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sábado, 13 de novembro de 2021

Deu no New York Times; uma carta mais sincera ao Editor - Paulo Roberto de Almeida

 Nestor Forster é (ou pelo menos era) meu amigo. Foi meu aluno no Instituto Rio Branco, quando ali dei aulas de Sociologia Política na segunda metade dos anos 1980, logo depois de voltar do doutorado.  Foi um excelente aluno e revelou-se depois excelente diplomata, discreto, trabalhador, eficiente. Ficamos em contato de forma intermitente, pois na carreira somos por vezes separados durante longos anos, pois quando um está em Brasília, o outro está entre dois postos no exterior.

Mas, eu sabia que ele era profundamente religioso e conservador, até anticomunista decidido. Manteve-se discretamente durante o reinado lulopetista na diplomacia, mas foi um dos poucos que se solidarizou comigo quando eu estava em minha longa travessia do deserto nos mesmos anos, até tentando conseguir-me algum posto de professor, pois sabia que meu salário estava reduzido ao básico, praticamente o mesmo de um secretário em início de carreira. 

Não sabia que ele tinha se aproximado de Olavo de Carvalho, mas soube quando, cerca de sete anos atrás, me ofereceu o livro Jardim das Aflições, do polêmico escritor, de quem já tinha lido O Imbecil Coletivo e dezenas de outros artigos nos blogs com os quais cooperava (Mídia Sem Máscara) ou o pessoal, que mantinha. De todo modo foi uma completa surpresa quando soube, muitos meses depois, que tinha sido ele que tinha levado o então candidato a chanceler EA em visita ao escritor residente na Virgínia, em abril ou maio de 2018, quando Nestor Forster era ministro-conselheiro na embaixada em Washington, comandada pelo embaixador Sérgio Amaral.  

Quando ele foi elevado de ministro-conselheiro a embaixador em Washington, em setembro de 2020, eu escrevi uma carta aberta a ele, cumprimentando-o, e até coloquei essa carta neste meu blog, como informo abaixo: 

3760. “Carta aberta a meu bom aluno, Nestor Forster, embaixador do Brasil em Washington”, Brasília, 23 setembro 2020, 4 p. Cumprimentos ao novo embaixador e rememorando certas convicções do passado. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/carta-aberta-meu-bom-aluno-nestor.html).

Dois dias atrás, um jornalista americano, Jack Nicas, publicou no New York Times um artigo fortemente crítico ao presidente Bolsonaro, "The Bolsonaro-Trump Connection Threatening Brazil's Elections", que eu também publiquei em meu blog, como faço normalmente com todas as matérias que encontro de interesse para a diplomacia e a política externa do Brasil, como informo aqui: 

O modelo Trump-Bannon para a reeleição no Brasil 

Jack Nicas (NYT)

 O NYTimes é um jornal progressista, ou "liberal", no conceito americano de esquerda light, que para a direita é socialista, quase comunista. Não encontrei muita novidade neste artigo, pois tudo o que o jornalista reporta eu já tinha lido em diversas matérias de imprensa, reportagens ou análises e colunas de opinião.

Em todo caso, para os brasileiros, nada do que está dito é estranho ao que nós mesmos observamos daqui, mas isso pode impressionar os americanos.

Paulo Roberto de Almeida

Os interessados em conhecer esse artigo, para mim totalmente anódino, podem fazê-lo neste link de meu blog: 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/11/o-modelo-trump-bannon-para-reeleicao-no.html

Descubro agora que meu amigo, embaixador em Washington Nestor Forster, se sentiu compelido – ou o fez por iniciativa própria – a enviar uma carta ao Editor do Jornal, que já foi reproduzida em diversas matérias jornalísticas. Transcrevo essa carta logo abaixo, e em seguida eu me permito reescrever uma carta que Nestor Forster, se fosse um homem livre, como eu sou, mesmo sendo diplomata, poderia enviar ao Editor, mais ou menos no mesmo teor, mas de sentido completamente diferente.

Vejamos sua carta, divulgada amplamente: 


Eis a carta que eu escreveria ao mesmo Editor (numa versão em português): 

Mr. Dean Baquet

Executive Editor

The New York Times

Caro Sr. Baquet,

A reportagem "The Bolsonaro-Trump Connection Threatening Brazil's Elections", (Nov. 11) é, felizmente, uma narrativa necessária com o propósito de reforçar e defender as instituições brasileiras, num momento em que muitos brasileiros, e o seu jornal, a partir de um ponto de vista objetivo, consideram que elas são "vulneráveis" a ataques que o próprio presidente do Brasil vem fazendo, sistematicamente, contra a imprensa livre brasileira e estrangeira, muito ao estilo mentiroso que o seu modelo americano, o ex-presidente Trump, um notório agressor das instituições democráticas americanas, e aquele que foi seu assessor de imprensa, o indiciado Steve Bannon, ensinaram a família Bolsonaro a praticar no Brasil, com o mesmo lamentável recurso a FakeNews e mentiras deslavadas. 

Um membro longevo do Congresso Nacional, que ele sempre desrespeitou e envergonhou durante quase três décadas, o presidente Jair Bolsonaro foi eleito em outubro de 2018 com mais de 57 milhões de votos, ou seja, 55% dos votos válidos, resultado que ele obteve com o mesmo recurso à mentira, à fraude, às FakeNews, que foram ensinadas por esses dois notórios destruidores da democracia americana. 

Sua presidência tem sido marcada pelo desrespeito sistemático aos valores e princípios constitucionais e em notória contravenção a todas as regras e normas que regem o direito à livre expressão no Brasil, perpetrando tantas mentiras quanto seu modelo americano. Não apenas ele não respeita a separação dos poderes, como vinha tentando, sistematicamente, minar a credibilidade do Legislativo e do Judiciário, numa aparente tentativa de forçar uma ruptura democrática e governar de maneira autocrática. Como é do conhecimento da grande maioria dos brasileiros, e provavelmente dos leitores do NYTimes, Bolsonaro é um admirador da ditadura militar brasileira, não se eximindo de elogiar os piores torturadores daquele regime.

Bolsonaro é um protótipo de ditador, mas frustrado, pois que totalmente desprovido – felizmente – de qualquer condição de liderar um golpe de Estado, e menos ainda de governar de maneira digna um país relevante como é o Brasil na América do Sul.

A democracia no Brasil corre sérios riscos e por isso eu cumprimento o New York Times pelo esforço que seu jornal vem demonstrando em seguir nossos assuntos internos, assim como nosso papel na região e no mundo, de maneira a manter os seus leitores bem-informados sobre a triste realidade de ameaça institucional que paira sobre o Brasil neste momento.

Cordialmente, 

Em nome do embaixador Nestor Forster

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata e professor

Brasília, 13 de novembro de 2021


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Carta aberta a meu bom aluno Nestor Forster, embaixador do Brasil em Washington - Paulo Roberto de Almeida

Caro ex-aluno, excelente diplomata, agora representante do Brasil junto ao imperador Trump, Nestor Forster,

Escrevo esta carta aberta para, em primeiro lugar, cumprimentá-lo pela conquista do posto diplomático que parecia ser, até pouco tempo atrás, o mais relevante das representações brasileiras no exterior, certamente ambicionado por muitos colegas e até por grandes personalidades de fora da carreira, atualmente, e infelizmente, transformado numa emblemática demonstração de submissão explícita, e vergonhosa, do nosso país a uma potência estrangeira.

Não, não o estou acusando de ser o instrumento involuntário de tal submissão vergonhosa: você é um excelente diplomata de carreira, que soube merecer todas as suas conquistas funcionais e que terá, ao sair algum dia do posto, o seu retrato na galeria dos ex-chefes de missão em Washington. Isso não apagará o fato objetivo de ter servido ao melhor de sua capacidade numa fase provavelmente a mais sombria e humilhante de toda a nossa história diplomática, quando fomos levados, por um presidente totalmente ignaro e despreparado em política internacional, e por um chanceler acidental especialmente inadequado para as funções, a um acúmulo de indignidades diplomáticas jamais visto nos quase duzentos anos de Estado independente.

Você foi um dos meus melhores alunos no curso do Instituto Rio Branco, quando eu era apenas um professor de Sociologia Política, mas que depois se revelou um excelente amigo e companheiro, inclusive nos anos também não convencionais de uma diplomacia ideológica, durante os quais eu atravessei um longo deserto de ostracismo funcional, por ousar expressar minha opinião sobre uma política externa que me parecia inadequada ao Brasil. 

Sucedendo-o num posto consular que funcionava de maneira excelente, graças justamente ao seu trabalho e dedicação exemplares, dei testemunho dessa época de nossa política externa não convencional num livro que escrevi naquele que foi meu último posto da carreira: “Nunca Antes na Diplomacia”. Recentemente, a editora que o publicou, solicitou-me preparar uma segunda edição, o que obstei de maneira muito clara, por considerar que o Nunca Antes era exatamente agora, a fase mais medíocre, a mais vergonhosa, a mais indigna de uma trajetória até há pouco julgada exemplar em nossa história diplomática.

Lamento por você, aluno exemplar, diplomata de altas qualidades, ter sido levado a servir num posto tão relevante, num momento tão baixo de nosso prestígio no exterior, justamente devido ao fato de seguir ordens de um presidente e de um chanceler tão medíocres, mas especialmente em razão de uma estúpida, prejudicial e irracional postura de submissão automática deste governo, do nosso país, ao pequeno déspota igualmente medíocre, ainda presidente, dessa grande nação. 

Lamento porque você não precisaria, e acho que não deveria, fazer parte de um enredo de absurdos, certamente em descompasso com tudo aquilo que abordávamos em minhas aulas de Sociologia Política no Rio Branco, quando falávamos de Tocqueville, de Max Weber, de Marx, e, mais adiante, em total contradição com o que discutíamos durante os anos da precedente diplomacia ideológica, mas que nem de perto tangenciou o espetáculo de despautérios diplomáticos a que estamos assistindo atualmente. 

Caro Nestor: quaisquer que sejam suas convicções políticas e suas crenças religiosas — e você sabe muito bem que eu sou um total irreligioso, mas que mantenho indistintamente diálogos à esquerda e à direita do espectro político —, acredito que, no fundo, você tem plena consciência de que está servindo a um dos piores oportunistas políticos de nossa história, um homem de credenciais comprometidas por um uso vergonhoso das oportunidades que lhe foram oferecidas por um sistema político altamente corrupto, um descrente que faz um uso asquerosamente utilitário de todas as crenças religiosas que se lhe apresentem, um indivíduo capaz de elogiar um torturador condenado pela Justiça e que espezinha indignamente os direitos humanos, que não demonstra qualquer solidariedade em relação aos milhares de mortos já acumulados na pandemia (muitos dos quais podem ter sido levados a óbito por sua atitude desprezível a esse respeito) e que, mais do que tudo, colocou a política externa do Brasil, a nossa diplomacia, a serviço, de forma vil, de um dirigente estrangeiro. Em outras épocas, como você também deve ter consciência disso, nossos militares classificariam tal rastejamento sabujo como de traição à pátria, um crime que em tempos de guerra poderia merecer a pena de morte.

Você também deve ter consciência de que serve a uma contrafação de chanceler que está destruindo não só os fundamentos de nossa diplomacia, como a própria dignidade das funções de representação externa, ao expedir instruções expressas de submissão a tal agenda servil, ao introduzir elementos exóticos, altamente lesivos (quando não ridículos) ao prestígio outrora amealhado pela diplomacia brasileira, como pode ser essa rejeição do multilateralismo, essa adesão idiota ao monstro metafísico de um absurdo antiglobalismo, coisas que só mentes desequilibradas e pervertidas pelas mais canhestras teorias conspiratórias poderiam conceber, enfim um oportunista que se construiu uma personalidade artificial apenas para se colocar a serviço de dirigentes ignaros e despreparados para as altas funções que exercem, para grande infelicidade da nação.

Tudo isso que eu escrevi acima é subjetivo e impressionista, eu sei, mas eu posso lhe fornecer abundantes provas fácticas, materiais, até testemunhais — algumas até de âmbito judicial ou policial — de tudo o que afirmei, pois eu sou um atento observador (e anotador) de tudo o que anda pelo mundo e pelo Brasil, e meus argumentos carregam certo caráter objetivo, a que me obriga a mesma lógica implacável, os registros históricos, os mesmos fundamentos empíricos com os quais eu me exercia nas aulas de Sociologia Política dos nossos saudosos tempos do Rio Branco, quando estávamos recém saindo de uma ditadura militar que me levou a sete longos anos de um autoexílio estudioso na Europa.

Você deve ter consciência de tudo isso, ainda que não possa evidentemente reconhecer, confessar abertamente os equívocos atuais de nossa política externa, a submissão vergonhosa de nossa diplomacia, geograficamente identificada com o exato posto que você ocupa, e se afastar da indignidade que estará fatalmente associada aos tempos sombrios que vivemos.

Mais adiante, alguns anos à frente, poderemos quem sabe retomar o contato e voltar a falar de coisas amenas — Tocqueville, Weber, talvez Marx — ou até tratar do futuro do Brasil, de sua política externa e da nossa diplomacia, que precisarão certamente ser reconstruídas e restauradas em sua qualidade e dignidade anteriores. Estou certo de que você deve ter, como eu, “uma certa ideia do Itamaraty”, que por acaso é o título de meu mais recente livro — livremente disponível em meu blog, que você conhece bem —, o terceiro de uma série que dedico a coisas diplomáticas. Outros virão, com certeza, pois, como você também deve saber, estou mais uma vez dedicado a essas lides da leitura, da observação atenta das coisas do mundo, da reflexão sobre as coisas do nosso país, e finalmente da escrita, sempre com esse espírito crítico que é a marca inexorável desse meu quilombo de resistência intelectual. Você sabe como me encontrar.

No momento, eu lhe desejo um excelente desempenho de suas altas funções e meus sinceros votos de felicidade numa carreira que deve se estender ainda vários anos além da minha. Quando eu era seu professor, estava recém voltando de um doutorado no exterior, modesto segundo secretário numa carreira que me deu muitos momentos de felicidade, justamente ao poder combinar academia e diplomacia, o que eu sempre valorizei, a despeito dos sacrifícios incorridos individualmente e na vida familiar, e de alguns poucos episódios de desgaste funcional ao pretender defender a liberdade de pensamento e de expressão numa corporação que é bem mais feudal do que weberiana (mas, você sabe tudo isso, eu sempre repeti esse meu estereótipo).

Sinta-se realizado na sua nova condição, preserve a independência de espírito, mantenha sua dignidade em momentos certamente difíceis que você viverá, e até algum futuro, mas incerto reencontro.

Do seu colega, ex-professor e amigo

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 23 de setembro de 2020

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Embaixador Nestor Forster: programa de trabalho nos EUA

'Quer proteger a Amazônia? Compre mais do Brasil’, diz escolhido por Bolsonaro para a embaixada nos EUA

O diplomata Nestor Forster terá seu nome ainda submetido pelo plenário do Senado

O Globo, 18/02/2020


SÃO PAULO - Aprovado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado na última quinta-feira para assumir a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos, o diplomata Nestor Forster, 56 anos, disse em entrevista ao GLOBO que entre suas prioridades estará atuar para dirimir o que chama de fake news a respeito da Amazônia. No ano passado, diante das queimadas e índices de desmatamento da floresta, vários congressistas americanos apresentaram projetos para dificultar o comércio entre os dois países como uma forma de retaliação a questões ambientais
"Penalizar a exportação de empresas brasileiras usando a Amazônia como desculpa é algo que prejudica a Amazônia, porque as grandes empresas que exportam são as que têm mais recursos para observar a lei ambiental. É contraproducente", afirmou Forster. Antes de assumir a embaixada em Washington, um dos principais postos da diplomacia, ele ainda precisa ter seu nome submetido ao plenário do Senado, o que deve ocorrer nos próximos dias.
Qual o seu plano de trabalho, se for aprovado pelo plenário?
Se eu vier a ser aprovado pelo plenário do Senado, tenho um desafio enorme para dar forma concreta a esta imensa energia que existe na relação entre o presidente [Jair] Bolsonaro e o presidente [Donald] Trump. Queremos promover uma aproximação do Brasil em áreas como comércio e investimentos, atrair mais investimentos americanos para o Brasil, gerar mais emprego e renda aqui para os brasileiros. Queremos ter maior acesso ao mercado americano, isso é algo que queremos perseguir como objetivo de médio prazo. E a coisa que  podemos fazer mais rapidamente é na facilitação de negócios, de reduzir os elementos do custo Brasil.
Que outras áreas podem ser incentivadas?
Nós temos imensa agenda na área de cooperação científica e tecnológica, no tema espacial, utilização da Base de Alcântara (Maranhão) para o lançamento de satélites, e, além disso, temos a possibilidade de aprofundar a cooperação na  área de defesa e segurança.
O senhor também tem planos de deixar um legado cultural em Washington?
Sim, a gente começou uma série de eventos culturais, promovendo um concerto de Villa-Lobos, a peça “Pulando como um saci” fez grande sucesso, conseguimos encher o auditório da embaixada. E temos talvez o maior tesouro brasileiro nos Estados Unidos, a biblioteca que o diplomata e historiador Oliveira Lima (1867-1928) doou a uma universidade de Washington. Eram originalmente 30 mil obras, hoje são 60 mil, e pelo menos 5 mil delas são obras raras. É a maior biblioteca brasileira fora do Brasil. A ideia seria trabalhar com a Universidade Católica, onde isso está localizado, para fazermos um grande centro de estudos ibero-americano, como era o desejo do Oliveira Lima, deixando uma marca perene da cultura brasileira na capital americana.

Mas como seria este centro?
Não quero soar megalômano, mas a obra está lá, se trata de trabalhar com a universidade para conseguir doações, financiamento. A universidade poderia doar o terreno, há grandes empresas brasileiras que poderiam ter interesse nisso, não só do estado de Pernambuco, de onde veio Oliveira Lima, que poderiam fazer o seu aporte e deixar a sua marca.
O senhor tem falado muito também com os produtores de vinhos do Brasil...
Conversei com todas as principais vinícolas brasileiras, as do Sul mas também as do Vale de São Francisco, o prefeito de Petrolina (PE) esteve na embaixada, e precisamos ampliar a presença do vinho brasileiro, não apenas como “enfeite diplomático”, mas com uma presença comercial. A nossa ideia é fazer um grande evento de degustação de vinho brasileiro em Washington no segundo semestre e levar os produtores para entrar em contato com os distribuidores locais. É um setor com valor agregado, que gera emprego e renda. Vamos tornar uma rotina servir produtos brasileiros, começando pelo vinho, em nossos eventos da embaixada. Depois podemos avançar para outros, é o que se chama soft power. Eu brinco sempre, ninguém vai na Embaixada da Suécia e sai de lá sem comer um salmão. A Embaixada da Itália em Washington tem uma cantina que é uma beleza. É uma forma de difundir a cultura brasileira a partir destes produtos.
Parte da agenda que o senhor prevê para este ano pode ser afetada pelas eleições americanas?
De forma alguma. Isso introduz um elemento de certa complexidade, mas a relação entre os países não deve parar e não podemos perder este “momentum” que foi gerado pela excelente relação entre os dois presidentes.
Mas, no lado democrata, os principais candidatos têm falado muito sobre o Brasil, quase sempre de maneira crítica por causa da questão amazônica. Uma eventual troca de poder não pode prejudicar esta relação entre Brasil e EUA?
É muito cedo para especular sobre isso, os elementos que vão definir o futuro da campanha eleitoral americana não estão dados ainda. O papel da diplomacia é procurar esclarecer a realidade, os fatos, os dados. Não estamos em Washington para fazer propaganda para o Brasil e nem para distorcer nada. Ao contrário, queremos corrigir os exageros, as desinformações que às vezes circulam e que podem prejudicar a imagem do país. Às vezes temos até interesse protecionista disfarçado de preocupação ambiental, e nossa obrigação é, imediatamente, mostrar os fatos. 84% da Amazônia estão  de pé, e muito bem, graças ao Brasil. O mundo deveria agradecer ao Brasil por ser a potência ambiental que é.
Mas no último ano vários congressistas apresentaram projetos para dificultar o comércio entre os dois países por questões ambientais. Isso pode prosperar?
Não acredito. Quando surgiu este tipo de iniciativa no Congresso, nós procuramos deputados e senadores dos dois partidos, mostrando os fatos, qual o problema da queimada, qual a sua extensão. Mostramos que o último ano está na média dos últimos dez anos, houve anos com muito mais queimadas, como 2005, 2007 e 2010, que a preocupação com o meio ambiente é enorme no governo de Jair Bolsonaro. Tanto que a Operação Verde Brasil foi a maior mobilização do país contra queimadas, com 43 mil soldados, 2.500 bombeiros, equipamentos sem precedentes envolvidos nisso.
Mas no exterior a visão é de que o Brasil está passando por uma crise ambiental.
A política ambiental do presidente Bolsonaro leva em conta que temos 25 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia, região com o mais baixo IDH do país. E não podemos cercar a Amazônia e transformá-la em um imenso parque para que europeus e americanos ricos passem suas férias. Temos que pensar nestes 25 milhões de brasileiros que estão lá, dar a eles oportunidade de emprego, melhor renda, serviços públicos de melhor qualidade. E isso vem como? Com projetos sustentáveis na área da bioeconomia. Há uma enormidade de coisas que podem ser feitas. Temos empresas brasileiras pioneiras na área de cosméticos, fármacos, a área de piscicultura tem um potencial enorme. Os peixes amazônicos podem ter uma criação sustentada e trazer mais renda para a região, além de toda a área do ecoturismo, que tem melhorado muito. É disso que se trata. Penalizar a exportação de empresas brasileiras usando a Amazônia como desculpa é algo que prejudica a Amazônia, porque as grandes empresas que exportam são as que têm mais recursos para observar a lei ambiental. É contraproducente. Quer proteger a Amazônia? Compre mais do Brasil, não menos, isso vai gerar renda e recursos até para a preservação.
Dada a proximidade entre Bolsonaro e Trump, a reeleição do republicano em novembro seria melhor para o país?
Nós trabalharemos com o resultado que vier das urnas do povo americano.
Tem crescido muito o aumento de deportações de brasileiros detidos na fronteira dos EUA, que tentam entrar ilegalmente no país. Como o senhor pretende lidar com este tema?
Há preocupação sobre isso, aumentou muito o número de brasileiros apreendidos na fronteira, de 1.600 em 2018 para cerca de 18 mil no ano passado, 95% são famílias. Então temos duas dimensões: primeiro de assistência consular e humanitária, e temos dez consulados nos EUA que procuram prestar toda a assistência a estes brasileiros. Eu digo e repito: para os consulados brasileiros, não há brasileiro ilegal, vai ser atendido como qualquer outro, sem nenhuma pergunta sobre situação migratória nos EUA, isso é um problema das autoridades americanas. Porém, temos alguns limites para ver se há alguma discriminação, se as instalações são adequadas, se dramas humanos específicos têm sido tratados. A outra dimensão é a razão para este aumento expressivo de brasileiros. Segundo investigação da Polícia Federal, o aumento está relacionado à migração dos coiotes, organizações de crimes organizados. Não vamos romantizar este pessoal, eles traficam pessoas e drogas, e costumavam levar centro-americanos para para os EUA, mas como o México fechou sua fronteira sul, eles se voltaram ao Brasil. Temos violação de interesse de menores, aluguel de crianças para pseudofamílias, coisas que nos preocupam muito. A comunidade brasileira nos Estados Unidos tem uma imagem muito boa: ordeira, trabalhadora, alegre e festiva.

O que pode surgir da nova visita do presidente Bolsonaro aos EUA, para a Flórida, em março?
Essa visita é mais um bom momento de nosso relacionamento bilateral, e o presidente vai realizar uma agenda em um seminário de investimentos em Miami. O Brasil é o maior investidor externo na Flórida, são cerca de US$ 20 bilhões. Há um grande interesse das autoridades do próprio estado nesta visita. Vai ter este componente de investimento. O presidente também deverá ter contato com a comunidade brasileira na Flórida, que é muito expressiva. Vai assinalar mais um ponto da excelência do relacionamento entre o Brasil e os EUA, do muito que temos a fazer juntos.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Nestor Forster: novo embaixador em Washington

Aprovado em sabatina, indicado para embaixada nos EUA minimiza imigração irregular de brasileiros

Diplomata Nestor Forster também disse no Senado que não há alinhamento automático com americanos

Aprovado por unanimidade —12 votos a 0— na Comissão de Relações Exteriores do Senado nesta quinta-feira (13) para ocupar o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o diplomata Nestor Forster minimizou as queimadas ocorridas em 2019 na Amazônia e o aumento do número de brasileiros sem documentos ingressando em território norte-americano.
Para ser oficializado como embaixador, o nome do diplomata ainda precisa ser aprovado no plenário do Senado, o que deve acontecer na próxima semana.
Forster disse que é preciso "dar a dimensão devida" ao problema de imigração para os Estados Unidos envolvendo brasileiros sem documentação. Para ele, a questão é "pontual".
Entre 2018 e 2019, esse número cresceu dez vezes, chegando a 18 mil pessoas (sendo que 95% são famílias). Há 1,3 milhão de brasileiros vivendo nos EUA, de acordo com o diplomata.
"O que aconteceu? O Brasil está em crise econômica? Alguém está mandando eles embora? Não é isso. É que houve um redirecionamento de organizações criminosas de imigração ilegal que atuavam na América Central e estão atuando hoje no Brasil", afirmou.
Em janeiro, o governo norte-americano anunciou que brasileiros que tentassem atravessar a fronteira sudoeste dos EUA para pedir asilo no país seriam enviados de volta ao México para aguardar a tramitação de seus processos de imigração.
Em outra frente de ação da Casa Branca, mais 130 brasileiros foram deportados num voo fretado na semana passada —o terceiro com o mesmo propósito desde outubro.
Ele também negou que, entre os países comandados pelos presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro (sem partido), haja um alinhamento automático, "uma expressão que é usada com um certo cunho depreciativo, mas que, na prática, não poder ser sequer realizada".
"Se houvesse alinhamento automático, nós não precisaríamos nem ter embaixada, talvez nem precisássemos ter o Itamaraty. Isso não existe com país nenhum", afirmou Forster.
O diplomata tratou de Amazônia em mais de uma oportunidade ao longo de sua sabatina. Disse, por exemplo, que foi ao Parlamento americano conversar com os congressistas, principalmente na Câmara, de maioria democrata.
"É preciso ter um diálogo aberto e franco com eles, explicar o que está acontecendo no Brasil e o que não está acontecendo, desfazer exageros e enfrentar os temas com realismo e determinação", afirmou Forster.
Depois, respondendo a perguntas de senadores, disse que as queimadas do ano passado não foram as maiores dos registros históricos e o papel da diplomacia "não é esconder nada, distorcer nada, fazer fake news", mas é, "com serenidade, esclarecer e trazer os fatos à realidade".
"Não é a floresta que está pegando fogo, são as bordas, áreas já desmatadas do cerrado, que fazem parte da Amazônia Legal, mas não do bioma amazônico. Quando a gente esclarece, explica as coisas, desfaz estas más impressões ou desinformações que tem nesta área", afirmou.
Forster fez algumas referências ao presidente da República. Chamou a visita que Bolsonaro fez aos Estados Unidos, em março do ano passado, por exemplo, de histórica.
"Uma virada de página, assinalando um novo momento em que Brasil e Estados Unidos podem usar o que chamei de leito profundo de valores e princípios compartilhados que podem aflorar de forma mais firme e efetiva para a realização dos interesses dos dois países", afirmou Forster.
O diplomata listou consequências da visita, como a mudança de postura dos EUA em relação ao pleito do Brasil para ingresso na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a designação de aliado especial extra-Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o que abre portas para uma maior cooperação no âmbito de defesa, além da assinatura do acordo de salvaguardas tecnológicas, permitindo o uso da base de Alcântara (MA) para o lançamento de satélites.
Em outubro do ano passado, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, enviou um documento ao secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría, no qual dizia que Washington defendia as candidaturas imediatas apenas de Argentina e Romênia.
Em janeiro, os Estados Unidos fizeram um gesto ao governo Bolsonaro defendendo "que o Brasil se torne o próximo país a iniciar o processo de adesão à OCDE", segundo embaixada dos EUA em Brasília.
Forster destacou também consequências do calendário eleitoral norte-americano, o que, segundo ele, impõe constrangimentos do lado dos EUA para um engajamento mais firme em acordos comerciais.
O diplomata colocou aos senadores como maior desafio uma questão que se discute há décadas: um acordo que permita evitar a bitributação para empresas e para pessoas físicas.
"Isso teria grande alcance na facilitação de comércio entre os dois países, no aumento da eficiência do comércio e tudo isso. É algo complexo, está na mesa há muito tempo", afirmou.
O governo de Donald Trump, no entanto, publicou na segunda-feira (10) uma norma que retira o Brasil da lista de nações consideradas em desenvolvimentoe que dava ao país determinados privilégios comerciais.
O principal objetivo do governo Trump, segundo a nota, é reduzir o número dos países em desenvolvimento que poderiam receber tratamento especial sem serem afetados por barreiras contra seus produtos.
Entre as consequências práticas de deixar o status na OMC (Organização Mundial do Comércio) –mas não na mudança da lista dos EUA– poderia estar o fim da isenção unilateral de tarifas em exportações, pelo SGP (Sistema Geral de Preferências), do direito a acordos parciais de comércio com outros países em desenvolvimento e de parte dos empréstimos do Banco Mundial.

Demora no processo

No comando interino da embaixada do Brasil nos EUA desde junho, o diplomata queria ser sabatinado no fim do ano passado para iniciar 2020 já oficializado no cargo. 
Com a demora para o agendamento da sessão, disse a pessoas próximas que não havia como interferir no calendário de Brasília e que teria que esperar pela convocação dos parlamentares.
A paciência, dizem aliados, foi justamente a chave de Forster durante o caminho tortuoso que desembocou na sua indicação.
Jair Bolsonaro decidiu indicá-lo embaixador na capital americana somente depois que o filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, desistiu do posto diante do desgaste de sua imagem em meio à crise do PSL e da relação turbulenta entre governo e Congresso. O Planalto avaliava que o Senado não daria os votos necessários para a aprovação do nome do filho do presidente.
Forster recebeu então o aval do governo Donald Trump para ocupar o posto em 19 de novembro. O chamado agrément é uma consulta que o Itamaraty faz de maneira sigilosa aos países que vão receber o futuro embaixador e, somente depois dele, sua indicação é encaminhada formalmente ao Senado brasileiro.
​​Bolsonaro, porém, já havia atropelado o rito natural desse processo quando anunciou, antes de qualquer pedido de aval ao governo dos EUA, que indicaria seu filho para a embaixada em Washington. Depois da desistência de Eduardo, afirmou —também sem a prévia chancela americana— que seria Forster o substituto.
Amigo do polemista Olavo de Carvalho, o diplomata tinha o apoio do ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) para assumir a embaixada antes mesmo de Bolsonaro falar sobre a possibilidade de Eduardo abraçar o posto.
Forster havia ganhado força —e a simpatia do presidente— durante a viagem de Bolsonaro à capital americana, em março.
Ele foi um dos responsáveis por elaborar a lista de convidados da "Santa Ceia da direita", jantar com a presença de pensadores e jornalistas conservadores na primeira noite de Bolsonaro em Washington e, desde então, teve participação em reuniões importantes do governo brasileiro nos EUA.
Como revelou a Folha, em junho, Forster chegou a interromper suas férias para se encontrar pessoalmente com Bolsonaro em Seattle, durante uma parada técnica da comitiva brasileira após o encontro do G20, no Japão.
Naquele momento, a conversa foi vista por integrantes do Itamaraty como o movimento que faltava para sua indicação formal a embaixador nos EUA, mas, pouco tempo depois, Eduardo entrou em cena.
Forster não comentava publicamente sobre a possível nomeação do filho do presidente para um dos postos mais cobiçados da diplomacia brasileira. A aliados, dizia que continuaria trabalhando até que a indicação de Eduardo fosse aprovada pelo Senado. Mas a possibilidade parecia cada vez mais difícil, até ser enterrada de vez.
Conservador, católico e alinhado ao governo americano, Forster tem na sua sala no terceiro andar da embaixada um boné de apoio a Trump e uma mensagem em que se lê "make unborn babies great again" —que adapta o slogan do presidente americano a campanhas antiaborto no país.
Especializado em América do Norte há quase 30 anos, o diplomata já comandou os consulados de Nova York e de Hartford, em Connecticut. Desde 2017, era responsável por temas migratórios e de administração na embaixada em Washington antes de assumir a função de encarregado de negócios.
Depois da sabatina desta quinta, Forster pretende fazer reuniões com autoridades em Brasília e no Rio de Janeiro, e passar uns dias no seu estado natal, o Rio Grande do Sul, antes de voltar aos EUA na próxima semana.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Mesmo desistindo de ser embaixador, Bolsokid humilha chanceler -

Bolsonaro's Son Ditches Plan To Be US Ambassador

The son of Brazilian President Jair Bolsonaro said he had dropped hopes of becoming the country's ambassador to the United States.
Eduardo Bolsonaro told fellow lawmakers in the Chamber of Deputies on Tuesday that he had made the decision partly due to lack of support, adding that his father had not influenced his choice.
"It was a decision I had been thinking about for a long time," he told local media in Brasilia.
Eduardo Bolsonaro, son of Brazilian President Jair Bolsonaro, says he is not in the running to become ambassador to the USEduardo Bolsonaro, son of Brazilian President Jair Bolsonaro, says he is not in the running to become ambassador to the US Photo: AFP / NELSON ALMEIDA
"You listen to the advice of many people. There is also the issue of my electorate. I confess that the majority was not supportive."
Faced with political and legal resistance to his nomination, Eduardo Bolsonaro -- who recently turned 35, Brazil's minimum legal age for ambassadorships -- had been pushing his case for the job.
A compulsive social media user like his father, the congressman regularly posts photos of himself posing with world leaders, including US President Donald Trump and Saudi Arabia's crown prince Mohammed Bin Salman.
At Eduardo Bolsonaro has even usurped Brazil's top diplomat Ernesto Araujo, earning himself the nickname 'shadow foreign minister'At Eduardo Bolsonaro has even usurped Brazil's top diplomat Ernesto Araujo, earning himself the nickname 'shadow foreign minister' Photo: AFP / NELSON ALMEIDA
Re-elected to the lower house in 2018 with a record number of votes, he had touted his experience of flipping hamburgers in the US during a work exchange program in 2005 and 2006, and his role as head of the foreign relations committee to bolster his ambassadorial credentials.
Former Trump advisor Steve Bannon, founder of a far-right movement that Eduardo Bolsonaro joined in February as leader of the Brazilian chapter, previously praised the possible nomination.
And at times he has even usurped Brazil's top diplomat Ernesto Araujo, earning himself the nickname "shadow foreign minister" and causing confusion over who is the country's most senior envoy.
But Eduardo Bolsonaro's lack of formal diplomatic training and experience was a red flag for many.
Eduardo Bolsonaro (L) presents a more polished image than his father the president, who often appears ill at ease in publicEduardo Bolsonaro (L) presents a more polished image than his father the president, who often appears ill at ease in public Photo: AFP / Sergio LIMA
"Eduardo does not meet any of the requirements to be a diplomat," Fernanda Magnotta, who heads the international relations program at FAAP university, told AFP recently.
Brazil's ambassador to the US has always "been held by absolutely experienced figures and senior negotiators," she said.
"He has only a law degree and is not even fluent in English."
If confirmed, the appointment would bring Brazil closer "to being a banana republic," newspaper columnist at O Globo Bernardo Mello Franco had warned.

More polished

Bolsonaro said this week his third son could help "pacify" bitter divisions in his Social Liberal Party (PSL).
A surfer with a well-trimmed beard, Eduardo Bolsonaro presents a more polished image than the president, who often appears ill at ease in public.
Like his elder brothers Flavio and Carlos -- who are also in politics -- Eduardo is fiercely loyal to his father and shares his climate-change skeptic, anti-socialist and pro-gun views.
And he rarely misses an opportunity to publicise them, even on his wedding day.
A video posted on his Instagram account celebrating his marriage in May shows a close-up of Eduardo's tie-pin -- which was in the shape of a handgun.
Bolsonaro, a close ally of Trump, first said in July his son was on track to becoming the ambassador in Washington.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Ufa! desencarnou da embaixada em Washington...

Eduardo Bolsonaro desiste de embaixada nos EUA

Deputado federal e atual líder do PSL diz que fica no País para defender a pauta conservadora e o governo do pai (OESP)

BRASÍLIA - O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) desistiu da embaixada brasileira em Washington. O anúncio foi feito em pronunciamento no plenário da Câmara durante a aprovação do acordo entre o Brasil e os Estados Unidos para o uso comercial da base de Alcântara. O filho do presidente e atual líder do PSL afirmou que “fica” no País para defender a pauta conservadora e o governo do pai. 

“Esse aqui que vos fala, filho de militar do Exército brasileiro e deputado federal, que foi zombado por ter, aos 20 anos de idade, um trabalho digno e honesto em restaurante fast-food nos Estados Unidos, diz que fica no Brasil para defender os princípios conservadores, para fazer o tsunami que foi a eleição de 2018, uma onda permanente. Assim, me comprometo a caminhar por São Paulo, pelo Brasil e pelo povo”, afirmou o deputado no discurso. 
A decisão de Eduardo Bolsonaro já era esperada por auxiliares de Bolsonaro que afirmavam que, apesar da peregrinação, Eduardo não conseguiu convencer um número suficiente de senadores a apoiarem seu nome – o que poderia levar a uma derrota emblemática para o governo.  
Eduardo Bolsonaro
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no plenário da Câmara dos Deputados Foto: Dida Sampaio/Estadão
Além disso, o movimento do presidente Jair Bolsonaro para colocar o seu filho na liderança do PSL ajudou a inviabilizar a possibilidade do deputado de assumir a embaixada brasileira. “A liderança ainda está instável, mas, a princípio, só (fico) até o final do ano”, afirmou o deputado. 
De acordo com deputado, a rejeição do eleitorado a saída dele para a embaixada, pesou. “É uma decisão que vem pensando há muito tempo. A gente escuta conselhos e, confesso, que ainda tem o meu eleitorado. Confesso, não era a maioria que estava apoiando”, afirmou. 
Eduardo Bolsonaro afirmou ainda que sua decisão iria “decepcionar quem torcia por sua ida aos Estados Unidos” como uma forma de ficar distante da vida política brasileira. Ele criticou os governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. 
“Lula certamente não indicou seus filhos porque eles estavam ocupados em outras funções como o de ser o Ronaldinho dos negócios”, afirmou o líder do PSL. 
Em seu discurso, o deputado agradeceu ao pai pela indicação; ao presidente americano Donald Trump; ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e outros senadores, que o receberam nos últimos três meses de sua peregrinação no Parlamento. Um dos nomes ausentes no discurso foi o do irmão, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).  
“Quero agradecer ao presidente Jair Bolsonaro pela indicação e por não se curvar ao politicamente correto. Aos senadores Davi Alcolumbre, Nelsinho Trad, Lucas Barreto, Marcio Bittar, Chico Rodrigues e Vanderlan Cardoso. Também ao presidente americano Donald Trump e ao governo dos Estados Unidos por terem aceito o meu agrément”, afirmou o deputado que ainda citou o nome do chanceler brasileiro Ernesto Araújo.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Filho inepto do presidente ainda carece dos votos para embaixada em Washington

Resistência à indicação de Eduardo persiste

Levantamento do ‘Estado’ aponta que 15 senadores declaram voto a favor de indicação de deputado para embaixada dos Estados Unidos, mesmo número de agosto

Fernanda Boldrin e Isaac de Oliveira, ESPECIAL PARA O ESTADO, O Estado de S.Paulo
06 de outubro de 2019 | 21h23
Eduardo Bolsonaro
O deputado Eduardo Bolsoanro (PSL-SP), no Plenario da Câmara Foto: GABRIELA BILÓ/ESTADÃO
Quase três meses depois de ter sido anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro, a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para assumir a embaixada brasileira nos Estados Unidos, ainda não oficializada pelo Executivo, está longe de ter os votos necessários para ser aprovada no Senado. Uma atualização de levantamento do Estado mostra que, mesmo depois de fazer “campanha” na Casa, o filho “03” do presidente tem apenas 15 dos 41 votos necessários – mesmo número registrado em agosto. 
Um terço (27) dos 81 senadores consultados pelo Estado disse que vai votar contra a indicação. Além destes, oito afirmaram estar indecisos e 31 optaram por não responder. Foi o caso do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). A assessoria do senador – que tem trabalhado pela aprovação do deputado – afirmou que ele aguardará o resultado da sabatina para tomar sua decisão. 
Na primeira edição do placar, no início do agosto, Alcolumbre informou que não iria votar, ainda que o regimento permita. Naquele momento, o levantamento do Estado apontava que havia 15 votos declarados a favor da indicação e 29 contra. Outros 36 senadores não revelaram como votariam – 29 não quiseram responder e 7 se declararam indecisos.
Os números dos dois levantamentos são semelhantes – além da posição de Alcolumbre, a única mudança foi a migração de dois senadores declaradamente contrários para o grupo dos que não revelam o voto. 
Caso seja oficializada a indicação, Eduardo terá de ser sabatinado na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado. Os membros da comissão então decidem, em votação secreta, se aprovam ou não a indicação. Uma vez aprovado, o nome do indicado é encaminhado para apreciação do plenário da Casa, também em votação secreta. São necessários ao menos 41 votos favoráveis. 
O presidente Jair Bolsonaro disse, em entrevista ao Estado publicada neste domingo, que a indicação de Eduardo ainda não tem data para ser oficializada. “Deixa passar a votação da reforma da Previdência. Não tem pressa não”, disse. Em agosto, após a divulgação do levantamento do EstadoBolsonaro afirmou que aguardaria o “momento certo” para oficializar a indicação.    
Na entrevista desse domingo, ele minimizou o fato de, hoje, não ter os votos suficientes. “Ele se prepara melhor para enfrentar a sabatina, caso ele mantenha a ideia de ir para lá. Pra mim seria interessante.”
Desde que foi anunciada, em 11 de julho – dois dias depois de Eduardo completar 35 anos, a idade mínima para um brasileiro assumir uma representação diplomática no exterior –, a indicação do filho do presidente para o cargo mais importante da diplomacia brasileira foi alvo de críticas de adversários, que a classificaram de nepotismo e questionaram a qualificação técnica do deputado.
“A questão que deve ser posta é se ele está à altura de um posto que já foi ocupado por Joaquim Nabuco”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). “Eu acho que não está. Se ele não fosse filho do presidente, quem cogitaria nomeá-lo?”, questionou. 

Hambúrguer.

Policial federal licenciado, Eduardo está em seu segundo mandato na Câmara. Quando questionado, ainda em julho, sobre seus atributos para o cargo, ele destacou sua atuação na presidência da Comissão de Relações Exteriores da Casa e o fato de ter feito intercâmbio. “Não sou um filho de deputado que está do nada vindo a ser alçado a essa condição, tem muito trabalho sendo feito, sou presidente da Comissão de Relações Exteriores, tenho uma vivência pelo mundo, já fiz intercâmbio, já fritei hambúrguer lá nos Estados Unidos”, disse ele na ocasião. 
No fim de julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou considerar Eduardo “um jovem brilhante” e disse que está “muito feliz pela indicação”, o que foi visto por aliados como trunfo. Em agosto, a consultoria legislativa do Senado elaborou parecer afirmando que a indicação configuraria nepotismo. A Advocacia do Senado, no entanto, emitiu um parecer técnico contrário. 
Em busca de votos, Eduardo está em “campanha”. Ele tem atravessado o Congresso para fazer um corpo a corpo em conversas privadas com os senadores e já viajou duas vezes aos Estados Unidos – em uma delas, para uma “reunião simbólica” com Trump. 
O tema, entretanto, ainda é controverso. O senador Chico Rodrigues (DEM-RR), da base aliada, critica a ausência de uma articulação na Casa para aprovar a indicação. Segundo ele, Eduardo “vai com uma vontade indomável de fazer um grande trabalho para se projetar, inclusive, politicamente”. “É um posto de visibilidade muito forte.”
Já o senador Humberto Costa (PT-PE) critica o que chama de militância política em cargo institucional. “A alegação de que ele é amigo de Trump mostra uma visão completamente equivocada, até porque boa parte do que diz respeito à política externa norte americana passa pelo Congresso, que tem maioria democrata”, afirma.