Sobre a guerra na Ucrânia e nossa próxima política externa
Paulo Roberto de Almeida
Lula, o chefe indiscutível do PT e provável próximo presidente, deve reunir-se com os embaixadores do grupo BRICS nos próximos dias, grupo que ele criou com os russos e que pretende manter ativo e ainda mais forte, seguindo nisso sugestões da China. Estes embaixadores vão provavelmente repetir o que seus governos vêm dizendo em relação à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, ou seja, não haverá muita novidade nesse encontro, a não ser o fato relevante de CONFIRMAR a postura de Lula como singularmente parecida com a de Bolsonaro, ou seja, de cumplicidade objetiva com Putin nessa guerra de agressão, que representa antes de mais nada uma violação da Carta da ONU e dos princípios mais elementares do Direito Internacional.
Lula deveria reunir-se, igualmente – e suponho que o fará – com os embaixadores da União Europeia, cujos países já condenaram diversas vezes a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, já introduziram sanções contra a Rússia, e todos eles, ou quase todos, ratificam, endossam, subscrevem à resolução da última cúpula da Otan, que condenou, nos termos mais duros, a guerra ILEGAL da Rússia contra a Ucrânia.
Antes de se reunir com os embaixadores da UE – com os quais gostaria de combinar a entrada em vigor do acordo Mercosul-UE –, Lula talvez devesse reler (ou ler, se ainda não o fez) dois parágrafos da declaração da Otan, que resume a postura que os países europeus observam nessa questão:
- We are united in our commitment to democracy, individual liberty, human rights, and the rule of law. We adhere to international law and to the purposes and principles of the Charter of the United Nations. We are committed to upholding the rules-based international order.
- We condemn Russia’s war of aggression against Ukraine in the strongest possible terms. It gravely undermines international security and stability. It is a blatant violation of international law. Russia’s appalling cruelty has caused immense human suffering and massive displacements, disproportionately affecting women and children. Russia bears full responsibility for this humanitarian catastrophe. Russia must enable safe, unhindered, and sustained humanitarian access. Allies are working with relevant stakeholders in the international community to hold accountable all those responsible for war crimes, including conflict-related sexual violence. Russia has also intentionally exacerbated a food and energy crisis, affecting billions of people around the world, including through its military actions. Allies are working closely to support international efforts to enable exports of Ukrainian grain and to alleviate the global food crisis. We will continue to counter Russia’s lies and reject its irresponsible rhetoric. Russia must immediately stop this war and withdraw from Ukraine. Belarus must end its complicity in this war.
Lula talvez devesse refletir sobre cada um dos termos, e imaginar que eles poderiam ter saído de uma resolução do CSNU, e não da Otan, se não houvesse o direito de veto abusivamente exercido pela Rússia.
Minha observação final: o Brasil e sua diplomacia ainda vão se arrepender – pelo menos moralmente – pelo fato de, em lugar de seguir os princípios do Direito, ou da simples humanidade, terem objetivamente ficado do lado de um criminoso de guerra, de um transgressor da paz internacional, de um tirano que está massacrando o povo de um país vizinho que jamais representou qualquer ameaça para a Rússia.
O Brasil de Bolsonaro já está isolado internacionalmente. A política externa do próximo governo pode continuar nessa mesma rota.
Paulo Roberto de Almeida
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