixada em Washington, passeou por Washington, em contato com familiares do presidente Trump, exibindo, já naquele momento, um boné da campanha “Trump 2020”. Ele também se manifestou publicamente, no mesmo sentido da xenófoba campanha do presidente americano contra os imigrantes, sobre a presença de brasileiros ilegais nos Estados Unidos, declarando-os “uma vergonha nacional”.
Logo depois, veio ao Brasil, John Bolton, então conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, velho falcão da Guerra Fria, um dos entusiastas da invasão do Iraque por George Bush Jr, em 2003, e antigo “inimigo” do Brasil, no período anterior à aceitação do Tratado de Não Proliferação Nuclear por FHC, em 1996. Ele reuniu-se com o presidente eleito no Rio de Janeiro, já acompanhado pelo chanceler escolhido – um diplomata jovem, sem expressão reconhecida no Itamaraty –, e ali iniciou-se um grande “namoro”, depois confirmado pelo próprio presidente com um sonoro “I love you Trump”, por ocasião da abertura dos debates na Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2019. No próprio dia da posse, na presença do Secretário de Estado Mike Pompeo, o chanceler acidental alardeou, com a aparente concordância do presidente, a instalação de uma “base americana” no Brasil, apenas para ser imediatamente desmentido, e o projeto recusado, pelos assessores militares do governo, a começar pelo ministro da Defesa e pelo ministro do GSI.
O primeiro assunto de política externa a ocupar o governo Bolsonaro foi a crise da Venezuela, e mais uma vez se revelou o alinhamento automático da diplomacia brasileira com um projeto eleitoreiro do presidente Trump no sentido de forçar a queda do regime chavista; mais uma vez, os militares, a começar pelo vice-presidente Mourão, tiveram de se mobilizar para impedir que o território brasileiro fosse usado como plataforma de uma suposta ofensiva “humanitária” de ajuda ao povo venezuelano, capaz de deslanchar uma guerra civil e provocar desestabilização nos países fronteiriços, entre eles a Colômbia. O vice-presidente Mourão teve de pessoalmente liderar uma delegação brasileira a uma reunião do Grupo de Lima para barrar a aventura militar dos americanos, apoiada pelo chanceler, e confirmar a via diplomática para alguma solução, se possível, ao problema venezuelano.
Logo no primeiro semestre de 2019, o presidente pretendia fazer designar o seu filho Eduardo, o chamado chanceler efetivo, como embaixador do Brasil em Washington, o que recebeu rejeição unânime da classe política e da opinião pública de modo geral, uma vez que o deputado não tinha a menor condição de desempenhar tal cargo. Confirmando a política de submissão da diplomacia bolsonarista aos interesses do governo americano, e ao desejos do presidente Trump em especial, o Itamaraty – mais provavelmente os verdadeiros decisores pela política externa, todos eles estranhos ao Itamaraty – emitiu notas de apoio e de adesão a várias iniciativas ou ações do governo Trump sobre temas de relevância na agenda internacional: o assassinato do general iraniano Suleimani em Bagdá; a votação na ONU em resolução sobre sanções unilaterais (quando o Brasil ficou totalmente isolado, com Israel e os próprios EUA); um desequilibrado “plano de paz” para a Palestina (que não recebeu sequer o apoio de nenhum aliado da OTAN) e diferentes propostas levantadas no Conselho de Direitos Humanos sobre temas de igualdade de gêneros e direitos das mulheres e de minorias. O mais grave defeito dessas notas de apoio é o fato de elas terem ignorado completamente o Direito Internacional e até resoluções do Conselho de Segurança sobre seus temas, ou até contrariado os interesses nacionais (como a aceitação de sanções unilaterais americanas, o que pode até voltar-se contra o próprio Brasil). 
Dois outros temas, da maior relevância para o Brasil, traduzem a compulsão do chanceler, e de seus patronos de fora do Itamaraty, de sempre alinhar a política brasileira aos interesses americanos, aliás desde antes mesmo de ser inaugurado o governo: presidente, familiares, chanceler, todos anunciaram a mais estreita aliança não apenas com os EUA, mas sobretudo com o governo Trump. Foi por causa dessa submissão total, para todos os efeitos práticos, mas também por crenças equivocadas de todos eles, que teve início antes mesmo da campanha eleitoral, esse largo exercício diplomático de servidão voluntária, começando pela animosidade demonstrada em relação à China, nosso maior parceiro comercial e o país que, sozinho, fornece praticamente um terço do saldo comercial externo. Essa hostilização, por razões puramente ideológicas, causou reações não só na China, como principalmente entre a comunidade dos homens de negócios que transacionam com a China, sobretudo no agronegócio (grãos e carnes), mas também em mineração (minérios e petróleo). Foi também pelas mesmas razões que os mesmos decisores equivocados começaram a sinalizar um veto brasileiro à participação da empresa eletrônica chinesa Huawei – já presente no Brasil há mais de uma década e grande fornecedora de equipamentos de comunicações e eletrônicos em geral – no leilão de seleção das empresas habilitadas a operar o sistema 5G no Brasil. Outras sinalizações irracionais foram manifestadas a propósito da pandemia do Covid-19, chegando o chanceler ideológico a falar de um “comunavirus” a esse respeito.
Os mais recentes escolhos nas frustrações acumuladas nas relações bilaterais com os EUA – que nunca corresponderam às demonstrações de submissão unilateral do Brasil – foram a renovada comunicação de que visitantes provenientes do Brasil não seriam admitidos nos EUA, em virtude da extensão da pandemia entre nós, assim como o anúncio, por Trump, de que poderia impor sanções a produtos brasileiros se o Brasil não reduzir as tarifas sobre o etanol americano, o que configura uma espécie de chantagem contra nossa soberania em matéria de política comercial. Registre-se que, contrariamente às normas do Gatt-OMC, a política comercial de Trump já impôs salvaguardas unilaterais e ilegais às exportações de aço e alumínio, de diversos países, não só ao Brasil, mas também a sócios dos EUA no Nafta, ou seja, Canadá e México. No plano mais geral, o governo Trump está desmantelando as instituições que os próprios EUA criaram desde Bretton Woods, em especial a OMC e seu sistema de solução de controvérsias. Nesse capítulo, a diplomacia submissa do Brasil também seguiu os EUA ao denegar o status de economia de mercado à China, um gesto considerado inamistoso pelo gigante asiático, e que talvez sirva de motivo para retaliações ponderadas. 
Não obstante todas essas demonstrações de desapreço ao Brasil – assim como a outros supostos aliados dos EUA, na OTAN ou em outras instâncias –, a diplomacia bolsonarista continua a praticar um alinhamento praticamente automático às posturas do governo Trump, uma opção absolutamente inédita nos anais da política externa brasileira, mesmo considerando os tempos da luta comum contra o comunismo, durante a Guerra Fria, quando o suposto alinhamento nunca foi automático e quando ocorreu consistia numa espécie de barganha negociada em troca de alguma vantagem ou benefício ao Brasil, geralmente de natureza econômica. A suprema ironia dos bolsonaristas é que eles recusam a caracterização de ideológica para essa diplomacia feita de ruptura de padrões históricos da política externa brasileira, tradicionalmente caracterizada pela busca de autonomia e comprometida, antes de qualquer outra coisa, com o interesse nacional. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3732, 11 de agosto de 2020



segunda-feira, 22 de julho de 2019

Bolsonaro: cenas de servilismo explícito em relação a Trump


Irã: Bolsonaro fala grosso com governadores da “Paraíba” e fino com Trump

Reinaldo Azevedo
22/07/2019 06h17 
O navio iraniano Bavand próximo ao porto de Paranaguá, no Paraná (Foto: João Andrade/Reuters)

"Existe esse problema, os EUA, de forma unilateral, têm embargos levantados contra o Irã. As empresas brasileiras foram avisadas por nós desse problema e estão correndo risco nesse sentido. Eu, particularmente, estou me aproximando cada vez mais do [presidente dos EUA, Donald] Trump."
Essa soma de anacolutos só compreensível com alguma boa-vontade saiu da mente divinal do presidente Jair Bolsonaro. É um espanto. Navios iranianos que trouxeram ureia ao Brasil e voltariam a seu país carregados de milho estão impedidos de partir porque sem combustível. A Petrobras se nega a lhes fornecer o produto em razão de embargos impostos pelos EUA ao Irã.
É uma piada. As medidas não alcançam a venda de alimentos e remédios. Assim, o Brasil está sendo mais trumpista do que o próprio Donald Trump.
A empresa Eleva, responsável pela carga dos navios, recorreu à Justiça para tenta obrigar o abastecimento. Perdeu em primeira instância, venceu em segunda, mas a União recorreu. E o caso foi parar no Supremo. Raquel Dodge, procuradora-geral da República, em manifestação enviada ao tribunal, defendeu o não-abastecimento.
É impressionante! As sanções americanas atingem o setor de petróleo. É uma estupidez que a medida alcance a venda de combustíveis para navios que transportam alimentos. Se estes não se incluem entre os itens sancionados, de algum modo precisam chegam àquele país. Sem combustível, como seria possível?
A coisa é de tal sorte ridícula que países como China, Índia, Itália, Japão, Turquia, Coreia do Sul e Índia, que compram petróleo iraniano, podem continuar a fazê-lo para não criar um impacto nos preços internacionais. Mas o Brasil, que vende milho, soja e ração animal ao Irã, estará proibido, então, de exportar commodities agrícolas.
Entenderam? Donald Trump é agora quem decide com quem o Brasil pode fazer comércio. E assim é porque Bolsonaro "está se aproximado cada vez mais" e "particularmente" do presidente norte-americano, segundo a voz do mandatário brasileiro.
Eis aí evidenciada a diferença entre um país aliado e outro que se coloca como mero sabujo dos interesses do "sinhozinho".
Cadê a chamada "bancada ruralista" para protestar? Se o Brasil não pode vender seu milho para o Irã, um dos principais destino do que produzimos aqui, vai vender para quem?
Bolsonaro fala grosso com governadores da "Paraíba" e fino com Trump.
Aliás, na presença daquele a quem trata como chefe, mal consegue esconder o ar de encantamento basbaque e a cara de aliado servil.
E quem vai pagar a conta é o Brasil.
E olhem que o fritador de hambúrguer ainda nem é o nosso embaixador…

Política externa: o servilismo aos EUA, em sua forma mais sabuja

‘Estamos alinhados à política dos EUA’, diz Bolsonaro sobre navios iranianos

Duas embarcações estão no Paraná 
Aguardam abastecimento da Petrobras
Jair Bolsonaro disse nesse domingo que o Brasil está alinhado às políticas do governo dos Estados Unidos Sérgio Lima/Poder360 – 4.jul.2019
Poder 360, 22.jul.2019 (segunda-feira) - 7h34
O presidente Jair Bolsonaro disse no domingo (21.jul.2019) que o Brasil está alinhado à política dos EUA de sanção econômica contra o Irã. Bolsonaro foi questionado por jornalistas sobre duas embarcações iranianas que estão no porto de Paranaguá (PR) e que aguardam abastecimento da Petrobras.
“Sabe que nós estamos alinhados à política deles. Então, fazemos o que tem de fazer”, disse o presidente.
Os navios Bavand e Termeh estão parados desde o início de junho, aguardando abastecimento. As embarcações vieram ao Brasil carregadas de ureia e deveriam retornar ao Irã carregando milho brasileiro.
Por temer represália dos Estados Unidos, a Petrobras não abasteceu as embarcações.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, deu parecer favorável à Petrobras na última semana. Dodge argumenta que a empresa pode obter o produto de outra forma.