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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 9 de novembro de 2024

A decisão geopolítica mais relevante deste século - Paulo Roberto de Almeida

 A decisão geopolítica mais relevante para o resto deste século é a decisão de Trump se ele forçará, ou não, a Ucrânia a capitular em face de Putin. Se o fizer, estaremos de volta aos anos 1930. No comércio internacional já é o caso, aliás direto ao mercantilismo. 

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 9/11/3024

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

A Ucrânia continua a sustentar o morticínio causado pela guerra de agressão da Rússia - CDS

Parte final da informação diária do Centro de Estudos de Defesa da Ucrânia, dia 6/11/2024: 

Humanitarian + general:

  • During the night of November 6, Russian forces launched 63 "Shahed" attack drones and other drones of an unspecified type at Ukraine, as well as striking Odesa Oblast with two guided aviation missiles, the Kh-59 and Kh-31P. Of the drones, 38 were destroyed, 20 were lost from radar, and two remained airborne at the time of the report. 

  • As a result of a Russian attack on energy infrastructure overnight on November 6, parts of Mykolaiv Oblast lost power. As of 8:00 a.m., 21 villages in the Pervomaisk District remained completely without power, with partial outages in the city of Pervomaisk. Electricity was unavailable for 25,500 residential and 1,500 commercial customers. 

  • A missile strike on Zaporizhzhia by Russian forces in the evening of November 5 resulted in seven deaths and 25 injuries. Overall, during the past day, Russian forces launched 301 attacks on 13 towns and villages in Zaporizhzhia Oblast. 

  • After 11:00 a.m., Russian forces launched a strike from the temporarily occupied left bank on Zelenivka in Kherson Oblast. A couple in their home sustained injuries. Earlier, Russian shelling also wounded a man in Kherson and another man in Antonivka, a suburb of Kherson. 

  • In Chernihiv on the evening of November 6, a cruise missile explosion on the outskirts of the city injured two people. 

  • In the city of Kurakhove, Donetsk Oblast, around one thousand people remain, though due to the difficult and dangerous conditions, it is currently not possible to evacuate them. 

  • In Kherson Oblast on November 5, five people were injured as a result of Russian attacks. A total of 17 towns and villages in the oblast came under shelling and air strikes. 

  • In Donetsk Oblast on November 5, Russian forces launched 2,835 strikes, damaging eight civilian sites. 

  • The Prosecutor General’s Office reports that law enforcement is investigating 49 criminal cases concerning the killing of 124 prisoners of war on the battlefield. These killings began to rise in late 2023 and have reached unprecedented levels this year, with most cases recorded in Donetsk Oblast. 

  • Nearly half of Ukrainians (44%) report trying to buy the cheapest food available, regardless of quality, according to a survey conducted by the Razumkov Center from September 20 to 26. Meanwhile, 45% said they can afford to buy higher-quality, though more expensive, food. Another 11% were unable to give a definitive answer. 

  • The survey also showed that, since the full-scale invasion, the number of citizens barely making ends meet has increased to 12%, up from 9% in 2021. At the same time, the share of those who feel financially secure but cannot afford major purchases has grown from 6% to 9%. The percentage of people living at a sufficient level but struggling to buy durable goods like furniture or appliances has decreased from 44% to 41%.


terça-feira, 24 de setembro de 2024

Putin pode destruir o que quiser; os ucranianos só podem se defender, não atacar?

 As democracias ocidentais que apoiam a Ucrânia agonizam em torno das “linhas vermelhas” de Putin, que não tem nenhuma restrição em matar civis e destruir o país e acha que ninguém tem o direito de responder à altura:

Debate over Ukraine weapons restrictions divides allies, administration

By Isabelle Khurshudyan, Siobhán O'Grady, Michael Birnbaum and Ellen Francis (WP)

https://www.washingtonpost.com/world/2024/09/24/ukraine-weapons-limits-biden-permission-atacms/?utm_campaign=wp_todays_headlines&utm_medium=email&utm_source=newsletter&wpisrc=nl_headlines&carta-url=https%3A%2F%2Fs2.washingtonpost.com%2Fcar-ln-tr%2F3f15e0c%2F66f28dcce1d3e04a6f610643%2F596b79f3ade4e24119b43ed3%2F11%2F70%2F66f28dcce1d3e04a6f610643

KYIV — The United States’ lingering refusal to relax restrictions on Ukraine’s use of Western missiles for deeper strikes on Russian territory has exacerbated a growing divide between the allies — with Kyiv angry over yet another setback in slowing Russia’s assault across the country while its biggest backer considers the possibility of Moscow’s backlash. (…)


sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Mistérios imponderáveis da natureza humana - Paulo Roberto de Almeida

 São também mistérios da razão burocrática. 

Ou seriam atinentes a algum fator ideológico?

A atual diplomacia brasileira publicou dezenas de notas lamentando os ataques israelenses a alvos civis na Faixa de Gaza. 

Ela não foi capaz de elaborar qualquer nota a respeito dos bombardeios russos contra alvos civis na Ucrânia. 

Deve haver algum motivo para essa brutal diferença de tratamento para duas guerras em curso. 

Ainda temos de descobrir por que isso!

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 13/08/2024

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

A humanidade desumanizou-se? - Paulo Roberto de Almeida

A humanidade desumanizou-se?

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a total indiferença que o morticínio na Ucrânia vem sendo recebido no chamado Sul Global, entre esses países o Brasil, incapaz de se manifestar sobre o massacre que vem sendo conduzido pela Rússia contra civis inocentes e a infraestrutura material do país.

  

Um dos fatos mais chocantes na atualidade internacional é constatar que a maior parte da comunidade dos Estados membros da ONU, especialmente do chamado Sul Global, permanecer completamente indiferente ao cenário de morticínio e de destruição bárbara perpetrados pela Rússia na Ucrânia. 

Como é possível aos dirigentes, à população, não se indignar em face de um espetáculo de pura barbárie, terrorismo deliberado, crimes de guerra e contra a humanidade?

As pessoas, em geral, no Sul Global em especial, consideram que não há nada que possa ser feito e que os bombardeios contra alvos civis podem continuar a ser feitos porque um membro permanente do CSNU dispõe de um poder exclusivo, o de violar a Carta da ONE e todos os princípios do Direito Internacional impunemente?

Quando esse tipo de comportamento inadmissível passou justamente a ser considerado como admissível, normal e inquestionável? Quando foi que a MAIOR PARTE da humanidade se convenceu de que nada poderia ser feito, ou, coisa pior, que era possível continuar a comerciar e até a intensificar esse comércio e outras relações com a parte agressora, como se o lado perversamente amoral do seu comportamento pudesse passar a ser admitido como coisa menor?

O que foi que ocorreu com os países que aderiram e que ratificaram a Carta da ONU para ignorar por completo suas OBRIGAÇÕES inscritas na Carta de boicotar o agressor, de submeterem-no a sanções e de vir em socorro da parte agredida unilateralmente?

Por acaso, mais da metade da humanidade, seus dirigentes políticos, se julgam desprovidos de qualquer responsabilidade política, moral, simplesmente humanitária, em face da barbárie sendo cometida contra o povo iraniano?

Almas cândidas poderão argumentar com as matanças já em curso na África e em outros lugares, a maior parte resultado de guerras civis, conflitos políticos, étnicos ou religiosos, mas estamos falando, no caso da Ucrânia, nada disso estava dm curso, e sim foi uma agressão deliberada, unilateral, não provocada, das mais cruéis já vistas desde as guerras de expansão das potências nazifascistas dos anos 1930.

Estamos de volta aos momentos mais sombrios da história da humanidade, um tempo de desumanização inédita para os padrões do multilateralismo contemporâneo?

Tudo indica que sim…

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4725, 4 setembro 2024, 2 p.


 

 

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Apenas uma expressão de horror - Paulo Roberto de Almeida

Apenas uma expressão de horror

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre o morticínio sendo conduzido por Putin na Ucrânia, na indiferença dos demais Estados membros da ONU.

  

Estou tão horrorizado quanto qualquer pessoa bem-informada pelo tremendo recuo civilizatório experimentado pela Rússia de Putin desde o início de seu neoczarismo retardatário e pelo sofrimentos que ele vem causando desde 2008 aos seus vizinhos, renovados em 2014 e com maior amplitude a partir de 2022, em escala praticamente mundial.

Estou horrorizado pela incapacidade da maior parte das lideranças dos Estados membros da ONU, da própria ONU, de respeitarem os preceitos da Carta quanto ao Direito Internacional.

Estou horrorizado quanto à postura dos governos brasileiros, desde 2014, novamente em 2022, e continuando ainda em 2024, numa demonstração cabal de indiferença aos horrores perpetrados pelo Estado russo sob Putin na manutenção de contínuas violações do Direito humanitário, das leis da guerra, na prática constante de crimes contra a Paz e contra a humanidade.

Não disponho de nenhum outro recurso contra as desumanidades correntes a não ser a expressão impotente de meu horror em face do mal absoluto. Apenas um registro para a História.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4723, 2 setembro 2024, 1 p.


quinta-feira, 1 de agosto de 2024

A QUESTÃO DA UCRÂNIA – EVENTUAL RETORNO DA BELARUS COMO CENTRO DE NEGOCIAÇÕES - Paulo Pinto

A QUESTÃO DA UCRÂNIA – EVENTUAL RETORNO DA BELARUS COMO CENTRO DE NEGOCIAÇÕES

Paulo Pinto
Embaixador do Brasil aposentado. Percursos diplomáticos diferenciados.

O ingresso da Belarus, no mês passado, na “Shanghai Cooperation Organization” (SCO), foi noticiado apenas como fato de que “mais um governo autoritário” aderia a projeto sino-russo para o controle sobre a Ásia Central.

Peço vênia para refletir sobre como a adesão de um “país europeu” à SCO reforça a possibilidade de que Minsk (capital bielorrussa) recupere a credencial para sediar - conforme ocorrido entre 2014 e 2022 - processo de negociação com vistas ao término do conflito russo-ucraniano.

Seria, nessa perspectiva, um compromisso para que as partes envolvidas no conflito venham a sentar-se ao redor de uma mesa que já serviu, na mesma cidade, durante o período assinalado acima, para que, então, se decidisse quanto a uma agenda a ser aceita pelos combatentes.

Simbolizaria, também, a abertura de espaços a articulações para a solução de conflitos, que não se resumam à disputa entre formas de governança ou modelos econômicos predominantes no ordenamento mundial vigente a partir de 1945, com a fundação da Organização das Nações Unidas.

Nas palavras do Embaixador Celso Amorim, “o mundo não pode mais ser visto e ditado pelo G-7”, referindo-se ao grupo das sete nações mais desenvolvidas do mundo. Caberia, assim, pensar na reforma dos foros de poder global, como a ONU, para garantir maior participação de países que não apenas as grandes potências ocidentais. Seria possível, nessa perspectiva, voltar a refletir sobre propostas recentes para a solução de guerras atuais, no âmbito e envolvendo atores de suas respectivas regiões.

Para a análise desta hipótese, cabe, inicialmente, lembrar que a SCO – citada no parágrafo inicial - pretende contribuir, segundo visão de Moscou e Pequim, para uma “nova ordem internacional”. Este processo afetaria o espaço chamado de “Eurásia”, sob os auspícios de Rússia e China.

Uma vez formalmente integrada, Minsk, capital europeia naquele bloco euroasiático, poderia retomar a condição de sede – sem ser protagonista principal – de negociações envolvendo a Rússia, um dos patrocinadores principais do projeto eurasiano. A Ucrânia, neste caso, é vítima de objetivo de Moscou que, pela força, pretende incluí-la nesta proposta de ordenamento internacional, sem que sejam considerados valores mundialmente conquistados, como o respeito à integridade territorial.

Isto é, durante sua reunião de cúpula anual, realizada em julho, no Cazaquistão, dirigentes russos e chineses, buscaram transformar a SCO de um “bloco de segurança regional” em área geopolítica para chamar de sua, regida por instituições políticas com características distintas das que regem grupos de países do chamado “mundo ocidental”.

Não se trata, nessa perspectiva, apenas da integração de mais um parceiro de governo autoritário, como ocorreu com o Iran, que aderiu à SCO no ano passado. A Belarus, segundo seus vizinhos ocidentais, é regida também por governo autoritário, mas situa-se na “fronteira da Europa Ocidental com a Rússia” (conforme a definem capitais da Europa Ocidental). Fica fortalecido, assim, o conceito “eurasiano” da SCO.

Caberia recordar as linhas gerais da evolução das siglas e agrupamentos regionais objetos desta reflexão. Assim, em 1996, formalizou-se a cooperação entre China, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão num “Grupo dos Cinco de Xangai”. Em 2001, evoluiu-se para a já mencionada Organização para Cooperação de Xangai (na sigla inglesa SCO).

A SCO foi criada, sob a liderança de Pequim e participação de Moscou e capitais dos países acima mencionados, com o objetivo de combater eventual instabilidade na Ásia Central, enquanto mantinha afastada a influência de “atores externos”, tais como a União Europeia e os EUA. É possível enfatizar que, gradativamente, a SCO evoluiria - conforme se busca identificar neste texto – no sentido de foro ideal para solução de conflitos envolvendo a Rússia, como a questão atual da Ucrânia.

A SCO também objetiva a “facilitação de ações conjuntas que visem o fortalecimento da paz e a promoção da segurança e estabilidade”. Quando de sua criação, a organização foi motivada pela “Guerra contra o Terror” desencadeada pelos Estados Unidos e OTAN, após os ataques contra as Torres Gêmeas em Nova York.

Moscou e Pequim, então, consideraram que as represálias contra organizações terroristas islâmicas transnacionais apareceram como uma espécie de “guerra civilizacional”, que poderiam radicalizar grupos islâmicos, então tidos como moderados, em seus respectivos territórios, como movimentos separatistas em Chechênia e Xinjiang.

Nessa perspectiva, cabe lembrar que, segundo alguns setores de opinião, Moscou continuaria a apegar-se à noção de que um ordenamento mundial, que lhe seja conveniente, exigiria a manutenção de seu controle sobre a Eurásia, particularmente no que diz respeito aos antigos participantes da URSS, no contexto das preocupações de segurança herdadas do Império Russo e da União Soviética.

A Rússia, portanto, não trata os “Estados pós-soviéticos” como realmente soberanos e Moscou acredita permanecer no direito de ditar-lhes escolhas políticas. Explica-se, assim, a intervenção russa na Georgia, em 2008, quando ocupou as regiões de Ossetia do Sul e Abkhazia, naquele país, bem como a ocupação da Crimeia, na Ucrânia, em 2014, além da operação militar contra este país, em 2022.

De sua parte, a RPC tem visão sobre uma ordem mundial distinta da Rússia. Para os chineses busca-se o retorno ao equilíbrio duramente conquistado durante o período que consideram de hegemonia civilizacional do “Império do Meio” (denominação da China vigente na “antiguidade”). Durante esta época, consideram alguns estudiosos, a China detinha legitimidade histórica para ser a potência predominante na “Ásia” e no Pacífico Ocidental, exercendo uma ordem mundial sino cêntrica.

Para a China, a integração da Eurásia é uma das prioridades de sua política externa. Em sua competição pela liderança política sobre a região com a Rússia, além de copatrocinar a SCO, Pequim investe pesadamente com seu projeto de integração econômica denominado “Cinturão e Rota das Sedas”.

Em 4 de fevereiro de 2022, foi assinado, na capital chinesa, o “Comunicado Conjunto da Federação Russa e da República Popular da China sobre as Relações Internacionais em direção a Nova Era e da Sustentabilidade Global do Desenvolvimento”. Surgiu a esperança de que, na Eurásia, pudesse consolidar-se, em favor da paz e da prosperidade, a “amizade eterna entre Putin e Xi Jinping”. Foi, então, acordado que “ambas as partes estão procurando avançar em seu trabalho de vincular os planos para o desenvolvimento da União Econômica Eurasiana, patrocinada por Moscou e a iniciativa do Cinturão e da Rota das Sedas, de Pequim, com vistas a intensificar a cooperação prática entre os projetos russos e chineses, de forma a promover maior integração entre a Ásia-Pacífico e a Eurásia”. O impasse recorrente da “operação militar especial russa” em território ucraniano, no entanto, não tem permitido a melhor definição de tais vínculos.

Ao contrário da diplomacia ocidental, contudo, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia têm condenado e punido Moscou pela invasão à Ucrânia, a China não somente reforça a retórica de apoio à Rússia, como propõe uma reformulação da ordem internacional – sem que a ONU seja considerada como o foro para tais discussões.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, já se referiu ao conflito no Leste da Europa como uma guerra entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos EUA, e a Rússia, além de exaltar o elo entre Pequim e Moscou. “Uma importante lição do sucesso das relações entre China e Rússia é que os dois lados se mostram superiores ao modelo da aliança política e militar da era da Guerra Fria e se comprometem a desenvolver um novo modelo de relações internacionais baseado na não aliança, na não confrontação e em não visar terceiros países”.

A Questão da Ucrânia e os Acordos de Minsk

A atual questão da Ucrânia é a maior tragédia criada em país vizinho da Rússia, após a dissolução da União Soviética. Para a solução do conflito, foram concebidos os Acordos de Minsk. Assinados em 2014 e 2015 por representantes de Ucrânia, Rússia, França, Alemanha e das chamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, onde predominavam “russos do exterior próximo”. Os referidos documentos não conseguiram solução pacífica para o conflito em Donbass, na fronteira russo-ucraniana.

Em 22 de fevereiro de 2022, dois dias antes de começar sua “operação militar especial”, Moscou reconheceu a independência de Donbass e Putin esclareceu que a medida fora adotada porque Kiev afirmara publicamente que não cumpriria os Acordos de Minsk.

Lembra-se que, em fevereiro de 2014, o governo democraticamente eleito da Ucrânia fora derrubado pelo chamado movimento Euromaidan, que teria sido apoiado por potências ocidentais. O golpe desencadeou um conflito sangrento nas regiões orientais do país, onde parte da população – predominantemente de expressão russa – recusou a nova liderança de Kiev. Formaram-se, então, as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk (RPD e RPL, respectivamente). Kiev, então, tentou subjugar rapidamente as repúblicas recém-formadas por meios militares, sem sucesso. Não tendo conseguido vitória decisiva no campo de batalha, visto o apoio militar da Rússia aos dissidentes e o apelo das potências europeias por uma solução pacífica para o conflito, a Ucrânia recorreu a negociações. Estas foram dificultadas pela relutância do governo ucraniano em falar diretamente com os líderes de RPL e RPD.

Foram, então, formados o Grupo de Contato Trilateral sobre a Ucrânia, composto por Kiev, Moscou, Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e o Formato Normandia, incluindo Ucrânia, Rússia, Alemanha e França. Chegou-se, assim, ao que ficou conhecido como os Acordos de Minsk, por terem as negociações sido realizadas na capital bielorrussa, considerada terreno neutro.

O primeiro desses acordos, o Protocolo de Minsk, foi assinado em 5 de setembro de 2014. Diante da ausência de resultados positivos, foi realizada nova versão, conhecida como Acordos de Minsk-2, assinada em 12 de fevereiro de 2015. O acordo Minsk-2 foi firmado durante uma reunião do Formato da Normandia, que incluiu o presidente russo, Vladimir Putin, a então Chanceler alemã Ângela Merkel, o então presidente francês, François Hollande, e o então presidente ucraniano Pyotr Poroshenko. Nota-se, na perspectiva dos parágrafos iniciais acima, que se estabelecia, então, que solução do problema regional dependeria também da garantia de potências da Europa Ocidental, nos moldes do ordenamento definido nos anos pós-1945.

As partes prometeram: cessar-fogo e retirar suas forças da linha de contato; a presença de armas pesadas na área da zona-tampão foi estritamente proibida; os sistemas de foguetes de lançamento múltiplo Uragan e Smerch, bem como o de mísseis balísticos de curto alcance Tochka, deveriam ser retirados a 70 km da linha de contato; observadores da OSCE deveriam monitorar a implementação dessas regras; além da troca de prisioneiros de acordo com o princípio “todos por todos”, os lados foram obrigados a realizar a anistia dos capturados durante os confrontos armados; o lado ucraniano também deveria adotar a lei sobre o status especial dos distritos separados de RPL e RPD e realizar eleições locais, levando em consideração o posicionamento dos representantes de ambas as Repúblicas de Donbass. No dia seguinte às eleições, Kiev deveria assumir o controle total da fronteira estatal ucraniana; além disso, os Protocolos de Minsk estipulavam a implementação de uma reforma na Ucrânia, que previa a introdução de um conceito de descentralização na Constituição do país que deveria ter levado em consideração as especificidades de “certos distritos das regiões de Donetsk e Lugansk”.

Segundo Moscou, contudo, nos últimos cinco anos, “o lado ucraniano simplesmente se absteve de implementar as cláusulas políticas dos Acordos de Minsk, exigindo, em vez disso, que o controle da fronteira entre os territórios de RPL e RPD fosse entregue primeiro a Kiev”. Essas exigências, no entanto, foram rejeitadas pelas autoridades das ditas repúblicas e por Moscou, que suspeitava que, uma vez que as forças ucranianas assumissem o controle da fronteira e isolassem efetivamente as repúblicas do mundo exterior, Kiev poderia então tentar esmagar a oposição por meios militares. A RPD e a RPL, assim como a Rússia, também acusaram o governo ucraniano de ocupar assentamentos ilegalmente na zona-tampão e de colocar equipamento militar pesado na região. A situação foi ainda mais agravada pelo fato de que as potências ocidentais repetidamente fecharam os olhos à recusa de Kiev em aderir aos Acordos de Minsk, ao mesmo tempo em que repreendiam constantemente a RPD e a RPL por supostas violações dos mesmos acordos.

Em 21 de fevereiro de 2022, Putin assinou um decreto para reconhecer a independência das repúblicas de Donbass, que mais tarde se tornaram parte da Rússia. A iniciativa resultou em ataques ucranianos crescentes de bombardeios e sabotagem contra a RPL e a RPD. O decreto foi seguido por anúncio de Putin quanto ao início da operação militar especial russa contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro.

O Papel da Belarus

“Bielorrussos são simplesmente russos, com um selo de qualidade”, assim definiu o Presidente Lukashenko, quando perguntado sobre diferenças entre os dois povos, por ocasião da Abertura do Parlamento de seu país, em 2016.

Sua afirmação, naquele momento – quando eu exercia o cargo de Embaixador em Minsk – pretendia indicar “wishful thinking” de que a preservação de valores e formas de governança da época estalinista, ainda em vigor, na Belarus, poderiam mesmo ser o caminho para um plano de integração euroasiática, nos termos propostos pelo Presidente Putin. Nesse processo, parecia acreditar, algumas práticas de organização política e econômica bielorrussas determinariam modelo civilizacional, diferente e melhor do que o adotado no Ocidente, conforme alardeado pelo líder russo.

No contexto do projeto euroasiático do Presidente Putin, a Belarus desejaria ser “o centro de integração das integrações”. Sobre o assunto, caberia o aproveitamento da moldura da Comunidade de Estados Independentes – herdeira de países que formaram a URSS – estabelecida, em Minsk, em 8 de dezembro de 1991 – antes, portanto, da extinção da União Soviética.

Lembra-se que 11 antigos membros da URSS decidiram manter vínculos entre si, com o objetivo de estabelecer sistema econômico e de defesa entre antigas repúblicas da União Soviética. De qualquer forma, existem adormecidos na CEI – sempre repetindo que tem sede na capital bielorrussa – mecanismos de articulação que eventualmente poderiam ser acionados no que diz respeito a conflitos entre antigos camaradas soviéticos, como o da Questão da Ucrânia.

Minsk, nesse contexto, tem sido escolhida, em consenso com países ocidentais, como local para acordos destinados a negociar tais disputas. Não há protagonismo bielorrusso na busca de solução dos problemas. O papel de facilitador nas negociações, no entanto, eleva o perfil diplomático da Belarus no cenário mundial. Este país, sabe-se, é objeto de sanções internacionais por seu sistema de governo autoritário, que o leva a ser conhecido como “A Última Ditadura da Europa”.

No âmbito da Comunidade de Estados Independentes, foi assinada, em 15 de maio de 1992, a Organização do Tratado de Segurança Coletiva por Armênia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão, na cidade de Tashkent. O Azerbaijão assinou o tratado em 24 de setembro de 1993, a Geórgia em 9 de dezembro de 1993 e a Belarus em 31 de dezembro de 1993. O tratado entrou em vigor em 20 de abril de 1994. Sua fundação reafirmava o desejo dos Estados participantes em se abster do uso ou ameaça da força. Os signatários não poderiam aderir a outras alianças militares – como a OTAN – ou outros grupos de estados, enquanto a agressão contra um signatário seria percebida como uma agressão contra todos.

Até recentemente, os que tinham ouvido falar de Minsk sabiam apenas que Lee Oswald, antes de assassinar o Pres. Kennedy, havia residido e trabalhado naquela cidade. Além disso, confiava-se que, na ausência de uma máquina que viajasse ao passado, a alternativa seria ir à Belarus para conhecer uma “espécie jurássica de Homo Sovieticus”.

Hoje, poderia ser conveniente, estrategicamente, haver reflexão sobre a possibilidade de que a crise em curso na Ucrânia proporcione a elevação da Belarus de alvo de sanções para uma respeitável plataforma de reuniões de cúpula, com vistas a negociações pacíficas que envolvam seu entorno regional.

Nesse sentido, em linhas gerais, poder-se-ia considerar que o Ocidente apoie esforços do Presidente Lukashenko de fortalecer um estado bielorrusso, que seria neutro com relação à Rússia, enquanto seriam reduzidas as pressões para a liberalização da política interna daquele país.

Como cenário alternativo, há quem cogite que ocorra simplesmente a incorporação da Belarus à Rússia, que contaria, assim, com uma fronteira ainda mais próxima à União Europeia.

Retorna-se, neste ponto, à ideia de reanimar e fortalecer a Comunidade de Estados Independentes, com sede estabelecida em Minsk, a partir de 1991. A Belarus fica reforçada, nesta hipótese, por seu ingresso da SCO, tendo em vista o envolvimento da China.

Conforme sugerido acima, o arcabouço disponível na referida Comunidade, poderia sondar fórmulas para o debate de temas, como, por exemplo:

- O compromisso de que a não adesão ucraniana à OTAN pudesse permitir às convenções adormecidas na CEI levar a Rússia a retirar suas tropas das regiões da Ucrânia, Donbass e outras, que ocupara em 2022. Caberia, então, decidir se essas permaneceriam sob a soberania da Ucrânia, mas um grau mais elevado de autonomia lhes seria garantido.

- Poder-se-ia, também, considerar o congelamento da crise na Crimeia, anexada por Moscou em 2014. Ou seja, não haveria um reconhecimento internacional de que a região passe a fazer parte da Rússia. Seria necessário, contudo, não haver um questionamento sobre o fato de que, na prática, a região permaneceria controlada e administrada por Moscou.

- Haveria espaço, em compromissos assumidos no âmbito da CEI, sobre Direitos Humanos, para discutir o tema do emprego do idioma russo por aqueles que o tenham como parte de sua cultura original. Lembra-se que não apenas a Ucrânia é habitada por tais minorias.

- Seria garantida, ainda com maior ênfase, a segurança dos membros da CEI contra eventuais ameaças de países ou alianças militares vizinhas.

Nesse contexto, registra-se que, para alguns observadores, existe para a Rússia a dúvida quanto a sua inserção internacional, como um estado europeu ou eurasiano, com implicações na orientação de valores e busca de foro mais apropriado para a resolução de conflitos com países vizinhos.

Aqueles que seguem a opção por ser um estado europeu são reconhecidos como “pró-Ocidente” e enfatizam os atributos russos com características europeias, enquanto evitam seus traços eurasianos. De sua parte, contudo, os países europeus sempre consideraram a Rússia como um país diferente. Os russos, assim, se sentem rejeitados pelos europeus.

Tive a experiência pessoal, por ocasião de palestra que proferi na Universidade de Herzen, de São Petersburgo, em 2018. No período reservado a perguntas, uma aluna me perguntou se, naquela cidade, “eu me considerava na Europa ou na Rússia”. Respondi, diplomaticamente, que “me sentia na cidade russa mais europeia”.

Os russos eurosianistas insistem que seu país pertence nem à Europa, nem à Ásia, apesar de possuírem traços de personalidade europeus e asiáticos. Segundo esse ponto de vista, na medida em que seu país seja uma mistura de ambas as civilizações, deveria desempenhar papel importante na vinculação entre o Oriente e o Ocidente, garantir a segurança do “hinterland” da Ásia e da Europa e assegurar interesses estratégicos por meio de intercâmbio e cooperação entre países da Europa e da Ásia.

Assim, Moscou deveria atribuir importância à Comunidade de Estados Independentes (CEI), que abrange países de ambos os continentes. Daí, quando houver momento propício para eventual negociação de paz na questão da Ucrânia, reitero a importância da possibilidade de que se recorra a estruturas disponíveis em arcabouço deixado pela antiga União Soviética.

Tendo como capital a cidade de Minsk, a CEI é estruturada administrativamente por dois conselhos, sendo um composto por chefes de governo e outro por chefes de Estado.

Tive oportunidade de visitar a sede da CEI, em Minsk, a título de cortesia, enquanto fui Embaixador na Belarus, entre 2015 e 2019, e verifiquei que se trata de organização simbólica, que funcionaria como uma espécie de banco de reservas, onde permanecem disponíveis acordos, mecanismos de negociação e projetos da antiga URSS, que poderiam ser colocados em campo, caso alguma proposta de integração ou de resolução de conflito fosse realmente almejada.

Embaixadores dos países membros da referida comunidade, acreditados em Minsk, apresentam credenciais também ao Diretor da CEI. A lista de participantes tem variado, com inclusão ou separação de antigos membros da URSS, de acordo com dinâmica regional de aproximação ou distanciamento da Rússia. De qualquer forma, existem adormecidos na CEI mecanismos de articulação que eventualmente poderiam ser acionados no que diz respeito à Questão da Ucrânia.

Minsk, nesse contexto, tem sido escolhida, em consenso com países ocidentais, como local para acordos destinados a negociar disputas entre países membros da antiga União Soviética. Em certa medida, sugestão de esforço no sentido de valorizar tal organização semiadormecida poderia servir de aceno ao Presidente Putin, em seus devaneios de ressuscitar um projeto eurasiano, sob influência de Moscou.

Dessa forma, o dirigente russo poderia argumentar que eventuais negociações, no âmbito da CEI, em Minsk, incluindo países da Europa e Ásia, seriam vitória de iniciativa que a Rússia alegaria ser sua.


quinta-feira, 4 de julho de 2024

Erdogan, o “pacificador”, rejeitado por Putin (Kyiv Independent)

 Erdogan talvez tenha recebido a mais desprezível rejeição de sua breve carreira como candidato a bons oficios. Putin não está interessado em qualquer proposta de paz; ele só quer impor a sua vontade. PRA

“ ⚡️Erdogan offers to mediate peace talks, Kremlin rules out the idea.

At the Shanghai Cooperation Organization summit in Kazakhstan, Turkish President Tayyip Erdogan proposed to Russian President Vladimir Putin that Turkey could help mediate an end to the war.

Putin's spokesperson, Dmitry Peskov, rejected the idea, stating that Erdogan could not serve as an intermediary, without giving specific reasons.”

From: Kyivindependent _official

July 3, 2024

sábado, 15 de junho de 2024

Why China Is Sabotaging Ukraine - Alexander Gabuev (Foreign Affairs)

 


Why China Is Sabotaging Ukraine

Beijing Has No Interest in a Peace Agreement It Can’t Help Broker


Foreign Affairs, June 14, 2024

For a moment last August, it seemed that Beijing was finally ready to distance itself from its “no limits partnership” with Moscow. That month, Chinese leader Xi Jinping sent his special envoy for the war in Ukraine, Li Hui, to discuss Ukrainian President Volodymyr Zelensky’s peace formula with diplomats from several countries, including Ukraine and the United States. The formula calls for Russia to withdraw to Ukraine’s 1991 borders, send its war criminals to international tribunals, and pay reparations to Kyiv. The plan clearly represents Kyiv’s favored conclusion to the conflict, and merely by engaging with it, Beijing suggested that it might be ready to play hardball with Moscow.

But China’s first public participation in discussions about that formula was also its last. On May 31, Beijing announced that it would not be joining some 90 other countries at a June 15–16 peace summit in Switzerland to debate, based on Zelensky’s proposal, how to end the war. The Chinese Foreign Ministry spokesperson, Mao Ning, explained that Beijing would attend the summit only if Russia were a participant and if any plan presented would receive a hearing. For Ukraine, both requirements are nonstarters.

Xi, it seems, will not abandon his troublesome Russian partner or even pay lip service to aiding Kyiv. Instead, China has chosen a more ambitious, but also riskier, approach. It will continue to help Moscow and sabotage Western-led peace proposals. It hopes to then swoop in and use its leverage over Russia to bring both parties to the table in an attempt to broker a lasting agreement.

This gambit is unlikely to work. Neither Russia nor Ukraine appears anywhere close to being ready for serious peace talks—at least for now. Kyiv and its partners do not trust China to operate in good faith. And Beijing has very little experience in pulling off the kind of major, international negotiations it wants to spearhead here.

But these obstacles are unlikely to sway Xi. He has little to lose if the war in Ukraine goes on. China will therefore continue to be a stick-in-the-mud: indirectly helping Russia, derailing Kyiv-led diplomatic initiatives, and pretending to engage in diplomacy instead of genuinely trying to work with other parties to find a solution.

CLOSER AND CLOSER

For Beijing, ties to Russia are of great strategic significance. China and Russia share a 2,600-mile border, and Russia provides China with cheap natural resources and even some advanced military technologies. Xi also benefits from having a like-minded authoritarian among the UN Security Council’s permanent members.

There are still limits to Chinese-Russian relations. Western markets are essential to the health of the Chinese economy, and they give Beijing access to cutting-edge technology. As a result, Beijing has been careful to avoid crossing Washington’s redlines. But China does operate on the basis that everything which isn’t forbidden is allowed. Beijing may not be shipping lethal aid to Russia, but many Russian operators and their partners in China and Central Asia use China as a staging ground for industrial products key to Russia’s embattled economy, such as machine tools and chips. In two years, trade between the countries has increased by more than 60 percent, to a record $240.1 billion.

The White House, aware of its economic power, has tried using sanctions to stop this cooperation. In December 2023, it issued an executive order threatening to apply secondary sanctions on any international bank found to be even unknowingly clearing payments for the Russian military industry. Later, U.S. Treasury Secretary Janet Yellen and Secretary of State Antony Blinken made trips to China and outlined to Chinese leaders and financial institutions the grave consequences they would face for violations. Deputy Secretary of State Kurt Campbell, meanwhile, visited Europe to brief allies on the issue and called on them to put pressure on Beijing.

China expects that the peace summit will fail.

These measures have had some effect. According to customs data, Chinese exports to Russia decreased by double digits throughout March, April, and May. An overwhelming majority of Chinese banks have started to take an extremely cautious approach when clearing any Russia-related transactions. Some have abandoned dealings with Russian entities altogether. But it is unclear whether these measures will stop the flow of products which have been identified by Japan, the United Kingdom, the United States, and the EU as essential to the Kremlin’s military industry—and which China ships to Russia in massive quantities.

Meanwhile, Beijing and Moscow are continuing to lay the foundations for a deeper and more durable economic relationship. During Russian President Vladimir Putin’s state visit to China on May 16, Chinese and Russian state railroad companies signed an agreement to expand cross-border infrastructure that will help facilitate Russian exports to the east. On the same trip, Putin likely greenlit a scheme to ship more Russian gas to Central Asia so that Kazakhstan and Uzbekistan could have more gas to ship to China, thus enabling Moscow and Central Asian governments to increase their profits. Following his trip, Putin called the presidents of Kazakhstan and Uzbekistan to tell them about the visit, something he has never done before. On June 7, Gazprom signed contracts that would expand Russian gas exports to Kazakhstan, Kyrgyzstan, and Uzbekistan.

Beijing and Moscow also discussed ways to clear sensitive exports from China to Russia. To do so, they could designate specialized banks that are largely immune to U.S. restrictions. Such banks would not connect themselves to the global financial system and have correspondence accounts only in Russia, settling all payments in yuan and rubles through China’s international payment system. Their transactions would be cloaked under multiple layers of shell companies. The United States could try to target this system by tracking down suspicious transactions and sanctioning the banks, but that would be difficult because all the payments would bypass U.S.-dollar and other Western payment systems. China, after all, used a similar scheme with its Kunlun bank to effectively evade sanctions on Iran.

Economics isn’t the only area in which China and Russia are deepening their relations. They are also presenting an increasingly unified diplomatic front. Putin and Xi have now visited each other three times since the war in Ukraine began and displayed great mutual fondness. During a visit to Moscow in March 2023, Xi told Putin that “there are changes happening, the likes of which we haven’t seen for 100 years,” and suggested that the Chinese and Russian leaders should “drive those changes together.” When saying goodbye to Putin this May, Xi embraced him twice on camera—something he rarely does. The message of closeness was intentional and clear.

MY WAY OR THE HIGHWAY

Putin and Xi may have a genuine affinity for each other, but Beijing also has a self-interested reason to side with Moscow in peace endeavors: China has its own peace initiative, and so it wants to sabotage the United States and Europe’s efforts. On May 23, a week after the most recent meeting between Xi and Putin and a week before China declined to attend the Swiss peace summit, Chinese Foreign Minister Wang Yi met with Celso Amorim, chief adviser on national security to the president of Brazil. In a joint statement on settling the Ukraine crisis, they called for an international peace conference in which both Russia and Ukraine would be represented and all peace plans would be reviewed. (Not surprisingly, Brazil has also refused to send high-level officials to the Swiss conference, and may send no one at all.)

Beijing knows that, for now, its proposal will go nowhere. But it has reasons to believe that the June summit will end in a diplomatic impasse that will be difficult to conceal, despite the best efforts of the organizers and Ukraine’s partners. Even if the summit’s participants can create a concluding joint statement that is cogent and pro-Ukraine, there is no way for them to impose it on the Kremlin. In fact, since many key countries of the global South will send only low-level delegations to the summit or else skip it altogether, the practical effect of the meeting’s communiqué will be even more modest than that of the UN General Assembly’s 2022 resolutions criticizing Russian aggression.

In other words, China expects that the peace summit will fail. It believes the meeting will do nothing to advance peace or to rally the world behind Ukraine’s maximalist demands. That failure may give Beijing a shot to make itself a central player in diplomatic efforts, or at least pretend to be one—perhaps by partnering with friendly countries that have a proven track record in Ukraine-related talks. Saudi Arabia and the United Arab Emirates, for example, have facilitated discreet talks on prisoner swaps. Turkey was instrumental in reopening the Black Sea to grain shipments. All three states are on good terms with Beijing.

There’s a reason why China feels confident that it can present itself as a major broker. Beijing has the ultimate trump card: the ability to bring Russia to the table. Russian officials may have initially given China’s initiatives the cold shoulder in 2023, but they have since thanked Beijing multiple times for its proposal and signaled their readiness to negotiate if China’s approach is accepted. Putin himself expressed these sentiments in a statement to Russian journalists as he departed Beijing. “We have said more than once that we believe that China is sincerely striving to settle this problem,” Putin said. “It offers different options and is very flexible.” These comments suggest that Putin may have even reached an understanding with Xi, wherein Russia agrees to negotiate if called on by Beijing in exchange for China pledging not to travel to Switzerland.

If Beijing can indeed either directly or indirectly create a cease-fire agreement, it could work wonders for the government’s geopolitical standing. By stopping the killing and destruction, China would be celebrated in both the global South and in many European countries. Beijing would also be subject to less U.S. and European criticism of its support for Putin’s aggression. At the same time, because a cease-fire would not resolve the territorial dispute between Moscow and Kyiv, the issue of reparations to Ukraine, or accountability for war crimes, Western sanctions would continue—ensuring that Russia remains economically dependent on Beijing. And because any pause in hostilities will not stop Russia from expanding its military, a cease-fire will not obviate the need for the United States to dedicate resources to Europe. Washington’s bandwidth in the Indo-Pacific—including in the schedules of its most senior national security officials—would therefore remain limited.

DELUSIONS OF GRANDEUR

China may have formidable leverage over Russia and, as a result, influence in any negotiations. But the most ambitious scenario, in which Beijing plays a leading role in the war’s termination, is highly unlikely to materialize. For the time being, both Kyiv and Moscow have no appetite to stop fighting. The Russians believe that Ukrainian defensive lines will eventually crumble due to limited manpower and Western support. Ukraine and its backers hope that Russian advances on the battlefield will remain incremental and exact an unsustainably high cost, which will force Moscow to reconsider its objectives. Neither thinks the conflict will be endless.

Even if both sides were ready to talk, it is hard to see how they could reach a bargain. The parties will likely never agree over the status of Russian-occupied territories, and were they to agree to disagree they would still have to contend with unrelated, unacceptable demands. The Kremlin, for instance, would insist that any deal to end the war be contingent on the West stopping its flow of military support to Ukraine, leaving the country at Putin’s mercy and allowing Moscow to invade again. For Kyiv, this is understandably a nonstarter.

China’s relations with Ukraine’s allies—both the United States and Europe—are another stumbling block. Any complex negotiations between Russia and Ukraine will have to involve Kyiv’s partners. Moscow will want to have at least some one-on-one negotiations with Washington—since the Kremlin sees the United States as a principal party to the conflict—and China will want to link the termination of the war with fixing at least some aspects of its bilateral ties to the West. But both endeavors will cause issues. For moral reasons, it will be difficult, though not entirely impossible, for Washington to negotiate with Moscow without Ukrainians in the room. The United States will not abandon its approach to competition with China, be it on export controls, the beefing up of U.S.-led alliances in the Indo-Pacific, or tariffs on Chinese products. And Beijing’s actions regarding Ukraine, including its efforts to undermine the Swiss conference, have eroded trust in China in key Western capitals. That trust has been all but destroyed in the European capital most crucial to an agreement: Kyiv.

Finally, China has no proven track record when it comes to complex negotiations. A much-touted deal between Saudi Arabia and Iran was really negotiated from the bottom up, with Riyadh and Tehran giving Beijing the opportunity to portray itself as a mediator. China has never taken the lead in major crisis diplomacy. And its inertia, lack of diplomatic imagination, and refusal to risk failure—particularly when Xi’s prestige is in jeopardy—will most likely prevent it from the kind of innovation needed to find a solution. Indeed, it is unclear whether China actually believes that it can put a stop to the hostilities or if it is merely posturing.

For Americans concerned about the United States being usurped by Beijing, the latter country’s lack of capacity may seem like good news. But it does not mean Washington will have it easier. In fact, China’s failure could make the United States’ endeavors more difficult. The war in Ukraine may be a drain on the West’s resources and on the economies of developing countries, but it suits Beijing’s interests just fine. China has gained power over Russia, all while paying minimal economic and diplomatic penalties. China, then, may stay the course. It can continue to ridicule the West’s approach to the war and call for diplomacy without trying to achieve much in reality.


terça-feira, 4 de junho de 2024

A "desrussificação" da Europa central e oriental começando pelos Estados bálticos

Uma série de videos extremamente úteis na compreensão dos fundamentos históricos e das implicações geopolíticas contemporâneas sobre a resistência dos povos da Europa central e oriental contra as ameaças colocadas pelo expansionismo da Rússia liderada por Vladimir Putin: 

https://www.youtube.com/watch?v=MNlWeul1IYA

How War In Ukraine is DERUSIFYING Baltic States

The Military Show

Explore how Lithuania and the Baltic states are actively derussifying and standing strong against Russian influence. 🇱🇻🇪🇪 Learn about their historical struggles, current political actions, and unwavering support for Ukraine. 🇺🇦✊ Understand why  these countries are drawing a clear line in the sand, rejecting Russian cultural and political presence, and leading the charge for a free and independent future. 🌍🚫 #Derussification #Lithuania #Latvia #Estonia#StandWithUkraine #BalticSolidarity #NoToRussianAggression #HistoricalStruggles #PoliticalActions #EuropeanUnity#Bal 


https://www.youtube.com/watch?v=QO9iJ2_aHaE

Why Kaliningrad Will be Ukraine 2.0

The Military Show
To the outside world, Kaliningrad is simply a part of Russia 🌍. But change is brewing in this western exclave. From a strategic military hub 🛡️ to a potential flashpoint for conflict ⚔️, Kaliningrad's future hangs in the balance. Could it become Ukraine 2.0? 🇺🇦 Dive into Kaliningrad’s complex history and evolving geopolitical significance in our latest video. #Kaliningrad #Russia #Geopolitics #Ukraine #BalticStates #NATO #Military #History #Conflict #Europe#WorldWarIII #BalticSea #Lithuania



How the US and UK’s Aid Package to Ukraine Will Destroy Putin

🇺🇦 Ukraine has faced immense challenges in its war with Russia, with significant losses including Avdiivka. However, new aid packages from the U.K. and U.S. are set to turn the tide. Massive military support is boosting Ukraine's defenses, potentially derailing Putin's ambitions. Join us as we explore how this seismic shift could reshape the war's outcome. 🌍✊ #UkraineWar #StandWithUkraine #UKAid #USAid #Putin #MilitarySupport #TurningTheTide #RussiaUkraineWar#DefendUkraine #SupportUkraine #UkraineStrong #FreedomForUkraine #EndTheWar #ww3 #worldwar3  #GlobalSu