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terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Seleção de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana - Paulo Roberto de Almeida

 Seleção de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana em 2022

Paulo Roberto de Almeida 

4087. “Uma nota pessoal sobre mais uma postura vergonhosa de nossa diplomacia”, Brasília, 22 fevereiro 2022, 2 p. Comentários a nota do Itamaraty e a declaração feita no CSNU a propósito da invasão da Ucrânia pela Rússia, com referência à nacionalização dos hidrocarburos na Bolívia em 2006. Postado no blog Diplomatizzando (link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/02/uma-nota-pessoal-sobre-mais-uma-postura.html).

4098. “Renúncia infame: o abandono do Direito Internacional pelo Brasil”, Brasília, 7 março 2022, 5 p. Breve ensaio para o blog científico International Law Agendas, do ramo brasileiro da International Law Association (ILA; http://ila-brasil.org.br/blog/), para edição especial sobre “A política externa brasileira frente ao desafio da invasão russa na Ucrânia”, a convite de Lucas Carlos Lima, coeditor do blog, com base nas notas e declarações do Itamaraty com respeito aos debates no CSNU e na AGNU. Publicado, na condição de membro do Conselho Superior do ramo brasileiro da International Law Association, no blog eletrônico International Law Agendas (7/03/2022; link: http://ila-brasil.org.br/blog/uma-renuncia-infame/); blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/uma-renuncia-infame-o-abandono-do.html). Relação de Publicados n. 1442. 

 

4099. “Quando o dever moral nascido do sentido de Justiça deve prevalecer sobre o “pragmatismo” que sustenta o crime”, Brasília, 9 março 2022, 1 p. Comentário sobre a postura objetivamente favorável do governo brasileiro ao agressor no caso da guerra na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/quando-o-dever-moral-nascido-do-sentido.html).

4107. “O conflito Rússia-Ucrânia e o Direito Internacional”, Brasília, 16 março 2022, 12 p. Respostas a questões colocadas por interlocutor profissional sobre a natureza do conflito e suas consequências no plano mundial. Disponível Academia.edu (link: https://www.academia.edu/73969669/OconflitoRussiaUcraniaeoDireitoInternacional2022); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/o-conflito-russia-ucrania-e-o-direito.html).

4109. “Avançamos moralmente desde os embates de nossos ancestrais na luta pela sobrevivência?”, Brasília, 19 março 2022, 1 p. Considerações sobre a imoralidade e barbaridade dos atos que estão sendo cometidos pelas tropas de Putin na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/avancamos-moralmente-desde-os-embates.html).

 4131. “Consequências econômicas da guerra da Ucrânia”, Brasília, 19 abril 2022, 18 p. Notas para desenvolvimento oral em palestra-debate promovida no canal Instagram do Instituto Direito e Inovação (prof. Vladimir Aras), no dia 21/04/22. Nova versão reformatada e acrescida do trabalho 4132, sob o título “A guerra da Ucrânia e as sanções econômicas multilaterais”, com sumário, anexo e bibliografia. Divulgado preliminarmente na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/77013457/AguerradaUcrâniaeassançõeseconômicasmultilaterais2022) e anunciado no blog Diplomatizzando (20/04/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/04/a-guerra-da-ucrania-e-as-sancoes.html). Transmissão via Instagram (21/04/2022; 16:00-17:06; link: https://www.instagram.com/tv/CcoEemiljnq/?igshid=YmMyMTA2M2Y=); (Instagram: https://www.instagram.com/p/CcoEemiljnq/).

4143. “Quão crível é a ameaça de guerra nuclear da Rússia no caso da Ucrânia?”, Brasília, 2 maio 2022, 3 p. Rememorando o caso dos mísseis soviéticos em Cuba. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/quao-credivel-e-ameaca-de-guerra.html).

4152. “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 11 maio 2022, 16 p. Texto de apoio a palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/78954459/OBrasileaguerradeagressãodaRússiacontraaUcrânia2022) e no blog Diplomatizzando (13/05/2022: xc>chttps://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/guerra-na-ucrania-e-suas-implicacoes.html). Divulgado igualmente na página do Centro de Liberdade Econômica das Faculdades Mackenzie (link: https://www.mackenzie.br/liberdade-economica/artigos-e-videos/artigos/arquivo/n/a/i/o-brasil-e-a-guerra-de-agressao-da-russia-contra-a-ucrania). vídeo da palestra no canal YouTube do Mackenzie (link: https://www.youtube.com/watch?v=7jQtR277iDc). Relação de Publicados n. 1452.

 

4153. “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil”, Brasília, 11 maio 2022, 5 p. Notas para exposição oral na palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Divulgado no blog Diplomatizzando (14/05/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/guerra-na-ucrania-e-suas-implicacoes14.html); vídeo da palestra no canal YouTube do Mackenzie (link: https://www.youtube.com/watch?v=7jQtR277iDc).

4165. “Os 100 primeiros dias da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: o Brasil afronta o Direito Internacional e a sua história diplomática”, Brasília, 3 junho 2022, 7 p. Texto de apoio a participação em seminário do Instituto Montese sobre os “100 dias de guerra na Ucrânia”, com gravação prévia antes da apresentação. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/100-dias-de-guerra-de-agressao-da.html); emissão divulgada em 10/06/2022, 14h05 (link: https://www.youtube.com/watch?v=CEs-kG1hOjk; exposição PRA de 44:37 a 52:30 minutos da emissão). Relação de Publicados n. 1454.

 4168. “O Brics depois da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 9 junho 2022, 6 p. Posfácio ao livro A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira, e revisão geral, eliminando todas as tabelas, agora com 187 p. Apresentação no blog Diplomatizzando (11/06/2022; link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/meu-proximo-kindle-sobre-miragem-dos.html). Publicado em 12/06/2022 Brasília: Diplomatizzando, 2022; ISBN: 978-65-00-46587-7; ASIN: B0B3WC59F4; Preço: R$ 25,00;

 4171. “O Brasil está perdendo o rumo em sua postura enquanto nação civilizada?”, Brasília, 12 junho 2022, 5 p. Nota sobre a postura diplomática do Brasil em relação à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, aproveitando para apresentar o livro sobre o Brics, incluindo os dois sumários e o índice não numerado. Postado no blog Diplomatizzando(link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/o-brasil-esta-perdendo-o-rumo-em-sua.html).

4189. “O futuro do grupo BRICS”, Brasília, 30 junho 2022, 9 p. Texto conceitual sobre os caminhos enviesados do BRICS pós-guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, e reflexivo sobre as ordens alternativas no campo econômico e político. Elaborado a propósito de webinar promovido pelo IRICE (embaixador Rubens Barbosa) sobre “O futuro do grupo Brics” (30/06/2022), na companhia do presidente do NDB, Marcos Troyjo, e da representante da Secretaria de Comércio Exterior do Itamaraty, Ana Maria Bierrenbach. Postado no Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/o-futuro-do-grupo-brics-ensaio-por.html). Vídeo do evento disponível no canal do IRICE no YouTube (link: https://www.youtube.com/watch?v=9Q9l8i4gyX4 ). Relação de Publicados n. 1464.

4206. “Sobre a guerra na Ucrânia e nossa próxima política externa”, Brasília, 24 julho 2022, 2 p. Nota sobre a postura de Lula em relação à questão da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/07/a-proxima-politica-externa-do-brasil.html ). 

4217. “A guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e a postura do Brasil”, Brasília, 14 agosto 2022, 10 p. Breve paper sobre a diplomacia brasileira no tocante à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, para participação em seminário híbrido sobre o posicionamento dos Estados latino-americanos frente ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, organizado pelo prof. Nitish Monebhurrun, no Ceub, no dia 17 de agosto, 9h30 (<nitish.monebhurrun@gmail.com>; link do seminário: meet.google.com/gkc-szgz-prt). Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/84817949/4127AguerradeagressaodaRussiacontraaUcraniaeaposturadoBrasil2022) e no blog Diplomatizzando (15/08/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/08/os-estados-latino-americanos-frente-ao.html). 

4227. “Relação de materiais no Diplomatizzando sobre a guerra na Ucrânia”, Brasília, 2 setembro 2022, 3 p. Listagem dos materiais mais interessantes sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e seu impacto geopolítico. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/09/materiais-sobre-guerra-de-agressao.html); disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/86055975/4227_Materiais_no_Diplomatizzando_sobre_a_guerra_de_agressao_a_Ucrania_2022_).

 4245. “O Brasil deixou de fazer parte da comunidade internacional? Desde quando?”, Brasília, 28 setembro 2022, 2 p. Nota sobre a postura do Brasil em face das violações da Rússia na sua guerra de agressão contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/09/o-brasil-deixou-de-fazer-parte-da.html).

 4249. “Carta aberta ao Sr. Presidente da República”, Brasília, 7 outubro 2022, 1 p. Indagação a respeito de nossas obrigações constitucionais e internacionais, no tocante à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/10/carta-aberta-ao-sr-presidente-da.html).

 4293. “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 20 dezembro 2022, 1 p. Nota sobre a futura diplomacia do lulopetismo no tocante à guerra na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/12/o-brasil-e-guerra-de-agressao-da-russia.html).

4301. “Seleção de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana”, Brasília, 10 janeiro 2023, 4 p. Lista seletiva de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/01/selecao-de-trabalhos-sobre-guerra-de.html). 


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4301, 10 janeiro 2023, 4 p.


 



sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Diante de Rússia e EUA, chanceler do Brasil condena abusos 'de todas as partes' na Ucrânia

 Posição HIPÓCRITA do chanceler e CONTRÁRIA ao Direito Internacional. Rui Barbosa dizia em 1916 que não se pode ser neutro entre o CRIME e a Justiça.

Posição contrária a todas as tradições da diplomacia brasileira. Vergonha!

Paulo Roberto de Almeida 

 

Diante de Rússia e EUA, chanceler do Brasil condena abusos 'de todas as partes' na Ucrânia

Carlos França repete neutralidade em reunião do Conselho de Segurança da ONU com Lavrov e Blinken

Folha de S. Paulo, 25/09/2022

WASHINGTON - Um dia após o presidente russo, Vladimir Putin, ameaçar usar armas nucleares contra o Ocidente, o chanceler do Brasil, Carlos França, voltou a defender a posição brasileira de neutralidade na Guerra da Ucrânia ao pedir respeito ao direito internacional "por todas as partes" do conflito.

França falou ao Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira (22), em reunião convocada durante a Assembleia-Geral da entidade para discutir a Guerra da Ucrânia. O encontro colocou frente a frente os chefes das diplomacias russa, Serguei Lavrov, americana, Antony Blinken, e chinesa, Wang Yi —e dos demais países com assento no órgão, além do chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba.

Carlos França repetiu habituais apelos por um cessar-fogo e um acordo de paz, mas não se referiu diretamente à Rússia nenhuma vez no seu breve discurso, de menos de dois minutos.

"Ao longo desses sete meses [desde o começo da guerra], este conselho recebeu inúmeros relatórios de violações sérias de direitos humanos nas zonas de conflito, inclusive contra grupos vulneráveis de mulheres e crianças", afirmou. "O Brasil condena os abusos e defende uma investigação imparcial dos fatos, de modo que os responsáveis respondam por suas ações. Também reiteramos nosso pedido por completo respeito às leis humanitárias internacionais por todas as partes."

A posição é ambígua, já que há uma série de registros de violações cometidas por parte de tropas russas, mas Moscou também acusa as forças ucranianas de desrespeitarem os direitos humanos sobretudo nas regiões próximas à fronteira de maioria étnica russa, como o Donbass.

Assim como fez o presidente Jair Bolsonaro (PL) em discurso na Assembleia-Geral na terça (20), França criticou as sanções à Rússia e afirmou que "não é hora de acentuar visões ou isolar as partes [envolvidas]". Para o chanceler, "os riscos de escalada crescente pelas dinâmicas do conflito são simplesmente altos demais e as consequências para a ordem mundial, imprevisíveis."

Na quarta (21), Putin foi à TV dizer que a Rússia "também tem vários meios de destruição" e que iria "usar todos os meios à disposição" para proteger o país. "Isto não é um blefe", ressaltou.

O discurso deu o tom da reunião do Conselho de Segurança desta quinta. "A ideia de um conflito nuclear, antes impensável, virou assunto de debate —e isso é totalmente inaceitável", afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Em discurso muito mais duro que o do chanceler brasileiro, o diplomata português disse que é preciso investigar "um catálogo de crueldades" cometidas no conflito, que incluiria execuções sumárias, violência sexual e tortura contra civis e prisioneiros de guerra. 

O português também criticou os planos de referendo em regiões ocupadas pela Rússia e disse que "qualquer anexação de um território de um Estado por outro como resultado de ameaça ou uso da força é uma violação da Carta das Nações Unidas e do direito internacional."

A Rússia é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que têm poder de veto em deliberações do órgão, junto com EUA, França, China e Reino Unido. O Brasil ocupa hoje uma das dez cadeiras temporárias.

Serguei Lavrov, no entanto, não ouviu o discurso crítico de Guterres nem o de outros chanceleres porque entrou no salão apenas no momento de sua fala —antes, outro representante de Moscou estava à mesa. Antony Blinken, por outro lado, permaneceu no recinto para ouvir o russo.

Ao conselho, Lavrov defendeu a invasão da Ucrânia e repetiu os argumentos de que Moscou está restabelecendo direitos desrespeitados nas regiões de maioria russa. Ele voltou a dizer que o governo ucraniano é tomado por neonazistas —informação de resto distante da realidade— que assumiram o poder após o que chamou de golpe de Estado de 2014 com apoio do Ocidente, quando um presidente pró-Moscou foi derrubado após intensa mobilização popular.

O diplomata, que já foi embaixador da Rússia nas Nações Unidas e, alvo de sanções, recebeu visto para viajar aos EUA para a Assembleia-Geral de última hora, criticou o envio de armas do Ocidente à Ucrânia e afirmou que os países apoiadores de Kiev também são parte do conflito. "Os EUA e seus aliados, com o conluio de organizações internacionais de direitos humanos, estão encobrindo crimes do regime de Kiev."

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, defendeu a postura de Washington e atacou a ameaça nuclear russa. "Que o presidente Putin tenha escolhido esta semana, quando a maioria dos líderes globais está reunida na ONU, para colocar lenha na fogueira demonstra seu total desprezo pela Carta das Nações Unidas", afirmou.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/09/diante-de-russia-e-eua-chanceler-do-brasil-condena-abusos-por-todas-as-partes-na-ucrania.shtml?fbclid=IwAR2xGeTS1CdohLhkPAwtmn4kTBkPssj9JMQtNgdAmQOnv3oGhqNCrJKuluQ

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Brasil de Bolsonaro participou de golpe na Bolívia? Uma boa história policial... - Dario Pignotti Garcia (Página 12)

 Bolsonaro teve reuniões secretas com ex-presidente golpista presa na Bolívia

O possível encontro com Jeanine Añez pode ser a ponta de uma meada onde conspirações, fugas clandestinas de ministros e talvez entrega de armas se enredem

Brasil 247, 18 de janeiro de 2022, 12:19 h

Por Dario Pignotti Garcia, no Página 12 - Jair Bolsonaro reconheceu ter se encontrado com a ex-presidente boliviana Jeanine Añez, confirmando as suspeitas sobre o apoio brasileiro ao golpe que derrubou o presidente Evo Morales. O possível encontro pode ser a ponta de uma meada onde conspirações, fugas clandestinas, fuga de ministros e talvez entrega de armas se enredem. Em um ato aparentemente involuntário, o capitão e presidente aposentado afirmou: "a ex-presidente da Bolívia, Jeanine... Eu estive com ela uma vez, ela é uma pessoa legal que está na prisão". Para depois acrescentar, com raiva, "você sabe qual é a acusação contra ela? (ter cometido) atos antidemocráticos". Como até o momento não há notícias de nenhuma cúpula oficial entre os dois, essa conversa ocorreu secretamente.

Segundo essa declaração, para Bolsonaro, atacar instituições é algo que não deve ser punido com a prisão da ex-presidente, que permanece detida em um presídio em La Paz, onde se prepara para enfrentar um novo julgamento. O que Bolsonaro não disse é quando e onde ocorreu o encontro com a mulher que governou de fato entre novembro de 2019 e dezembro de 2020, quando o presidente Luis Arce tomou posse. Nesse período de pouco mais de um ano, o avião presidencial boliviano, que só pode decolar com autorização do chefe de Estado ou com ele a bordo, voou com frequência e clandestinidade para o Brasil.

A confissão
Em alguns canais bolsonaristas do YouTube, eles aparentemente perceberam a gravidade das declarações do presidente sobre sua nomeação com Añez e as retiraram do ar. O comentário presidencial, ou melhor, a confissão, poderia ser levado à consideração do tribunal, que a partir desta semana começará a julgar Añez junto com os ex-chefes militares e de polícia no processo denominado "Golpe de Estado II". 

Um ex-alto funcionário de Morales e diplomata que atualmente trabalha fora de seu país analisou, em diálogo com a condição de anonimato, a conexão Brasília-La Paz e os elementos que ela pode contribuir para o iminente novo julgamento. "Acredito que a declaração do presidente Bolsonaro é importante para este julgamento porque é mais uma prova de que o governo de Evo Morales foi atacado por uma organização internacional, isso significa que foi dada ajuda do exterior para um golpe de estado." Devemos esperar a evolução deste julgamento oral, propõe o ex-funcionário, mas "se Añez aceitar que houve essa reunião, ela terá que explicar por que não a denunciou".

"A senhora Añez está sendo investigada por não ter chegado ao poder constitucionalmente, usando o caminho da violência. O povo boliviano quer que ela seja investigada pelas mortes ocorridas para que ela chegue ao poder", continuou o diplomata.

Añez, bem-vinda
A nomeação secreta de Bolsonaro e Añez está em consonância com o apoio público dado por Brasília ao movimento que depôs Morales. Na manhã de 13 de novembro de 2019, horas após a posse de Añez, o Brasil foi o primeiro país da região a parabenizar o novo governo "constitucionalmente" surgido. Añez chegou ao Palacio del Quemado junto com o líder de Santa Cruz de la Sierra, Fernando Camacho, apelidado de "Bolsonaro da Bolívia", que em meados de 2019 havia sido recebido pelo então chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. Após a conversa, Camacho e Araújo foram fotografados ao lado da deputada Carla Zambelli, de ardente linhagem bolsonarista.

Vale ressaltar que o golpe boliviano não foi do novo tipo "soft", seja parlamentar ou via "lawfare", como os que derrubaram Dilma Rousseff em 2016 e o ex-presidente paraguaio Fernando Lugo em 2012. O da Bolívia estava no clássico moldes com a participação de policiais e militares, guardando alguma semelhança com aqueles que levaram às ditaduras dos anos 60 e 70 até hoje defendidas pelo presidente brasileiro.

O apoio brasileiro ao regime cívico-militar de La Paz continuou em 2020 com o objetivo de construir uma hegemonia regional de direita, incluindo o apoio aos candidatos Keiko Fujimori no Peru e Antonio Kast no Chile. Para tanto, era preciso impedir o retorno do Movimento Morales ao Socialismo através da candidatura de Luis Arce, que finalmente venceria por larga margem em outubro de 2020. Nesse caso, o Brasil foi o último país importante que manifestou seu desejo de libertar Arce, ex-ministro da Economia e Finanças durante os governos de Morales.

Voos
A Página 12 publicou em junho de 2020, quando Añez estava no Palácio del Quemado há seis meses, um artigo assinado por Felipe Yapur sobre os "voos suspeitos e repetidos" do avião presidencial da Força Aérea Boliviana 001, o FAB001, com destino ao Brasil. A investigação é baseada em informações da empresa de rastreamento de voos dos EUA FlightAware.

Na lista de viagens ao Brasil estão várias a Brasília onde poderia ter ocorrido o encontro entre Bolsonaro e Añez, ao qual o ex-capitão se referiu durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais ocorrida meses atrás, quando acusou seu rival, Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores para "apoiar a volta do povo de Evo Morales na Bolívia".

O primeiro voo do FAB001 foi em 11 de novembro de 2019 “após a queda do presidente Morales e antes da assunção de Añez”, diz a fonte boliviana consultada por este jornal. "Minha percepção é que a movimentação do avião no dia 11 de novembro é extremamente estranha, não sabemos se foi para levar algo ou trazer algo do Brasil. Sou diplomata de carreira, quando um presidente sai do país ele tem que avisar e deixar o vice-presidente, e isso não aconteceu."

Senador Carvalho 
O senador brasileiro Rogério Carvalho, do PT, não tem dúvidas sobre a participação brasileira na trama contra Morales. "De zero a dez, a chance de Bolsonaro apoiar o golpe é dez." Questionado por este jornal, o deputado afirmou que "Bolsonaro dá seu total apoio a qualquer governo que seja antidemocrático ou a forças políticas antidemocráticas".

Segundo Carvalho, o Congresso poderia tomar providências sobre o assunto e descobrir como eram as relações de Bolsonaro com Añez e outras possíveis conexões.

Uma área cheia de perguntas sem resposta é a fronteira entre os dois países, com mais de 3.400 quilômetros de extensão, por onde teriam passado recursos para o movimento sedicioso de 2019 e que poderia ter servido como zona de fuga em 2020 para funcionários de Añez. Luis Fernando López e o Ministro do Governo Arturo Murillo.

Armas?
O diplomata e ex-funcionário de Morales lembra que Murillo, depois de passar pelo Brasil, foi preso nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro e outros crimes relacionados à compra de armas. E suspeita que o ex-chefe da Defesa, López, possa estar escondido no Brasil. A nossa fonte, que entrevistamos em agosto e voltamos a consultar brevemente no domingo, refere-se novamente às viagens clandestinas da FAB001 e destaca a realizada no final de dezembro de 2020.

A data desse voo coincide com a de um documento do Ministério da Defesa boliviano no qual se menciona que uma carga de armas deve ser retirada em 30 de dezembro. Dezembro? ? Sim", "Existe algum documento com papel timbrado do Ministério da Defesa do Estado Plurinacional da Bolívia que diga que haveria entrega de armas no Brasil? Sim. É possível que as armas sejam entregues em um aeroporto no Brasil para outro país. Isso é normal?" pergunta o ex-funcionário boliviano.

E conclui propondo que sejam investigados os pontos de “contato” que relacionam “Bolsonaro dizendo que se encontrou com Añez” com a possível “saída do país do ex-presidente” e a suposta “entrega de armas no Rio”.

https://www.brasil247.com/poder/bolsonaro-teve-reunioes-secretas-com-ex-presidente-golpista-presa-na-bolivia

Diplomacia de Bolsonao ainda aposta no retorno de Trump - Rafael Balago (FSP)

 Como vários outros aspectos da diplomacia bolsolavista, este também é inédito: buscar alternativas estaduais — republicanas e presumivelmente trumpistas — à falta de diálogo no plano fedeal em Washington, executivo e, sobretudo, Congresso. Ou seja, a representação diplomática brasileira investindo numa mudança de lideranças políticas nos EUA, num sentido que evidentemente coincide com as aspirações da atual tropa no poder no Brasil.

Se isso ocorrer, porém, Bozo já não mais estará à frente do Estado brasileiro, ainda que possa eventualmente cumprimentar seu “amigo” Trump.

Paulo Roberto de Almeida 

Embaixador do Brasil nos EUA busca se aproximar de estados após tensão com Congresso

Nestor Forster teve encontros com governos de Carolina do Sul e Geórgia, que combatem vacinação obrigatória

Folha de S. Paulo, 18.jan.2022 às 7h00
Rafael Balago

WASHINGTON - O embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, tem apostado em se aproximar de governos e entidades estaduais dos Estados Unidos, em uma estratégia para melhorar a interlocução e desviar da pressão que o Brasil tem sofrido no Congresso americano. Vários parlamentares têm feito críticas fortes ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e pedido por um esfriamento na relação entre os dois países.

Nos últimos meses de 2021, Forster fez ao menos quatro viagens. O diplomata alternou idas a estados governados por democratas (como Connecticut e Carolina do Norte) com áreas sob comando republicano (caso de Carolina do Sul e Geórgia), mas é nestes últimos que ele tem obtido mais resultados.

Na Carolina do Sul, por exemplo, o embaixador assinou um memorando de entendimento para ampliar o comércio e a troca de investimentos entre o estado e o Brasil, no final de outubro —em 2020, negociações entre os dois movimentaram US$ 910 milhões. Foi o primeiro termo do tipo já fechado com um ente subnacional dos EUA. "Continuaremos a trabalhar juntos no comércio e nos investimentos e a fortalecer nossa parceria", disse o governador republicano Henry McMaster, ao assinar o documento.

Crítico do presidente Joe Biden, McMaster tem combatido as determinações de vacinação obrigatória impostas pela Casa Branca para controlar a pandemia de coronavírus. A Carolina do Sul foi um dos estados que processaram o governo federal e conseguiram barrar a exigência na Justiça.

"Estamos chocados com os excessos do governo Biden. Nunca vi um presidente agir além da lei como esse. Nenhum morador da Carolina do Sul deveria ter de escolher entre seu emprego e uma vacina contra a Covid-19", disse o governador, em novembro. Ele também assinou um decreto para proibir órgãos estaduais de exigir a vacinação de funcionários.

O republicano se coloca ainda como defensor de pautas conservadoras. Pediu publicamente ao superintendente de educação do estado que investigue denúncias de livros com "trechos obscenos" em bibliotecas de escolas públicas; como exemplo, citou queixas de pais sobre a obra "Gender Queer: A Memoir", de Maia Kobabe, livro em quadrinhos sobre transição de gênero. Ele também defende que a Suprema Corte revogue o direito ao aborto.

Na vizinha Geórgia, cujo governo também processou a Casa Branca para suspender as exigências de vacina, Forster se encontrou com representantes dos departamentos estaduais de Agricultura e Desenvolvimento, no começo de novembro.

Pat Wilson, comissário do Departamento de Desenvolvimento Econômico, disse à Folha ter ficado honrado com a visita do embaixador. Segundo ele, a relação do estado com o Brasil vem de longa data, pois a Geórgia tem um escritório em São Paulo há 25 anos. "Um grande número de empresas brasileiras emprega milhares de georgianos. Negócios da Taurus [fabricante de armas], da Guidoni [de extração de rochas ornamentais] e da Embraer [aviação] se tornaram parte importante da nossa comunidade", disse.

Já em estados sob comando democrata, como Carolina do Norte e Connecticut, a agenda do embaixador se concentrou em visitas a fábricas —como a da Gerdau—, universidades e centros de pesquisa locais. "Assim como o Brasil, os EUA são um país complexo, de grande diversidade regional, e é importante que a embaixada busque ampliar sua presença junto a comunidades locais", disse Forster.

As visitas fazem parte de um plano para ampliar a interlocução do Brasil com estados americanos e buscar mais parceiros fora de Washington. A determinação foi encorajada por Bolsonaro, que antes da pandemia também fez visitas aos EUA em cidades afastadas da capital.

O presidente esteve na Flórida em 2020 e um ano antes foi ao Texas —nesta última viagem, para receber um prêmio que seria entregue inicialmente em Nova York, mas teve a cerimônia alterada após pressão pública do prefeito democrata Bill de Blasio, para que Bolsonaro não fosse à cidade. Os movimentos buscavam também reforçar o alinhamento com o ex-presidente Donald Trump; o brasileiro fez campanha aberta pela reeleição do republicano, que acabou derrotado por Biden em novembro de 2020.

Para Fernanda Magnotta, pesquisadora do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), essa atuação de Forster pode ser parte de um novo cenário global, no qual líderes locais ampliam a atuação internacional, e também uma resposta às ações recentes de governadores brasileiros. "Eles tomaram a frente na importação de vacinas e buscando protagonismo em agendas como a do ambiente. Em Glasgow [na COP26], havia a delegação brasileira e representantes dos estados, muitas vezes dissonantes", avalia.

Funcionários da embaixada também esperam que as viagens estaduais ajudem a fortalecer as relações com parlamentares americanos no Congresso. Forster teve reuniões recentes com o senador republicano Lindsey Graham, da Carolina do Sul, e com o deputado democrata Bill Keatind, de Massachussets.

O governo brasileiro tem sido alvo de fortes críticas no Congresso dos EUA. Desde setembro, nomes democratas do Capitólio mandaram ao menos três cartas ao governo Biden, pedindo um distanciamento na relação entre os dois países. Na mais recente delas, do começo de dezembro, oito senadores democratas pediram um "reset" diplomático e acusaram Bolsonaro de ser responsável pela alta no desmatamento no Brasil e por ameaçar a democracia no país.

Como mostrou a Folha, os textos se inserem em um contexto de pressão feita por ativistas e grupos progressistas do partido do presidente americano.

O embaixador respondeu aos críticos do governo brasileiro, também com cartas, nas quais defendeu as ações de Bolsonaro e chegou a dizer que parlamentares americanos estavam mal informados.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/01/embaixador-do-brasil-nos-eua-busca-se-aproximar-de-estados-apos-tensao-com-congresso.shtml


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O antiglobalismo derrotado nos EUA sobreviverá no Brasil? - Paulo Roberto de Almeida

O antiglobalismo derrotado nos EUA sobreviverá no Brasil? 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivocomentar sobre efeitos da derrota de Trumpfinalidadediplomacia brasileira]

  

O que acontecerá com a estupidez do antiglobalismo em 2021?

A provável derrota de Trump no dia 3/11 também abre caminho para a superação do irracional antimultilateralismo na diplomacia americana, para a derrota do ainda mais esquizofrênico antiglobalismo. 

Isso significará também a rejeição dessas mesmas idiotices na diplomacia brasileira?

Provavelmente não, pois que muito dessa lamentável postura irracional é endossada pela excepcionalmente ignorante família presidencial e pelo tosco “aspone” do Planalto nessa área, que juntos controlam com rédea curta o chanceler acidental.

A bolha diplomática da franja lunática poderá, assim, continuar exercendo seus podres poderes sobre o corpo diplomático profissional do Itamaraty. 

Continuará, portanto, o duplo afundamento da política externa e da diplomacia brasileira, seu completo isolamento no continente e seu profundo desprestígio no plano internacional. 

Nunca antes na história quase bicentenária do Itamaraty — mas que só exibe essa designação há pouco mais de um século —, nós, diplomatas profissionais, tínhamos assistido não só a tal tipo de esquizofrenia antimultilateralista, como também a cenas explícitas de servilismo a uma potência estrangeira. Jamais tínhamos descido tão baixo na senda da servidão voluntária. Raras vezes, ou praticamente nunca, tínhamos nos submetido a uma submissão automática a um poder externo. 

Esta fase de nossa trajetória histórica, vergonhosa como se manifesta concretamente, não passará incólume pelos registros documentais: pretendo descrever fielmente os momentos mais baixos de nosso itinerário diplomático.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3746, 22 de outubro de 2020

 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Bolsonaro é derrotado na Bolívia - Hubert Alquéres (Blog do Noblat)

Como eu já escrevi, neste artigo: 

3773. “Mini-reflexão sobre as eleições bolivianas e nossa circunstância diplomática”, Brasília, 19 outubro 2020, 2 p. Notas preliminares sobre os descaminhos da diplomacia em face da vitória da oposição na Bolívia. Disponível no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/sobre-as-eleicoes-bolivianas-e-nossa.html).

Bolsonaro é derrotado na Bolívia

Tudo deu errado na política de Bolsonaro para a América do Sul

Por Hubert Alquéres 

Blog do Noblat, 21 out 2020

https://veja.abril.com.br/blog/noblat/bolsonaro-e-derrotado-na-bolivia-por-hubert-alqueres/

Conhecido o vencedor das eleições da Bolívia, os países do continente se apressaram em parabenizar o presidente eleito, Luis Alberto Arce, do Movimento ao Socialismo – MAS. Até Donald Trump observou a liturgia da diplomacia. Houve apenas uma dissonância, o governo brasileiro, que recolheu-se ao silêncio sem disfarçar seu profundo incômodo com o resultado. O presidente Jair Bolsonaro e seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tomaram partido na disputa interna de outro país desde que Evo Morales renunciou por pressão de militares. 

O princípio da autodeterminação dos povos – pilar da política externa brasileira desde os tempos de Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco – deveria levar o governo a, imediatamente, construir pontes com Arce, deixando de lado divergências ideológicas. Quando nada porque a Bolívia é o país com o qual temos a maior fronteira – 3.126 quilômetros –  e interesses complementares na economia. Basta citar o Gasbol, (Gasoduto Bolívia Brasil) com seus 3.150 quilômetros de extensão, dos quais 2.593 em território brasileiro. 

As primeiras declarações de Luis Arce sinalizam que não repetirá o erro de Morales de dividir os bolivianos e de atropelar a democracia, forçando um terceiro mandato, e tentando um quarto. O novo presidente diz querer fazer um governo voltado para o futuro de todos, revelando que também dialogará com empresários, o que não acontecia com Morales. Por enquanto, são intenções, mas não deixam de ser um bom sinal.

É do interesse do Brasil fortalecer essa disposição do novo governo boliviano, tanto para o bem da estabilidade da região como para o desenvolvimento dos negócios com a nação vizinha. Se não agir assim, o país aprofundará a perda de protagonismo no continente, fenômeno que vem ocorrendo em decorrência de uma política externa pautada por víeis ideológico, que pensa a divisão do mundo como se vivêssemos os tempos da guerra fria e o comunismo fosse a grande ameaça mundial.

No último sábado, véspera da eleição boliviana, o presidente estava combatendo seus moinhos de vento, em solenidade da Academia Militar das Agulhas Negra. Voltou a estigmatizar a Argentina, dizendo que ela segue o caminho da Venezuela. No caso da Bolívia, Bolsonaro se apressou em apoiar a queda de Morales e até a undécima hora atuou para unir os candidatos da direita para evitar a vitória do MAS.

A viseira ideológica da política externa de Bolsonaro e Araújo já havia nos levado a atrelar nosso destino ao de Juan Guaidó, reconhecendo um governo que não controla sequer um quarteirão na Venezuela.

De uma lado, essa política abriu mão de qualquer papel de liderança no continente e, de outro, se alinhou automática e servilmente aos Estados Unidos, como cou evidenciado na humilhante visita do secretário de Estado Mike Pompeo a Roraima, junto à fronteira com a Venezuela. O episódio provocou uma dura nota do presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia, na qual armou que a visita não condizia com a “boa prática diplomática internacional” e afrontava “as tradições de autonomia e altivez da política externa e de defesa brasileiras”.

Essa tradição da política externa era do exercício do pragmatismo responsável, pautando-se pela defesa dos interesses brasileiros e de não ingerência em questões internas de qualquer outro país. Bolsonaro fez tudo ao contrário nas eleições da Argentina e do Uruguai e agora na Bolívia.

Não se estranha, portanto que na América do Sul os aliados estratégicos do governo brasileiro sejam Guaidó e a direita boliviana. Isolamento maior, impossível.

Também em política externa não há espaço vazio. Se o Brasil abdicar do protagonismo de liderança comprometida com a estabilidade política da região, alguém desempenhará esse papel. O presidente da Argentina é forte candidato a isso, enquanto

Bolsonaro se isola até mesmo de países governados por um centro-direita democrático, como o Chile de Sebastian Piñeira e o Uruguai de Luiz Lacalle.

Tudo deu errado na política de Bolsonaro para a América do Sul. O peronismo voltou ao poder na Argentina, Maduro continua sendo o presidente da Venezuela e a direita que derrubou Morales foi derrotada pelo voto. O pior: em todas essas derrotas Bolsonaro passou recibo, com firma registrada em cartório.

Hubert Alquéres é membro da Academia Paulista de Educação. Escreve às 4as feiras no Blog do Noblat

https://veja.abril.com.br/blog/noblat/bolsonaro-e-derrotado-na-bolivia-por-hubert-alqueres/


domingo, 27 de setembro de 2020

Odorico, Severino e Bolsonaro na ONU - Vera Magalhães (OESP)

 Odorico, Severino e Bolsonaro

Vera Magalhães

O Estado de S.Paulo, 23/09/2020

 Brasil se destaca na ONU pela caricatura, e não pela diplomacia


Desde 1947 cabe ao Brasil abrir a Assembleia-Geral das Nações Unidas, na sede da ONU, em Nova York. O primeiro a fazer uso da prerrogativa foi OswaldoAranha. De lá para cá, nossa representação só deteriora. Com Jair Bolsonaro já são dois anos de negacionismo, mentiras e blablablá ideológico. Em 2019, presencial; ontem, em vídeo. Não importa, a vergonha é a mesma.

Infrutífero comparar as falas de Bolsonaro com outras igualmente infelizes de presidentes que o antecederam. De jaquetão e bigode engomado, José Sarney exibiu um inglês macarrônico. Mas não mentiu nem criou fantasias persecutórias aos olhos do mundo, nem tampouco exibiu desconexão completa da realidade.

Dilma Rousseff discursou várias vezes e sua fala recebeu merecidas críticas, por edulcorar os escândalos de corrupção que ajudaram a pavimentar seu impeachment, logo depois, por tergiversar com ataques à democracia em países de esquerda. Mas ela se conteve, por exemplo, e não falou em golpe ao discursar em abril, já às vésperas de ser afastada, para não levar assuntos domésticos e, mais, uma interpretação dos fatos, a um palco internacional.

Com Bolsonaro não há paralelo possível. Quando se pensava que nada poderia superar a fala do ano passado, na deste ano o presidente brasileiro disse cinicamente que o Brasil tem um dos melhores resultados no enfrentamento da covid-19, isso com mais de 137 mil mortos nas costas, enalteceu nossa política ambiental mesmo com a Amazônia e o Pantanal queimando aos olhos do mundo, converteu o auxílio emergencial em dólar e somou todas as parcelas para vender uma bonança dos mais pobres que é falsa e ainda inventou um conceito, a “cristofobia”, que, se bem explorado pelos seus ideólogos reacionários, pode fornecer mais empulhação para as eleições de 2022.


Diante de tal acervo de sandices, os paralelos possíveis com Bolsonaro na ONU se situam na ficção e no baixo clero, de onde o nosso presidente veio e de onde nunca teria saído em condições políticas normais.

A primeira referência é a antológica passagem de Odorico Paraguaçu, personagem do genial Dias Gomes, pelas Nações Unidas. Cercado de um séquito que incluía beatas fervorosas (também há as Cajazeiras do bolsonarismo), um puxa-saco caricato (candidatos a Dirceu Borboleta não faltam no Ministério) e o “capitão” Zeca Diabo (versão anos 80 de miliciano), o prefeito de Sucupira queria oferecer um terreno na cidade para que fosse construída a nova sede da ONU. Megalomania, ridículo e nacional-populismo na veia. Em 1983, pelo menos, era dramaturgia.

Outra passagem que lembra nos contornos patéticos as participações de Bolsonaro no fórum global foi a de Severino Cavalcanti em 2005, como presidente da Câmara, que cobri in loco. Então alvo do escândalo do “mensalinho”, em que era acusado de recolher propina de permissionários da Casa, o deputado pernambucano viajou com direito a séquito e limusine a Nova York e foi alvo de sistemática cobertura de imprensa.

O cerco a Severino, que se escondeu até no banheiro da ONU para fugir da imprensa, levou jornalistas de outros países a nos perguntarem quem era aquele homem para receber tanta atenção. Nos questionavam se ele estava envolvido no escândalo “Petróleo por Comida”. Mal sabiam que era comida por mensalinho mesmo, algo bem mais rastaquera.

Bolsonaro, com suas mentiras cínicas e deliberadas no momento mais grave da vida nacional neste século, rebaixa a Presidência a uma versão digital da Sucupira de Odorico. 

As agências de checagem já trataram de desmontar o discurso fake que ele fez. A mim restaram essas reminiscências envergonhadas. Levaremos anos para suplantar esse momento de rebaixamento do Brasil.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Carta aberta a meu bom aluno Nestor Forster, embaixador do Brasil em Washington - Paulo Roberto de Almeida

Caro ex-aluno, excelente diplomata, agora representante do Brasil junto ao imperador Trump, Nestor Forster,

Escrevo esta carta aberta para, em primeiro lugar, cumprimentá-lo pela conquista do posto diplomático que parecia ser, até pouco tempo atrás, o mais relevante das representações brasileiras no exterior, certamente ambicionado por muitos colegas e até por grandes personalidades de fora da carreira, atualmente, e infelizmente, transformado numa emblemática demonstração de submissão explícita, e vergonhosa, do nosso país a uma potência estrangeira.

Não, não o estou acusando de ser o instrumento involuntário de tal submissão vergonhosa: você é um excelente diplomata de carreira, que soube merecer todas as suas conquistas funcionais e que terá, ao sair algum dia do posto, o seu retrato na galeria dos ex-chefes de missão em Washington. Isso não apagará o fato objetivo de ter servido ao melhor de sua capacidade numa fase provavelmente a mais sombria e humilhante de toda a nossa história diplomática, quando fomos levados, por um presidente totalmente ignaro e despreparado em política internacional, e por um chanceler acidental especialmente inadequado para as funções, a um acúmulo de indignidades diplomáticas jamais visto nos quase duzentos anos de Estado independente.

Você foi um dos meus melhores alunos no curso do Instituto Rio Branco, quando eu era apenas um professor de Sociologia Política, mas que depois se revelou um excelente amigo e companheiro, inclusive nos anos também não convencionais de uma diplomacia ideológica, durante os quais eu atravessei um longo deserto de ostracismo funcional, por ousar expressar minha opinião sobre uma política externa que me parecia inadequada ao Brasil. 

Sucedendo-o num posto consular que funcionava de maneira excelente, graças justamente ao seu trabalho e dedicação exemplares, dei testemunho dessa época de nossa política externa não convencional num livro que escrevi naquele que foi meu último posto da carreira: “Nunca Antes na Diplomacia”. Recentemente, a editora que o publicou, solicitou-me preparar uma segunda edição, o que obstei de maneira muito clara, por considerar que o Nunca Antes era exatamente agora, a fase mais medíocre, a mais vergonhosa, a mais indigna de uma trajetória até há pouco julgada exemplar em nossa história diplomática.

Lamento por você, aluno exemplar, diplomata de altas qualidades, ter sido levado a servir num posto tão relevante, num momento tão baixo de nosso prestígio no exterior, justamente devido ao fato de seguir ordens de um presidente e de um chanceler tão medíocres, mas especialmente em razão de uma estúpida, prejudicial e irracional postura de submissão automática deste governo, do nosso país, ao pequeno déspota igualmente medíocre, ainda presidente, dessa grande nação. 

Lamento porque você não precisaria, e acho que não deveria, fazer parte de um enredo de absurdos, certamente em descompasso com tudo aquilo que abordávamos em minhas aulas de Sociologia Política no Rio Branco, quando falávamos de Tocqueville, de Max Weber, de Marx, e, mais adiante, em total contradição com o que discutíamos durante os anos da precedente diplomacia ideológica, mas que nem de perto tangenciou o espetáculo de despautérios diplomáticos a que estamos assistindo atualmente. 

Caro Nestor: quaisquer que sejam suas convicções políticas e suas crenças religiosas — e você sabe muito bem que eu sou um total irreligioso, mas que mantenho indistintamente diálogos à esquerda e à direita do espectro político —, acredito que, no fundo, você tem plena consciência de que está servindo a um dos piores oportunistas políticos de nossa história, um homem de credenciais comprometidas por um uso vergonhoso das oportunidades que lhe foram oferecidas por um sistema político altamente corrupto, um descrente que faz um uso asquerosamente utilitário de todas as crenças religiosas que se lhe apresentem, um indivíduo capaz de elogiar um torturador condenado pela Justiça e que espezinha indignamente os direitos humanos, que não demonstra qualquer solidariedade em relação aos milhares de mortos já acumulados na pandemia (muitos dos quais podem ter sido levados a óbito por sua atitude desprezível a esse respeito) e que, mais do que tudo, colocou a política externa do Brasil, a nossa diplomacia, a serviço, de forma vil, de um dirigente estrangeiro. Em outras épocas, como você também deve ter consciência disso, nossos militares classificariam tal rastejamento sabujo como de traição à pátria, um crime que em tempos de guerra poderia merecer a pena de morte.

Você também deve ter consciência de que serve a uma contrafação de chanceler que está destruindo não só os fundamentos de nossa diplomacia, como a própria dignidade das funções de representação externa, ao expedir instruções expressas de submissão a tal agenda servil, ao introduzir elementos exóticos, altamente lesivos (quando não ridículos) ao prestígio outrora amealhado pela diplomacia brasileira, como pode ser essa rejeição do multilateralismo, essa adesão idiota ao monstro metafísico de um absurdo antiglobalismo, coisas que só mentes desequilibradas e pervertidas pelas mais canhestras teorias conspiratórias poderiam conceber, enfim um oportunista que se construiu uma personalidade artificial apenas para se colocar a serviço de dirigentes ignaros e despreparados para as altas funções que exercem, para grande infelicidade da nação.

Tudo isso que eu escrevi acima é subjetivo e impressionista, eu sei, mas eu posso lhe fornecer abundantes provas fácticas, materiais, até testemunhais — algumas até de âmbito judicial ou policial — de tudo o que afirmei, pois eu sou um atento observador (e anotador) de tudo o que anda pelo mundo e pelo Brasil, e meus argumentos carregam certo caráter objetivo, a que me obriga a mesma lógica implacável, os registros históricos, os mesmos fundamentos empíricos com os quais eu me exercia nas aulas de Sociologia Política dos nossos saudosos tempos do Rio Branco, quando estávamos recém saindo de uma ditadura militar que me levou a sete longos anos de um autoexílio estudioso na Europa.

Você deve ter consciência de tudo isso, ainda que não possa evidentemente reconhecer, confessar abertamente os equívocos atuais de nossa política externa, a submissão vergonhosa de nossa diplomacia, geograficamente identificada com o exato posto que você ocupa, e se afastar da indignidade que estará fatalmente associada aos tempos sombrios que vivemos.

Mais adiante, alguns anos à frente, poderemos quem sabe retomar o contato e voltar a falar de coisas amenas — Tocqueville, Weber, talvez Marx — ou até tratar do futuro do Brasil, de sua política externa e da nossa diplomacia, que precisarão certamente ser reconstruídas e restauradas em sua qualidade e dignidade anteriores. Estou certo de que você deve ter, como eu, “uma certa ideia do Itamaraty”, que por acaso é o título de meu mais recente livro — livremente disponível em meu blog, que você conhece bem —, o terceiro de uma série que dedico a coisas diplomáticas. Outros virão, com certeza, pois, como você também deve saber, estou mais uma vez dedicado a essas lides da leitura, da observação atenta das coisas do mundo, da reflexão sobre as coisas do nosso país, e finalmente da escrita, sempre com esse espírito crítico que é a marca inexorável desse meu quilombo de resistência intelectual. Você sabe como me encontrar.

No momento, eu lhe desejo um excelente desempenho de suas altas funções e meus sinceros votos de felicidade numa carreira que deve se estender ainda vários anos além da minha. Quando eu era seu professor, estava recém voltando de um doutorado no exterior, modesto segundo secretário numa carreira que me deu muitos momentos de felicidade, justamente ao poder combinar academia e diplomacia, o que eu sempre valorizei, a despeito dos sacrifícios incorridos individualmente e na vida familiar, e de alguns poucos episódios de desgaste funcional ao pretender defender a liberdade de pensamento e de expressão numa corporação que é bem mais feudal do que weberiana (mas, você sabe tudo isso, eu sempre repeti esse meu estereótipo).

Sinta-se realizado na sua nova condição, preserve a independência de espírito, mantenha sua dignidade em momentos certamente difíceis que você viverá, e até algum futuro, mas incerto reencontro.

Do seu colega, ex-professor e amigo

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 23 de setembro de 2020

domingo, 12 de julho de 2020

A Reconstrução do Itamaraty - Paulo Roberto de Almeida

A Reconstrução do Itamaraty

Paulo Roberto de Almeida

O governo Bolsonaro, a partir das suas muitas promessas da campanha eleitoral, é certamente excepcional, mas não apenas pelo que deixou de fazer, e sim, sobretudo, pelo que desfez, pelo que destruiu, sem colocar absolutamente nada no lugar.
Lembram-se da privatização de UM TRILHÃO, do fechamento de estatais inúteis, da eliminação do déficit público, das reformas da Previdência, tributária, laboral, educacional, da diplomacia sem ideologia, do comércio exterior idem, da redução do Estado, da diminuição do número de ministérios, do mais Brasil e menos Brasília, da defesa intransigente da soberania, do real nacionalismo, do fim da velha política, de bandido na cadeia e segurança nas ruas, da luta contra a corrupção, da retomada do crescimento e do fim do desemprego, da atração de investimentos, da reconstrução do Mercosul, da abertura econômica e da liberalização comercial?
Tinha muitas outras coisas, mas são estas, das quais me lembro, que eram as mais perfeitamente visíveis e dadas como certas. Em menos de um ano...
Bem, nem quero convidar meus leitores, bolsonaristas — tem algum? — ou anti-bolsonaristas a empreender um balanço honesto do que se fez, e sobretudo do que NÃO se fez. Muito antes da pandemia interromper alguns sonhos impossíveis já se dava como certo que não apenas não haveria cumprimento de promessa, como uma reversão total em certas áreas.
Luta contra a corrupção?
Diminuição dos ministérios?
Fim da velha política?
Reforma tributária?
Privatizações? 
Segurança?
Sabemos de uma, em especial, em que só teve destruição, pura e simples, e essa foi no meio ambiente, um ativismo absolutamente excepcional e arrasador: nunca antes em nossa história se desmatou, se queimou, se depredou com tanta volúpia e satisfação, mata virgem e reservas indígenas, sem discriminação; a ordem era passar a boiada.
Mas isso não foi tudo.
Em nenhuma outra área como na política externa e na diplomacia, a destruição se exerceu contra a própria política e contra a própria instituição, com um requinte de deixar qualquer huno corado de vergonha.
Praticamente todas as linhas mestras pelas quais se guiavam todas as políticas externas anteriores — e elas era múltiplas e diferentes —, todas as tradições da antiga diplomacia foram sistemática e deliberadamente postas de lado e substituídas por uma assemblagem insossa e bizarra de ideias exóticas, sem qualquer correspondência com o mundo real ou com os interesses nacionais brasileiros.
Política externa sem ideologia?
Acho que alguém se enganou de slogan.
Como se faz que as únicas viagens e visitas foram com líderes de direita ou de extrema-direita?
Defesa da independência nacional?
E esse “Trump, I love you”?
Soberania nacional? Mas por que o chanceler acidental viajou aos EUA para combinar com o Departamento de Estado os pontos do discurso de Bolsonaro na AGNU de 2019?
Não intervenção nos assuntos internos de outros países? E a Venezuela? E as eleições argentinas?
E esse antiglobalismo ridículo? O anticlimatismo canhestro? A oposição vergonhosa a qualquer direito da mulher nos foros pertinentes da ONU?
E a agenda extremista da Funag, que só convida representantes medíocres do olavismo extremado para falar sem qualquer competência de assuntos que ignoram, o que deve desesperar os preparadíssimos estudantes do Instituto Rio Branco?
A cessação de qualquer contato mais amplo com pesquisadores da área das relações internacionais revela outrossim um introversão ressentida e um enclausuramento auto aplicado jamais visto na história da Fundação.
A eliminação dos dois boletins diários de notícias — clippings da mídia nacional e da internacionais — sobre os temas cruciais de trabalho dos diplomatas representa um censura criminosa em detrimento da qualidade da informação, o alimento diário de todos os servidores do Serviço Exterior.
A intimidação exercida contra todos aqueles que ousam dissentir das orientações esdrúxulas, a maior parte delas ridículas, quando não vergonhosas, constitui o elemento mais grave do atual processo de destruição do Itamaraty, cujas principais diretrizes de políticas são feitas fora da Casa, por amadores ineptos. O chanceler acidental é, provavelmente, o último elo, inferior, na cadeia decisória, e o menos importante de todos.
O Itamaraty como principal centro de formulação e implementação de políticas deixou virtualmente de ser operacional: já se pensa inclusive em contratar assessores externos, um deles amigo da família Trump (por acaso).
Mais grave ainda: várias tomadas de posição da diplomacia bolsolavista em assuntos relevantes — voto sobre sanções unilaterais na ONU, “plano de paz” de Trump para a Palestina, eliminação de um general iraniano no Iraque, mudança da embaixada para Jerusalém, vários outros — JAMAIS fizeram menção aos elementos de Direito Internacional ou de resoluções do CSNU implícitos a esses assuntos e vieram apoiadas em mal traçadas “notas”, redigidas num Português tão canhestro e singularmente desprovido de conceitos próprios à diplomacia que só permitem supor que foram fabricadas fora da Casa, pelos mesmos ineptos que estão destruindo uma diplomacia outrora tida como de excelente qualidade.
Todos esses tristes aspectos da atual política externa e de sua antidiplomacia confirmam que o trabalho de reconstrução do anterior edifício diplomático de prestígio será duro e longo, haja vista a total perda de credibilidade da imagem do Brasil no exterior, e isso bem antes e independentemente da postura lamentável assumida pelo país — na verdade pelo chefe de Estado — na luta contra a pandemia, que se faz à margem de, e até contrariamente a qualquer esforço de coordenação multilateral, um anátema para os novos bárbaros que comandam o atual processo de destruição do Itamaraty e dos seus padrões consagrados de trabalho.
Esse trabalho de reconstrução já começou, inclusive com a participação de diplomatas da ativa, embora não possa ainda ser revelado em seus objetivos e extensão.
No momento oportuno, os ineptos que infelicitam a diplomacia profissional e rebaixam a credibilidade do Brasil no exterior serão afastados, e o trabalho de reconstrução da política externa será conduzido de maneira mais afirmada. As bases desse trabalho são conhecidas de todos, no Brasil e no mundo. Elas emergirão mais cedo do que se pensa.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de julho de 2020