O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 15 de março de 2025

À sombra dos tiranos - Paulo Roberto Almeida

 À sombra dos tiranos

Paulo Roberto Almeida

Nota sobre os gurus dos autocratas vilãos.

Atrás, ou ao lado de algum dirigente insano, perverso ou tresloucado, que exibe poder absoluto sobre seus comandados, sobre incontáveis seguidores, geralmente fanatizados por alguma indução doentia ou tão tresloucados quanto ele, que controla um país inteiro ou quase todo ele (os opositores se calam ou se omitem por temor da repressão), costuma haver um guru, um conselheiro, um assessor do tirano ainda mais louco e desequilibrado que o próprio e que o induz a recrudescer nas apostas perversas e nas iniciativas mais delirantes.

No caso de Putin, o legítimo sucessor de Hitler 90 anos depois, encontra-se um outro psicopata, Alexander Dugin, capaz de sugerir ao tirano de Moscou até um ataque nuclear devastador  contra a Europa ocidental e os EUA.

Atrás de Trump, talvez até na frente, está o fascista megalomaníaco do Musk, um delirante apoiador da extrema-direita mais burra que existe no planeta. 

Ambos são ainda funcionais e atuantes, para desgraça dos próprios países e de meia humanidade.

No caso do psicopata perverso que desgovernou o Brasil entre 2019 e 2022 (e o infelicitou durante a pandemia da Covid-19 por ser um negacionista antivacinal e opositor até de medidas profiláticas, causando milhares de mortes excedentárias) havia um soi-disant “filósofo” que já havia sido de tudo um pouco — marxista, astrólogo, islamista, jornalista, professor frustrado nos meios acadêmicos — mas que enveredou na “profissão” de anticomunista fanático, capaz de detectar os comunistas brasileiros até nas creches e jardins da infância. Enquanto foi jornalista crítico da esquerda intelectualoide até chegou a produzir alguns bons artigos e até livros hilariantes sobre o besteirol universitario. Adotou as teorias conspiratórias da extrema-direita americana e as disseminou no Brasil com fervor típico de um Torquemada querendo levar ao fogo todo aquele povinho daquela outra alucinação coletiva chamada Foro de São Paulo, o Cominform cubano organizado pelo PT para tentar salvar Cuba da miséria do socialismo stalinista.

O guru em questão fez algumas das piores recomendações de ministros ao capitão desmiolado, entre elas a do patético chanceler acidental, que quase destruiu o Itamaraty com suas loucuras antiglobalistas. 

Já morreu — depois de tentar provar que fumar era saudável — mas se vivo fosse estaria dando conselhos tão lunáticos ao capitão demencial quanto as sugestões psicografadas do cachorro do atual desequilibrado presidente argentino. 

Gurus costumam ser mais loucos que os príncipes autocráticos aos quais dão conselhos. 

Portanto, cabe esperar o pior desses seres caricatos, saidos de algum roteiro de filme de terror série C.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 15/03/2025

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Brasil ganha no Oscar da democracia - Paulo Roberto Almeida

Brasil ganha no Oscar da democracia

Paulo Roberto Almeida

Pela primeira vez em mais de 200 anos de história, a frágil democracia brasileira, tolerante como ela é com respeito à grossa corrupção dos poderosos, dos endinheirados e dos conectados, se prepara para dar uma poderosa lição àquela que se jactava de ser o “farol  da democracia” no mundo e que se revela, agora, sob o tacão imperial de um trambiqueiro parvenu (ops, arrivista), como um regime que muito se aproxima de uma cleptocracia de bilionários, aliás exatamente como funciona o regime do amigo do condenado eleito presidente.

A defesa da democracia brasileira deixa no chinelo a estraçalhada “democracia” americana, na qual violadores violentos da mais antiga Constituição republicana ainda em vigor são simplesmente declarados inocentes pelo próprio chefe da gangue celerada.

Nota 9,5 para a democracia brasileira de baixa qualidade, e nota 3,5 (com viés baixista) para a democracia americana, em fase de degradação por um amigo do tirano de Moscou, que sequer finge um pingo mínimo de democracia.

Acredito que podemos dar uma lição ao Big Brother do Norte, pelo menos no quesito defesa da democracia, pela primeira vez em mais de dois séculos.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18/02/2025


domingo, 16 de fevereiro de 2025

Trump: o destruidor dos Estados Unidos e o coveiro do Ocidente - Paulo Roberto Almeida

Trump: o destruidor dos Estados Unidos e o coveiro do Ocidente

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre os efeitos passageiros da ignorância e da idiotice.

 

 

        Uma das leis mais inconsequentes do mundo é, ironicamente, a famosa lei das consequências involuntárias, ou seja, o fato de o promotor da ação acabar criando, suscitando ou provocando o exato oposto do que ele pretendia inicialmente. 

Em certas pessoas, especialmente dotadas e preparadas para expressar sua própria estupidez em toda a sua extensão, essa é uma lei, como diríamos antigamente, matemática.

        Trump exibe, para o gozo fabulístico dos deuses do Olimpo (que brincavam, como se sabe, de desafiar a vanidade dos mortais), essa qualidade, não muito rara nos políticos pretensiosos, de levar ao extremo essa lei feita sob medida para exaltar todas as suas péssimas qualidades, acumuladas ao longo de décadas no exercício contínuo daquele hobby que os americanos chamam de “self-deprecating”, ou seja, a arte de depreciar a si próprio. 

        Acredito que não exista ninguém no mundo da política mundial, nenhum personagem conhecido na história da humanidade, que seja tão desprezado entre as pessoas e políticos sensatos como o personagem laranja que veio para destruir tudo o que os Estados Unidos fizeram de bom nos últimos 250 anos de trajetória do nosso planetinha. (Sim, os EUA fizeram muita coisa de mal, de feio, de terrível, ao longo desses anos, mas, num balanço honesto da história da humanidade desde o século XVIII, o país que se chama a si mesmo, de forma arrogante, de América, exibe uma nota altamente benéfica, começando pelo fato de ter salvo duas vezes a chamada Europa ocidental dos malvados demônios que ela mesma criou ao longo dos dois últimos séculos e meio, sobretudo no decorrer da “segunda Guerra dos Trinta Anos”; a destruição insana da primeira Guerra dos Trinta Anos foi bem antes da fundação do “farol da democracia”).

        Trump sempre foi um trambiqueiro imobiliário especialmente hábil em extorquir dinheiro dos incautos e dos oportunistas que o elegiam para ganhos imediatos de reputação duvidosa; antes eram os próprios americanos que caiam nos seus fabulosos trambiques, mas desde alguns anos Putin, o espião-tirano de funestos antecessores (Stalin e Hitler são dois) soube valer-se de sua burrice fenomenal para extrair vários ganhos apreciáveis em uma carreira de também destruidor de sua própria nação. Trump lhe faz companhia pelo lado involuntário das ações que respondem à famigerada lei, mais comum do que se pensa.

        Depois de destruir vários negócios próprios, Trump se arvorou em salvador-destruidor dos Estados Unidos. Mas não só isso: não contente com a esfera privada dos negócios duvidosos, e francamente desonestos, e de começar a desmantelar o que restava da reputação dos EUA (depois do Vietnã e do Iraque), ele passou a desmantelar o Ocidente, e, podendo, metade do mundo também.

        Por uma dessas ironias da História, o pretenso reconstrutor do poderio da América e o “salvador do Ocidente” (segundo um chanceler acidental que tivemos por aqui) acabou se revelando como o diminuidor dos EUA e o destruidor do que restava da imagem do Ocidente civilizador, antes que os novos mandarins da civilização chinesa consolidassem a boa reputação do antigo Império do Meio.

        Ninguém — nem Hitler — conseguiu, sem alguma grande guerra (até aqui) destruir de maneira tão eficaz a noção de que o Ocidente moderno fosse o herdeiro das melhores qualidades do Iluminismo e do humanismo tenazmente erigidos em modelos ideais de padrões civilizatórios (os palestinos de Gaza que o digam).

        Trump conseguiu, segundo a famosa lei matemática, desmentir qualquer resquício de boas intenções que os impérios ocidentais pudessem ter adquirido para si próprios nos últimos 250 anos (grosso modo, uma história relativamente benéfica, que o historiador escocês Niall Ferguson resumiu em duas de suas obras, Empire, sobre o majestoso império britânico, e Colossus, sobre o envergonhado império americano).

        Tudo que Trump prometeu aos ingênuos e espertalhões que o apoiaram em sua trajetória nacional redundará no exato contrário anunciado por ele: deixará um país mais diminuído e bastante frustrado em suas mais caras ambições: ser grande, forte e poderoso novamente.

        E tudo o que ele intenta fazer em escala mundial será desastroso para a noção já algo desgastada de Ocidente e talvez proveitoso para tiranos à la Hitler (e sabemos de quem se trata) tentarem construir para si próprios.

Trump é bem mais do que um simples “aprendiz de feiticeiro”. Ele corresponde à imagem mais verossimilhante daqueles personagens de romances distópicos, que sonham conquistar o mundo, mas que precipitam catástrofes evitáveis (quando existem adultos na sala). 

        Trump está livre, por enquanto, de pessoas que possam contê-lo nas suas mais loucas empreitadas. Só nos resta esperar que a destruição do seu próprio país o impeça de cavar a sepultura do Ocidente em seu conjunto, que fez obra meritória desde o Aufklärung, cabe reconhecer.

        Se algo de bom foi construído pelo Ocidente nos últimos séculos foi a contenção do despotismo oriental como filosofia de governo, assim como o cristianismo e o budismo foram positivos, como filosofia de vida, desde a preeminência anterior e posterior de algumas crenças bárbaras. 

        Com atrasos e percalços, o humanismo acaba prevalecendo. Trump é apenas um acidente da História, como Hitler já o foi e como Putin já se revelou que o é, atualmente. Passará, como já passaram todos os tiranos, sobretudo porque exibe uma qualidade que os tiranos geralmente não têm: é um ignorante e um idiota, exatamente como prescreve a lei das consequências involuntárias.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4850, 16 fevereiro 2025, 3 p.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Paulo R. Almeida: Na origem da atual ordem mundial: a desordem brutal criada por dois ditadores (Boletim Tuiuti)

Artigo publicado: 

4839. “Na origem da atual ordem mundial: a desordem brutal criada por dois ditadores”, Brasília, 29 janeiro 2025, 2 p. Nota sobre as comemorações dos 80 anos do final da IIGM, esquecendo 1939. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/01/na-origem-da-atual-ordem-mundial.html). Republicado no boletim informativo O Tuiuti (órgão de divulgação da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio Grande do Sul (AHIMTB/RS) e do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS), n. 472, janeiro 2025, p. 17-18; link: http://www.ahimtb.org.br/). Relação de Publicados n. 1570. 







domingo, 2 de fevereiro de 2025

Um novo Estudo da História? - Paulo Roberto Almeida

Um novo Estudo da História?

Paulo Roberto Almeida


A partir dos anos 1930, indo até o início dos anos 1960, o historiador britânico Arnold Toynbee produziu os muitos volumes do seu monumental Um Estudo da História, sintetizados num único volume em duas oportunidades do pós-guerra. 

Ele traçou a emergência, ascensão e declínio de mais de duas dezenas de grandes civilizações históricas, buscando detectar as similaridades ou constâncias nesses processos, sempre por fatores estruturais, próprios às suas evoluções, mas alguns de natureza contingente, como guerras, invasões externas e dominação por forças mais poderosas, ou grandes desastres naturais. 

Ele não tinha sido apresentado ainda a um fator relativamente incongruente que é a possibilidade de um idiota completo ser democraticamente eleito por uma larga tropa de similares e começar a destruir sistematicamente um país, que ocorre ser uma das mais prometedoras civilizações da História.

Não contava com a astúcia muito pouco hegeliana da História.

Sorry pela brincadeira…

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 2/02/2025


quarta-feira, 18 de setembro de 2024

A ordem mundial existente e os projetos para uma nova ordem global - Paulo Roberto Almeida

A ordem mundial existente e os projetos para uma nova ordem global


Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre os fundamentos da atual ordem internacional e os desafios colocados pelos projetos de uma nova ordem global multipolar.

Quais são os grandes princípios da ordem internacional liberal estabelecida ao final da Segunda Guerra Mundial, uma ordem especificamente ocidental?

São basicamente estes: a economia de mercado e o livre comércio; uma aliança militar permanente para garantir paz e segurança aos países que se integraram plenamente a essa ordem (desde o Plano Marshall e a OTAN); a democracia liberal e os direitos humanos; o multilateralismo e uma ordem mundial baseada em regras.

Lula tem dito e repetido que favorece o estabelecimento de um “nova ordem global multipolar”; as palavras são essas, e ele sugere que a ordem atual não é multipolar e que ela é “hegemônica” (eu deduzo que ele não está nada contente com o predomínio dos EUA e da UE nessa ordem).

Pois bem, como diplomata, na verdade como simples cidadão brasileiro, interessado na posição do Brasil na ordem internacional, qualquer que seja ela, eu me permito agora cobrar do presidente, e de seus assessores, diplomatas ou não, uma exposição clara, transparente, sobre QUAIS SÃO OS GRANDES PRINCÍPIOS SOBRE OS QUAIS DEVERIA FUNCIONAR A NOVA ORDEM GLOBAL MULTIPOLAR (mil desculpas pelas maiúsculas, mas é para chamar a atenção para minha cobrança).

Como chefe de Estado e de governo, Lula tem o DEVER de expor claramente o que é que lhe incomoda na atual ordem global existente e como ele pretende fazer para estabelecer a que lhe apeteceria e sob quais princípios ela deveria funcionar.

Multipolar eu entendo que ela já é, e isso parece evidente pelos desentendimentos e fricções que se manifestam todos os dias, mais especialmente desde o desafio russo à Carta da ONU e a vários de seus artigos fundamentais, como já expresso pela própria diplomacia brasileira em seus votos no CSNU, na AGNU e no CDH, desde 2022, quando a Rússia ordenou a invasão da Ucrânia pelas suas forças militares.

Acredito que Lula possa expressar mais claramente a sua visão do mundo e dessa “nova ordem global” que diz favorecer nos pronunciamentos que fará em NY na próxima semana, na própria abertura dos debates na AGNU, ou na Cúpula do Futuro que ele próprio está promovendo antes.

Todos nós brasileiros, diplomatas ou não, temos o direito de saber o que, exatamente, o chefe de Estado, de governo e da diplomacia, tem em mente quando ele propõe uma outra ordem global, supostamente diferente, ou melhor, do que a existente, e quais seriam os grandes princípios sobre os quais ela deve se assentar. É o mínimo que se espera!

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4737, 18 setembro 2024, 2 p.

 

 

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Uma nota sobre as ameaças correntes à paz e à segurança internacionais (vindas exclusivamente de ditaduras) - Paulo Roberto Almeida

Uma nota sobre as ameaças correntes à paz e à segurança internacionais (vindas exclusivamente de ditaduras)


Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a natureza dos conflitos atuais, sobre os contendores e sobre o papel do Brasil.

Vamos ser realistas: com toda a violência da brutal agressão da Rússia contra a Ucrânia, Putin não mais possui NENHUMA CONDIÇÃO de ameaçar a segurança da Europa, muito menos do mundo, tanto quanto representou a URSS na primeira Guerra Fria; na segunda Guerra Fria, agora em curso, a Rússia é uma ameaça menor, e não é pareo para a OTAN, se e quando alguma ameaça real se manifestar.

A Rússia é um poder em declínio e sairá ainda mais diminuída da guerra insana que Putin começou e NÃO CONSEGUE terminar. A única coisa que ele vai conseguir é destruir terrivelmente a Ucrânia — cuja reconstrução vai demorar décadas, financiada pelo Ocidente —, a ser seguida da revitalização da indústria de defesa na Europa, nos EUA e em outros países (Japão, Índia, etc.).

A China tampouco representa uma ameaça à segurança do mundo, sequer na Ásia, fora dos dois focos de tensão existentes desde muito tempo: disputa por algumas ilhas com o Japão no Mar Amarelo e, aqui mais preocupante, o desejo do novo imperador Xi Jinping de incorporar Taiwan à RPC (ele pretenderia fazer isso até 2027, término presumido de seu inédito terceiro mandato no modelo deixado pelo grande pequeno Deng Xiaoping).

Registre-se, de imediato, que Taiwan, de fato, NUNCA pertenceu à RPC, mas fazia parte, nominalmente, das possessões do Império do Meio até 1870, quando foi conquistada pelo Japão e assim permaneceu até 1945. Depois “voltou” à soberania da República da China, mas apenas formalmente, e só passou a ter importância a partir de 1949, quando abrigou o que restou do Exército do Kuomintang, derrotado pelo EPL de Mao Tsetung, e foi a “sede” do país membro permanente do CSNU e representante teórico de “todo” o povo chinês na ONU. 

Mas Taiwan é uma espécie de “ouriço militar” e qualquer tentativa de Xi Jinping de conquistá-la pela força seria extremamente custosa para a RPC, sem mencionar a possibilidade de algum envolvimento dos EUA no conflito.

Mas não haverá uma “armadilha de Tucídides”, ou seja, uma guerra entre os EUA e a China, pois não há motivo para isso. O atual Hegemon, paranoico como são todos os impérios que enfrentam competidores, vai continuar gastando dinheiro do contribuinte americano com seus brinquedinhos de guerra e investindo em esquemas de alianças militares com países supostamente inimigos da China. Esta vai continuar fazendo comércio e se enriquecendo com investimentos ao redor do mundo, mas sua trajetória bem sucedida até aqui vai começar a enfrentar desafios estruturais já previsíveis.

A América Latina é totalmente excêntrica aos grandes conflitos geopolíticos: ela continuará exportando commodities, energia e alguns outros produtos menos desejáveis: drogas, emigrantes, etc.

A África é um palco tradicional de tragédias imensas, assim como o Oriente Médio, sem maiores consequências nos equilíbrios globais, resultado mais de conflitos inter e intraestatais do que de disputas reais entre os grandes impérios, e produzindo crises tópicas que alimentam uma persistente “oferta” de miseráveis buscando os países democráticos avançados, refugiados de guerras, exilados econômicos, etc.

TODAS as ameaças à paz e segurança internacionais provêm de tiranos, ditadores e candidatos a tais, que sempre existem. 

A luta da ONU deveria ser por democracia e direitos humanos, o que ela já faz, mas de maneira muito precária, sempre desafiada por ditadores e criminosos espalhados pelo mundo todo.

O Brasil tem algum papel nesse contexto? Certamente, embora modesto. Já seria uma boa coisa se colaborássemos na paz e no desenvolvimento da América do Sul e que nos uníssemos mais decisivamente às democracias avançadas, em lugar de ficar apoiando ditadores e ditaduras, como fazem certos governos em ruptura com nossos valores e princípios e com padrões tradicionais de nossa diplomacia. 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4736, 16 setembro 2024, 2 p.

Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/09/uma-nota-sobre-as-ameacas-correntes-paz.html).

 

 

domingo, 15 de setembro de 2024

Cinco perguntas fáceis de responder - Paulo Roberto Almeida

 Cinco perguntas fáceis de responder

1) Por que Lula não chama a ditadura chavista da Venezuela de ditadura?

2) Por que a diplomacia brasileira, ou a lulopetista, ignora completamente a guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia?

3) Por que Lula insiste na vinda de Putin para a cúpula do G20 no RJ se ele sabia, ou foi avisado pelo Itamaraty, de que o lider russo está sendo requisitado pelo TPI como criminoso de guerra e por ser sequestrador de crianças?

4) Por que Lula insiste em gastar recursos inexistentes se o seu ministro econômico avisa que a situação fiscal é calamitosa?

5) Por que Lula teima em colocar a culpa do descalabro econômico no BC?


Essas são fáceis de responder; tenho outras mais difíceis…

Paulo Roberto Almeida

Guerras em curso: intermináveis? - Paulo Roberto Almeida

Guerras em curso: intermináveis?

Paulo Roberto Almeida

Não há solução aparente para a atual guerra Hamas-Netanyahu (sim, ele mesmo). Nenhum dos lados, ambos extremistas, tem qualquer intenção de parar com uma guerra insana que é impulsionada pelo irredentismo demencial de cada um deles.

Já o conflito Israel-Palestina poderia ter sido solucionado décadas atrás, com lideranças moderadas no comando dos seus respectivos povos. Infelizmente, os extremistas israelenses e palestinos capturaram o poder em cada lado. Vai perdurar, até o esgotamento das energias belicistas e conquistadoras.

Já a guerra de agressão da Rússia, ou melhor, de Putin contra a Ucrânia só vai parar quando a Rússia for diminuída militarmente e economicamente. Mas, ela é mantida militarmente ativa com a ajuda iraniana e coreana do norte, e mantida economicamente apta pela China. O Ocidente deveria agir em consequência. 

Ele o fará?

Dificilmente: americanos e alemães estão se rendendo à chantagem de Putin.

Brasília, 15/09/2024

sábado, 14 de setembro de 2024

A cultura do autoritarismo - Paulo Roberto Almeida

A cultura do autoritarismo

Paulo Roberto Almeida

Personalidades autoritárias não se convertem em ditadores abertos do dia para a noite; aproveitam as condições societais, de cultura política preexistente na nação. Bolchevismo, nazismo, maoísmo, fascismos variados, não seriam possíveis sem certa propensão dos povos respectivos ao mando autoritário.  

Exemplos: Lênin, Mussolini, Hitler, Chávez, Putin, Erdogan, Maduro, Orban e outros.

Mas, os casos são diferentes entre si: o antissemitismo era (é) disseminado na Europa central e oriental; o nacionalismo russo é doentiamente pró-Putin. A dependência econômica dos pobres venezuelanos os tornam submissos às “cestas básicas” do chavismo. 

Brasília, 13/09/2023

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Guilherme Casarões: sobre a destruição do Itamaraty, pelos mesmos que fazem guerra cultural de extrema direita

Permito-me postar uma série de tuítes do Guilherme Casarões sobre a destruição do Itamaraty pelos olavo-bolsonaristas, fanáticos antiglobalistas, que eu classificaria de demenciais:


Guilherme Casarões
Flag of Brazil

Desinformador profissional certificado pelo chanceler Ernesto Araújo. Professor/pesquisador no resto do tempo. Pai de dois
❤
. RT ≠ endosso. Opiniões pessoais.


24 de Junho de 2020

Conversation
Para onde vai a @FunagBrasil
? A política externa populista de @jairbolsonaro é parte integral da guerra cultural bolsolavista, em que instituições são desmoralizadas, aparelhadas e destruídas. O Itamaraty está sob ataque - e a corrupção da FUNAG faz parte do processo.



1) A destruição da inteligência acumulada pela FUNAG, braço acadêmico do Itamaraty, começou antes mesmo do início do governo. O manual de História do Brasil, do grande @joadani, foi retirado do site, onde poderia ser baixado gratuitamente. O problema do livro? Este parágrafo:


Replying to @GCasaroes
2) A 2ª pancada ocorreu no começo do mandato. @PauloAlmeida53 foi demitido do cargo de diretor do IPRI após republicar expoentes do "deep state" tucano-globalista, Rubens Ricupero e o ex-presidente @FHC. Nem Paulo nem Ricupero escondiam suas discordâncias com o antiglobalismo.



3) Ao longo de 2019, @ernestofaraujo se recusou a publicar 2 livros sobre política externa. O do embaixador Synesio Goes foi vetado por ter o prefácio escrito por Ricupero. O da pesquisadora Mathilde Chatin, barrado graças ao prefácio de Celso Amorim.

Com censura a obras acadêmicas, Araújo ameaça a imagem do próprio Itamaraty
https://t.co/ptfu0NMpfz?amp=1
https://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/02/com-censura-a-obras-academicas-araujo-ameaca-a-imagem-do-proprio-itamaraty/

[Abro um parênteses, aqui, para transcrever o que Guilherme Casarões linkou, pois eu ainda não tinha tomado conhecimento dessa matéria, que cita o meu livro de 2019: "Miséria da Diplomacia", livremente disponível em meu blog Diplomatizzando]

Uma reportagem publicada pela Folha revela que o Itamaraty se recusou a publicar um livro do embaixador Synesio Sampaio Goes Filho por conta do prefácio da obra, escrito por Rubens Ricupero, ex-embaixador em Washington e também historiador da diplomacia –e visto como desafeto pelo atual ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
O caso não é isolado, entretanto, e o clima de revisão e censura também atinge outras obras que passam pelo MRE. Esta tendência cria uma ameaça à imagem de profissionalismo, olhar crítico e independência do Itamaraty no resto do mundo.
Em seu livro mais recente, que não foi publicado pela Funag, o diplomata Paulo Roberto de Almeida cita pelo menos um outro caso em que a censura ocorreu neste ano.
"Uma tese de doutorado defendida no King's College, da Universidade de Londres, por Mathilde Chatin – Brazil: a new powerhouse without military strength? – A conceptual and empirical quest about an emerging economic power –, já aprovada para publicação pelo Conselho Editorial da Funag em 2018 foi congelada definitivamente por incluir um prefácio do ex-ministro Celso Amorim, no cargo durante o período coberto pelo trabalho acadêmico", diz Almeida em "Miséria da Diplomacia: A Destruição da Inteligência no Itamaraty"(Boa Vista: Editora da UFRR, 2019).
A mesma Folha relatou à época que a demissão ocorreu após Almeida republicar, em seu blog pessoal três textos recentes sobre a crise na Venezuela, um assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, outro pelo embaixador e ex-ministro Rubens Ricupero e o terceiro pelo atual ministro das Relações Exteriores.
Na época, o clima de perseguição dentro do ministério levou à preocupação com o uso mais frequente da censura.
A imposição de censura no Itamaraty, especialmente quando direcionada a obras acadêmicas e de história, aumenta o risco pelo qual vem passando um dos principais ativos da diplomacia brasileira.
Por anos, o Itamaraty foi reconhecido internacionalmente como um dos serviços de política externa mais ativos e competentes do mundo. O profissionalismo e senso crítico dos diplomatas brasileiros são mencionados com frequência por estrangeiros que trabalham com política externa, que elogiam o preparo e conhecimento dos representantes do Brasil. Com a imposição de censura, é possível que o serviço de política externa do Brasil perca parte da sua capacidade crítica, que ajuda a promover esta imagem de competência da presença brasileira no exterior.

[Retomo Guilherme Casarões]:   

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4) Como se não bastassem as censuras, a turma olavista ocupou-se em promover conceitos frágeis, meio conspiratórios, como o novo léxico da política externa brasileira. A construção da "novilíngua" da extrema direita começou com o evento abaixo, em mai/19. http://institutoriobranco.itamaraty.gov.br/artigos/60-noticias/85-funag-e-irbr-promoveram-a-palestra-governanca-global-e-autodeterminacao-popular-de-filipe-g-martins-assessor-especial-do-presidente-da-republica
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5) Em jun/19, um grande evento "internacional" trouxe expoentes da guerra cultural antiglobalista para denunciar George Soros, o STF, Paulo Freire, o @ForodeSaoPaulo, os Illuminati e a Nova Ordem Mundial. À exceção do palestrante americano, todos são orgulhosos alunos do Olavo.

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6) 
fez a abertura do evento, denunciando a "pseudorreligião globalista" a partir de uma leitura torta de Nietzsche e Marx. O ponto mais alto da fala foi a celebração do discurso de 6 MINUTOS de Bolsonaro em Davos, por ter tido a bravura de falar de Deus.


7) Em dez/19, foi a vez do jurista/influencer olavista Evandro Pontes falar sobre as "virtudes do nacionalismo" a partir do livro do filósofo Yoram Hazony, que basicamente opõe o nacionalismo benigno ao totalitarismo da governança global. A construção da novilíngua segue firme.



8) Com o advento da pandemia, a FUNAG passou a realizar seminários virtuais sobre "a conjuntura internacional pós-coronavírus". Evento no mínimo curioso p/um chanceler que, dias antes, problematizou a pandemia de Covid19 como uma questão "terminológica", seguindo o mestre Olavo.