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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Para que serve o BRICS na “estratégia” diplomática brasileira? - Guilherme Casarões, Paulo Roberto de Almeida

Para que serve o BRICS na “estratégia” diplomática brasileira? (se é verdade que existe alguma estratégia, ou se tudo não responde apenas a instintos personalistas do chefe de Estado, suposto condutor da nação brasileira)

Transcrevo abaixo teor de meu comentário a uma postagem do colega acadêmico e amigo pessoal Guilherme Casarões no Linkedin, transcrevendo parte de sua entrevista ao Jornal Nacional a propósito do mais recente encontro de cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia, na qual ele se referia a um suposto “espaço propositivo” da atual diplomacia lulopetista no tocante a um agrupamento que pode ter sido mais promissor em outras épocas, mas que atualmente representa um escolho em nossas relações e tradições diplomáticas.

Paulo Roberto de Almeida


“Espaço propositivo de reforma ainda precisa ser provado, pois o que apareceu até aqui foram contra-propostas, contra a ordem global que trouxe prosperidade ao mundo, por exemplo. O que trouxeram os Brics até aqui? Guerras e ameaças de guerras, e promessa de desmantelamento do que foi criado ao cabo da maior guerra da humanidade até aqui. Por acaso seus dois membros mais importantes querem trazer mais alguma? Para destruir e matar? Foi o que fez a maior potência bélica da Eurasia, chantageando o mundo com uma guerra nuclear. 

O maior desafio ao Brasil vinda da equivocada diplomacia lulopetista não é o de demonstrar a relevância do Brics ao mundo, mas sim o de superar a irrelevância do Brics para o desenvolvimento democrático do Brasil e do mundo.

Sorry, mas o culto do estatismo e do autoritarismo não combina com padrões tradicionais da diplomacia brasileira. Os propósitos do Brics russo-chinês NÃO TÊM NADA A VER com o espirito e os objetivos do BRIC original de Jim O’Neill, que deve estar horrorizado com a sua configuração atual e seus objetivos contra-natureza. Apenas amigos de ditaduras podem apreciar a composição atual dessa força maligna para o progresso democrático da humanidade.

Paulo Roberto de Almeida”

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Brics e anti-Brics - Guilherme Casarões e Paulo Roberto de Almeida

 Primeiro a postagem de Guilherme Casarões:

“ No Jornal Nacional de ontem, falei dos desafios brasileiros diante de um BRICS ampliado e mais assertivo. A reunião de Kazan, na Rússia, mostra que Putin não está isolado. Ele recebeu 36 autoridades estrangeiras e fez um discurso de confrontação ao Ocidente. Nada menos que 13 países foram admitidos como parceiros do bloco.

Quando os BRICS foram criados, em meados dos anos 2000, o grupo era uma espécie de "clube de potências emergentes". O peso econômico e diplomático de Brasil, Rússia, Índia e China (e, mais tarde, África do Sul) era o que mantinha o bloco coeso. O objetivo comum era reformar o multateralismo financeiro e político, trazendo-lhes mais protagonismo global.

O mundo mudou e o bloco também. Ainda que a democracia nunca tenha sido característica central dos BRICS, hoje seus membros são majoritariamente autoritários. Por outro lado, o bloco está bem mais representativo do chamado "Sul Global". Não surpreende que muitos vejam os BRICS como uma aliança anti-ocidental.

Ao Brasil, que consegue manter um equilíbrio estratégico entre visões de mundo ocidentais e, digamos, pós-ocidentais, cabe trazer ao debate dos BRICS temas urgentes da política mundial, como emergência climática e reforma da governança global.

Esse é um dos grandes desafios da política externa brasileira: pensar os BRICS como um espaço propositivo, de cooperação, para não só garantir a relevância do bloco, mas também sua própria relevância dentro do bloco.

Só precisa combinar com os russos...”


Agora, o meu comentário:

“Permito-me dizer que foram admitidos 13,5 novos membros, pois que a oposição puramente “vingativa” do Brasil à Venezuela, foi contrariada pelo acolhimento extremamente simpático de Putin a Maduro, o que significa que ela já está meio dentro.

Espaço propositivo de reforma ainda precisa ser provado, pois o que apareceu até aqui foram contra-propostas, contra a ordem global que trouxe prosperidade ao mundo, por exemplo. O que trouxeram os Brics até aqui? Guerras e ameaças de guerras, e promessa de desmantelamento do que foi criado ao cabo da maior guerra da humanidade até aqui. Por acaso seus dois membros mais importantes querem trazer mais alguma? Para destruir e matar? Foi o que fez a maior potência bélica da Eurasia, chantageando o mundo com uma guerra nuclear. 

O maior desafio ao Brasil vinda da equivocada diplomacia lulopetista não é o de demonstrar a relevância do Brics ao mundo, mas sim o de superar a irrelevância do Brics para o desenvolvimento democrático do Brasil e do mundo.

Sorry, mas esse culto do estatismo e do autoritarismo não combina com padrões tradicionais da diplomacia brasileira. Os propósitos do Brics russo-chinês NÃO TÊM NADA A VER com o espirito e os objetivos do BRIC original de Jim O’Neill, que deve estar horrorizado com a sua configuração atual e seus objetivos contra-natureza. Apenas amigos de ditaduras podem apreciar a composição atual dessa força maligna para o progresso democrático da humanidade.

Não, Putin não está isolado. Por incrível que pareça, não só dezenas de dirigentes que desprezam o Direito Internacional, e ATÉ O SG-ONU, acharam por bem prestigiar um ditador criminoso de guerra e procurado por crimes contra a humanidade pelo TPI. Isso deveria nos fazer questionar certos retrocessos morais da humanidade, inclusive do próprio Brasil. Um momento lamentável da diplomacia lulo-petista, que projeta seu lado sombrio sobre a diplomacia profissional.

Certas coisas precisam ser ditas, para que não se pense que a diplomacia profissional só tem gente submissa a certos absurdos que vêm de cima.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 25/10/2024“



terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Guilherme Casarões tenta encontrar algum sentido na loucura vivida no Brasil nos últimos cinco anos

Brazil insurrection: how so many Brazilians came to attack their own government


segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

O terrível legado do olavismo para a política e a cultura no Brasil - Guilherme Casarões e Paulo Roberto de Almeida

 Importante artigo sobre uma das nossas misérias dos últimos anos. Eu li e comentei o artigo importante de Guilherme Casarões sobre o “legado” (se o termo se aplica) do olavismo, na atual recomposição dos movimentos de direita e de extrema-direita no Brasil. 

Creio que o oportunismo fisiológico da cleptocracia de parte do estamento político brasileiro prevalecerá sobre qualquer “legado” ideológico. Mas de uma coisa estou certo: o olavismo imbecil, no campo do pensamento internacional, produziu, pelas mãos e pés de um desequilibrado primeiro chanceler (o patético e submisso EA) a maior destruição da imagem externa do Brasil e da credibilidade de sua diplomacia profissional. 

Não gostaria de relembrar, por outro lado, que, à exceção dos aposentados, a quase totalidade dos diplomatas profissionais permaneceu inerme ante o trabalho de destruição de nossos princípios e valores. 

Paulo Roberto de Almeida


O LEGADO DO OLAVISMO

Guilherme Casarões 

O Estado de S. Paulo, 26 de janeiro de 2022

Morreu o homem que resgatou a direita do ostracismo, a radicalizou e a popularizou – tudo isso em poucos anos. Até meados da década passada, Olavo de Carvalho era um ideólogo de nicho. Com seus cursos de filosofia, pregava para algumas centenas de pessoas, potencializado pela inserção precoce no mundo digital e nas redes sociais.

O terremoto político iniciado em 2013, que levou à ascensão de vários movimentos de direita, coincidiu com a chegada de Olavo ao mainstream editorial. Em pouco tempo, o sucesso de seus livros começou a repercutir nas manifestações antipetistas, na forma de cartazes com o escrito “Olavo tem razão”. Olavo, de fato, tinha razão numa coisa. Havia um espaço enorme para o pensamento conservador no mercado das ideias políticas.

Na realidade brasileira, que o ideólogo alegava ser dominada pelo “marxismo cultural”, o fortalecimento do conservadorismo exigiria a destruição total da esquerda. A saída, portanto, era a articulação de um projeto reacionário, uma espécie de jacobinismo de direita. Esse movimento demandava três ingredientes: uma narrativa conspiracionista, uma legião de seguidores fiéis e uma liderança populista que pudesse colocar o projeto em prática.

As teorias conspiratórias foram ganhando força após 2013. Misturando perenialismo de René Guénon, variações católicas e militares do anticomunismo e a paranoia supremacista da alt-right americana, Olavo foi capaz de criar uma narrativa que acolheu e deu sentido a um número crescente de críticos ao Partido dos Trabalhadores.

Uma vez tornadas populares, as teses de Olavo trouxeram milhares de alunos, alguns dos quais passaram a compor uma suposta “nova elite intelectual” tupiniquim. Para certos influenciadores digitais e políticos, ser aluno do Olavo era a maior das virtudes, além de receita certeira de engajamento – mesmo que isso exigisse subscrever a ideias estapafúrdias, equivocadas e muitas vezes perigosas.

O ápice do olavismo deu-se em 2018, diante da possibilidade real da vitória de Jair Bolsonaro à presidência. As concepções tortas e a vocação populista do ex-capitão, mas sobretudo seu ímpeto destrutivo, casavam-se bem com o projeto reacionário de Olavo. Mais que isso: uma vez no poder, Bolsonaro poderia transformar o ideólogo em guru e seus seguidores em peças-chave do desmantelamento institucional do país. E assim o fez.

Mas a combinação entre incompetência técnica, fundamentalismo ideológico e desavenças políticas logo tornou Olavo e seu grupo um fardo para Bolsonaro. Para chegar ao fim do mandato, o governo trocou a extrema direita jacobina pela direita fisiológica, ainda que permaneça o legado de destruição em áreas tão diversas como saúde, educação e relações exteriores.

Olavo morreu, mas suas ideias permanecem – e serão chave para compreendermos o futuro da extrema direita, de Bolsonaro e da política nacional. No momento, elas estão à espera de alguém que confira alguma unidade ao movimento forjado a partir de 2013 e que vem rachando sob o peso das disputas de poder. Resta saber se o legado do olavismo sobreviverá à ganância de seus herdeiros.

Guilherme Casarões é professor da FGV EAESP


quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Desafios da política externa brasileira no Bicentenário da Independência - Colóquio da UFGD e IDESF (YouTube)

 Participei, com um atraso inicial, deste: 

VI Colóquio sobre Fronteiras e Direitos Humanos na União Europeia e Mercosul

Mesa 1: “Os desafios da política externa brasileira no Bicentenário da Independência”. Palestrantes

Prof. Dr. Paulo Roberto de Almeida (Diplomata, Ministério das Relações Exteriores do Brasil e IBMEC) 

Prof. Dra. Andrea Ribeiro Hoffmann (PUC-RJ) 

Prof. Dr. Guilherme Stolle Paixão e Casarões (FGV-SP) 

Prof. Dr. Camilo Pereira Carneiro Filho (UFG) 

Moderador

Prof. Dr. Tássio Franchi (ECEME) 

Debatedor: Prof. Dr. Diego Trindade d’Ávila Magalhães (UFG)


Preparei uma apresentação de apoio, que foi disponibilizada neste link da plataforma Academia.edu: 

4254. “Desafios da política externa brasileira no Bicentenário da Independência”, Brasília, 14 outubro 2022, 29 slides. Apresentação de suporte para palestra no quadro da Cátedra Jean Monnet da UFGD e o IDESF, em evento online, no dia 26 de outubro de 2022, às 19:30; transmitida pelo canal Youtube do IDESF (https://www.youtube.com/watch?v=7Qpj1aB8QV0). Apresentação disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/89294363/Paulo_Roberto_de_Almeida_CV_resumido)

Enjoy!


sexta-feira, 1 de julho de 2022

Jerry Dávila fará conferência de abertura da Universidade de Verão da UFMG, dia 4/07, 9hs

Grandes nomes nesta série de conferências na UFMG Summer School on Brazilian Studies. A não perder.

Nova edição de curso sobre temas brasileiros reunirá estudantes de 26 países

Promovida pela DRI, 'Summer School' começa na segunda com conferência de estudioso das relações diplomáticas com a África; palestra terá transmissão pelo YouTube

https://ufmg.br/comunicacao/noticias/nova-edicao-de-curso-sobre-temas-brasileiros-reunira-estudantes-de-26-paises

Bandeiras de Minas Gerais, do Brasil e da UFMG hasteadas em frente ao prédio da Reitoria
Bandeiras de Minas Gerais, do Brasil e da UFMG hasteadas em frente ao prédio da Reitoria Lucas Braga | UFMG

O historiador brasilianista Jerry Dávila, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, vai ministrar a conferência de abertura da UFMG Summer School on Brazilian Studies, nesta segunda-feira, 4, a partir das 9h. Dávila é autor de vários livros, entre eles Hotel Trópico: o Brasil e o desafio da decolonização africana, no qual analisa a diplomacia brasileira entre as décadas de 1950 e 1980, mostrando que o mito da democracia racial esbarra em fortes evidências sociais de preconceito e exclusão. A conferência será transmitida pelo canal da Diretoria de Relações Internacionais, promotora do curso, no YouTube

O evento, on-line, reunirá participantes previamente inscritos, com programação até 15 de julho. O principal objetivo é apresentar a UFMG e o Brasil ao público de universidades estrangeiras. “Essa visibilidade tem vários efeitos, inclusive o de melhorar a nossa posição em rankings internacionais, já que alguns deles levam em consideração uma espécie de ‘top of mind’ [instituições que são lembradas espontaneamente pelas pessoas]”, explica o professor Aziz Saliba, diretor de Relações Internacionais

As atividades reunirão 58 estudantes, previamente inscritos, de 34 instituições localizadas em países de todos os continentes: África do Sul, Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá, Cazaquistão, China, Egito, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, França, Indonésia, Itália, Japão, México, Nigéria, Panamá, Paquistão, Peru, Quirguistão, Reino Unido, Rússia, Suíça e Tajiquistão. 
 
Participam também 38 estudantes da UFMG, dois deles do Colégio Técnico (Coltec). “Queremos nossos alunos participando da Summer School. Para eles, é uma experiência de convívio em um ambiente verdadeiramente diverso, cosmopolita”, afirma Saliba.

Jerry Dávila é professor da Universidade de Illinois
Jerry Dávila é professor da Universidade de Illinois (EUA)
Acervo pessoal 

 

País complexo
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida afirma que o Brasil é um país culturalmente complexo, que desperta curiosidade e interesse. Também por isso é suscetível a análises apressadas e preconceituosas. “Um dos brasileiros mais ilustres, o compositor Tom Jobim declarou certa vez que o Brasil não é para principiantes. Construímos uma identidade atravessada por fenômenos traumáticos, como a escravidão, abrigamos a maior floresta tropical do mundo e estamos no epicentro de disputas culturais e ideológicas que marcam tempos extremamente turbulentos. Compreender o Brasil não é tarefa simples, mas acreditamos que, com esse curso, a UFMG oferecerá aos estudantes estrangeiros um panorama realista de nossas potencialidades e fragilidades como nação”, resume a reitora.

Com esse propósito, a programação terá sessões temáticas conduzidas por professores da UFMG de diferentes áreas do conhecimento: História do Brasil (Rafael Scopacasa), Geologia do Brasil (Tiago Novo), Economia brasileira (Débora Freire), Política brasileira (Bruno Reis), Direito brasileiro (Juliana Cesario Alvim Gomes), Sociedade brasileira (Corinne Davis Rodrigues), Raça no Brasil (Cristiano dos Santos Rodrigues), Política externa do Brasil (Lucas Carlos Lima) e Cultura brasileira (Heloisa Faria Braga Feichas). 

No dia 6 de julho, às 14h, haverá uma sessão especial com o professor Guilherme Casarões, da Fundação Getúlio Vargas, pesquisador de temas como política externa brasileira, extrema direita e nacionalismo religioso, relações Brasil-Oriente Médio e Teoria das Relações Internacionais.
 
Estão previstas, ainda, aulas de português para estrangeiros e várias atividades culturais: a exibição do filme A última floresta (2021) ‒ ambientado em um território Yanomami na Amazônia ‒, com comentários do professor Ulysses Panisset, da Faculdade de Medicina da UFMG, tour virtual ao museu de arte contemporânea Inhotim, localizado em Brumadinho, e um luau.

quinta-feira, 17 de março de 2022

Os efeitos políticos da guerra nos países do Ocidente - Anthony Faiola (WP)

Nosso colega e amigo Guilherme Casarões está citado nesta matéria do grande jornalista Anthony Faiola. 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Um poeta desafia o chanceler acidental em irônicas coplas - Guilherme Casarões

Poesia numa hora dessas?


Guilherme Casarões, colega acadêmico especialista em política externa e diplomacia brasileira, teve sua veia poética tomada por um desafio inesperado: o fato de o patético chanceler acidental ter declarado, num infeliz Dia dos Diplomatas (para os alunos do Instituto Rio Branco, cujo patrono, o verdadeiro poeta João Cabral de Mello Neto, foi acusado de ser comunista pelo autor fracassado de romances distópicos que ninguém leu), que era diplomata e poeta, ou poeta e diplomata (não importa agora).

Casarões resolveu responder com suas trovas desafiadoras, que reproduzo abaixo, a partir de seu Twitter.

Acho que vamos ter vários repentistas, que se desempenharão ao melhor de suas capacidades, só para responder ao péssimo poeta parnasiano que se tornou chanceler acidental. Se ele tivesse ficado só na literatura, teria causado menos desastres para o Brasil. Para a literatura não sei, mas para o Itamaraty certamente... 

Um poeta fracassado, mas não só nas invectivas contra os diplomatas e a diplomacia.

Paulo Roberto de Almeida

 

Guilherme Casarões

@GCasaroes

 

Quer dizer que @ernestofaraujo é poeta? 

Pois bem. Então também sou. 

Aproveitei e fiz uma poesia em sua homenagem:

 


 

Das profundezas da nobre burocracia 

Por amor ao mito, saí em campanha 

Lancei até um blog, coisa tacanha 

Na língua tupi, rezei Ave-Maria

 

Meu inimigo sempre foi o globalismo 

Conspiração denunciada pelo professor 

A globalização corrompida pelo marxismo 

Combate-se com coragem, fé e amor

 

Fui escolhido pela minha lealdade 

Mas também por um artigo estridente 

Em que defendo que a salvação do Ocidente 

Virá de Trump, paladino da verdade

 

No Itamaraty, a revolução é de direita 

Nações unidas pela soberania do Deus vivo 

Velhos valores, ou o diplomata aceita 

Ou baterá carimbo em Antananarivo

 

O lema agora é João oito trinta-e-dois 

Acabou, colegas, o projeto totalitário! 

Esquerdopatas, favor voltar pro armário 

Oikofobia, aqui não, nós somos bois

 

Novo Brasil, nosso papo é com Hungria 

Polônia, Índia, Israel, só fina gente 

Pela liberdade, minimizei a pandemia 

Pra quê ciência, se por aqui nem está quente?

 

Tradição da diplomacia, desapareça! 

Até chamei de comunista o Melo Neto 

Xinguei Ricupero, Amorim, quem mais mereça 

Pois se venderam a tão nefasto projeto

 

“Especialistas” me chamam de desvairado 

Não tenho culpa, analfabetos funcionais 

Sou deusplomata e com meu chefe Eduardo 

Seremos sempre párias internacionais

 

Mas, no fim das contas, pouco importa 

Se Trump vence, o Brasil será gigante 

Politicamente correto já virou letra-morta 

Em nosso reino da direita ruminante

 

E se perder? Tal hipótese não existe 

Nosso analista já previu: Biden já era 

Para não virar rodapé, a gente resiste 

Se a contagem demorar, a gente espera

 


quarta-feira, 24 de junho de 2020

Guilherme Casarões: sobre a destruição do Itamaraty, pelos mesmos que fazem guerra cultural de extrema direita

Permito-me postar uma série de tuítes do Guilherme Casarões sobre a destruição do Itamaraty pelos olavo-bolsonaristas, fanáticos antiglobalistas, que eu classificaria de demenciais:


Guilherme Casarões
Flag of Brazil

Desinformador profissional certificado pelo chanceler Ernesto Araújo. Professor/pesquisador no resto do tempo. Pai de dois
❤
. RT ≠ endosso. Opiniões pessoais.


24 de Junho de 2020

Conversation
Para onde vai a @FunagBrasil
? A política externa populista de @jairbolsonaro é parte integral da guerra cultural bolsolavista, em que instituições são desmoralizadas, aparelhadas e destruídas. O Itamaraty está sob ataque - e a corrupção da FUNAG faz parte do processo.



1) A destruição da inteligência acumulada pela FUNAG, braço acadêmico do Itamaraty, começou antes mesmo do início do governo. O manual de História do Brasil, do grande @joadani, foi retirado do site, onde poderia ser baixado gratuitamente. O problema do livro? Este parágrafo:


Replying to @GCasaroes
2) A 2ª pancada ocorreu no começo do mandato. @PauloAlmeida53 foi demitido do cargo de diretor do IPRI após republicar expoentes do "deep state" tucano-globalista, Rubens Ricupero e o ex-presidente @FHC. Nem Paulo nem Ricupero escondiam suas discordâncias com o antiglobalismo.



3) Ao longo de 2019, @ernestofaraujo se recusou a publicar 2 livros sobre política externa. O do embaixador Synesio Goes foi vetado por ter o prefácio escrito por Ricupero. O da pesquisadora Mathilde Chatin, barrado graças ao prefácio de Celso Amorim.

Com censura a obras acadêmicas, Araújo ameaça a imagem do próprio Itamaraty
https://t.co/ptfu0NMpfz?amp=1
https://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/02/com-censura-a-obras-academicas-araujo-ameaca-a-imagem-do-proprio-itamaraty/

[Abro um parênteses, aqui, para transcrever o que Guilherme Casarões linkou, pois eu ainda não tinha tomado conhecimento dessa matéria, que cita o meu livro de 2019: "Miséria da Diplomacia", livremente disponível em meu blog Diplomatizzando]

Uma reportagem publicada pela Folha revela que o Itamaraty se recusou a publicar um livro do embaixador Synesio Sampaio Goes Filho por conta do prefácio da obra, escrito por Rubens Ricupero, ex-embaixador em Washington e também historiador da diplomacia –e visto como desafeto pelo atual ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
O caso não é isolado, entretanto, e o clima de revisão e censura também atinge outras obras que passam pelo MRE. Esta tendência cria uma ameaça à imagem de profissionalismo, olhar crítico e independência do Itamaraty no resto do mundo.
Em seu livro mais recente, que não foi publicado pela Funag, o diplomata Paulo Roberto de Almeida cita pelo menos um outro caso em que a censura ocorreu neste ano.
"Uma tese de doutorado defendida no King's College, da Universidade de Londres, por Mathilde Chatin – Brazil: a new powerhouse without military strength? – A conceptual and empirical quest about an emerging economic power –, já aprovada para publicação pelo Conselho Editorial da Funag em 2018 foi congelada definitivamente por incluir um prefácio do ex-ministro Celso Amorim, no cargo durante o período coberto pelo trabalho acadêmico", diz Almeida em "Miséria da Diplomacia: A Destruição da Inteligência no Itamaraty"(Boa Vista: Editora da UFRR, 2019).
A mesma Folha relatou à época que a demissão ocorreu após Almeida republicar, em seu blog pessoal três textos recentes sobre a crise na Venezuela, um assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, outro pelo embaixador e ex-ministro Rubens Ricupero e o terceiro pelo atual ministro das Relações Exteriores.
Na época, o clima de perseguição dentro do ministério levou à preocupação com o uso mais frequente da censura.
A imposição de censura no Itamaraty, especialmente quando direcionada a obras acadêmicas e de história, aumenta o risco pelo qual vem passando um dos principais ativos da diplomacia brasileira.
Por anos, o Itamaraty foi reconhecido internacionalmente como um dos serviços de política externa mais ativos e competentes do mundo. O profissionalismo e senso crítico dos diplomatas brasileiros são mencionados com frequência por estrangeiros que trabalham com política externa, que elogiam o preparo e conhecimento dos representantes do Brasil. Com a imposição de censura, é possível que o serviço de política externa do Brasil perca parte da sua capacidade crítica, que ajuda a promover esta imagem de competência da presença brasileira no exterior.

[Retomo Guilherme Casarões]:   

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4) Como se não bastassem as censuras, a turma olavista ocupou-se em promover conceitos frágeis, meio conspiratórios, como o novo léxico da política externa brasileira. A construção da "novilíngua" da extrema direita começou com o evento abaixo, em mai/19. http://institutoriobranco.itamaraty.gov.br/artigos/60-noticias/85-funag-e-irbr-promoveram-a-palestra-governanca-global-e-autodeterminacao-popular-de-filipe-g-martins-assessor-especial-do-presidente-da-republica
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5) Em jun/19, um grande evento "internacional" trouxe expoentes da guerra cultural antiglobalista para denunciar George Soros, o STF, Paulo Freire, o @ForodeSaoPaulo, os Illuminati e a Nova Ordem Mundial. À exceção do palestrante americano, todos são orgulhosos alunos do Olavo.

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6) 
fez a abertura do evento, denunciando a "pseudorreligião globalista" a partir de uma leitura torta de Nietzsche e Marx. O ponto mais alto da fala foi a celebração do discurso de 6 MINUTOS de Bolsonaro em Davos, por ter tido a bravura de falar de Deus.


7) Em dez/19, foi a vez do jurista/influencer olavista Evandro Pontes falar sobre as "virtudes do nacionalismo" a partir do livro do filósofo Yoram Hazony, que basicamente opõe o nacionalismo benigno ao totalitarismo da governança global. A construção da novilíngua segue firme.



8) Com o advento da pandemia, a FUNAG passou a realizar seminários virtuais sobre "a conjuntura internacional pós-coronavírus". Evento no mínimo curioso p/um chanceler que, dias antes, problematizou a pandemia de Covid19 como uma questão "terminológica", seguindo o mestre Olavo.