O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador textos de Paulo Roberto de Almeida. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador textos de Paulo Roberto de Almeida. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Oppenheimer, o Prometeu Americano, filme e livro - Paulo Roberto de Almeida, Robert J. Oppenheimer,

 Triunfo e tragédia de Robert J. Oppenheimer

O filme Oppenheimer é - descontando passagens prosaicas que poderiam ter sido evitadas — um monumento extraordinário no plano cinematográfico, no de efeitos cênicos — idas e voltas antes e depois do projeto Manhattan — e no terrenos das interpretações pelos atores, mas é, sobretudo, uma grandiosa saga e admirável reconstrução histórica sobre, como está dito no próprio filme, o maior projeto científico-militar já visto numa corrida contra o tempo para evitar que o mais nefando regime criminoso de todos os tempos, o totalitarismo nazifascista ganhasse a corrida estratégica para destruir as democracias ocidentais e um outro totalitarismo pela mais terrivel arma jamais inventada pelo homem.

Ironicamente, ela tinha sido concebida para eliminar a ameaça nazista nessa corrida, que acabou sendo superada por meios “convenvionais” — sem descurar os terriveis bombardeios aéreos sobre alvos civis na Alemanha e no Japão—, e que depois foi usada contra um inimigo que também já estava teoricamente vencido, mas cuja rendição final e incondicional exigiria, provavelmente, um número absurdamente alto de vitimas civis e militares (aqui dos dois lados), numa proporção 4 ou 5 vezes superior ao número de mortos no bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945.

Um dos aspectos mais interessantes do filme é traduzido por um processo paranoico anticomunista motivado por um personagem que permanece nas sombras durante o projeto Manhattan, a União Soviética, aliada durante todo o projeto, mas a grande inimiga imediatamente após. 

Recomendo enfaticamente o filme para todos os que se interessam pela história, não temerosos de passar 3 horas sentados na frente de uma grande tela (sim, ver na TV ou no computador não é a mesma coisa).

Mas recomendo primariamente que os interessados se informem previamente sobre essa história toda, seja nos livros — o filme é baseado na história do “American Prometheus” —, sejam o Google e na Wikipedia. Vai ajudar a compreender certas passagens, pois o filme vai e volta em diferentes episódios dos anos 1930 aos 50. 

Prevejo uma batelada de Oscars em 2024.

Paulo Roberto de Almeida

===========

Transcrito da História Esquecida

Einstein e Oppenheimer, década de 1930.

 “Embora eu conhecesse Einstein por duas ou três décadas, foi apenas na última década de sua vida que fomos colegas próximos e algo como amigos.  Mas pensei que poderia ser útil, porque tenho certeza de que não é cedo demais – e talvez quase tarde demais para nossa geração – começar a dissipar as nuvens do mito e ver o grande pico da montanha que essas nuvens escondem.  Como sempre, o mito tem seus encantos;  mas a verdade é muito mais bonita.

 No final de sua vida, em conexão com seu desespero por armas e guerras, Einstein disse que se tivesse que viver tudo de novo, seria um encanador.  Este era um equilíbrio de seriedade e brincadeira que ninguém deveria tentar perturbar.  Acredite, ele não fazia ideia do que era ser encanador;  muito menos nos Estados Unidos, onde contamos a piada de que o comportamento típico desse especialista é que ele nunca traz suas ferramentas para o cenário da crise.  Einstein trouxe suas ferramentas para suas crises;  Einstein foi um físico, um filósofo natural, o maior de nosso tempo.

 Einstein é frequentemente culpado, elogiado ou creditado por essas bombas miseráveis.  Na minha opinião não é verdade.  A teoria especial da relatividade pode não ter sido bonita sem Einstein;  mas teria sido uma ferramenta para os físicos e, em 1932, a evidência experimental da interconversibilidade da matéria e da energia que ele havia previsto era esmagadora.  A viabilidade de fazer algo com isso de forma tão massiva não ficou clara até sete anos depois, e então quase por acidente.  Não era isso que Einstein realmente buscava.  Sua paarte foi criar uma revolução intelectual e descobrir, mais do que qualquer cientista de nosso tempo, quão profundos eram os erros cometidos pelos homens antes disso.  Ele escreveu uma carta a Roosevelt sobre energia atômica.  Acho que isso foi em parte sua agonia com o mal dos nazistas, em parte não querendo prejudicar ninguém de forma alguma;  mas devo relatar que aquela carta teve muito pouco efeito e que o próprio Einstein não é realmente responsável por tudo o que veio depois.  Acredito que ele mesmo entendeu isso."

Robert Oppenheimer, 1965


American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer

https://a.co/d/e2Wn6RO 



terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Haverá paz no mundo em 2023? - Paulo Roberto de Almeida

 Haverá paz no mundo em 2023? 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Artigo de fim de ano publicado em versão ligeiramente modificada na revista Crusoé (n. 244, sexta-feira, 30/12/2022, link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/244/paz-impossivel-guerra-improvavel/).

 

Uma resposta precisa a esta complexa questão é um enfático e rotundo NÃO! Mas a concisão e a simplicidade desta afirmação não significam que o mundo conhecerá alguma guerra de proporção equivalente à dos grandes conflitos globais que marcaram a primeira metade do “curto século XX”, de que falava o historiador marxista Eric J. Hobsbawm. O que se descarta é a ocorrência de uma nova guerra total entre adversários geoestratégicos, não a recorrência de guerras interestatais, civis, étnicas, religiosas, ou de proxy wars, conflitos por procuração, entre as grandes potências existentes, nunca interrompidas em qualquer época.

A razão da negativa a uma hipótese jamais descartada pelos planejadores militares é a mesma que já tinha sido dada desde 1948 pelo conhecido filósofo e pensador estratégico francês Raymond Aron, ao considerar a possibilidade de uma nova guerra total entre grandes impérios, no imediato seguimento da Segunda Guerra Mundial: “paz impossível, guerra improvável”. Ele ainda confirmou seu argumento, formulado originalmente no livro Le Grand Schisme (O grande cisma; Paris: Gallimard), em seu livro de memórias, publicado pouco antes de sua morte, Les dernières années du siècle(Os últimos anos do século, 1983), pelos mesmos motivos que sustentavam seu raciocínio: a emergência da arma atômica, a grande dissuasora de qualquer novo enfrentamento global passada a tecnologia das guerras convencionais (exércitos no terreno, mais aviação e frotas bélicas) que ainda marcaram o início das guerras de 1914 e de 1939 (armas de destruição em massa, como o recurso à guerra química e as bombas nucleares foram introduzidas num fase mais avançada das duas grandes guerras mundiais. Registre-se que sua peremptória e durável frase foi feita ainda no período em que a superpotência americana detinha o monopólio da arma atômica, mas Aron nunca duvidou que a União Soviética alcançasse a paridade em breve tempo (ela o fez em 1949, como resultado da espionagem atômica e da capacitação própria dos físicos nucleares russos).

De fato, mais do que as promessas de paz e de segurança internacionais, inscritas no preâmbulo e nos primeiros artigos da Carta de San Francisco (1945), o que realmente evitou uma nova guerra total foi a promessa de uma destruição generalizada entre contendores dotados da ultima ratio do holocausto nuclear. Não que o emprego tático, ou mesmo estratégico, de armas atômicas não tenha sido cogitado ao longo dos últimos 77 anos desde Hiroshima e Nagasaki, mas é que o cogumelo cada vez maior previsto com o aumento dos megatons acrescidos desde então faz com que os líderes políticos, bem mais do que os oficiais militares superiores, retenham a respiração antes de considerar o recurso ao que se convencionou chamar de Armagedom. O general MacArthur, cujas tropas (supostamente a serviço da ONU) tinham sido empurradas de volta para a extremidade sul da Coreia depois do ingresso de “voluntários” chineses na primeira guerra quente da Guerra Fria, cogitou ordenar um bombardeio atômico nas fronteiras da China para cortar o fluxo de tropas e de equipamentos em apoio às forças do ditador Kim Il Sung, da Coreia do Norte; ele foi demitido na mesma hora pelo presidente Truman, o mesmo que tinha aprovado o bombardeio das duas cidades japonesas cinco anos antes. 

Recorde-se, também, que o mundo caminhou para a borda do precipício nuclear, quando da extrema tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética, em outubro de 1962, depois da descoberta da instalação de mísseis soviéticos em Cuba, a poucas milhas da Flórida. O jogo de poker entre os dois gigantes da Guerra Fria foi brilhantemente descrita pelo professor Graham Allison, autor da obra The Essence of Decision (1971), sobre as difíceis negociações entre o presidente John Kennedy e o líder russo Nikita Kruschev até conseguirem desarmar o ímpeto bélico de seus generais e comandantes navais, quando do embargo total sobre a ilha do Caribe decretado pelos americanos. Curiosamente, o mesmo pesquisador tornou-se novamente famoso ao explorar, em 2017, a possibilidade de uma nova guerra total entre os impérios americano e chinês, em seu livro Destined for War: Can America and China Escape Thucydides's Trap? (Condenados à guerra: podem a América e a China escapar à armadilha de Tucídides?), obra supostamente destinada a evitar uma repetição da guerra do Peloponeso descrita pelo conhecido historiador grego, contemporâneo daquela contenda fatal entre a Esparta autoritária e a democrática Atenas.

Mais recentemente, o espectro de um conflito nuclear entre os mesmos contendores da velha Guerra Fria voltou a ser aventado pelo próprio neoczar russo, Putin, ao declarar que não hesitaria em recorrer às suas armas mais poderosas caso a Otan viesse em socorro direto à Ucrânia depois de sua frustrada invasão e guerra de agressão iniciada em fevereiro de 2022, contra um vizinho não nuclear, depois de sua separação do império soviético em 1991. No caso, os planejadores militares exploraram o recurso a armas nucleares táticas, ou seja, de terreno, não o deslanchar de um ataque devastador contra os territórios adversários, mas ainda assim proliferaram especulações sobre a efetiva possibilidade desse recurso último, caso a Rússia seja humilhada no terreno (como está sendo) pelas forças ucranianas (apoiadas maciçamente pelos países da Otan e outras democracias ocidentais). Seria interessante ter novamente Raymond Aron formulando seus argumentos sobre esse terrível conflito.

Mas, excluindo-se, de forma ingênua ou otimista, um novo passeio à beira do abismo, cabe reafirmar que o mundo não terá paz em 2023 ou mais além, pelo simples motivo de que os Estados nacionais ou apenas grupos armados e dotados de qualquer causa bélica legítima ou ilegítima estão sempre dispostos a recorrer ao uso da força em defesa de seus interesses nacionais, étnicos, religiosos e até mesmo tribais. Uma visita ao cenário atual de conflitos latentes ou potenciais pode confirmar a grande disseminação das guerras entre Estados ou intra Estados na presente conjuntura: Somália, Etiópia, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Burkina Faso, Chade, Mali, Niger, Nigéria e Sudão são os pontos mais visíveis no continente africano; Iêmen, Síria, Líbano, no Oriente Médio; Afeganistão, Paquistão e Mianmar, na Ásia do sul; talvez até Venezuela e novamente no Haiti não podem ser excluídos o ressurgimento ou a continuidade de conflitos armados. Em muitos outros países, bandos armados já em ação não excluem a passagem a guerras civis localizadas. 

A Ucrânia, obviamente, garante a continuidade do maior conflito na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial, não esquecendo os que já ocorreram nos Balcãs, cenário do início da Grande Guerra, e diversos outros latentes, como entre Azerbaijão e Armênia, ou a longa luta dos curdos e dos próprios palestinos a propósito da denegação de um dos mais difíceis princípios expostos pelo presidente Woodrow Wilson para as negociações de paz de Paris em 1919: a autodeterminação dos povos. Todos esses conflitos e outros ainda possíveis garantem uma agenda sempre problemática para debate e eventual encaminhamento ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), encarregado justamente de promover e defender a paz e a segurança internacionais, segundo os artigos mais relevantes da Carta da ONU. Pode-se também antecipar que mais da metade deles sequer serão objeto de qualquer decisão do CSNU em 2023 ou nos anos à frente, e não apenas em virtude do famigerado direito de veto exercido arbitrariamente por algum dos seus cinco membros permanentes.

Com efeito, a despeito da Corte Internacional de Justiça já ter formado maioria contra a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, e de ter ordenado a retirada imediata das tropas invasoras, nada de efetivo ocorreu, pois que a CIJ “não tem dentes”, dependente que é de resoluções do CSNU para o cumprimento de suas decisões, o que permanece uma hipótese altamente aleatória. Mesmo quando esse órgão de última instância da ONU aprova uma decisão em favor de uma nova missão de manutenção ou de imposição da paz, isto não quer dizer que ela será imediatamente cumprida, uma vez que a ONU, essa velha senhora, não dispõe de seus próprios “cães de guarda”, sendo totalmente dependente, por sua vez, da vontade ou da propensão dos membros permanentes e temporários do CSNU, ou outros membros da organização, de colocarem tropas, equipamentos e recursos para a formação de uma missão de paz (de qualquer tipo) e para o seu deslocamento para o terreno. No caso da Ucrânia, como já visto ao longo de 2022, essa possibilidade é totalmente inexistente, razão pela qual os “aliados” do país da Europa oriental introduziram sanções unilaterais contra a potência agressora, ainda que num espírito e modalidades totalmente convergentes com os artigos da Carta que regulam tais medidas (já utilizadas multilateralmente nos casos da Coreia do Norte, do ex-Congo belga, da Rodésia do Sul e da África do Sul nos tempos dos governos de minoria branca, do Iraque invasor do Kuwait em 1990 e do Afeganistão, em 2001, como “hospedeiro” dos terroristas que atacaram os EUA no mesmo ano). 

A Rússia vetou qualquer resolução do CSNU tendente a sancioná-la pela guerra de agressão, ainda que não tivesse podido impedir manifestações maciças da Assembleia Geral e do Conselho de Direitos Humanos condenando-a pela invasão e pelos crimes de guerra que estão sendo continuamente perpetrados pela Rússia, o que garantiria a Putin o “direito” a um Nuremberg só seu, hipótese tão improvável quanto um processo e condenação pelo TPI da Haia. Não existe, por outro lado, qualquer possibilidade, no futuro previsível, de que a Carta da ONU seja revista para impedir, por exemplo, que os membros permanentes utilizem essa excrescência do direito de veto quando são eles próprios violadores dos artigos da Carta. O cenário provável é, portanto, o da continuidade dessa guerra monstruosa, assim como de diversas outras praticamente esquecidas pela parte “civilizada” do planeta, neste ano de 2023 e nos que se lhe seguirão. A agenda do CSNU e da própria AGNU permanecerá bloqueada para as questões mais delicadas, que são sempre aquelas nas quais as grandes potências possuem interesses relevantes, e também para as outras, em relação às quais são indiferentes.

Esse cenário coloca na agenda multilateral do Brasil, e também humanitária, ou no plano simplesmente moral, a questão de saber qual postura sua diplomacia deveria adotar nesses casos que impactam, direta ou indiretamente seus interesses nacionais, ou mesmo a consciência ética de seus líderes, se por acaso esse elemento entra em linha de conta. Na diplomacia do “primeiro” Lula, seu chanceler por dois mandatos, Celso Amorim, invocou o princípio subjetivo da “não indiferença” para justificar a aceitação da sugestão feita pelos EUA e França da liderança do Brasil numa missão de estabilização dos agudos conflitos internos no Haiti, que ameaçam desbordar para essas duas potências “coloniais”. Não se sabe se na gestão de Lula “terceiro” o mesmo princípio será invocado para retomar o caminho da antiga Minustah numa nova modalidade de intervenção humanitária e assistencial. O mais relevante, porém, é saber qual postura o país adotará em relação a um possível agravamento da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, que é o cenário mais provável de ocorrer em 2023, em face das contínuas dificuldades de Putin no enfrentamento do seu “Vietnã” nouvelle manière. Até aqui, o Brasil refugiou-se numa posição de neutralidade hipócrita, pois que objetivamente favorável à Rússia, com a qual o governo Bolsonaro negociou a continuidade do fornecimento de fertilizantes e até a importação de combustíveis. 

Essa guerra já provocou uma dramática crise energética (sobretudo na Europa), uma igualmente dramática ameaça ao comércio de grãos (em direção de importadores pobres), além de fenômenos mais recorrentes no cenário da economia mundial: inflação, alta de juros e, ainda mais preocupante, uma nova recessão nas principais economias afetadas pelo conflito, com repercussões inevitáveis sobre todos os demais países. Por mais que o Brasil possua uma matriz energética diversificada e uma amplíssima produção primária de bens agrícolas e minerais, ele não é insensível à volatilidade desses mercados, assim como aos fluxos financeiros e cambiais que podem acelerar o ímpeto inflacionário interno, assim como agravar eventual carência de empréstimos, financiamentos ou investimentos externos. No plano propriamente diplomático, a possível consolidação de uma nova Guerra Fria (desta vez mais propriamente econômica do que geopolítica, mas também esta) acarretará angústias semelhantes ou similares àquelas ressentidas nos anos 1940-80, quando o Brasil buscava firmar uma agenda universalista e ecumênica, capaz de fortalecer sua autonomia decisória e a exclusiva defesa dos interesses nacionais em face das grandes contendas da época.

Naquela fase, o Brasil tinha sido sede da assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (de 1947), um predecessor do princípio da segurança coletiva que seria depois implantado no Tratado de Washington de 1949, criando a Otan, um dos personagens mais ativos na atual guerra da Ucrânia. A diplomacia brasileira manteve-se pouco propensa a invocar o TIAR quando da guerra das Malvinas, em 1982, mas lembrou-se dele, para oferecer solidariedade aos EUA, quando dos ataques terroristas de setembro de 2001. Um elemento novo na equação da segurança, que afetará diplomaticamente o Brasil na presente conjuntura, é a existência do Brics, um foro de consulta e coordenação que congrega, ademais da Índia, da China e da África do Sul, o próprio agressor da Ucrânia e violador da Carta da ONU. Saber o que decidirá a diplomacia de “Lula III” em face do que se afigura um dilema dos mais angustiantes é a grande incógnita do presente momento. Bem-vindos a 2023.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4290: 18 dezembro 2022, 5 p.


terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Seleção de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana - Paulo Roberto de Almeida

 Seleção de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana em 2022

Paulo Roberto de Almeida 

4087. “Uma nota pessoal sobre mais uma postura vergonhosa de nossa diplomacia”, Brasília, 22 fevereiro 2022, 2 p. Comentários a nota do Itamaraty e a declaração feita no CSNU a propósito da invasão da Ucrânia pela Rússia, com referência à nacionalização dos hidrocarburos na Bolívia em 2006. Postado no blog Diplomatizzando (link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/02/uma-nota-pessoal-sobre-mais-uma-postura.html).

4098. “Renúncia infame: o abandono do Direito Internacional pelo Brasil”, Brasília, 7 março 2022, 5 p. Breve ensaio para o blog científico International Law Agendas, do ramo brasileiro da International Law Association (ILA; http://ila-brasil.org.br/blog/), para edição especial sobre “A política externa brasileira frente ao desafio da invasão russa na Ucrânia”, a convite de Lucas Carlos Lima, coeditor do blog, com base nas notas e declarações do Itamaraty com respeito aos debates no CSNU e na AGNU. Publicado, na condição de membro do Conselho Superior do ramo brasileiro da International Law Association, no blog eletrônico International Law Agendas (7/03/2022; link: http://ila-brasil.org.br/blog/uma-renuncia-infame/); blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/uma-renuncia-infame-o-abandono-do.html). Relação de Publicados n. 1442. 

 

4099. “Quando o dever moral nascido do sentido de Justiça deve prevalecer sobre o “pragmatismo” que sustenta o crime”, Brasília, 9 março 2022, 1 p. Comentário sobre a postura objetivamente favorável do governo brasileiro ao agressor no caso da guerra na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/quando-o-dever-moral-nascido-do-sentido.html).

4107. “O conflito Rússia-Ucrânia e o Direito Internacional”, Brasília, 16 março 2022, 12 p. Respostas a questões colocadas por interlocutor profissional sobre a natureza do conflito e suas consequências no plano mundial. Disponível Academia.edu (link: https://www.academia.edu/73969669/OconflitoRussiaUcraniaeoDireitoInternacional2022); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/o-conflito-russia-ucrania-e-o-direito.html).

4109. “Avançamos moralmente desde os embates de nossos ancestrais na luta pela sobrevivência?”, Brasília, 19 março 2022, 1 p. Considerações sobre a imoralidade e barbaridade dos atos que estão sendo cometidos pelas tropas de Putin na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/avancamos-moralmente-desde-os-embates.html).

 4131. “Consequências econômicas da guerra da Ucrânia”, Brasília, 19 abril 2022, 18 p. Notas para desenvolvimento oral em palestra-debate promovida no canal Instagram do Instituto Direito e Inovação (prof. Vladimir Aras), no dia 21/04/22. Nova versão reformatada e acrescida do trabalho 4132, sob o título “A guerra da Ucrânia e as sanções econômicas multilaterais”, com sumário, anexo e bibliografia. Divulgado preliminarmente na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/77013457/AguerradaUcrâniaeassançõeseconômicasmultilaterais2022) e anunciado no blog Diplomatizzando (20/04/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/04/a-guerra-da-ucrania-e-as-sancoes.html). Transmissão via Instagram (21/04/2022; 16:00-17:06; link: https://www.instagram.com/tv/CcoEemiljnq/?igshid=YmMyMTA2M2Y=); (Instagram: https://www.instagram.com/p/CcoEemiljnq/).

4143. “Quão crível é a ameaça de guerra nuclear da Rússia no caso da Ucrânia?”, Brasília, 2 maio 2022, 3 p. Rememorando o caso dos mísseis soviéticos em Cuba. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/quao-credivel-e-ameaca-de-guerra.html).

4152. “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 11 maio 2022, 16 p. Texto de apoio a palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/78954459/OBrasileaguerradeagressãodaRússiacontraaUcrânia2022) e no blog Diplomatizzando (13/05/2022: xc>chttps://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/guerra-na-ucrania-e-suas-implicacoes.html). Divulgado igualmente na página do Centro de Liberdade Econômica das Faculdades Mackenzie (link: https://www.mackenzie.br/liberdade-economica/artigos-e-videos/artigos/arquivo/n/a/i/o-brasil-e-a-guerra-de-agressao-da-russia-contra-a-ucrania). vídeo da palestra no canal YouTube do Mackenzie (link: https://www.youtube.com/watch?v=7jQtR277iDc). Relação de Publicados n. 1452.

 

4153. “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil”, Brasília, 11 maio 2022, 5 p. Notas para exposição oral na palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Divulgado no blog Diplomatizzando (14/05/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/guerra-na-ucrania-e-suas-implicacoes14.html); vídeo da palestra no canal YouTube do Mackenzie (link: https://www.youtube.com/watch?v=7jQtR277iDc).

4165. “Os 100 primeiros dias da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: o Brasil afronta o Direito Internacional e a sua história diplomática”, Brasília, 3 junho 2022, 7 p. Texto de apoio a participação em seminário do Instituto Montese sobre os “100 dias de guerra na Ucrânia”, com gravação prévia antes da apresentação. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/100-dias-de-guerra-de-agressao-da.html); emissão divulgada em 10/06/2022, 14h05 (link: https://www.youtube.com/watch?v=CEs-kG1hOjk; exposição PRA de 44:37 a 52:30 minutos da emissão). Relação de Publicados n. 1454.

 4168. “O Brics depois da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 9 junho 2022, 6 p. Posfácio ao livro A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira, e revisão geral, eliminando todas as tabelas, agora com 187 p. Apresentação no blog Diplomatizzando (11/06/2022; link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/meu-proximo-kindle-sobre-miragem-dos.html). Publicado em 12/06/2022 Brasília: Diplomatizzando, 2022; ISBN: 978-65-00-46587-7; ASIN: B0B3WC59F4; Preço: R$ 25,00;

 4171. “O Brasil está perdendo o rumo em sua postura enquanto nação civilizada?”, Brasília, 12 junho 2022, 5 p. Nota sobre a postura diplomática do Brasil em relação à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, aproveitando para apresentar o livro sobre o Brics, incluindo os dois sumários e o índice não numerado. Postado no blog Diplomatizzando(link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/o-brasil-esta-perdendo-o-rumo-em-sua.html).

4189. “O futuro do grupo BRICS”, Brasília, 30 junho 2022, 9 p. Texto conceitual sobre os caminhos enviesados do BRICS pós-guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, e reflexivo sobre as ordens alternativas no campo econômico e político. Elaborado a propósito de webinar promovido pelo IRICE (embaixador Rubens Barbosa) sobre “O futuro do grupo Brics” (30/06/2022), na companhia do presidente do NDB, Marcos Troyjo, e da representante da Secretaria de Comércio Exterior do Itamaraty, Ana Maria Bierrenbach. Postado no Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/o-futuro-do-grupo-brics-ensaio-por.html). Vídeo do evento disponível no canal do IRICE no YouTube (link: https://www.youtube.com/watch?v=9Q9l8i4gyX4 ). Relação de Publicados n. 1464.

4206. “Sobre a guerra na Ucrânia e nossa próxima política externa”, Brasília, 24 julho 2022, 2 p. Nota sobre a postura de Lula em relação à questão da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/07/a-proxima-politica-externa-do-brasil.html ). 

4217. “A guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e a postura do Brasil”, Brasília, 14 agosto 2022, 10 p. Breve paper sobre a diplomacia brasileira no tocante à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, para participação em seminário híbrido sobre o posicionamento dos Estados latino-americanos frente ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, organizado pelo prof. Nitish Monebhurrun, no Ceub, no dia 17 de agosto, 9h30 (<nitish.monebhurrun@gmail.com>; link do seminário: meet.google.com/gkc-szgz-prt). Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/84817949/4127AguerradeagressaodaRussiacontraaUcraniaeaposturadoBrasil2022) e no blog Diplomatizzando (15/08/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/08/os-estados-latino-americanos-frente-ao.html). 

4227. “Relação de materiais no Diplomatizzando sobre a guerra na Ucrânia”, Brasília, 2 setembro 2022, 3 p. Listagem dos materiais mais interessantes sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e seu impacto geopolítico. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/09/materiais-sobre-guerra-de-agressao.html); disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/86055975/4227_Materiais_no_Diplomatizzando_sobre_a_guerra_de_agressao_a_Ucrania_2022_).

 4245. “O Brasil deixou de fazer parte da comunidade internacional? Desde quando?”, Brasília, 28 setembro 2022, 2 p. Nota sobre a postura do Brasil em face das violações da Rússia na sua guerra de agressão contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/09/o-brasil-deixou-de-fazer-parte-da.html).

 4249. “Carta aberta ao Sr. Presidente da República”, Brasília, 7 outubro 2022, 1 p. Indagação a respeito de nossas obrigações constitucionais e internacionais, no tocante à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/10/carta-aberta-ao-sr-presidente-da.html).

 4293. “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 20 dezembro 2022, 1 p. Nota sobre a futura diplomacia do lulopetismo no tocante à guerra na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/12/o-brasil-e-guerra-de-agressao-da-russia.html).

4301. “Seleção de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana”, Brasília, 10 janeiro 2023, 4 p. Lista seletiva de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/01/selecao-de-trabalhos-sobre-guerra-de.html). 


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4301, 10 janeiro 2023, 4 p.


 



sábado, 12 de novembro de 2022

A política externa no 2º turno na campanha presidencial - Paulo Roberto de Almeida

Um outro trabalho, de respostas a jornalista sobre o papel dos temas diplomáticos entre o primeiro e o segundo turno das eleições, que também tinha permanecido inédito nesse período.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 12/11/2022

A política externa no 2º turno na campanha presidencial

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Respostas a questões de repórter da mídia brasileira.

Brasília, 18 de outubro de 2022.

 

 

1.  Os temas de política externa estão mais presentes nesta eleição do que em eleições anteriores? Por quê?

PRA: O mundo vive uma situação anormal, com sequelas ainda subsistentes da pandemia, mas sobretudo com o impacto da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Não se pode descartar, tampouco, a influência anterior do conservadorismo vinculado ao trumpismo e a diversos movimentos na Europa, de crescimento dos partidos de direita e de grupos identificados com o antimultilateralismo e antiglobalismo. Bolsonaro, e muitos dos que o seguem, pertencem a esse universo mental trumpista e conservador, ainda que essa influência tenha diminuído com a derrota de Trump em 2020. O encarecimento do petróleo e o lado crucial da crise energética e alimentar em decorrência de todos esses eventos e processos também respondem pelo maior impacto da agenda mundial na campanha no Brasil.

 

2.  Quando esses temas internacionais entram no debate (preservação da Amazônia, convites para o G7, repressão aos padres na Nicarágua, refugiados venezuelanos), eles favorecem mais qual candidato? Por quê?

PRA: Temas vinculados às ditaduras latino-americanas e o apoio que os governos do PT lhes concederam no passado atuam diretamente em detrimento da campanha de Lula, e isso vem sendo explorado habilmente por Bolsonaro, ao passo que Lula fica restringido ao responder a essas questões porque, DE FATO, o PT se aliou a essas execráveis ditaduras. Não se sabe se numa próxima presidência Lula esse apoio continuaria, daí a fraqueza evidente da campanha de Lula de se demarcar desse legado extremamente negativo.

Por outro lado, temas ambientais, de direitos humanos, vinculados a minorias de maneira geral podem ser explorados em favor do candidato Lula, em detrimento de Bolsonaro, que é notoriamente contrário a TODOS os temas sociais, ambientais e de respeito às liberdades democráticas, igualdade de gênero e questões afins não só na agenda interna, do Brasil, mas também na agenda externa, dos organismos multilaterais. O desmatamento na Amazônia, a devastação nos territórios indígenas, o apoio direto e indireto que Bolsonaro empresta a grupos de madeireiros e garimpeiros podem ser utilizados pelo candidato Lula contra seu adversário no resto da campanha. É notório que existe um enorme fosso entre um e outro, nos temas sociais e ambientais e na postura em face de ditaduras de esquerda, e cada lado tende a explorar o que lhe convém.

 

3.  Esses temas internacionais podem mudar o voto dos brasileiros? Ou eles só entram como parte da agenda de costumes (medo do comunismo, da legalização das drogas)?

PRA: Dificilmente temas externos mobilizam o grosso do eleitorado brasileiro, que só tende a reagir em face de impactos vindos de fora – preço dos combustíveis, inflação mundial, etc. –, e existe muita mistificação, e até mesmo FRAUDE, na exploração ao temor quanto a um regime comunista no Brasil, constantemente agitado pelo candidato da extrema direita. Bolsonaro sabe que não existe nenhum risco de o Brasil ser levado ao comunismo, e sua insistência no tema só revela má-fé e desejo de conquistar o eleitorado pela MENTIRA!

 

4.  Se Lula ganhar, como será seu governo nessa área internacional?

PRA: Nos primeiros três governos e meio do PT a política externa foi dominada em parte pelo partido, com seu antiamericanismo tradicional e por uma postura tipicamente terceiro-mundista nos foros multilaterais. Presume-se que pelas alianças já feitas e pelos apoios que tem recebido de economistas liberais, e pelos avanços em direção ao agronegócio e industriais em geral, sua política externa terá contornos mais alinhados com os padrões mais tradicionais da diplomacia profissional, mas a incógnita permanece. Nos mandatos de Lula, para compensar a política econômica conservadora, a política externa foi entregue aos militantes da base, e a diplomatas antiamericanos; não se sabe se num eventual novo mandato a mesma postura será seguida, pois a política econômica terá de ser necessariamente moderada e alinhada com interesses nacionais mais relevantes. Cabe verificar o que será feito do BRICS – hoje dominado mais do que nunca pela China –, que é uma construção dos mandatos de Lula, e como o terceiro-mundismo do PT será absorvido, controlado ou ainda predominante.

 

5.  E Bolsonaro? Seguirá na mesma toada? Ele manterá Carlos França como chanceler?

Bolsonaro sempre preferiu se cercar de ministros servis, sem personalidade própria, e isso ocorreu com os dois chanceleres de seu mandato 2019-2022; a política externa, hoje, não está mais entregue ao bando de lunáticos antiglobalistas que a controlou entre 2019 e março de 2021, mas o próprio presidente costuma dar o tom direitista a suas alianças externas, o que já isolou o Brasil tremendamente no plano internacional. O principal handicap tem sido com a Europa, no plano ambiental, social e humanitário, e desde este ano, com a Europa e os EUA na questão da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Paradoxalmente, o apoio implícito a Putin e à Rússia mais une Bolsonaro e Lula do que os separa: esse fator será decisivo nos próximos meses de guerra e de discussões internacionais. Mais uma vez, o BRICS é uma âncora muito pesada nesse tema.

 

6.  Bolsonaro falava da China em 2018, mas agora esqueceu o assunto. Como ele e Lula lidariam com os chineses em caso de vitória nas urnas?

Bolsonaro é facilmente controlável pelo agronegócio e pelos donos do capital, e não insistirá mais na agenda ideológica da franja lunática do primeiro período, no qual a China era o demônio comunista. Essa bobagem não mais voltará. Portanto, business as usual. A China – e o imenso superávit comercial por ela permitido – é ESSENCIAL para QUALQUER GOVERNO BRASILEIRO; sem ela nosso déficit de transações correntes aumentaria muito. E isso não tem nada a ver com agenda política, mas é puro comércio exterior. Ambos precisam ser pragmáticos nesse terreno, portanto.

Mas Lula terá um trânsito político e diplomático muito mais amplo com a China, ainda que seja constrangido pelo protecionismo tradicional de nossos industriais. O Brasil é um dos países que mais aplicam antidumpings contra produtos chineses, muito deles puramente abusivos. Ainda que Lula tivesse prometido conceder o status de economia de mercado à China EM 2003, ele nunca concretizou essa intenção, barrado pela FIESP-CNI.

A questão seria saber como evoluiria o BRICS, que a China quer ampliar e transformar em verdadeira organização internacional, uma espécie de contraparte à OCDE. A grande dúvida é como Lula reagiria em face dessa proposta, e das recomendações da própria OCDE, nas áreas de liberalização comercial e abertura econômica.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4256: 18 outubro 2022, 3 p.

 

sábado, 1 de outubro de 2022

Um Réquiem (antecipado) para o fim próximo do HORROR diplomático no Brasil - Paulo Roberto de Almeida

 Reproduzo aqui a “mensagem” de final de ano que eu fiz para todos os meus colegas diplomatas em 22 de dezembro de 2020, desculpando-me, como fiz, pelo tom conradiano da postagem, neste link.

Eu a “redescobri”, por acaso, mas creio que ela é apropriada também para este “fin de règne”, a ser ainda confirmado nestas eleições de 2/10/2022.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 1/10/2022

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Minha mensagem de final de ano a colegas diplomatas e acadêmicos: O Horror Diplomático - Paulo Roberto de Almeida


O horror, o horror diplomático

  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

 

 

Gostaria, em primeiro lugar, de me desculpar com meus colegas diplomatas por publicar, na véspera de Natal, uma mensagem de tons mais conradianos do que dickensianos. Mas, eu não seria fiel à minha própria trajetória na carreira, ao longo de mais de quatro décadas – durante as quais nunca hesitei em defender minhas próprias convicções e os argumentos que sempre corresponderam a um estudo sério das posturas que fundamentam nossa atividade profissional – se eu não transmitisse aos membros de minha corporação de Estado os sentimentos que me animam neste melancólico final de ano, por razões que todos devem deduzir facilmente, em função do que já escrevi nos últimos 24 meses.

 

Todos nós, diplomatas, com a possível exceção de dois ou três (que eu não hesito em retirar da categoria de “colegas”), estamos cumprindo dois anos de profunda decepção, de justificada frustração e de sincera repulsa por um quadro de verdadeiro horror na instituição que está próxima de seu bicentenário, talvez menos repugnante do que o relato conradiano sobre as violações de direitos humanos no âmbito do colonialismo, mas que não deixa de ser, para nós, uma ruptura fundamental com tudo o que se sabe da história do Itamaraty. 

Esse horror começou a ser revelado ainda antes das eleições, a partir de uma matéria de jornal, no final de setembro de 2018, que desvendou a identidade de um animador de blog bolsonarista atuando de forma militante em favor de seu candidato, e atacando de forma vil os adversários, inclusive a política externa da qual tinha sido protagonista durante cerca de três décadas. O autor de diatribes acerbas contra a política externa em curso, e contra toda e qualquer política pública existente, teve de, apressadamente, desculpar-se junto às chefias da Casa, junto às quais encontrou complacência para seguir adiante com seu blog, que por acaso levava o título de “Metapolítica 17: contra o globalismo”. Fez-se então a junção com o nome do autor do infeliz artigo “Trump e Ocidente”, que havia sido publicado na revista do IPRI, que eu dirigia, Cadernos de Política Exterior (n. 6, 2017). Não demorou muito para que o seu autor – provavelmente motivado por esse exato objetivo – fosse confirmado como o chanceler escolhido para conduzir uma “diplomacia sem ideologia”, o que, diga-se, destoava radicalmente de todo o conteúdo impressionista revelado naquele artigo.

No meu caso, foi um pouco mais de dois anos, pois, em meados de 2018, eu já tinha tido contato com quase toda a equipe econômica envolvida na campanha do candidato – que me recebeu como se eu fosse me juntar àquela tropa, o que nunca foi minha intenção –, de quem ouvi e captei intenções de política econômica externa (que foi o tema exclusivo de meu diálogo naquele encontro) que já considerei como incrivelmente ingênuas ou equivocadas, no confronto com o que sempre se soube do candidato em questão. Afastei-me definitivamente de todos eles quando, em meados de agosto seguinte, foi tornado público o programa de governo desse personagem singular na política externa, contendo cinco extraordinários parágrafos relativos à “futura política externa”, infelizmente reveladores da tremenda miséria intelectual e diplomática que se prenunciava. Imediatamente elaborei um memorando – reservado ao início, depois revelado em meu blog, criticando severamente aqueles propósitos aloprados e alinhando algumas diretrizes que eu julgava relevantes para orientar a futura diplomacia (aqueles interessados em ler minhas observações podem acessar esta postagem: “Um programa insuficiente de política externa: comentários pessoais”, Brasília, 15/08/2018, 5 p. Comentários à parte de política externa do programa do candidato Bolsonaro; blog Diplomatizzando, 15/08/2018; link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/um-programa-insuficiente-de-politica.html). Na sequência, nunca mais tive contato com algum membro daquela equipe, a não ser para novamente recusar, peremptoriamente, qualquer associação minha com aquelas políticas, antes ou depois daquele único e solitário encontro. 

Depois disso, eu tinha certeza de que seria exonerado no primeiro dia do governo Bolsonaro, mas antes mesmo da posse e da inauguração do gabinete, já tínhamos tido, nós os diplomatas, os primeiros sinais do horror que logo se abateria, intencionalmente ou na prática, sobre a diplomacia e a política externa, e que eu resumo por alguns poucos exemplos: denúncia do Acordo de Paris e do Pacto Global das Migrações (este realizado); o afastamento das “nefastas” ideologias “climatistas” e “comercialistas” e das políticas ligadas à “ideologia de gênero”; o distanciamento da China e de qualquer outra manifestação de “comunismo”; a mudança da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, considerada a legítima capital israelense; uma estreita aliança com os Estados Unidos e com o presidente Trump em especial; o combate ao “marxismo cultural”, supostamente entranhado num Itamaraty que se tinha promiscuído nos governos companheiros – como se o chanceler escolhido não tivesse servido fielmente a todas as administrações anteriores – e, cúmulo da ideologia, a retomada do espírito conservador e religioso do “povo brasileiro”, com o qual estaria estreitamente vinculada a “nova política externa”. 

Tudo isso foi ouvido e repetido em diversas ocasiões – novos artigos, entrevistas, e declarações públicas – em novembro e dezembro de 2018, e triunfantemente repetido, para estupefação geral do corpo diplomático, no dia 2 de janeiro de 2019, o que justificadamente legitimou o apelido de “Beato Salu”, com o qual foi agraciado o chanceler acidental. Minha exoneração demorou ainda um pouco, pois não tinham ainda quem me substituísse, mas ela finalmente ocorreu no Carnaval de 2019, com toques de humilhação: fui, na sequência, lotado na Divisão do Arquivo, sob a chefia de um primeiro secretário, que precisa “autorizar” toda e qualquer providência administrativa de que eu que possa necessitar (férias, ausências, etc.). Não me constrangi com a nova situação, minha velha conhecida desde os tempos – que agora julgo mais amenos – dos companheiros, quando passei anos e anos na Biblioteca, lendo muito, refletindo e escrevendo o que eu pensava sobre o Itamaraty e sobre relações exteriores e sobre nossa história diplomática (livros todos relacionados na minha página pessoal).

Desde então, a despeito de alguns contratempos funcionais, já conhecidos dos que me seguem neste espaço, tenho mantido invariavelmente a mesma rotina: acompanhamento atento de todas as fontes de informação fiáveis – algumas pouco confiáveis também –, a leitura sistemática de tudo aquilo que tenha a ver com a política internacional, as relações externas e a diplomacia do Brasil, os cenários político, econômico e cultural do Brasil e do mundo, e a produção de dezenas de artigos e vários livros sobre esses temas, vários deles, senão todos livremente disponíveis a partir de minhas ferramentas de comunicação social.

Independentemente do tom mais irônico ou mais sério dessas diversas produções, o que se pode ressaltar, tanto para mim como para a maioria (pelo menos imagino) dos meus colegas, é o HORROR a que somos confrontados desde aproximadamente dois anos de uma diplomacia e de uma política externa extraordinariamente em desacordo, nas antípodas de tudo aquilo a que assistimos nas últimas décadas, e talvez em toda a nossa história, de um exercício ponderado, não ideológico (muito pouco inclusive sob a ditadura militar) e quase nunca partidário da diplomacia profissional, quase sempre colada à governamental (para nosso alívio e satisfação intelectual). Quaisquer que tenham sido os matizes da diplomacia dos governos anteriores, desde o Império, ela sempre correspondeu grosso modo ao núcleo básico do interesse nacional – o desenvolvimento com autonomia decisória – e quase nunca nos colocou em confronto direto com nossos vizinhos e com o resto do mundo, a não ser em face de desafios à nossa própria dignidade (guerras do Prata e dois conflitos globais). 

O fato é que o atual governo se identifica com os estratos mais reacionários e mais repressivos de setores da ditadura militar e que, em nossa área, a atual diplomacia se vincula a concepções obscurantistas e conspiratórias do mundo, o que jamais tínhamos assistido na história bissecular do Brasil e do Itamaraty. Saudosistas dos momentos mais sombrios da ditadura militar e patéticos elementos anti-iluministas e fundamentalistas foram chamados a se exercerem em vários setores da administração, para imenso desconforto de tecnocratas racionais, de diplomatas normais e de militares identificados com sua missão essencial. O termo de horror conradiano se justifica amplamente, portanto, nesta mensagem de “Natal”, que poderia ter sido mais realisticamente dickensiana se outras fossem as circunstâncias.

 

Desculpando-me, junto a meus colegas, por um texto que não me deu nenhum prazer em redigir e ao divulgá-lo em momento provavelmente impróprio, gostaria, ainda assim, de desejar a todos um excelente 2021, com a retomada oportuna da sensatez política e de uma necessária racionalidade na concepção e na implementação de uma política externa mais conforme nossos padrões conhecidos de qualidade substantiva e excelência operacional. Só desejo um 2021 pior do que este ano que se encerra a quem vocês adivinham quem seja, mas isto nada mais é do que simples manifestação de sinceridade intelectual e de ousadia pessoal (o que sempre foi, como todos sabem, uma de minhas marcas no exercício da carreira e das atividades acadêmicas). 

Com as minhas melhores saudações,

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3825, 22 de dezembro de 2020

Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/12/minha-mensagem-de-final-de-ano-colegas.html).

 


quinta-feira, 22 de setembro de 2022

A nação que se perdeu a si mesma - Paulo Roberto de Almeida

 A nação que se perdeu a si mesma

Paulo Roberto de Almeida 


Um reconhecimento, e uma frustração, em face dos maiores desafios que se apresentam ao Brasil atual, tanto no plano da política interna, quanto no da política externa


Infelizmente, as elites nacionais, mas sobretudo as duas principais corporações de Estado, os militares e os diplomatas, parecem ter perdido qualquer senso moral e qualquer coragem no desempenho de suas respectivas obrigações.  

Digo isso com tristeza, pois esperava que os diplomatas tivessem mais hombridade ou honestidade intelectual na defesa dos valores e princípios que deveriam ser os nossos, se alguma vez o foram.

O regime republicano já foi várias vezes violado e humilhado, na completa indiferença, quando não com a conivência, dos militares, que outrora o proclamaram.

Os padrões de conduta da diplomacia nacional já foram recorrentemente espezinhados, na aparente indiferença do seu corpo profissional, que demonstra estar alheio à violação dos grandes princípios que já foram os seus no passado.


Estarei exagerando, ou o Brasil, representado por suas supostas elites, já perdeu a sua alma? 

Qual era ela, exatamente?


Paulo Roberto de Almeida

Ribeirão Preto, 22/09/2022

domingo, 21 de agosto de 2022

Sobre algumas razões de nosso atraso politico e econômico - Paulo Roberto de Almeida

Sobre algumas razões de nosso atraso político e econômico 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Nota sobre os mercadores do templo e os políticos ignorantes

  

Não existe nenhuma novidade ao se afirmar que o cenário visível do desalento nacional é caracterizado pelo aumento da miséria e da pobreza da população mais carente e a total falta de educação cívica em amplos setores do eleitorado, dois fatores potencializados pelo crescimento do evangelismo extrator, isto é, a indústria religiosa predatória dos pobres e deseducados. 

Se a Receita Federal tivesse condições de avaliar o volume de dinheiro que é carreado de forma praticamente subterrânea para as arcas dos pastores – um indústria que talvez iguale, ou supere, os tráficos de todos os tipos – constataria que ele é muitas vezes maior do que todo o "maná" governamental sob a forma de "auxílio à pobreza", sobretudo porque o maná dos pastores passou do dízimo arrecadado voluntariamente ou das bolsinhas circulando nos cultos, para a forma mais moderna do Pix oficial das "igrejas" (o que aliás facilitaria a avaliação do oceano de dinheiro manipulado por esses "pastores da fé").

O crescimento da demagogia religiosa juntou-se ao velho populismo eleitoral para levar o Brasil para trás, e não apenas no sentido cívico, mas propriamente educacional. Daí decorrem políticas gerais, inclusive econômicas, altamente equivocadas que rebaixam o capital humano daqueles mais desprovidos.

É um imenso problema, nunca resolvido mesmo nos anos de estabilização macroeconômica e que está arrastando o Brasil para trás e para baixo. A diminuição da renda e o aumento dos pobres e famintos são visíveis a olho nu, o que não é só uma decorrência da crise da epidemia e da guerra.

A má qualidade do estamento político faz o resto, ao produzir baixo crescimento (ou nenhum em termos per capita, e até recuando), pela adoção de políticas inconsistentes ou simplesmente direcionadas a privilegiar os já ricos.

As políticas de “assistência à pobreza” não eliminam na verdade a pobreza, apenas subsidiam o consumo dos mais pobres, e podem até provocar efeitos deletérios, sobre o mercado de trabalho, por um lado (ao alterar o custo desse fator no plano microeconômico), e, por outro lado, sobre a chamada agricultura de subsistência ou atividades muito elementares que atuavam como “renda” não monetária (e, portanto, não computada nos levantamentos baseados em moeda circulante). 

Se havia desnutrição, subnutrição ou até surtos epidêmicos de fome localizada (secas em determinadas regiões do agreste, por exemplo), não havia gente condenada a morrer de fome pela ausência de ajuda assistencial do governo ou inexistência de alternativas. Um equilíbrio precário, mas não o quadro de pessoas realmente passando fome extrema, pela ausência de algum maná público. 

O desequilíbrio ou interrupção das ajudas levou à dependência passiva, e, portanto, a casos agudos de fome, pois a expectativa era a ajuda, não a busca ativa ou desesperada de uma solução ao nível individual. 

O tão apregoado e incensado “maior programa de assistência social do mundo” pode ter criado uma cultura da dependência nefasta no plano dos comportamentos sociais e individuais. 

O “Estado” — isto é, políticos demagogos do governo — perpetuam a solução da ajuda pública, pois parece um expediente mais fácil — ou útil eleitoralmente— do que a educação de massa de qualidade e políticas de produtividade do capital humano.

As políticas de combate à pobreza podem estar perpetuando a pobreza. O atraso é tanto mental quanto material.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4231: 21 agosto 2022, 2 p.


domingo, 24 de julho de 2022

A próxima política externa do Brasil promete ser tão ruim quanto a atual - Paulo Roberto de Almeida

Sobre a guerra na Ucrânia e nossa próxima política externa

Paulo Roberto de Almeida

 Lula, o chefe indiscutível do PT e provável próximo presidente, deve reunir-se com os embaixadores do grupo BRICS nos próximos dias, grupo que ele criou com os russos e que pretende manter ativo e ainda mais forte, seguindo nisso sugestões da China. Estes embaixadores vão provavelmente repetir o que seus governos vêm dizendo em relação à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, ou seja, não haverá muita novidade nesse encontro, a não ser o fato relevante de CONFIRMAR a postura de Lula como singularmente parecida com a de Bolsonaro, ou seja, de cumplicidade objetiva com Putin nessa guerra de agressão, que representa antes de mais nada uma violação da Carta da ONU e dos princípios mais elementares do Direito Internacional.

Lula deveria reunir-se, igualmente – e suponho que o fará – com os embaixadores da União Europeia, cujos países já condenaram diversas vezes a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, já introduziram sanções contra a Rússia, e todos eles, ou quase todos, ratificam, endossam, subscrevem à resolução da última cúpula da Otan, que condenou, nos termos mais duros, a guerra ILEGAL da Rússia contra a Ucrânia.

Antes de se reunir com os embaixadores da UE – com os quais gostaria de combinar a entrada em vigor do acordo Mercosul-UE –, Lula talvez devesse reler (ou ler, se ainda não o fez) dois parágrafos da declaração da Otan, que resume a postura que os países europeus observam nessa questão: 

- We are united in our commitment to democracy, individual liberty, human rights, and the rule of law. We adhere to international law and to the purposes and principles of the Charter of the United Nations. We are committed to upholding the rules-based international order.

- We condemn Russia’s war of aggression against Ukraine in the strongest possible terms. It gravely undermines international security and stability. It is a blatant violation of international law. Russia’s appalling cruelty has caused immense human suffering and massive displacements, disproportionately affecting women and children. Russia bears full responsibility for this humanitarian catastrophe. Russia must enable safe, unhindered, and sustained humanitarian access. Allies are working with relevant stakeholders in the international community to hold accountable all those responsible for war crimes, including conflict-related sexual violence. Russia has also intentionally exacerbated a food and energy crisis, affecting billions of people around the world, including through its military actions. Allies are working closely to support international efforts to enable exports of Ukrainian grain and to alleviate the global food crisis. We will continue to counter Russia’s lies and reject its irresponsible rhetoric. Russia must immediately stop this war and withdraw from Ukraine. Belarus must end its complicity in this war.