O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador Oliver Stuenkel. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Oliver Stuenkel. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

The Battle for the BRICS - Alexander Gabuev and Oliver Stuenkel ( Foreign Affairs) - introdução de Paulo Roberto de Almeida

Nota inicial PRA a este importante artigo histórico-diplomático sobre a trajetória desviante do BRICS:

Nunca deixei de considerar a aventura inicial do BRIC ministerial (2006), depois oficializado como foro em nivel de cúpula (2009), expandido sorrateirameente pela China como BRICS (2011), dotado de um banco de fomento em 2014, a despeito do brutal imperialismo aberto demonstrado pela Rússia na Crimeia poucos meses antes, e agora continuamente ampliado para abrigar, no chamado BRICS+, novos membros criteriosamente escolhidos pelas duas grandes autocracias no encontro da África do Sul (2023) e agora novamente em Kazan (2024), retomo, nunca deixei de considerar toda essa aventura, mal pensada e mal concebida desde o início, como um insensata iniciativa da diplomacia lulopetista, animada em seu ativismo antiamericano como potencialmente PREJUDICIAL ao Brasil e à sua diplomacia, pois que submetendo nossa tradicional autonomia e independência nos assuntos de política internacional aos interesses nacionais e diplomáticos de duas grandes autocracias, cujos interesses geopolíticos são essencialmente diferentes — em vários sentidos CONTRÁRIOS— aos do Brasil como país em desenvolvimento plenamente integrado às tradições culturais ocidentais e alheio a todas as disputas interimperiais entre grandes potências. Infelizmente, o gesto insensato de Lula e de Amorim, em 2005-2006, converte, de certa forma, nossa diplomacia em CAUDATÁRIA das decisões e interesses dessas duas grandes potências, cujas motivações e iniciativas passam ao largo dos interesses e necessidades do Brasil como nação soberana e plenamente autônoma no cenário internacional.

O fato é que, em lugar de ser um ativo em nossa diplomacia, o BRICS+ se tornou agora um imenso passivo a ser administrado com todo cuidado pela diplomacia profissional, uma BOLA DE FERRO atada aos pés de um país que sempre desejou exercitar uma diplomacia completamente autônoma em relação aos interesses de grandes potências, pois que ingressamos agora numa etapa anti-G7, anti-OCDE e anti-Ocidente, que não corresponde EM NADA aos reais interesses do país. A outra ilusão da diplomacia lulopetista é, obviamente, essa pretensão tresloucada de ser lider de um diáfano e inexistente Sul Global, o que não a converte em coordenadora de NADA CONCRETO, a não ser de continuar a ser um conceito inventado por acadêmicos e usado de maneira oportunista por politicos sedentos de algum palanque internacional. Nossa “liderança” na América do Sul já é uma ilusão completa, para continuarmos ainda a ser um joguete no contexto de um bizarro e contraditório BRICS+.

Lamento pelo Brasil e por sua diplomacia profissional, embarcada involuntariamente numa aventura que nunca fez parte de seus estudos técnicos ponderados ou de um planejamento diplomático consciensioso, sendo apenas uma inserção política e ideológica, um contrabando totalmente artificial e desconectado de nossos reais interesses externos.

Ao que me consta, fui, e sou, o único diplomata da ativa, agora aposentado, a me manifestar ceticamente sobre as virtudes alegadas do BRIC-BRICS, e agora muito criticamente sobre esse BRICS+, desfigurado e desviado de suas pretensões originais, posto a servir a objetivos próprios de duas autocracias, e que não responde mais a nossas necessidades diplomáticas ou a nossos interesses nacionais.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 25/09/2024

The Battle for the BRICS

Why the Future of the Bloc Will Shape Global Order

Foreign Affairs, October 24, 2024

In late October, the group of countries known as the BRICS will convene in the Russian city of Kazan for its annual summit. The meeting is set to be a moment of triumph for its host, Russian President Vladimir Putin, who will preside over this gathering of an increasingly hefty bloc even as he prosecutes his brutal war in Ukraine. The group’s acronym comes from its first five members—Brazil, Russia, India, China, and South Africa—but it has now grown to include Egypt, Ethiopia, Iran, and the United Arab Emirates. Saudi Arabia also participates in the group’s activities, but it has not formally joined. Together, these ten countries represent 35.6 percent of global GDP in purchasing power parity terms (more than the G-7’s 30.3 percent) and 45 percent of the world’s population (the G-7 represents less than ten percent). In the coming years, BRICS is likely to expand further, with more than 40 countries expressing interest in joining, including emerging powers such as Indonesia.

Putin will be able to claim that despite the West’s best efforts to isolate Russia after its full-scale invasion of Ukraine, his country not only is far from being an international pariah but also is now a pivotal member of a dynamic group that will shape the future of the international order. That message is not mere rhetorical posturing, nor is it simply a testament to the Kremlin’s skillful diplomacy with non-Western countries or to those countries’ self-interested, pragmatic engagement with Russia.

As the United States and its allies are less able to unilaterally shape the global order, many countries are seeking to boost their own autonomy by courting alternative centers of power. Unable or unwilling to join the exclusive clubs of the United States and its junior partners, such as the G-7 or U.S.-led military blocs, and increasingly frustrated by the global financial institutions underpinned by the United States, such as the International Monetary Fund and the World Bank, these countries are keen to expand their options and establish ties with non-American initiatives and organizations. BRICS stands out among such initiatives as the most significant, relevant, and potentially influential.

Since the group’s founding, 15 years ago, numerous Western analysts have predicted its demise. Its members were very different from one another, often at odds on various matters, and scattered around the globe—hardly the recipe for meaningful partnership. But BRICS has endured. Even following the global geopolitical earthquake unleashed by Russia’s invasion of Ukraine and the deepening of tensions between China and the United States in recent years, interest in joining BRICS has only grown, with many developing countries seeing the grouping as a useful vehicle to navigate the years ahead.

But despite its allure, the club must grapple with an internal fissure. Some of its members, chief among them China and Russia, want to position the grouping against the West and the global order crafted by the United States. The addition of Iran, an inveterate adversary of the United States, only deepens the sense that the group is now lining up on one side of a larger geopolitical battle. Other members, notably Brazil and India, do not share this ambition. Instead, they want to use BRICS to democratize and encourage the reform of the existing order, helping guide the world from the fading unipolarity of the post–Cold War era to a more genuine multipolarity in which countries can steer between U.S.-led and Chinese-led blocs. This battle between anti-Western states and nonaligned ones will shape the future of BRICS—with important consequences for the global order itself.

THE KREMLIN’S BRICOLAGE

The BRICS summit in Kazan follows years of diplomatic efforts by the Kremlin to turn this alphabet soup of a group first cooked up by Goldman Sachs analysts into a proactive global organization. In 2006, Russia assembled the first meeting of BRIC foreign ministers in New York during the UN General Assembly. In June 2009, Russian President Dmitry Medvedev hosted the leaders of Brazil, China, and India for an inaugural summit in Yekaterinburg. And in 2010, the group added South Africa, completing the acronym as it is known today.

Fifteen years ago, the global financial crisis that originated in the United States stoked interest in the BRIC grouping. The failure of American regulators to prevent the crisis and the exposed inefficiency of the Bretton Woods institutions—not to mention China’s sustained spectacular growth as Western economies struggled—spurred calls to redistribute global economic power and responsibility from the West to the developing world. BRICS was the most representative club to express this sentiment. Back then, however, Moscow and its partners largely worked to improve the existing order, not torpedo it. BRICS announced the New Development Bank (NDB) in 2014 to complement existing international institutions and to set up a financial safety net that offered liquidity should any of its members face short-term difficulties. It was meant to supplement, not rival, the World Bank and the IMF.

Russia saw greater purpose and value in BRICS following the annexation of Crimea in 2014, the war in eastern Ukraine, and the coordinated Western sanctions against Russia that followed. Russia portrayed the BRICS summit it hosted in 2015 as a sign that it was not isolated, and that the group could serve as an alternative to the G-7—formerly the G-8, from which Russia had just been evicted. The Kremlin’s sense that BRICS can be a refuge from the domineering hegemony of the United States has only grown more pronounced since the 2022 invasion of Ukraine.

Interest in joining BRICS has grown significantly in recent years.

Russia’s ties to its fellow BRICS members China and India have allowed the regime to weather the Western sanctions campaign. But U.S. sanctions on Russia still affect those countries that don’t intend to punish the Kremlin for the war in Ukraine. U.S. pressure forced many Chinese banks, for example, to end transactions with Russian counterparts this year, thereby disrupting payment schemes and increasing transaction costs for Russian importers. Moscow was troubled to discover that Washington’s toolkit affects not only payments in U.S. dollars but even those in Chinese yuan. Those punitive restrictions also apply to the NDB, which Russia had hoped would serve as a source of funding as Western sanctions shut off other avenues, but the BRICS bank has frozen all projects in Russia.

These complications notwithstanding, BRICS still plays a major role in Russia’s evolving grand strategy. Before February 2022, Moscow hoped for a multipolar order in which Russia could balance relations with the two most powerful countries, China and the United States. The war in Ukraine has smashed the remnants of pragmatism in the Kremlin’s foreign policy. Since Putin perceives the war as part of a broader confrontation with the West, he now seeks to undermine the United States’ positions wherever he can—including by undermining various aspects of current global institutions and by helping to strengthen China’s challenge to U.S. hegemony. This approach can be seen in multiple areas, including Russia’s sharing of advanced military technology with China, Iran, and North Korea; its work to destroy the UN sanctions regime against Pyongyang; and its tireless promotion of payment schemes that can bypass instruments under Western control. Putin summarized the agenda of Russia’s BRICS presidency in remarks in July as part of a “painful process” to overthrow the “classic colonialism” of the U.S.-led order, calling for an end to Washington’s “monopoly” on setting the rules of the road.

In this fight against the Western “monopoly,” Putin identified the most important campaign as the quest to weaken the dominion of the dollar over international financial transactions. This focus is a direct result of Russia’s experience with Western sanctions. Russia hopes that it can build a truly sanctions-proof payments system and financial infrastructure through BRICS, involving all member countries. The United States may be able to pressure Russia’s partners one by one, but that will be much harder or even impossible if these countries have joined an alternative system that features important U.S. partners, such as Brazil, India, and Saudi Arabia. The NDB’s decision to suspend projects in Russia served as a potent reminder that BRICS needs to evolve further to reduce its members’ vulnerabilities to Western sanctions.

CHINA AT THE HELM

Russia may be the angry vocal spearhead of the bid to use BRICS to create an alternative to the U.S.-led global order, but China is the real driving force behind the grouping’s expansion. During the global financial crisis of 2008–10, Beijing shared Moscow’s desire to make BRICS more relevant. China wanted to position itself as part of a dynamic group of developing countries that sought to gradually rebalance global institutions to more fairly reflect shifts in economic and technological power. Under Chinese President Hu Jintao, however, Beijing was unwilling to claim leadership of the grouping, still guided by Deng Xiaoping’s formula of “keeping a low profile.”

Things started to change soon after Xi Jinpingbecame China’s paramount leader, in 2012. In 2013, Beijing concocted an ambitious project that became the Belt and Road Initiative, a vast global infrastructure investment program. Around the same time, China helped launch regional financial institutions in which it would have strong influence: first came the NDB, in 2014, then the Asian Infrastructure Investment Bank, set up in 2016. The People's Bank of China also pushed the internationalization of the yuan by expanding the use of the Chinese currency in settling trade, extending national currency swaps with other central banks to boost the global liquidity of the yuan, and lobbying for the inclusion of the yuan in the IMF’s special drawing rights basket, making it the only nonconvertible global reserve currency. Through the NDB, through initiatives to use local currencies in bilateral trade, and through efforts to create a pool of national reserve currencies, BRICS plays a significant role in building the multilateral institutions that increase Chinese clout inside the current global order.

China is the real driving force behind the expansion of BRICS.

As U.S.-Chinese relations have plummeted in the last decade, Beijing’s foreign policy has grown more radical. Chinese leaders are convinced that the United States won’t willingly allow China to become the dominant power in Asia, much less deign to share global leadership with Beijing. China believes that the United States is instrumentalizing the alliances and institutions that underpin the current global order to constrain China’s rise. In response, Beijing has embarked on projects such as Xi’s overlapping Global Security Initiative, Global Development Initiative, and Global Civilization Initiative, all of which challenge the West’s right to unilaterally define universal rules and seek to undermine the notion of universal values in areas such as human rights. These initiatives point to China’s desire to build a different order rather than simply reform the current one.

China and Russia now have similar ambitions for the BRICS, making Putin and Xi a powerful tandem. Both want to dethrone the United States as the global hegemon, and to that end, Beijing and Moscow seek to make alternative financial and tech platforms immune to U.S. pressure. Deepening multilateralization through BRICS seems like the best path forward. Like Putin, Xi casts this effort in moral terms. As he said at a BRICS summit in 2023, “We do not barter away principles, succumb to external pressure, or act as vassals of others. International rules must be written and upheld jointly by all countries based on the purposes and principles of the UN Charter, rather than dictated by those with the strongest muscles or the loudest voice.”

Beyond rhetoric, China has led the effort—with Russian backing—to add members to the BRICS. Beijing advocated a maximalist approach, trying to rope in as many countries as possible. It wants to be the leader of a strong and sizable bloc. Lengthy negotiations behind closed doors narrowed the list of new members down to six, which became five after Argentina reneged its commitment to join in the wake of the triumph of the libertarian Javier Milei in presidential elections last fall.

The summit in Kazan will be the first meeting of the expanded BRICS. But Beijing’s aggressive push to enlarge the grouping and expand its role on the international stage comes with a cost. The grouping has become less cohesive and more fragile; not all countries within it share Xi’s and Putin’s anti-Western agenda.

THE SEARCH FOR MIDDLE GROUND

The fissure is apparent among the bloc’s founding members. China and Russia may be on the same page, but Brazil and India remain largely committed to pursuing the reform of global governance without trying to assail the international system as it is currently constructed. Decision-makers in Brasília and New Delhi are keen to take a nonaligned stance and find a middle ground between the West, on the one hand, and Russia and China, on the other. Both Brazil and India have largely sat on the fence when it comes to the war in Ukraine, reluctant to support the West's attempts to isolate Russia but equally unwilling to explicitly side with Moscow, recognizing that the invasion amounts to a flagrant violation of international law. Both countries have benefited in economic terms from the trade diversion caused by Western sanctions against Russia. Brazil purchases discounted Russian fertilizer and last year was one of the biggest buyers of Russian diesel. India, too, buys discounted Russian energy commodities. But neither country desires to cut ties with the West or consign itself to an anti-Western bloc.

Brazil and India are therefore wary of the BRICS’ hardening orientation. Both were initially opposed to China’s push to expand the group, which Beijing first proposed in 2017 under the rubric of “BRICS Plus.” Brazil and India were keen to retain the club's exclusivity, worried that adding more members to the bloc would dilute their own influence within it. In 2023, China stepped up its diplomatic campaign and pressured Brazil and India to support expansion, mostly by casting their resistance as tantamount to preventing the rise of other developing countries. Keen to preserve its own standing in the global South, India dropped its opposition, leaving Brazil no choice but to go along with expansion. Brazil did lobby against adding any overtly anti-Western countries—an endeavor that failed spectacularly when Iran was announced as one of the new members that year.

The way China imposed its preferences at the 2023 summit took Brazilian diplomats by surprise, confirming fears that their country’s role would be diminished in an expanded group helmed by a much more assertive China. These developments have raised concerns in Brazil that being part of BRICS may complicate its strategy of nonalignment. For now, a broad consensus that membership generates significant benefits still holds. Brazil appreciates the chance to deepen ties with other BRICS member states and the added leverage it brings to negotiations with Washington and Brussels. BRICS membership has also helped countries such as Brazil and South Africa, whose bureaucracy had limited knowledge about the non-Western world, adjust to a multipolar order. And it comes with significant face time with Xi and other Chinese decision-makers—a perk that is far from trivial, considering how important Chinese investment and trade have become for countries across the global South.

Brazil and India are keen to take a nonaligned stance between the West and China.

Despite the growing divergence between the explicitly anti-Western camp in the BRICS and the nonaligned camp, all members still agree on a number of fundamental issues that explain why the grouping has become vital to its members. In the view of most countries in the grouping, the world is moving from U.S.-led unipolarity to multipolarity, with geopolitics now defined by the competition among several centers of power. The BRICS grouping, despite its internal tensions, remains a key platform for actively shaping this process. Indeed, seen from capitals across the global South, multipolarity is the safest way to constrain hegemonic power, which, unrestrained, represents a threat to international rules and norms and to global stability. Western policymakers often overlook this baseline agreement among BRICS countries and the part it has played in keeping all members committed to the grouping since its inception.

This shared perspective also explains why much of the developing world looks forward to greater multipolarity in the global order and does not pine for Washington’s or the West’s undisputed preeminence. For many countries, joining BRICS is a seriously attractive proposition. For their part, China and Russia welcome the large number of countries that have expressed interest in joining, including Algeria, Colombia, and Malaysia.

Yet any country that joins BRICS will have to grapple with a key question: Which side are they on? Will they band together with Brazil, India, and other nonaligners, or with the anti-Western faction led by China and Russia? Iran, itself a pariah on the international stage, will strengthen the anti-Western camp. But most other countries will likely view accession to BRICS as a way to strengthen their ties to China and other countries in the global South without downgrading their ties to the West.

Saudi Arabia is a prime example. While Riyadh remains a key ally of Washington, it has sought to deepen ties to Beijing, and has initiated an unprecedented diplomatic outreach in regions where Saudi Arabia traditionally played no role, such as in Latin America and the Caribbean, accompanied by investments in countries such as Chile and Guyana. Latin American governments embrace these initiatives with the same rationale: in an increasingly unstable world heading fitfully toward multipolarity, they would do well to diversify their economic and diplomatic strategies.

CRACKS IN THE WALL

In the West, some critics of BRICS dismiss the outfit as a motley crew that deserves no serious attention. Others believe it is a direct threat to the global order. Both views lack nuance: the emergence of BRICS as a political grouping reflects genuine grievances over the inequities of the U.S.-led order and cannot simply be waved away. But owing to changes in Chinese and Russian grand strategy, the divergences within the group are also growing, and the recent expansion is likely to weaken its cohesiveness.

For now, China and Russia have the upper hand in the internal debate about shaping the future of BRICS. But that may not always be the case. It is true that power in the club is not distributed equally—China's economy is larger than those of all the other founding members combined—but that does not mean that other members cannot resist the transformation of the grouping into a Beijing-led bloc copiloted by Moscow. Brazil and India have for years worked behind the scenes to tone down Russia’s more assertive language in summit declarations, and China, too, will find that it cannot ignore their moderating influence. For example, Brazil’s president explicitly rejects the framing of the BRICS as a counterpoint to the G-7 and often states that the group is “against no one.” Arvind Subramanian, former chief economic adviser to the government of India, recently urged New Delhi to leave the grouping, as its expansion was tantamount, in his view, to a takeover by Beijing and its agenda. But Brazil or India still have significant leverage within the BRICS: their departure would severely weaken the entire outfit in a way that is not in China’s or Russia’s interest.

The grouping will have to manage these tensions and contradictions in the years ahead. The fissures within BRICS are likely to grow but are unlikely to lead to its breakup. To be sure, the group could face very real strains. The technology competition between China and the United States may lead to the erection of a digital iron curtain and the emergence of two separate and incompatible technological spheres, which would make fence-sitting more challenging. Finding a common denominator in the grouping will become more difficult, particularly on sensitive geopolitical issues such as the war in Ukraine. Those differences might make the bloc less influential on the international stage, even as its efforts to advance alternative currencies to the U.S. dollar gather strength.

For the United States and other Western powers, the dynamics inside BRICS underline the necessity of taking the grouping—and the underlying dissatisfaction with the current order—seriously. It is entirely reasonable for rising powers such as Brazil to search for hedging options and to feel dissatisfied with how the United States has steered the existing system. Western powers should focus on not making things worse by, for example, trying to scare middle powers away from joining BRICS, which smacks of paternalism and quasi-colonial interference. In the same way, Western attempts to warn middle powers in the global South about being too dependent on China have proved ineffective.

Western countries can do more to not alienate those middle powers seeking greater space for maneuver and to ensure that BRICS does not become an anti-Western bloc. They should spell out more clearly how certain sanctions relate to violations of international law, and try to be consistent in applying those sanctions against all violators—not just against geopolitical adversaries. Countries in the global South want to escape the hegemony of the dollar when they see Western countries, for instance, freezing Russian central bank reserves in 2022 as a response to the invasion of Ukraine but receiving no punishment for similarly unlawful military interventions in the Middle East and Africa. Wealthy countries can also be better problem solvers for poorer countries, including by sharing technology and assisting with the green transition. And the West should make more genuine efforts to democratize the global order, such as by doing away with the anachronistic tradition that only Europeans head the IMF and only U.S. citizens lead the World Bank.

Such actions would build trust and undermine Chinese and Russian attempts to enlist the global South to an anti-Western cause. Rather than bemoaning the emergence of the BRICS, the West should court those member states that have a stake in making sure that the grouping does not become an overtly anti-Western outfit intent on undermining the global order.

  • ALEXANDER GABUEV is Director of the Carnegie Russia Eurasia Center in Berlin.
  • OLIVER STUENKEL is Associate Professor at the School of International Relations at Fundação Getulio Vargas in São Paulo and a Visiting Scholar at the Carnegie Endowment for International Peace.
  • MORE BY ALEXANDER GABUEV 
  • MORE BY OLIVER STUENKEL


segunda-feira, 23 de setembro de 2024

EUA: Imigrantes são uma fonte de riqueza essencial no presente e no futuro - Oliver Stuenkel (O Estado de S. Paulo)

Imigração é garantia de que os EUA não entrarão em declínio

Oliver Stuenkel

O Estado de S. Paulo, 23/09/2024

https://www.estadao.com.br/internacional/oliver-stuenkel/imigracao-e-garantia-de-que-eua-nao-entrarao-em-declinio/


Disfunção política, polarização destrutiva, epidemia de opioides, dívida pública crescente, expectativa de vida masculina em declínio e risco crescente de violência política – a lista de problemas enfrentados atualmente pelos Estados Unidos é longa e preocupante. Diante de tantas dificuldades, seria de se esperar que a maior potência econômica e militar do planeta estivesse em processo irreversível de declínio.

Porém, comparados com a maioria das outras economias desenvolvidas, os EUA estão em uma situação surpreendentemente invejável: diferentemente da Alemanha e de outras economias europeias, onde as principais empresas como Volkswagen não souberam se modernizar, os EUA lideram em áreas que devem dominar a economia do século 21, como a inteligência artificial. Igualmente em contraste com várias das maiores economias do planeta – como o Japão, a China e de novo a Alemanha, que enfrentam crises demográficas – a média etária nos EUA é relativamente baixa e estável. Enquanto expressiva parte da Europa enfrenta estagnação econômica, a economia americana vai bem: atualmente os EUA são responsáveis por 26,3% da economia global, a maior porcentagem em quase duas décadas e um aumento de 2,3 pontos porcentuais desde 2018. Se o Reino Unido fizesse parte dos EUA, seria um dos Estados com o menor PIB per capita do país, comparável ao Mississippi.

Há numerosos fatores que explicam a superioridade dos EUA em dinamismo e riqueza, desde maior produtividade per capita até a “sorte geológica” de não ter que importar energia, além de um ambiente regulatório e leis trabalhistas mais flexíveis.

No entanto, um fator merece destaque e deve se tornar uma vantagem competitiva cada vez mais relevante – e uma espécie de salva-vidas econômico. Trata-se da capacidade ímpar dos EUA de atrair e integrar imigrantes em grande escala. Tal afirmação pode parecer estranha diante da retórica pouco acolhedora da chapa presidencial do Partido Republicano, que tem chance considerável de comandar a nação a partir de 2025. É pouco provável, porém, que as promessas de deportação em massa de imigrantes sem documentação passem de uma tentativa de mobilizar a base trumpista. Afinal, a expulsão dos aproximadamente 11 milhões de imigrantes ilegais no país produziria uma catástrofe econômica e criaria uma enorme pressão inflacionária em função da falta de mão de obra.

Enquanto muitos americanos criticam, com razão, a forma como o atual governo lida com a crise migratória na fronteira com o México, quase dois terços da população veem a imigração como algo positivo, e os dados corroboram as vastas vantagens que a imigração produz para os EUA. Segundo previsões do Banco Central, a força de trabalho dos Estados Unidos crescerá por 5,2 milhões de pessoas na próxima década, principalmente por causa do aumento da imigração. Como resultado, o PIB será cerca de US$ 8,9 trilhões maior, e as receitas fiscais do governo federal serão US$ 1,2 trilhão maiores no período de 2024-34, levando a uma redução de US$ 900 bilhões do déficit.

Além disso, a imigração é o motor da inovação da economia americana: 45% das empresas da Fortune 500 foram fundadas por imigrantes ou seus filhos – entre eles, Google, AT&T, Budweiser, Colgate, eBay, General Electric, IBM e McDonalds, Apple, Disney, IBM, Boeing, 3M e Home Depot. Embora os estrangeiros representem apenas 13,6% da população dos EUA, 55% das startups americanas com valor de pelo menos US$1 bilhão tiveram pelo menos um fundador imigrante.

Independentemente de quem sucederá Joe Biden na Casa Branca, não há dúvida de que os EUA devem reformar seu sistema migratório e a gestão de suas fronteiras. Da mesma maneira, porém, o país continuará se beneficiando imensamente da chegada de milhões de migrantes em busca de oportunidades econômicas – que o ex-presidente George W. Bush chamou de “trunfo definidor dos EUA”. Vale lembrar as palavras do ex-presidente Ronald Reagan, do Partido Republicano, em 1989.

“Qualquer pessoa, de qualquer canto da Terra, pode vir morar nos EUA e se tornar um americano... Acredito que essa é uma das fontes mais importantes da grandeza dos Estados Unidos. (...) De maneira única entre as nações, atraímos nosso povo—nossa força—de todos os países e de todos os cantos do mundo. E, ao fazer isso, renovamos e enriquecemos continuamente nossa nação. Graças a cada nova onda de chegada a esta terra de oportunidades, somos uma nação eternamente jovem (...) Essa qualidade é vital para nosso futuro como nação. Se algum dia fechássemos a porta para novos americanos, nossa liderança no mundo logo seria perdida.”

segunda-feira, 1 de abril de 2024

O governo Lula tem de fazer mais para despolitizar as Forças Armadas brasileiras, porque aqueles que estiveram envolvidos nos planos golpistas permanecem quase todos impunes” - Entrevista Oliver Stuenkel (Visão)

 O governo Lula tem de fazer mais para despolitizar as Forças Armadas brasileiras, porque aqueles que estiveram envolvidos nos planos golpistas permanecem quase todos impunes”

Entrevista Oliver Stuenkel

Revista Visão, 30/03/2024

https://visao.pt/ideias/2024-03-31-o-governo-lula-tem-de-fazer-mais-para-despolitizar-as-forcas-armadas-brasileiras-porque-aqueles-que-estiveram-envolvidos-nos-planos-golpistas-permanecem-quase-todos-impunes/

É um académico que sabe e adora comunicar. Nas redes sociais e em órgãos de comunicação social de referência (The New York Times, Foreign Policy, Americas Quarterly, El País, ZDF, Globo) é capaz de comentar – em português, inglês ou alemão – o que se passa no mundo e também no país onde escolheu viver, o Brasil. Professor e investigador na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, Oliver Stuenkel, nascido há 42 anos em Dusseldorf, especializou-se nos desafios colocados pelos países do chamado Sul Global ao Ocidente.

Escreveu há poucas semanas [na Foreign Policy] que uma das ações menos conhecidas da administração de Joe Biden tem a ver com a forma como se envolveu na disputa eleitoral entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro. Os EUA salvaram a democracia brasileira?
Em primeiro lugar, é importante lembrar o papel que alguns outros atores tiveram nesse processo. Em particular, a mobilização da sociedade civil. Essa dinâmica interna tem de ser destacada. Porém, através de uma série de conversas e entrevistas com especialistas em assuntos militares, com políticos e diplomatas brasileiros, começámos a perceber que a pressão dos Estados Unidos ao longo do ano 2022 parece ter sido crucial para dividir e alertar alguns elementos golpistas nas Forças Armadas brasileiras. Os EUA fizeram saber que não aceitavam uma rutura democrática no Brasil. Criou-se um ambiente muito hostil a esse tipo de ação, ao contrário do que se verificou em 1964 [Washington apoiou a conspiração e o golpe contra o então Presidente João Goulart, instaurando um regime militar que vigorou até 1985].

Como se exerceu a pressão americana?
Boa parte ocorreu nos bastidores. Sabemos das viagens dos dirigentes dos EUA. É muito raro que, num período eleitoral, o chefe da CIA, o secretário da Defesa, o conselheiro de Segurança Nacional, entre outros, visitem o mesmo país. Sabemos hoje que, para o setor antidemocrático das Forças Armadas brasileiras, a falta de apoio dos EUA foi um fator-chave. O ex-vice-presidente do Brasil, depois da derrota eleitoral, explicou aos seus seguidores que não havia mais nada a fazer. Ele sabia que uma parte da população desejava que as Forças Armadas dessem um golpe de Estado.

Está a referir-se ao general Hamilton Mourão?
Sim. Ele veio dizer [aos bolsonaristas] que entendia a insatisfação, mas que o ambiente internacional não o permitia. Outra explicação importante. Os EUA não pressionaram para que existisse uma vitória do Lula, pressionaram para que os generais reconhecessem o resultado eleitoral.

Para que houvesse respeito pela vontade popular?
Exato, e isso é muito significativo.

Porquê?
Por norma, vemos o envolvimento dos EUA com muito ceticismo, a perceção é de que só ocasionalmente defendem a democracia. Por terem vários regimes autoritários como aliados. Parece-me que Washington não queria uma rutura democrática no Brasil, talvez por recear um maior ostracismo brasileiro no Ocidente e isso facilitar a atuação chinesa no maior país da América do Sul. A China não se preocupa se os seus parceiros têm governos democráticos ou respeitam os direitos humanos. Com frequência, consolida a sua influência em Estados em situação de isolamento. Vejamos o que aconteceu com a Venezuela, com a Rússia e com uma série de países africanos que estão sob sanções ocidentais…

Interesses estratégicos…
Por um lado, evitar essa abertura estratégica à China; por outro, o fator Trump. Jair Bolsonaro posicionou-se como um dos principais fãs do ex-Presidente americano e questionou a legitimidade das eleições, em 2020. Para a administração Biden era muito importante evitar uma escalada autoritária na maior democracia do subcontinente.

Podemos dizer que a estrutura do Estado brasileiro já está desbolsonarizada? Os generais golpistas foram afastados?
Houve avanços, mas é um processo longo. Há que dizer que o Brasil, desde a sua independência, vive numa tensão permanente entre civis e militares. Vimos como logo no início do século XX – com o tenentismo – se criou a ideia de que os militares são mais patriotas, mais comprometidos com a nação, mais competentes, menos corruptos e que podem envolver-se em aventuras democráticas. Em momentos de crise, quando os civis se comportam de forma irresponsável, permanece essa ideia de que os militares precisam de atuar. É uma visão profundamente paternalista, como se os civis fossem crianças e os militares os adultos que precisam de intervir e supervisionar o que acontece. Isto é algo que um só governo não consegue eliminar.

Como assim?
É preciso demitir generais, afastar quem não denuncia situações graves. Como dizemos no Brasil, “o buraco é mais em baixo”. É uma questão que tem a ver com a educação e a formação dos militares, é preciso mudar os currículos nas academias. As nossas Forças Armadas nunca reconheceram de forma explícita as violações cometidas durante a ditadura [1964-1985] e isso deve-se ao processo de transição para a democracia, que foi excessivamente harmonioso.

Lula gostaria de ser um ator internacional como Modi, que tem um papel-chave na contenção da China. Só que a Índia é uma potência nuclear e tem o espaço de manobra estratégica que falta ao Brasil

Harmonioso?
Não teve nada a ver com o que aconteceu na Argentina, nos anos 80, em que houve um colapso moral das Forças Armadas e uma grave crise económica devido à guerra com o Reino Unido, como retrata o filme Argentina 1985[realizado por Santiago Mitre e protagonizado por Ricardo Darín]. No Brasil foi diferente. Foram os generais que conduziram a transição e ditaram que não haveria aquilo que eles designavam como “caça às bruxas”. Essas exigências foram cumpridas e, 35 anos depois, surge um indivíduo [Bolsonaro] com uma narrativa enviesada e romantizada da ditadura militar.

Que pode então ser feito?
O governo Lula tem de fazer mais para despolitizar as Forças Armadas, porque aqueles que estiveram envolvidos na elaboração de planos golpistas, aqueles que planearam a violência de 8 de janeiro de 2022, permanecem quase todos impunes.

Há processos a decorrer…
São processos simbólicos. Uma coisa é condenar cidadãos que estiveram em Brasília a destruir propriedade pública, outra coisa são os generais. Por enquanto, tudo indica que esses oficiais de alto escalão sairão ilesos. Temos o direito de questionar se algum general, se algum coronel, será expulso, será preso… No Brasil, o controlo civil sobre as Forças Armadas é muito mais recente do que parece. Só se criou um Ministério da Defesa em 1999. Antes, as chefias militares tinham assento no gabinete presidencial e faziam automaticamente parte do governo. O primeiro responsável pela pasta da Defesa com competência direta para decidir, por exemplo, orçamentos militares, foi Nelson Jobim [2007-2011]. Os outros cinco ministros civis que o antecederam não tinham poder nenhum.

Com Lula, a diplomacia brasileira voltou a ser “ativa e altiva”?
Esse conceito concebido por Celso Amorim [ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e atual conselheiro do Presidente] voltou a ser recuperado logo a seguir às eleições de 2022. Ainda antes de tomar posse, em novembro desse ano, Lula foi ao Egito, à Cimeira do Clima, anunciar: “O Brasil está de volta.” De certa forma, é verdade, devido ao isolamento internacional causado por Jair Bolsonaro. O país deixou para trás a abordagem trumpista e de abandono do multilateralismo. Está novamente envolvido no combate às mudanças climáticas, regressou ao G-20, recebeu convite para participar no G-7…

Não é estranho que o Brasil tenha três grandes atores na sua política externa – Lula, Celso Amorim e Mauro Vieira [ministro dos Negócios Estrangeiros]? Que nem sempre parecem estar em sintonia…
Do ponto de vista geopolítico, está de volta, está mais ambicioso do que no tempo de Bolsonaro. Neste momento, tem uma abordagem que alguns chamam de não alinhamento, outros de multialinhamento, de neutralidade estratégica, de equidistância face às principais potências. É um caminho cada vez mais difícil num ambiente de grande turbulência geopolítica, com as relações entre os EUA e a China, ou entre a Rússia e o Ocidente, a piorarem. Claro que o Brasil quer manter e fortalecer os laços com o Ocidente, mas é o maior comprador mundial de diesel russo e também um dos maiores importadores de fertilizantes da Rússia. Lula já disse explicitamente que quer que Vladimir Putin esteja na cimeira dos G-20, no Rio de Janeiro, em novembro.

Um anúncio surpreendente…
O Brasil assinou o Estatuto de Roma [acordo que permitiu criar o Tribunal Penal Internacional e que entrou em vigor em 2002] e, portanto, em princípio, terá de prender o Presidente russo se este entrar em solo brasileiro. Isto parece o novo normal do Brasil. Em alguns momentos, parece estar do lado do Ocidente; em outros, não. Creio que existe uma intenção de aparente neutralidade, mas depois há a parte retórica. Lula gosta de falar de improviso, os assessores dele ficam em desespero. As palavras importam, pesam e muitas vezes atrapalham. Já tivemos afirmações dele muito controversas, das quais discordo em absoluto – sobre Zelensky e a Ucrânia, sobre Maduro e a Venezuela, sobre Israel e o Holocausto.

Lula está a comprometer a capacidade do Brasil de mediar alguns conflitos? Ou está a tentar ser o líder do Sul Global?
Ele gostaria de envolver mais o Brasil nas grandes questões. Sem dúvida que as nações do Sul Global têm de se sentar à mesa na hora de debater a reforma das instituições internacionais. O diretor do FMI tem de continuar a ser sempre um europeu? O presidente do Banco Mundial tem de ser americano? Os EUA e o Ocidente ainda ditam demasiadas condições. Porém, o que pode o Brasil fazer pelo futuro da Ucrânia? Conversei recentemente com dirigentes ucranianos e, na perspetiva deles, os governantes brasileiros demonstram ignorância sobre o conflito.

Um comentário que, presumo, lhe tenha sido feito na Conferência de Segurança de Munique [16-18 fevereiro].
Já antes ouvira algo assim. Em Munique não houve sequer uma participação brasileira de alto nível, com ministros e o Presidente [Lula estava na Etiópia, na Cimeira da União Africana]. A perceção na Ucrânia e no Ocidente é de que o Brasil tem simpatia pela Rússia.

Como é que Lula pode contrariar essa perceção?
Um dos países que inspiram o Brasil é a Índia. Narendra Modi [primeiro-ministro da Índia] também se posiciona de forma ambígua, compra armas e energia russas, mas é visto como um aliado do Ocidente. Creio que Lula gostaria de ser um ator internacional como Modi, que tem um papel-chave na contenção da China. Só que a Índia é uma potência nuclear e tem o espaço de manobra estratégica que falta ao Brasil.

Daí os entendimentos nos BRICS?
Os BRICS tornaram-se um instrumento-chave da política externa brasileira. Até Bolsonaro, que se apresentou como o candidato pró-EUA e anti-China, acabou por abraçar os BRICS – estava tão isolado no Ocidente, que se virou para os BRICS como uma espécie de seguro de vida diplomático. Mas a única coisa que une esse grupo é o incómodo com a liderança internacional dos EUA. Só que o Brasil possui uma visão reformista, não revolucionária, das organizações internacionais existentes. Por isso se opôs ao alargamento dos BRICS. Lula não quer pertencer a um clube antiocidental. Na próxima cimeira, em outubro, na Rússia, Putin pode ter a seu lado os presidentes do Irão, da Síria, da Bielorrússia…

O que pensa do fracasso das negociações entre a UE e o Mercosul?
Uma oportunidade perdida para todos. Parte das preocupações ambientalistas europeias em relação ao acordo é um protecionismo velado, porque não o assinar não vai preservar um centímetro de floresta no Brasil. Pelo contrário. O Brasil teria de adotar padrões ambientais muito mais exigentes. A alternativa é que o Brasil amplie agora o seu comércio com a China, que se importa muito menos com as questões ambientais.


segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Declínio para a Rússia é problema para o mundo - Oliver Stuenkel (O Estado de S. Paulo)

 Declínio para a Rússia é problema para o mundo 

Oliver Stuenkel
O Estado de S. Paulo, 28/08/2023

Uma das principais fontes de instabilidade internacional são deslocamentos de poder. Um exemplo clássico disso são nações que se encontram em franca ascensão: confiantes, suas lideranças políticas muitas vezes buscam uma atuação internacional mais assertiva, investem em seu poder militar e acabam desafiando potências já estabelecidas. A ascensão dos EUA há cem anos e a da China ao longo das últimas décadas são exemplos clássicos de como a emergência de uma grande potência pode fragilizar o status quo. O atual caso da Rússia, porém, mostra que o declínio de um ator relevante também pode representar um risco, criando vácuos de poder em suas fronteiras ou deixando suas lideranças políticas mais agressivas para compensar os fracassos no âmbito doméstico. O atual declínio russo independe do desfecho da invasão russa à Ucrânia ou do destino político do presidente Vladimir Putin. Os problemas da nação de maior extensão do planeta são mais fundamentais e se refletem nos chocantes dados demográficos: por exemplo, um homem russo com 15 anos de idade hoje tem a mesma expectativa de vida de um homem no Haiti, país em estado de anarquia e há décadas o mais pobre das Américas. Trata-se de uma expectativa de vida mais baixa que a do Iêmen e a do Zimbábue, que figuram entre os países mais pobres do planeta. Na média, um homem russo morre 18 anos antes de um homem japonês. À primeira vista, poderia se presumir que o dado se deve ao elevado número de fatalidades de soldados russos na invasão à Ucrânia. Porém, trata-se de dados oficiais do governo russo, coletados antes do início da guerra. Desde a invasão russa à Ucrânia, a situação demográfica piorou ainda mais: estima-se que 120 mil soldados russos morreram nas batalhas, e aproximadamente 900 mil russos emigraram, muitos deles jovens, representando em torno de 1% da força laboral do país. De acordo com o ministério das Comunicações do governo russo, 10% de todos os profissionais da área de TI emigraram desde o início da guerra, verdadeira catástrofe econômica considerando a importância estratégica do setor. Uma consequência da baixa expectativa de vida dos homens, da guerra e da fuga ao exílio é o desequilíbrio de gênero. Hoje, na Rússia, há 10 milhões de mulheres a mais do que homens. Não se trata de um problema recente: entre 1993 e 2009, por exemplo, a população russa encolheu em quase seis milhões (dados oficiais mostram um aumento recente, que se deve à anexação da península ucraniana da Crimeia). Tudo isso é ainda mais notável porque a Rússia não é um país pobre. É urbanizado, possui indústrias altamente sofisticadas — sobretudo no setor bélico —, a maior quantidade de armas nucleares do mundo, uma produção cultural admirada mundo afora e uma taxa de alfabetização de quase 100%. Além disso, goza de grandes reservas de petróleo e gás, e é o maior exportador mundial de trigo — beneficiando-se, inclusive, das mudanças climáticas, que aumentam a quantidade de terras férteis. Vários outros países ao redor do mundo, sobretudo no Leste Asiático e na Europa, sofrem com crises demográficas. Nenhum deles, porém, sofre com uma baixa tão grande da expectativa de vida ou uma fuga de elites qualificadas tão expressiva. Diferentemente da Rússia, a Europa atrai, a cada ano, milhões de migrantes jovens e motivados. A crise demográfica russa e a emigração de pessoas qualificadas — produto de problemas profundos no país — são elementos-chave para compreender a constante glorificação por Vladimir Putin do “russki mir” (mundo russo), a retórica nostálgica de um passado mistificado, a demonização do Ocidente e a política externa mais agressiva, envolvendo guerras contra vizinhos menores como a Georgia e, mais recentemente, a Ucrânia, que ajudam promover o nacionalismo e a sensação permanente de estar sob ameaça externa. Como ficou evidente no último 23 de agosto, quando o avião de Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo Wagner, caiu perto de Moscou, um conflito militar de grandes dimensões ajuda não apenas a desviar a atenção pública de outros problemas, como também para promover expurgos e eliminar opositores com mais facilidade — presumindo que, como acreditam numerosos analistas, o governo russo tenha ligação com a morte do mercenário. Por fim, um líder sabidamente preocupado com seu legado nos livros de história, como Putin, também sabe que, apesar de ter ajudado a estabilizar o país na virada do século, seu saldo desde então é, predominantemente, negativo, e difícil de ser revertido — a não ser que seja lembrado por ter liderado a expansão territorial da Rússia. Não por acaso, em conversa com um oligarca russo no início da invasão à Ucrânia, o chanceler russo Lavrov — que não havia sido informado com antecedência sobre a decisão do presidente, disse: “(Putin) tem três conselheiros: Ivã IV, Pedro o Grande e Catarina II” — todos lembrados por suas conquistas territoriais. 

domingo, 9 de julho de 2023

Bric-Brics e agora Brics+: onde está o interesse nacional brasileiro? - Paulo Roberto de Almeida e Oliver Stuenkel


O BRIC-BRICS SEMPRE FOI RUIM PARA O BRASIL: O BRICS+ SERÁ PIOR

Paulo Roberto de Almeida

 O BRIC (2006-2009) foi uma decisão equivocada, estrategicamente destruidora da autonomia em política externa, objetivo perseguido pela diplomacia brasileira desde sempre, adotada por um governo, o de Lula 1, claramente antiamericano e antiocidental, praticante de uma diplomacia partidária, sectária, enviesada e contrária aos interesses nacionais maiores do Brasil; já o ingresso da África do Sul (em 2011) representou uma imposição chinesa, que tende a se reproduzir agora na ampliação do BRICS, que só interessa à China e à Rússia. 

A decisão errada adotada entre 2006-2009, depois ampliada em 2011, agora ameaça de vez a pretensa autonomia da política externa do Brasil. O “bebê” acalentado de forma excessivamente otimista ao inicio, agora se transformou num “jovem” problemático, que serve a outros interesses que não os do Brasil. 

Não sei como Oliver Stuenkel ainda não percebeu isso. Meu livro sobre A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira (Kindle Amazon, 2022) aprofunda esse debate. 

Paulo Roberto de Almeida

=========

AMPLIAR O BRICS É RUIM PARA O BRASIL!

Oliver Stuenkel

Analista político e professor de relações internacionais da FGV em São Paulo

 O Estado de S. Paulo, 3/07/2023

No próximo dia 22 de agosto, os líderes do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul se reunirão em Joanesburgo para a 15ª cúpula do Brics. Por vários motivos, será o encontro mais importante da história do bloco, que se transformou em um grupo geopolítico em 2009, ano de sua primeira cúpula.

Em primeiro lugar, o anfitrião precisa lidar com uma situação diplomática delicada: como signatária do Tribunal Penal Internacional (TPI), a África do Sul tem a obrigação de prender o presidente russo se ele comparecer à reunião, pois o TPI emitiu, em março, mandado de prisão contra Vladimir Putin pela deportação ilegal de crianças ucranianas para a Rússia.

Nos últimos meses, o governo sul-africano até considerou transferir a cúpula para a China – que não é signatária do TPI. Afinal, como o ex-presidente sul-africano Thabo Mbeki apontou recentemente: “Não podemos dizer ao presidente Putin, ‘por favor, venha para a África do Sul’ e depois prendê-lo. Ao mesmo tempo, não podemos dizer ‘venha para a África do Sul’ e não o prender – porque estamos violando nossa própria lei”.

Porém, ao que tudo indica, é justamente isso que o governo sul-africano fará, atitude que não apenas representaria um triunfo diplomático para Putin, mas também fortaleceria o grupo Brics: afinal, o país se mostraria disposto a violar sua própria legislação para preservar a tradição diplomática das cúpulas do Brics, às quais até hoje nenhum presidente deixou de comparecer.

Em segundo lugar, em Joanesburgo o grupo estará diante da decisão mais importante de sua história: criar ou não um processo formal para admitir novos integrantes. Em 2010, a China conseguiu convencer o Brasil, a Rússia e a Índia a agregar a África do Sul, argumentando que incluir um país africano dava ao Brics mais legitimidade para falar em nome do mundo em desenvolvimento.

Parte da motivação, porém, provavelmente foi o desejo chinês de tornar supérfluo o IBAS – grupo criado em 2003 composto por Índia, Brasil e África do Sul – pois a consolidação de um agrupamento de três grandes democracias no Sul Global não era do interesse de Pequim. De fato, em 2013, o IBAS, uma das principais inovações da política externa do primeiro mandato Lula, perdeu relevância.

Desde 2017, a China promove sua visão de um Brics ampliado, e perto de 20 países – entre eles o Egito, o Irã, a Argentina e a Arábia Saudita – sinalizaram o interesse em aderir. Como a China, cujo PIB é maior do que de todos os outros integrantes somados, sempre será vista como líder do grupo, a expansão faz sentido para Pequim, e um Brics com dez ou vinte integrantes pode ajudar a formalizar a enorme influência econômica e política que a China já exerce globalmente. Para a Rússia, a expansão também faz sentido para se proteger do crescente isolamento diplomático.

Para a Índia e o Brasil, porém, ampliar o grupo teria um custo estratégico significativo: um Brics diluído dificilmente traria o mesmo prestígio, status e exclusividade que oferece hoje. É em parte graças ao Brics que o Brasil ainda é visto como uma potência em ascensão, apesar de estar em estagnação há uma década. Enquanto Nova Deli e Brasília têm a capacidade de vetar decisões em um agrupamento de cinco países, é bem mais difícil exercer a mesma influência em uma aliança de dez ou vinte, onde o maior objetivo dos novos integrantes é fortalecer laços econômicos com a China.

Além disso, é importante lembrar que vários dos países que buscam aderir ao grupo adotam uma estratégia explicitamente anti-ocidental, contrária à estratégia brasileira e indiana de articular uma postura de não-alinhamento no contexto das crescentes tensões entre os EUA e a China. Um Brics que inclua a Venezuela, o Irã e a Síria dificultaria garantir que as declarações finais das cúpulas tenham um tom moderado.

A participação brasileira do grupo Brics, do jeito que está, produz vantagens concretas para o Brasil, trazendo prestígio diplomático e facilitando o diálogo com quatro atores-chave no sistema internacional com os quais o País não tinha relação estreita há apenas duas décadas. Aceitar um Brics ampliado equivaleria a abrir mão desses benefícios.


segunda-feira, 5 de junho de 2023

Política externa brasileira sofre de excesso de diplomacia presidencial - Oliver Stuenkel (Estadão)

Tenho um capítulo sobre os péssimos efeitos da diplomacia presidencial em meu livro Apogeu e demolição da política externa (Appris, 2021). 



Política externa brasileira sofre de excesso de diplomacia presidencial

Por Oliver Stuenkel
04/06/2023 | 22h00

Ao longo dos primeiros cinco meses de governo, o presidente brasileiro obteve uma série de êxitos notáveis na política externa. Em meio a um alívio generalizado com a saída de Jair Bolsonaro em capitais mundo afora, a mensagem de Lula de que o Brasil “está de volta”, articulada durante a COP-27 no Egito em novembro do ano passado, surtiu efeito: o governo brasileiro conseguiu normalizar suas relações com seus os principais parceiros e ainda obteve promessas de importantes aportes financeiros para apoiar o país no combate ao desmatamento da Amazônia. Mesmo sendo conquistas relativamente fáceis – conhecidas no jargão diplomático como “low-hanging fruit” (algo de fácil alcance), é inegável que Lula, uma das lideranças políticas mais conhecidas do mundo, teve papel importante no processo de consolidar a narrativa da normalização para o público global.

Ao longo do mês passado, porém, o presidente gerou vários desgastes desnecessários que apontam os riscos da diplomacia presidencial. Afinal, com apenas uma frase, um chefe de Estado pode desfazer o trabalho de meses de sua equipe diplomática. O caso da Ucrânia é emblemático. A ideia de Lula de que o Brasil poderia participar de uma possível mediação no conflito em decorrência da invasão russa não é problemática em si. Porém, vem causando fricção a forma errática como o presidente brasileiro tem conduzido a política externa em relação ao conflito. Em vez de promover o diálogo a portas fechadas e testar diferentes ideias nos bastidores, Lula fez inúmeras declarações públicas que causaram consternação no Ocidente – e particularmente em Kiev. Por exemplo: ao sugerir publicamente que a Ucrânia ceda a Crimeia aos russos para negociar a paz – sem averiguar primeiro, a portas fechadas, como a proposta seria recebida –, prejudicou sua própria imagem, reduziu as chances de o Brasil ser aceito por Kiev como mediador e gerou tensões facilmente evitáveis com os EUA e vários países europeus. O presidente turco Recep Erdogan, por outro lado, atuou de forma muito mais discreta, porém com um papel-chave, na negociação entre Kiev e Moscou, de um acordo que permite a exportação de grãos ucranianos.

Outro desgaste desnecessário se deu na semana passada, quando uma série de comentários desastrados de Lula sobre a situação na Venezuela – inclusive exaltando a “legitimidade democrática” de Maduro – contaminou a cúpula dos líderes sul-americanos e obrigou os presidentes do Uruguai e do Chile a se distanciarem publicamente da visão do presidente brasileiro. O anfitrião, que havia organizado o encontro justamente para reconstruir pontes e fortalecer a convergência, fez com que a reunião fosse lembrada pela falta de consenso.

Agora que a lua de mel diplomática do governo brasileiro acabou, os próximos desafios externos serão bem mais complexos – e o custo de errar aumentará. No âmbito dos Brics, o Brasil sofrerá pressão imensa por parte da China e da Rússia, interessadas em ampliar o grupo para formar uma aliança anti-ocidental, algo que não é do interesse brasileiro. Declarações favoráveis à adesão da Venezuela aos Brics, feitas por Lula no calor do momento, terão um custo estratégico alto se ocorrerem no âmbito da cúpula do grupo, pois vão contra os esforços do Itamaraty de manter a exclusividade do grupo. Para o Brasil, fazer parte de um Brics diluído com integrantes menos relevantes – virando uma espécie de G77 – representaria imensa perda de prestígio.

Com as eleições argentinas se aproximando, assessores diplomáticos do presidente Lula terão que fazer de tudo para convencê-lo a não repetir os erros de Jair Bolsonaro e fazer comentários públicos a favor ou contra os candidatos no país vizinho, pois pode estragar a relação com quem quer que vença o pleito, mesmo antes da posse.

Tradicionalmente, desafios políticos internos atrapalham a condução da política externa, pois demandam muita dedicação e energia dos mandatários. No caso do governo Lula, porém, as recentes tensões entre o Planalto e o Congresso podem, paradoxalmente, ter um impacto positivo: com o presidente mais ocupado em Brasília, aumenta a chance de o chanceler Mauro Vieira ter mais controle sobre a condução da política externa e reduzir o risco de desgastes desnecessários. Um dos diplomatas mais experientes de sua geração, Vieira é conhecido por seu profissionalismo e sua discrição, atributos altamente relevantes para a política externa brasileira neste momento.


domingo, 28 de maio de 2023

O não-alinhamento alinhado com equívocos de uma outra era, e que continua desalinhado com a realidade - Foreign Policy, Paulo Roberto de Almeida

 A Foreign Policy dedica o seu número de 28 de maio de 2023 (sumário abaixo), ao tal de não-alinhamento (sobretudo do Brasil e da África do Sul), que eu já critiquei acerbamente neste meu texto: 

4328. “Não ao inaceitável “Não Alinhamento Ativo”, que só significa um Desalinhamento Passivo e Inativo”, Brasília, 26 fevereiro 2023, 1 p. Nota sobre a postura proposta ao fantasmagórico Sul Global de Não Alinhamento Ativo em relação ao conflito da Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/02/nao-ao-inaceitavel-nao-alinhamento.html).

Não creio que eu precise acrescentar mais críticas e justificativas a esse equívoco.

A Ucrânia não merece isso. Em todo caso, aqui estão alguns artigos sobre essa coisa.


Flash Points: Is nonalignment nonsensical?

Foreign PolicyMay 28, 2023