Uma pequena lição corretora de distorções ideológicas sobre riqueza e poder
Paulo Roberto Almeida
A Oxfam e milhares de acadêmicos de par le monde, inclusive reputados economistas à la Piketty, acreditam piamente que os atuais bilionários o são porque se beneficiaram daquilo que Marx chamava, muito erradamente, de “acumulação primitiva”, supostamente fruto de roubo e expropriação ilegal por algum esperto antecessor, depois transmitindo sua riqueza aos descendentes. Nada mais errado e equivocado, tanto no plano histórico, quanto do ponto de vista estritamente econômico. Não há dúvida de que o colonialismo e o imperialismo beneficiaram alguns setores já ricos das sociedades atualmente ricas dos países avançados, não toda a população, mas exatamente algumas elites e personagens dominantes nesses países: comerciantes, fabricantes e fornecedores de armas, alguns políticos e empresários metidos em aventuras coloniais, e similares. Para o país como um todo, para a classe média e para os mais pobres, o colonialismo foi uma perda e talvez até um desastre, ao desviar recursos que poderiam ter sido melhor empregados internamente, para o bem de todos, desviando-os para essas incursões externas. Isso é válido especialmente para os europeus, que desde os descobrimentos e as navegações saíram em busca de riquezas fabulosas em paragens distantes, na China, na Índia e nas Américas (na verdade, Mexico e Peru, mais concretamente, pois o resto era “subdesenvolvido”, povos ainda no neolítico ou no paleolítico superior).
Ou seja, o colonislismo não foi o verdadeiro responsável pela grande divergência de renda entre países pobres e ricos, que cresceu muito da primeira revolução industrial até poucas décadas atrás. Há atualmente uma convergência, devido à industrialização das periferias e as “vantagens do atraso”, de que falava Gerschenkron: países emergentes crescem mais, sistematicamente, do que os já maduros. Isso é um fato. As desigualdades diminuíram enormemente com a globalização e a liberalização comercial, e elas crescem atualmente muito mais dentro dos países do que entre os paises, e muito mais devido a erros de políticas econômicas e sociais do que à suposta cobiça dos “bilionários” (que surgem das maneiras mais imprevistas nas verdadeiras economias de mercado, não naquelas dominadas por perversões estatistas).
Essas teorias de sabor marxista, que miram na “acumulação primitiva”, na expropriação dos mais fracos, camponeses, artesãos, em benefício dos primeiros grandes capitalistas, estão erradas e são anacrônicas (fruto da dominância marxista nos meios acadêmicos). Seus partidários se esquecem de que foi a revolução cientifica na Europa, anterior à primeira revolução industrial, além da disseminação da educação (inclusive pelo protestantismo e a leitura da Bíblia, dispensando a missa em latim dos “atrasados” católicos) foi o que permitiu o avanço industrial formidável dos europeus (que não são, hoje em dia, os mais ricos do mundo). A Oxfam e os Eduardos Galeanos do mundo esquecem que para ser colonialista, explorador, imperialista, é preciso, primeiro ter condições materiais, organizacionais, tecnológicas, para conquistar, dominar, e depois explorar, o que foi difícil de fazer, por exemplo, na China, muito mais desenvolvida do que os “bárbaros” europeus durante todas as primeiras aventuras coloniais. Os imperialismos da segunda revolução industrial já respondem a outros fatores, consolidados. Ou seja, não é colonialista ou imperialista quem quer, mas apenas quem tem condições de sê-lo e de estabelecer suas vontades sobre outros povos e nações. Oxfam e Pikettis se esquecem que o maior numero dd bilionários não está na Europa, e sim nos EUA e na China, que não têm nada a ver como velho colonialismo, e sim são o resultado de empresas industriais, financeiras e de intangíveis (tecnologia) que muitas vezes não exploram nenhum grama de commodities, e sim resultam da economia do conhecimento e da inovação (Gates, Job, Bezzos, Zuckerberg, Jack Ma e outros). As maiores empresas hoje não são mais as da segunda revolução industrial (petróleo, automóveis, químicas etc.) e sim as da quarta ou da quinta revolução industrial, as que não estão em linhas de montagem ou pesados equipamentos, e sim em produtos “etéreos”.
Alguns bilionários podem ter herdado fortunas de antecessores “trapaceiros” ou inovadores, mas a maioria atual fez sua fortuna de forma original e própria, sem nada a ver com o colonialismo ou imperialismo, apenas pura inteligência e exploração de novas atividades nas economias de mercado abertas e livres. A China, inclusive, não deve a sua riqueza e poderio atual graças ao socialismo ou ao PCC, um partido leninista que, sim, domina o seu sistema político, como outrora os imperadores dominavam o Império do Meio; ela deve a sua “fortuna” (até no sentido maquiavélico original) à energia e ao trabalho do seu povo, à educação prestigiada, ao sistema mandarinal meritocrático (preservado pelo PCC) e justamente ao fato de que uma liderança esclarecida resolveu acabar com o leninismo primitivo, ignorante e antimercado, embarcando na liberação completa das forças produtivas do povo chinês. A China, despótica como ela pode ser no terreno político, é muito mais livre, economicamente do que, por exemplo, o Brasil, um país “socialista”, atrasado pelo estatismo renitente de suas elites tecnocráticas (militares, diplomatas) e empresários grudados nas tetas estatais, protecionistas e mercantilistas teimosos. A China, ao contrário do que dizem os mandarins do PCC, é um “capitalismo com características chinesas”, ou seja, uma economia de mercado orientada por uma autocracia leninista esclarecida, que vai continuar produzindo novos bilionários, mas sobretudo bem-estar e riquezas para sua população trabalhadora (à diferença dos EUA, que se rendeu a plutocratas e que tem uma mão de obra ainda grudada na segunda revolução industrial, e que não estuda como os chineses o fazem continuamente).
Creio que é preciso superar a visão marxista atrasada da Oxfam e de Piketty (o totalmente equivocado do “capital no século XXI) e ver as coisas como elas são: não existe um capitalismo dominante, colonialista e imperialista, concentrador de riquezas e produtor de bilionários. O que existem são capitalismos nacionais muito diferentes entre si, historicamente e estruturalmente, variedades de economias de mercado braudelianas, com diferentes sucessos (ou fracassos), segundo a qualidade intelectual de suas elites ou núcleos dirigentes. Dominação não é para quem quer, e sim para quem pode, eficiente, inovador, produtivo, inteligente. Trump, por exemplo, é um primata arrogante, quando comparado a um Xi Jinping modesto, eficiente, treinado na educação da vida e nas melhores tradições do mandarinato chinês, uma espécie de weberianismo criado dez séculos antes que Weber formulasse suas teorias sobre a dominação de tipo racional-burocrática, ao contrário do velho carisma ou dos novos populismos.
Espero ter transmitido um pouco do que aprendi pelo estudo da história econômica e pela atenta observação das coisas do mundo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13/06/2025
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PS: DefesaNet transcreveu minha pequena lição improvisada (ainda com erros de digitação) de história econômica, ao deparar-me com mais uma mentira grosseira da Oxfam sobre a verdadeira origem dos bilionários no mundo. Ela atribui a eles todas as misérias do mundo, pobreza e desigualdades, quando os bilionários são apenas o reflexo da capacidade das economias de mercado e de seus empreendedores inovadores em criar NOVAS fontes de riqueza, não em explorar as velhas, como ainda fazem velhas companhias da segunda revolução industrial, que estão senso superadas pelas novas, que nunca foram colonialistas, mas que podem ser “imperialistas” do livre comércio e dos investimentos.