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quinta-feira, 28 de julho de 2022

Rússia e Ucrânia trocam ataques, e guerra entra em nova fase - Igor Gielow (FSP)

 Independentemente das idas e vindas das tropas no terreno, os massacres da Rússia contra a população civil continuam, até aqui impunemente.

Rússia e Ucrânia trocam ataques, e guerra entra em nova fase

Kiev ensaia contraofensiva no sul; Moscou pressiona a leste e intensifica bombardeios

FSP, 28.jul.2022 às 9h05
Igor Gielow

Após uma pausa tática relativa, a Guerra da Ucrânia entrou em sua terceira grande fase. Kiev ampliou os movimentos de sua primeira contraofensiva, enquanto Moscou retomou o avanço no leste e intensificou bastante seus ataques com mísseis nesta quinta (28), 155º dia da invasão russa do vizinho.

Não se via tanta dinâmica no campo de batalha desde que a Rússia encerrou a conquista de Lugansk, uma das duas províncias que compõem o Donbass, o leste russófono do país, há pouco mais de três semanas. De lá para cá, obviamente a guerra seguiu, mas com ações pontuais.

Agora, a Ucrânia trabalha para isolar as forças russas em Kherson, a primeira grande cidade conquistada por Moscou, logo no começo da guerra. Porto ao sul do país, ela é a capital da província homônima, cujo controle russo estabeleceu uma ponte entre o Donbass e a Crimeia, anexada por Vladimir Putin em 2014.

É uma corrida contra o tempo, segundo as Forças Armadas ucranianas, que registram reforços russos chegando à região. Nesta semana, Kiev intensificou as ações contra a principal ponte que liga a cidade ao resto da província, separada pelo rio Dnieper. Aqui entra ao mesmo tempo um dilema estratégico e uma limitação tática.

A ponte em questão, Antonivski, tem 1 km de extensão. Ela teve a pista danificada com o uso de artilharia de longo alcance ocidental doada aos ucranianos —pela precisão da ofensiva, provavelmente por munição com guiagem de GPS Excalibur, disparada por obuseiros, não os famosos mísseis do sistema Himars.

Os russos dizem ter estabelecido pontões e uma travessia com balsa como alternativa, mas estão vulneráveis em Kherson, sob risco de ficarem isolados. Perder a cidade seria uma derrota estratégica importante para a pretensão agora explícita de Moscou de conquistar o sul do vizinho.

Como de costume na guerra de narrativas, fontes ocidentais dão a situação russa como perdida. A pasta da Defesa britânica diz que Moscou perdeu o ímpeto no sul de forma definitiva, o que por ora é exagero.

Entra então o dilema para Kiev: se quiser retomar Kherson, terá de bombardeá-la de forma intensiva. Meramente isolar os russos não sugere que eles sairão de lá. Só que a cidade segue habitada por seus cidadãos: antes da guerra, eram 283 mil moradores por lá.

Essa é a limitação tática das armas ocidentais. Elas deram uma capacidade operacional nova para os ucranianos, atingindo depósitos de munição e posições russas a até 70 km de distância, mas são inúteis para ocupar uma cidade, exceto se usadas para destruí-la antes. Mesmo a recusa até aqui em explodir de vez a ponte Antonivski ou a outra que fica mais acima no mesmo rio passa por essa lógica.

Há dúvidas também sobre a força do Exército ucraniano para montar uma contraofensiva em solo, dado que recebeu poucos blindados e tanques em comparação com as perdas que teve até aqui. As próximas semanas dirão a real condição da contraofensiva.

Os russos, por sua vez, desde o fim de semana retomaram a pressão sobre a porção remanescente sob controle de Kiev no Donbass, na província de Donetsk. Desde 2014, quando a Crimeia foi anexada em retaliação pela derrubada do governo pró-russo da Ucrânia, a área entrou em guerra civil e estava dividida entre ucranianos e separatistas apoiados por Moscou.

Essas tropas pró-Rússia participam de um ataque contra Adviivka, a linha de frente congelada em Donetsk, junto à capital homônima da província. Segundo afirmou no Telegram Igor Girkin, ex-comandante militar da região e hoje crítico da condução da guerra, o assalto direto tem tudo para dar errado.

Avaliação semelhante faz o Instituto para Estudos da Guerra, de Washington. O centro diz acreditar que a Rússia só tem força para essa ação e outra, por ora bem-sucedida, que tomou a usina termelétrica de Vuhleriska, na fronteira entre Donetsk e Lugansk. Com efeito, ali foram empregadas pela primeira vez numa ação de relevo o grupo mercenário russo Wagner, não tropas regulares.

Seja como for, os russos amplificaram seus ataques aéreos nesta quinta, o que pode ser uma tática diversionista para retirar empenho ucraniano no sul ou prenúncio de uma retomada da campanha mais sustentada. No domingo (24), o chanceler Serguei Lavrov disse com todas as letras que o objetivo, afinal, é derrubar o que chamou de "regime inaceitável" de Volodimir Zelenski.

Da Crimeia, foram lançados mísseis que destruíram uma base militar próxima de Kiev, em Liotij. De acordo com Oleksii Gromov, do Estado-Maior ucraniano, houve diversas baixas. Mais significativo ainda, de bases russas na Belarus foram lançados 25 mísseis contra posições na região de Tchernihiv, palco de sangrentas batalhas no começo do conflito.

Gromov avalia a situação em Donetsk como "bastante difícil, mas ainda sob controle". Os Estados Unidos já prometeram enviar mais sistemas de mísseis Himars —até aqui, são 12 entregues aos ucranianos—, e outros países da Otan, a aliança militar do Ocidente, seguem pingando armamentos aqui e ali para Kiev.

Grosso modo, a Guerra da Ucrânia pode ser dividida entre uma primeira fase, na qual Putin tentou tomar Kiev com um ataque com múltiplas frentes e pouco foco de poder de fogo. Enfrentou assim resistência ucraniana e fracassou. Dali o conflito mudou-se para sua origem, o Donbass, onde em abril os russos iniciaram sua nova campanha, mais bem-sucedida até aqui, apesar de dúvidas sobre a capacidade de tomada de toda a província de Donetsk. Ainda inconclusa, essa segunda fase é sobreposta pela terceira.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/07/russia-e-ucrania-trocam-ataques-e-guerra-entra-em-nova-fase.shtml


domingo, 24 de julho de 2022

A próxima política externa do Brasil promete ser tão ruim quanto a atual - Paulo Roberto de Almeida

Sobre a guerra na Ucrânia e nossa próxima política externa

Paulo Roberto de Almeida

 Lula, o chefe indiscutível do PT e provável próximo presidente, deve reunir-se com os embaixadores do grupo BRICS nos próximos dias, grupo que ele criou com os russos e que pretende manter ativo e ainda mais forte, seguindo nisso sugestões da China. Estes embaixadores vão provavelmente repetir o que seus governos vêm dizendo em relação à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, ou seja, não haverá muita novidade nesse encontro, a não ser o fato relevante de CONFIRMAR a postura de Lula como singularmente parecida com a de Bolsonaro, ou seja, de cumplicidade objetiva com Putin nessa guerra de agressão, que representa antes de mais nada uma violação da Carta da ONU e dos princípios mais elementares do Direito Internacional.

Lula deveria reunir-se, igualmente – e suponho que o fará – com os embaixadores da União Europeia, cujos países já condenaram diversas vezes a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, já introduziram sanções contra a Rússia, e todos eles, ou quase todos, ratificam, endossam, subscrevem à resolução da última cúpula da Otan, que condenou, nos termos mais duros, a guerra ILEGAL da Rússia contra a Ucrânia.

Antes de se reunir com os embaixadores da UE – com os quais gostaria de combinar a entrada em vigor do acordo Mercosul-UE –, Lula talvez devesse reler (ou ler, se ainda não o fez) dois parágrafos da declaração da Otan, que resume a postura que os países europeus observam nessa questão: 

- We are united in our commitment to democracy, individual liberty, human rights, and the rule of law. We adhere to international law and to the purposes and principles of the Charter of the United Nations. We are committed to upholding the rules-based international order.

- We condemn Russia’s war of aggression against Ukraine in the strongest possible terms. It gravely undermines international security and stability. It is a blatant violation of international law. Russia’s appalling cruelty has caused immense human suffering and massive displacements, disproportionately affecting women and children. Russia bears full responsibility for this humanitarian catastrophe. Russia must enable safe, unhindered, and sustained humanitarian access. Allies are working with relevant stakeholders in the international community to hold accountable all those responsible for war crimes, including conflict-related sexual violence. Russia has also intentionally exacerbated a food and energy crisis, affecting billions of people around the world, including through its military actions. Allies are working closely to support international efforts to enable exports of Ukrainian grain and to alleviate the global food crisis. We will continue to counter Russia’s lies and reject its irresponsible rhetoric. Russia must immediately stop this war and withdraw from Ukraine. Belarus must end its complicity in this war.

segunda-feira, 4 de julho de 2022

A guerra na Ucrânia é a “maior ameaça à ordem mundial”: Nicholas Burns, em Beijing - Simone McCarthy (CNN)

 Diplomatas russos e americanos se enfrentam no fórum de Pequim


Embaixador dos EUA afirmou que guerra na Ucrânia é a "maior ameaça à ordem mundial"

Simone McCarthy, da CNN
04/07/2022 às 08:34 | Atualizado 04/07/2022 às 08:35

A guerra na Ucrânia é a “maior ameaça à ordem mundial”, disse o embaixador dos EUA, Nicholas Burns, em um fórum em Pequim nesta segunda-feira (4) – um evento raro que viu Burns sentado em um painel ao lado de seu colega russo para um debate diplomático.

“O fato de que a Rússia cruzou a fronteira com uma força armada, sem provocação, e começou esta guerra com tanto sofrimento humano, tantos civis inocentes mortos na Ucrânia – isso é uma violação direta da carta das Nações Unidas, é uma violação direta do que a Federação Russa assinou quando se tornou um estado membro”, disse Burns na discussão, que foi organizada pela prestigiosa Universidade Tsinghua de Pequim e pelo Fórum Mundial da Paz.

O embaixador russo na China, Andrey Denisov, revidou: “Discordo totalmente e posso me opor a cada frase dessa intervenção”, disse ele.

Denisov então fez uma “cortesia diplomática” para desejar a Burns e outros americanos um feliz 4 de julho, antes de acusar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de provocar a ação da Rússia com “cinco ondas de expansão”.

Denisov pintou a atual ordem mundial como estando à beira de um abismo devido à “sabotagem” das Nações Unidas.

Rara demonstração de debate diplomático: o evento, que também incluiu a embaixadora do Reino Unido na China Caroline Wilson e o embaixador francês Laurent Bili, foi um raro debate diplomático após a invasão russa, que as democracias ocidentais condenaram firmemente.

“A principal responsável pela guerra é a Rússia”, disse Wilson. “A Otan é uma aliança puramente defensiva que agiu com extraordinária contenção em relação à Rússia.”

Também foi notável que tais condenações da guerra na Ucrânia estavam sendo expressas na China. O Partido Comunista Chinês não condenou a guerra nem mesmo a classificou como uma invasão. Enquanto isso, a mídia estatal da China apresentou uma versão cuidadosamente censurada da guerra para seus cidadãos e repetiu os pontos de discussão do Kremlin sobre a Otan.

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/diplomatas-russos-e-americanos-se-enfrentam-no-forum-de-pequim/