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terça-feira, 4 de junho de 2024

Quem compete com o Brasil pela liderança do 'Sul Global'? - Julia Braun (BBC Brasil)

 Quem compete com o Brasil pela liderança do 'Sul Global'?

Julia Braun

 Role, Da BBC Brasil em Londres

 Twitter, @juliatbraun

BBC-Brasil, 28 maio 2024, Atualizado 31 maio 2024

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c0kl44720r5o


Em seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido apontado como um dos principais candidatos para liderar o chamado 'Sul Global' em sua busca por mais prestígio para países em desenvolvimento, principalmente da América do Sul, África e Ásia. 

Ao longo do segundo semestre de 2023, o Brasil ocupou a presidência temporária do Mercosul. Até novembro deste ano, o país também ocupa a liderança rotativa do G20, grupo que reúne as 19 principais economias do mundo, além da União Europeia e União Africana.


Em 2025, o governo brasileiro ainda assumirá a presidência do Brics e sediará a 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP-30).

Todas essas plataformas são vistas como oportunidades para que o país avance sua agenda — e de seus aliados. 

Essa imagem, entretanto, tem sido desafiada por um cenário internacional marcado por guerras e disputas geopolíticas e um contexto doméstico que requer cada vez mais atenção.

E críticos apontam que posicionamentos recentes de Lula, em especial sobre a guerra na Ucrânia, podem ser travas para a ambição do Brasil em se tornar uma ponte entre os países em desenvolvimento e as superpotências.

Nesse contexto, qual a força do Brasil nessa batalha pela liderança do 'Sul Global'? E quem são os outros concorrentes ao posto de 'capitão' desse grupo tão heterogêneo e etéreo?


O que é o 'Sul Global'?

Apesar do nome, o 'Sul Global' nada tem a ver com uma divisão geográfica, mas sim com as estruturas socioeconômicas, aponta Sara Stevano, professora da Universidade de Londres e economista especializada em desenvolvimento.

Eu consideraria como parte do 'Sul Global' um país que tem uma estrutura econômica típica de contextos pós-coloniais, o que significa que a economia é normalmente baseada na exportação de commodities primárias ou mesmo bens manufaturados considerados de menor valor agregado", diz.

O conceito também inclui as nações consideradas parte da "periferia da economia global" ou que mantêm uma certa dependência em relação aos países do 'Norte Global', em especial, Estados Unidos e Europa. 

"O espaço que os tomadores de decisões políticas têm nos países do 'Sul Global' tende a ser mais estreito do que nos países do 'Norte Global'", afirma Stevano. 

O termo é muito usado no contexto da mobilização de alguns países em torno de preocupações e interesses comuns, especialmente diante da relação com as grandes potências em questões como comércio ou mudanças climáticas. 

Na prática, atualmente tais interesses se manifestam principalmente por meio do Grupo dos 77 (G77) nas Nações Unidas. 

Formado por 134 países, o grupo afirma fornecer os meios "para os países do Sul articularem e promoverem os seus interesses econômicos coletivos e reforçarem a sua capacidade de negociação conjunta em todas as principais questões econômicas internacionais dentro do sistema das Nações Unidas e promover a cooperação Sul-Sul para o desenvolvimento".

China e Brasil, por exemplo, estão entre os que defendem uma reforma da ONU para aumentar a representatividade e o direito à voz das nações do 'Sul Global'. 

Sara Stevano ressalta, porém, que há diferenças muito grandes entre os países que pertencem ao grupo que não devem ser ignoradas.

Brasil e Moçambique, por exemplo, são ambos considerados parte do 'Sul Global' e possuem economias baseadas na exportação de commodities.

Mas enquanto o Brasil é um ator de influência no grupo, cujo PIB (produto interno bruto) chegou a US$ 2,17 trilhões em 2023, o país africano terminou o ano com US$ 20,8 bilhões, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Há países que estão na periferia da periferia", diz Stevano. 

Da mesma forma, os interesses e as bases das relações cultivadas por cada uma das nações com seus parceiros do Sul — e as potências do Norte — diferem profundamente. 

Essa heterogeneidade está no cerne dos argumentos dos críticos ao termo, que temem que seu uso possa reforçar dicotomias e estereótipos imprecisos e ultrapassados.

Antes do termo 'Sul Global', a expressão '3º Mundo' era usada com frequência. 

O conceito surgiu durante a Guerra Fria e englobava as nações que não pertenciam nem ao chamado '1º Mundo' (nações ocidentais e desenvolvidas) nem ao '2º Mundo' (composto pelas nações socialistas e comunistas).

Outros conceitos, como 'país desenvolvido' ou 'em desenvolvimento', também ganharam mais espaço nas discussões internacionais. 

No entanto, segundo Sara Stevano, são expressões associadas a uma ideia de desenvolvimento linear que raramente é verdadeira. 

"Essa linguagem tem um ponto cego muito significativo, que é o fato de existirem relações de poder em jogo na economia global", diz. "De certa forma, a terminologia 'Sul Global' deixa isso mais claro."

Quais são, então, os países que se destacam no 'Sul Global' — e por quê?


China: força econômica e política

A China, segunda maior economia do mundo, é um caso bastante único — e por isso está no foco de muitos dos críticos da expressão 'Sul Global'.

O país passou por acelerado crescimento econômico a partir da década de 80. Entre 1994 a 2022, teve uma alta média anual de 8,7% no PIB, com um pico em 2007 (+14,2%).

Há quem aponte que não só a posição econômica da China diante da economia global, mas também os níveis de influência geopolítica exercidos pelo país atualmente, são incompatíveis com os conceitos do 'Sul Global'. 

Mas para Nikita Sud, professora da Universidade de Oxford (Reino Unido) e especialista no tema, as experiências passadas com o imperialismo justificam a inclusão no grupo. 

O grande período de influência europeia na China começou com as chamadas Guerras do Ópio entre 1839 e 1860, travadas contra o Império Britânico e motivadas principalmente pelo comércio do ópio. 

"As ideias pregadas (pelo colonialismo) de dominação racial e civilização continuam até hoje. E é por isso que a China se vê como parte do 'Sul Global' apesar de competir economicamente com os EUA atualmente", diz Sud. 

"Mas a política local, a origem do país e a hierarquia baseadas no racismo alinham a China mais com o Sul do que com o Norte."

O próprio governo chinês só passou a falar com mais frequência sobre o assunto e a se definir como parte do grupo recentemente (antes usava o termo "família de países em desenvolvimento").

Em setembro de 2023, durante o discurso anual na Assembleia Geral das Nações Unidas, o vice-presidente chinês, Han Zheng, disse que a China é um membro natural do Sul Global pois "respira o mesmo ar que outros países em desenvolvimento e partilha com eles o mesmo futuro".

Há quem veja nesse posicionamento mais uma estratégia para se opor à "hegemonia do Oeste" e disseminar uma imagem de grandeza. 

"Para concretizar o sonho do presidente Xi de rejuvenescer a grande nação chinesa, a China precisa assumir um papel de liderança no mundo e o Sul Global serve de veículo para isso (...)", afirmou Robin Schindowski, analista do think tank Bruegel, em um artigo de 2023. 

No entanto, segundo o especialista em China, "preocupações internas" do governo Xi também levaram o governante a impulsionar essa agenda. 

"Embora os fatores estratégicos não devam ser negligenciados, as preocupações internas mais humildes desempenham um papel igualmente importante na procura da China por mais oportunidades nas economias emergentes, especificamente os problemas de longa data do país com o excesso de capacidade industrial."

Mas são justamente a força econômica e política da China que colocam o país como uma das lideranças do 'Sul Global'.

Em uma reportagem publicada em abril, a revista inglesa The Economist utilizou um índice produzido pelo Centro Pardee para Futuros Internacionais (PCIF, na sigla em inglês), da Universidade de Denver, nos Estados Unidos, para comparar o nível de influência de alguns países entre os membros do G77.

Os Estados Unidos têm se destacado como o país com maior influência nas nações do grupo desde a década de 1970, mas a China aparece cada vez mais como um rival de peso, de acordo com o levantamento.

Segundo o Índice Formal de Capacidade de Influência Bilateral (FBIC) do PCIF, a influência chinesa começou a crescer a partir dos anos 2000 e deve ultrapassar a americana nas próximas décadas. 

Ainda de acordo com o índice, a "capacidade de influência" da China sobre o G77 é aproximadamente o dobro da exercida pela França, o terceiro país mais influente entre o grupo, e cerca de três vezes a do Reino Unido, da Índia ou dos Emirados Árabes Unidos. 

O índice é calculado com base em dados que abrangem as dimensões econômica, política e de segurança da influência bilateral formal. Isso inclui interações como intercâmbio diplomático, transferências de armas e comércio de mercadorias, mas não ações menos transparentes, como o financiamento de atores não estatais ou tentativas de interferir em eleições.

Os dados do FBIC apontam maior influência chinesa em 31 países do G77, com destaque para Paquistão, Bangladesh, Rússia e outros Estados do Sudeste Asiático. 

Outro foco da influência chinesa é a África. 

A China apoiou vários movimentos de independência africanos durante a Guerra Fria e, atualmente, a presença da potência asiática no continente se manifesta principalmente por meio de investimentos externos diretos, ajuda financeira, projetos de infraestrutura e empréstimos. 

Em 2013, a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI) da China foi lançada por Xi Jinping, apresentando a ambição de revigorar a antiga rota comercial da seda ao longo de parte da costa da África Oriental. 

Teoricamente, isso deveria ter concentrado o investimento chinês na África Oriental, mas muitos outros Estados africanos também procuraram oportunidades através da BRI, fazendo com que a iniciativa se expandisse rapidamente.

Desde então, a BRI assistiu à construção de inúmeros projetos de infraestruturas em toda a Ásia e África, financiados por empréstimos chineses.

O projeto também chegou a países latino americanos: atualmente, 22 nações da América Latina e Caribe fazem parte da BRI.

O comércio entre a China e os países latino-americanos, aliás, bateu um recorde histórico em 2023.

A troca de mercadorias entre a região e o gigante asiático ultrapassou US$ 480 bilhões, segundo cálculos da BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, com base em dados da Administração Aduaneira da República Popular da China (AGA, na sigla em inglês).

A balança comercial foi relativamente equilibrada, com um ligeiro superávit favorável à América Latina, de US$ 2 bilhões.

O novo recorde no comércio de mercadorias com a China constitui mais um passo em uma tendência ascendente que tem sido registrada ao longo deste século. 

O intercâmbio bilateral do país asiático com a América Latina e o Caribe (ALC) mal girava em torno de US$ 14 bilhões no ano 2000, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

A China também assinou nos últimos anos tratados de livre comércio com Chile, Costa Rica, Equador, Nicarágua e Peru, e já negocia com outras nações da região. 


Índia e a 'ponte entre o Sul e o Ocidente'

No bloco informal, a Índia é a grande concorrente da China e aparece no Índice Formal de Capacidade de Influência Bilateral (FBIC) como o país mais influente para seis nações do G77 — entre elas, vizinhos como Sri Lanka e Butão. 

Mas assim como Pequim, Nova Déli também tem buscado expandir sua influência para além de seus arredores, com foco especial na África. 

O número de embaixadas indianas no continente passou de 25 para 43 entre 2012 e 2022, segundo a The Economist.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, afirma ainda que o país é o quarto maior parceiro comercial africano e a quinta maior fonte de investimento direto estrangeiro na região.

O país também se destaca na área da tecnologia, com importação de sistemas e plataformas digitais, incluindo tecnologias de identidade biométrica.

Segundo um relatório do Centro de Investigação Econômica e Empresarial (CEBR, na sigla em inglês), uma empresa de consultoria com sede em Londres, a Índia deverá manter um forte crescimento de cerca de 6,5% ao ano entre 2024 e 2028, e tornar-se a terceira maior economia do mundo até 2032, ultrapassando o Japão e a Alemanha.

Apesar da ascensão meteórica de sua economia, a Índiacontinua a se classificar como parte do 'Sul Global' e impulsiona sua posição de liderança no bloco informal. 

O país organizou e presidiu em 2023 dois encontros da cúpula Voz do Sul Global, criada por Modi para realizar encontros online sobre desenvolvimento financeiro, crise climática e outros temas de interesse.

A abordagem indiana, porém, é distinta da chinesa. 

Enquanto Pequim se projeta como uma alternativa clara aos Estados Unidos, Nova Déli busca angariar influência se posicionando como um intermediário ou uma ponte entre seus aliados do Sul e o Ocidente.

O governo Modi mantém uma relação especialmente próxima com os EUA, mas, ao mesmo tempo, adota posições bastante pragmáticas em política externa, se recusando, por exemplo, a condenar a Rússia pela invasão à Ucrânia

"Só porque o país se identifica com o 'Sul Global' e é conveniente formar um bloco de aliados para negociar, por exemplo, questões climáticas, não significa que na hora de fazer comércio, atrair investimentos ou contrair empréstimos, ele não possa procurar um país do Norte", diz Nikita Sud.

Quando se trata da defesa por reformas no sistema internacional, a posição indiana também reflete sua postura pragmática. 

Na última reunião anual do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), realizada em outubro passado, China e Índia tomaram posições opostas na discussão sobre a reforma das instituições financeiras multilaterais e as cotas de voto dos países-membros no FMI. 

Enquanto o governo indiano apoiou a proposta dos EUA para um aumento "equiproporcional" das cotas de contribuição financeira sem alteração no poder de voto dos países-membros, a China defendeu um aumento de ambas as cotas como forma de refletir a crescente participação dos países em desenvolvimento na economia global.

Em tese, as cotas dos países no FMI estão relacionadas à participação de cada um deles na economia mundial. Essas cotas determinam, entre outros fatores, o poder de voto dos países dentro do organismo internacional e a possibilidade de acesso a financiamentos de emergência.

Atualmente, China e Índia possuem, respectivamente, 6,4% e 2,75%. O Brasil detém 2,32% das cotas. Os Estados Unidos têm 17,43% das cotas, enquanto Alemanha e Reino Unido detêm 5,59% e 4,23%, respectivamente.


Brasil e as agendas prioritárias de Lula

Para muitos analistas, o Brasil também é um candidato forte ao posto de "líder" do 'Sul Global'.

A ideia foi bastante debatida durante os dois primeiros governos do presidente Lula, que sempre teve essa como uma de suas agendas prioritárias em termos de política externa. 

Com a volta do petista para um terceiro mandato, o país voltou a ser apontado pela imprensa internacional como uma voz nesse debate. 

"Lula está se autodenominando o novo líder do Sul Global – e desviando a atenção do Ocidente", diz uma matéria de abril do jornal britânico The Guardian.

A reportagem afirma que 2024 será um teste para a ambição do presidente, já que o Brasil está na presidência rotativa do G20 e sediará a reunião de cúpula do grupo em novembro (além da COP30 em 2025).

Um dos pontos principais da política de Lula para o 'Sul Global' é a reforma do Conselho de Segurança da ONU, com a criação de assentos permanentes para nações em desenvolvimento, além de equilíbrio do poder de veto.

Em uma entrevista no início do mês, Lula advogou por uma ampla reforma nos organismos financeiros multilaterais, como o FMI. E que os países que têm grandes dívidas externas possam pagar apenas parte delas, usando o restante em investimentos em suas infraestruturas nacionais.

"Uma coisa que queremos defender (no G20) é a mudança no sistema financeiro, criado após a Segunda Guerra. Aquelas instituições não funcionam mais. Elas sufocam os países", afirmou o presidente.

O petista também defende que os países mais ricos e desenvolvidos colaborem mais e financeiramente com os países pobres na luta contra o aquecimento global e desmatamento. 

Essa ideia é apoiada por outras nações do 'Sul Global', mas tem encontrado obstáculos nas últimas negociações. 

Os países industrializados têm se mostrado relutantes em se comprometer financeiramente, preocupados especialmente com a possibilidade de serem responsabilizados legalmente pelos impactos da mudança climática no processo.

Em um artigo publicado no final de 2023, os pesquisadores Christopher S. Chivvis e Beatrix Geaghan‑Breiner, do think tank Fundo Carnegie para a Paz Internacional, afirmaram que apesar da tradição brasileira de independência e não-alinhamento em termos de política externa, a autonomia do país se fortalece à medida que o impasse entre EUA e a China se amplia e o peso político e econômico da nação cresce.

"O Brasil quer evitar uma ordem mundial estruturada apenas pela competição entre grandes potências e, em vez disso, espera uma ordem multipolar onde os Estados do seu tamanho tenham mais voz nas instituições internacionais e maior influência em geral. Na opinião do Brasil, o surgimento de novas potências, especialmente a China, promete uma era de 'multipolaridade benigna', na qual o poder do Ocidente será reduzido e a influência das nações em ascensão será reforçada", argumentaram os pesquisadores. 

Mas para Laura Trajber Waisbich, diretora do programa de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, falta ao Brasil protagonismo e capacidade de liderança em algumas áreas.

"O Brasil tem capacidade de liderar em algumas agendas, mas em outras não", diz a especialista. "E em quais áreas apostar deve ser uma decisão estratégica e pragmática".

Para Waisbich, o país se destaca quando o assunto é a agenda ambiental e a reforma das organizações ambientais, dois temas que fazem parte do programa de política externa brasileiro há anos. Por outro lado, quando assuntos de segurança com menor proximidade ao Brasil estão em discussão, o país pode escorregar ao tentar se colocar como protagonista.

"Existe capacidade de liderança, de articulação e de ser uma fonte de inspiração para discussões sobre problemas globais, mas [o Brasil] não deveria ter a pretensão de ser um modelo ou líder para tudo", diz. 

Leonardo Ramos, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), explica que o desafio de Lula em avançar com a agenda relativa ao Sul é maior hoje do que no passado.

"O mundo mudou e muitas questões delicadas surgiram desde a última presidência do Lula, como as tensões entre Estados Unidos e China, a guerra na Ucrânia, o conflito em Gaza e a ascensão da nova direita", diz.

Segundo o especialista, em alguns momentos a política externa obriga os países a se alinharem ou condenarem um dos lados envolvidos nos confrontos, causando constrangimentos e prejudicando a ideia de não alinhamento defendida por muitas das nações do Sul.

"E as próprias tensões domésticas e a polarização extrema têm ocupado mais a atenção hoje do que no passado. Com tudo isso, ele tinha mais margem de manobra e respaldo interno."

Para Nikita Sud, nos últimos meses, dois países chamaram a atenção por seu posicionamento mais assertivo do que o normal frente à guerra em Gaza: Brasil e África do Sul.

Enquanto o governo sul-africano apresentou uma acusação de genocídio contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), a diplomacia brasileira tem sido bastante crítica à atuação de Israel no enclave palestino e chegou a votar a favor de uma resolução da ONU que conclama o fim da venda e transferência de armamentos aos israelenses.

Segundo a professora da Universidade de Oxford, por terem se posicionado de forma distinta daquela incentivada pelos Estados Unidos, as nações se projetaram como "vozes" mais relevantes na disputa pela liderança de uma nova ordem global, apesar de terem sido alvo de muitas críticas.

Mas para o diplomata Paulo Roberto de Almeida, ex-ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington e ex-assessor especial do núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, os posicionamentos pouco neutros do Brasil têm justamente o efeito contrário e prejudicam sua busca por liderança. 

Segundo Almeida, o governo do presidente Lula tem investido em uma política externa excessivamente "partidária e personalista" que causa fricções com as grandes potências do Ocidente.

O diplomata cita, em especial, a posição em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia.

Apesar de defender uma mediação pela paz, o presidente brasileiro fez declarações que foram entendidas como uma forma de apoio brando à Rússia. 

Em janeiro de 2023, durante visita do chanceler alemão Olaf Scholz ao Brasil, Lula chegou a dizer que a Rússia estava errada em invadir a Ucrânia, mas também sinalizou para culpa do próprio país invadido. “Continuo achando que quando um não quer, dois não brigam”, afirmou. Em maio do ano passado, ao participar do G-7, no entanto, Lula disse que condenava a violação da integridade territorial da Ucrânia.

"A insistência do Brasil em considerar todas as partes legítimas e a falta de neutralidade recente têm minado a posição do Brasil como líder", diz Almeida. 

Ainda segundo Paulo Roberto de Almeida, a busca por uma maior cooperação com outros países em desenvolvimento não deve vir em detrimento da relação com Estados Unidos e Europa - algo que tem acontecido, segundo ele.

"Essa aproximação de Lula com os países proponentes de uma nova ordem global tem causado alguns problemas com os tradicionais parceiros do Brasil no Ocidente, Estados Unidos e Europa Ocidental basicamente."

Laura Trajber Waisbich, de Oxford, discorda. "Não precisa ser um ou outro", diz. "Às vezes pode haver uma decepção ou um desacordo mútuo, mas na minha percepção é um desacordo que afeta apenas partes da relação bilateral, não o todo."

Segundo a especialista, países como Reino Unido, EUA, Japão e Noruega, por exemplo, têm demonstrado confiança em relação à liderança do Brasil na área ambiental, apesar de tomarem posições distintas em relação a temas como a guerra na Ucrânia. 

Para além da política externa, o cenário econômico mundial mudou profundamente desde os primeiros governos de Lula. 

Entre 2002 e 2010, o PIB brasileiro teve um crescimento médio de 4,1%, ancorado, sobretudo, no crescimento das exportações de matérias-primas e commodities do Brasil para nações em vertiginoso crescimento, como a China.

Já em 2023, Lula assumiu em um momento de crescimento menor, inflação persistente e contas públicas afetadas pela pandemia de covid-19.

Ao mesmo tempo, há sinais de que o legado construído pelo atual presidente e pelo Brasil de forma geral ainda garante uma boa posição, segundo analistas. 

"O Lula foi o único chefe de Estado de país emergente que participou das reuniões de cúpula do G77, do G20 e do Brics ano passado, certamente já pensando em reforçar essa posição de liderança", diz Leonardo Ramos, professor da PUC-Minas. 

Os dados do índice elaborado pelos pesquisadores da Universidade de Denver mostram que o Brasil é o campeão de influência em três países do G77: Bolívia, Paraguai e Uruguai. O cálculo considera o ano de 2022 como referência.

O Brasil foi o país com maior influência sobre a Argentina até 1997, segundo o FBIC, mas ficou atrás dos Estados Unidos nos últimos anos. 


África do Sul: 'líder moral'

Correndo nas margens da disputa, está mais um dos membros "mais antigos" dos Brics, a África do Sul. 

O país se juntou em 2011 ao grupo que começou com Brasil, Rússia, Índia e China em 2008, mas é atualmente considerado um dos integrantes mais antigos, já que Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita foram convidados a aderir ao bloco.

A aliança, aliás, tem papel central no avanço da ideia do 'Sul Global' atualmente. 

A própria expansão do grupo após a 15ª Cúpula do Brics, em 2023, foi considerada um enorme passo para que o 'Sul Global' tome o centro do palco da política global.

O presidente da África do Sul e anfitrião daquela reunião de cúpula, Cyril Ramaphosa, disse à imprensa que uma ampliação ainda maior é esperada para os próximos anos.

Segundo ele, os Brics "embarcaram em um novo capítulo no seu esforço para construir um mundo que seja mais justo, honesto, inclusivo e próspero".

Sob a liderança de Ramaphosa, a segunda maior economia da África (atrás apenas da Nigéria, segundo dados de abril de 2024 do FMI) tem expandido sua força de liderança. 

Para Anthoni van Nieuwkerk, professor da Universidade da África do Sul, o presidente "está restaurando a posição e o papel do país como líder moral global".

"As mensagens e o tom usado por Ramaphosa sugerem um líder assertivo do Sul que compreende como o mundo funciona. Ele não tem medo de desafiar a narrativa dominante e está preparado para colocar sobre a mesa as exigências do Sul Global", afirmou, em um artigo publicado no portal The Conversation em dezembro de 2023.

Essa ideia foi reforçada especialmente pela apresentação da denúncia à Corte Internacional de Justiça em Haia contra Israel e pelo posicionamento da diplomacia sul-africana frente ao conflito na Ucrânia. 

Segundo Van Nieuwkerk, quando se trata da guerra travada no Leste Europeu, a África do Sul é especialmente motivada a advogar pela paz diante das consequências econômicas do confronto na África, que já sofre com a insegurança alimentar e energética.

Ramaphosa liderou uma missão de paz africana para o confronto, que apesar de ter fracassado em seus esforços de negociação, foi interpretada como um sinal da busca por liderança regional e global do presidente sul-africano, diz. 

Ao lado do Brasil, a África do Sul também é uma voz importante nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre agricultura e um intermediário entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.


Rússia: o debate sobre o 'R' dos Brics

Em agosto de 2023, durante o Fórum Empresarial do Brics em Joanesburgo, na África do Sul, o presidente Lula destacou a importância do bloco para o avanço dos países em desenvolvimento, classificando o grupo como a "força motriz" do 'Sul Global'. 

Mas há grande discussão em torno do papel do 'R' dos Brics entre os países em desenvolvimento.

Apesar de sua clara oposição às potências do Ocidente, há quem questione a inclusão da Rússia entre os países do 'Sul Global'.

"Assim como a China, a Rússia se encaixava nas leituras de potência média ou potência emergente quando esses conceitos se popularizaram. Mas vai ficando cada vez mais claro que são potências 'reemergentes' — foram grandes no passado, tiveram problemas e depois voltaram a crescer", diz Leonardo Ramos, da PUC-Minas.

O especialista ressalta, porém, que enquanto a China se alinhou mais ao 'Sul Global' por muitos anos — por sua política de não interferência —, a tensão da Rússia com o chamado "mundo Ocidental" sempre foi mais inflamada. 

Ao mesmo tempo, o governo russo parece interessado em promover a ideia de uma aliança contra o 'Norte Global' e usar alianças com o Sul a seu favor. 

"A Rússia vem se engajando de maneira explícita com alguns países do Sul Global nas últimas décadas, de forma a tentar desempenhar algum papel importante para que esses países votem com a Rússia em fóruns internacionais", diz Ramos. 

Em fevereiro, Moscou organizou o primeiro "Fórum pela Liberdade das Nações", com 400 delegados de 60 nações, para reunir os países do 'Sul Global' contra o que chamou de "neocolonialismo Ocidental".

No ano anterior, sediou uma reunião de cúpula entre Rússia e África, durante a qual o presidente Vladimir Putin anunciou o cancelamento de mais de US$ 20 bilhões em dívidas históricas de nações africanas, segundo a agência de notícias estatal Tass. 

O governo russo também fez lobby pela expansão dos Brics e enviou o ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, em várias viagens pelo 'Sul Global'.

Mas quando o tema é o confronto com a Ucrânia, o alinhamento absoluto não é a realidade.

China, Índia e Brasil adotaram uma posição mais neutra. Mas outros integrantes do 'Sul Global' têm demonstrado inclinação maior a apoiar o lado ucraniano, especialmente em votações nas Nações Unidas. 

Ainda assim, segundo o professor da PUC-Minas, os países do sul não deixam de ter um papel importante na política externa russa por representarem uma alternativa para importações e exportações em um momento de tensão e sanções internacionais. 

Os dados compilados pelo Índice Formal de Capacidade de Influência Bilateral (FBIC) também mostram um crescimento da influência de Moscou sob o G77 nas últimas décadas, com previsão de expansão ainda maior até 2035.

 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

A “desdolarização” fracassa na primeira tentativa - Vinod DSouza

BRICS: India Gets Reality Check, Ditching US Dollar Becomes Impossible

Vinod Dsouza

4/01/2024

BRICS member India had convinced 22 countries to accept the Rupee for international trade and ditch the US dollar. The majority of the countries hail from Asia, Africa, Latin America, and the global south. India also opened special Vostro bank accounts to make it easier to settle payments in their local currency, the Rupee. All the 22 countries had signed the agreement to trade a part of goods in the Rupee and sideline the US dollar.

However, things are not going as planned for India as the majority of countries are now unwilling to keep the Rupee as reserves. India finds no takers for the Rupee as the currency is declining against the US dollar. Hoarding the Rupee in reserves serves no purpose, as the demand for the currency lacks strength in the global market.

The default payment is now either the US dollar, Euro, Pound, Chinese Yuan, Japanese Yen, or UAE’s Dirhams. The Rupee is finding no seat at the table, making the idea of ditching the US dollar impossible.


at the table, making the idea of ditching the US dollar impossible.

Also Read: 25 New Countries Ready To Join BRICS in 2024

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

O que esperar de aliança por etanol que o Brasil, Índia e EUA devem lançar amanhã no G20 - Felipe Frazão (O Estado de S. Paulo)

 O que esperar de aliança por etanol que o Brasil, Índia e EUA devem lançar amanhã no G20

Por Felipe Frazão


ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLHI - 
Brasil, Índia e Estados Unidos planejam lançar neste sábado, 9, uma aliança global de biocombustíveis, como forma de fomentar, sobretudo, a produção e o consumo do etanol no mundo. Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden, e o anfitrião, o primeiro-ministro Narendra Modi, lideram a iniciativa e participam do evento de lançamento, em paralelo à 18ª Cúpula do G-20, em Nova Délhi. A iniciativa conta com o apoio do setor produtor de etanol no Brasil, e o governo vê na Índia um mercado potencialmente interessante para o biocombustível brasileiro. Analistas alertam, no entanto, que a demanda mundial pelo produto ainda é muito baixa. A aliança de biocombustíveis reúne três dos cinco principais produtores de etanol do mundo. Os EUA, com seu etanol de milho, respondem por 55% da produção mundial, segundo a RFA (Associação de Combustíveis Renováveis). Na vice-liderança do ranking, o Brasil produz o equivalente a 27% desse total. A Índia é a quinta colocada, com 3%, atrás da UE, com 4,8% e da China, com 3,1%. De olho em mercados emergentes 

A ideia da aliança, batizada de Global Biofuels Alliance – GBA (em inglês) surgiu de uma demanda da indústria de produção de etanol, que começou a se articular em janeiro com representantes do setor nos demais países. Participam as associações do setor privado de cada país: a brasileira Única, a indiana Isma - Indian Sugar Mills Association -, a norte-americana US Grains Council e a europeia ePure. Elas acabaram adiando o projeto, para inserir o setor público. Em julho, os ministros de Energia dos três países que encabeçam a estratégia lançaram a iniciativa em Goa, em reunião preparatória do G-20. O plano é vender biocombustível a nações em desenvolvimento, que podem ter no uso do etanol uma forma de redução da pegada de carbono no setor de transporte, seja terrestre, aéreo ou marítimo. 

 Nesse cenário, governo e setor privado apostam que a expansão do mercado global de etanol vai abrir caminho ainda para maior inserção no mundo da engenharia automotiva brasileira, que poderá virar uma referência por já ter consolidado o desenvolvimento de veículos a etanol, bi-combustíveis e autopeças. Biocombustíveis e descarbonizaçao Evandro Gussi, presidente da principal associação brasileira do setor, a Única (União da Indústria de Cana de Açúcar e Bionergia), afirma que o futuro é da coexistência de alternativas aos combustíveis fósseis. Segundo ele, o mercado vai se expandir globalmente nos próximos 25 anos com demanda crescente pelos biocombustíveis – até três vezes maior no transporte terrestre - e o desafio é convencer as indústrias a considerarem o etanol como alternativa em diversos mercados, para adaptação de automóveis, de aviões e embarcações. O argumento da Única é que nem sempre a solução da eletrificação basta. A Índia é considerada um caso que exemplifica o problema. Cerca de 76% da energia elétrica do país vem de combustíveis fósseis, sobretudo a queima de carvão mineral, um grande emissor de poluentes, que responde por cerca de 70%. Portanto, eletrificar a frota nacional não bastaria. É daí que vem a aposta no etanol. 

A África do Sul é outro exemplo de mercado potencial. “Temos que descarbonizar. Como vamos fazer depende da melhor solução, do que é mais apto para a situação econômica, social e ambiental de cada país e região”, afirma Gussi. “Eletrificação não é sinônimo de descarbonização. Se a energia elétrica é mais suja, o carro a etanol pode ser melhor do que o elétrico. Vamos ter espaço para os dois. " “Desde segurança para motores, sistema de injeção dos veículos, até controle da pegada de carbono, o Brasil produziu muita informação. A troca com indianos em larga escala fez com que entendêssemos mais e criamos um centro de excelência virtual onde tem um repositório desse material. A ideia agora é que isso se expanda numa aliança global de modo a acelerar esses processos nos demais países com vocação na Ásia, na África e na América Latina.” Índia como mercado estratégico 

Além do setor privado, o Itamaraty também vê o mercado indiano é estratégico. O governo de Narendra Modi anunciou recentemente um plano para aumentar a mistura do etanol na gasolina para 20%, até 2025. O primeiro-ministro passou a considerar o etanol como uma das prioridades estratégicas do país. Em 2019, a mistura era de 1,4% na gasolina, e agora está no patamar de 10%. “Não vamos exportar etanol para a Índia, mas garantir que possa ser parte da solução de descarbonização. Já existe na Índia a definição política de que o etanol é parte da solução, medida de segurança energética e de criação de empregos”, diz o embaixador do Brasil em Nova Délhi, Kenneth Nóbrega. “Vamos consolidar o etanol como rota tecnológica. Vamos exportar conhecimento, A oportunidade de ganharmos dinheiro é com o motor flexfuel, na cadeia de produção industrial, com propriedade intelectual, know-how, melhoria de processos na indústria do açúcar, máquinas e tecnologia de autopeças”, acrescenta. Baixa demanda internacional Na avaliação de João Victor Marques, pesquisador da FGV Energia,no entanto, um dos desafios da aliança será lidar com um mercado global que ainda tem uma baixa demanda pelo biocombustível. “Precisa criar uma demanda que muitos países não têm”, diz Marques. Hoje, a participação do biocombustível na matriz de consumo energético nos transportes é de 21% no Brasil, mas, na média global, é de apenas 4%. “Não tenho clareza de quais serão os instrumentos dessa cooperação que vai surgir entre os países, mas deve trazer algum tipo de geração de fomento de negócios”, afirma o pesquisador. Ainda de acordo com o especialista da FGV, a nova aposta no etanol precisa alcançar mais países para funcionar. “Esforços foram feitos no passado, no governo Bush e nos primeiros governos Lula, para tornar o etanol uma commodity internacional. Era uma iniciativa mais bilateral e que acabou sem um alcance global”, lembra. A Única também reconhece a necessidade de expansão do etanol para outros países. “Temos uma solução tecnológica que entrega a descarbonização que o mundo precisa, mas ela está muito concentrada no Brasil. 

Ficar com uma solução isolada, ilhada, em energia, não é inteligente. Ninguém quer um novo gás russo, ninguém quer um novo Oriente Médio da década de 1970″, cita Evandro Gussi. Como funcionará a aliança A aliança deve ser lançada com 19 países participantes, segundo estimativas de fontes envolvidas no projeto. Os países já deixaram prontos os protocolos de adesão e participação, com minutas de textos negociadas por diplomatas e os respectivos órgãos governamentais de energia. Eles vão criar uma organização interna da GBA. Brasil, Índia e Estados Unidos querem criar um “cinturão de bioenergia”, na zona tropical, para irradiar conhecimento, disseminar o consumo e estimular a produção etanol pelo mundo. A aliança vai fomentar ainda o biodiesel, o biometano e os SAF (Sustainable Aviation Fuels), cujo desenvolvimento também pode incluir o uso do etanol, por meio do processo conhecido como ATJ (Alcohol‐to‐Jet), para obtenção de bioquerosene de aviação. Entre os membros confirmados estão Argentina, Canadá, Paraguai, Bangladesh, Ilhas Seychelles, Ilhas Maurício, Quênia, Uganda e Emirados Árabes Unidos. Há interesse do setor de abrigar mais países em desenvolvimento na Ásia e na África. Na Europa, a Itália foi um dos únicos a manifestar interesse em ingressar, de acordo com embaixadores a par das negociações. 

Países da América Central também são vistos como potenciais integrantes. Além do Brasil, Índia e Estados Unidos, estarão representados no lançamento a África do Sul, a Argentina, os Emirados Árabes Unidos, a Itália e as Ilhas Maurício, dentre os membros da aliança; e Bangladesh, Canadá e Singapura, como observadores, segundo o governo federal. Entre os países vistos como potenciais produtores em grande escala, mapeados pelo setor privado, estão Indonésia, Tailândia, Vietnã, Paquistão, Filipinas, África do Sul, Moçambique, Angola, Quênia, Etiópia, Colômbia, Panamá e El Salvador. 
COLABOROU LUIZ GUILHERME GERBELLI 

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

O Brasil de Lula 3 no G20 da Índia - Paulo Roberto de Almeida (Revista Crusoé)

Meu artigo na Crusoé desta sexta-feira 1/09/2023, mas escrito antes do encontro, que é só na semana que vem:

O Brasil de Lula 3 no G20 da Índia

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Artigo sobre a reunião de cúpula do G20 na Índia.

Revista Crusoé (1/09/2023; link: https://oantagonista.com.br/mundo/crusoe-o-brasil-de-lula-3-no-g20-da-india/). Relação de Originais n. 4465; Relação de Publicados n. 1521. 

 

A 18ª reunião de cúpula do G20, a ser realizada em New Delhi, capital da Índia, não será propriamente uma novidade para Lula, que já participou dos primeiros encontros desse grupo desde que ele foi originalmente convocado para tratar da crise financeira de 2008, pelo próprio presidente George Bush, em Washington. O grupo deriva diretamente, embora em nível hierárquico inferior, do Financial Stability Forum, que por sua vez tinha nascido na crise financeira anterior, na segunda metade dos anos 1990. A diferença entre a natureza de um e outro grupo das economias mais relevantes do planeta está em que o antigo Forum tinha no seu certificado de nascimento uma crise, mais uma, de países em desenvolvimento, ao passo que o G20 deu seu primeiro passo, em nível de chefes de Estado, após a implosão da bolha imobiliária no mercado americano, seguida de seu impacto no sistema bancário e de seguros, se espalhando logo depois para os demais países desenvolvidos, devido aos efeitos sistêmicos dos derivativos financeiros criados a partir das hipotecas avalizadas por agências financeiras oficiais do governo americano e alegremente adquiridos por investidores da Europa e do Japão, certos de que o Triplo A atribuído a esses derivativos era para valer.

(...)

O G20 de Nova Delhi ocorre em outras condições, bem mais difíceis do que os exercícios anteriores, sob o impacto do segundo ano da guerra de agressão da Rússia à Ucrânia, de certo modo uma extensão da mudança de humor já iniciada quando da invasão e anexação ilegal da península da Criméia em 2014, quando a Rússia foi expelida do então “puxadinho” do G8, uma das várias sanções econômicas introduzidas contra o agressor pelos países ocidentais. Naquela ocasião, rompendo com a tradição do Itamaraty de estrito respeito às normas do Direito Internacional e de absoluto respeito à Carta da ONU, a presidente Dilma Rousseff não tomou qualquer posição a respeito da grave violação da soberania ucraniana, a pretexto de que tal invasão era um “problema interno da Ucrânia”. Foi um primeiro exemplo do baixo acatamento, pela diplomacia presidencial, dos padrões habituais do Itamaraty de adesão a princípios consagrados da legalidade internacional, práticas mais adiante continuadas, sob diferentes pretextos, pela diplomacia de Bolsonaro e de Lula 3.

(...)

Num contexto no qual o encantamento inicial com a terceira presidência Lula já deu mostras de arrefecimento junto aos principais governantes dos países ocidentais – em princípio, exatamente por causa da violação ao Direito Internacional causada pela Rússia e pouco enfatizada pelo governo Lula –, essa presidência do G20 pode ajudar a corrigir um pouco essa má percepção de suas atuais “alianças” internacionais, ou continuar a empanar a sua imagem  junto ao Ocidente e até a liderança na própria região, onde outros líderes progressistas – como Boric do Chile, ou Petro da Colômbia – já deram mostras de maior comprometimento com uma diplomacia fundada no respeito à Carta da ONU. Esperava-se mais de um governo declaradamente a favor, assim como o próprio Itamaraty, da estrita solução pacífica das controvérsias entre Estados. 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4465, 31 agosto 2023, 3 p.

sábado, 5 de agosto de 2023

Índia e Rússia suspendem negociações sobre pagamentos em rúpias (CNN)

 Alguém aí espera comércio em moedas locais no BRICS nos próximos anos?


"Índia e Rússia suspendem negociações sobre pagamentos em rúpias
CNN, July 5, 2023
https://www.cnnbrasil.com.br/economia/india-e-russia-suspendem-negociacoes-sobre-pagamentos-em-rupias/?fbclid=IwAR15xS_XxYp8Xh7wjCMX_LzHTfnwlCZlmeYyZQD-cjfOvx7_k6-oXRct_bY 

Os dois lados iniciaram conversas sobre facilitar comércio em moedas locais, mas não houve avanço e nada foi fechado entre os países.

A Índia e a Rússia suspenderam os esforços para resolver o comércio bilateral em rúpias, depois que meses de negociações não conseguiram convencer Moscou a manter as rúpias em seus cofres, disseram dois funcionários do governo indiano e uma fonte com conhecimento direto do assunto.
Isso seria um grande revés para os importadores indianos de petróleo e carvão baratos da Rússia, que aguardavam um mecanismo permanente de pagamento em rúpias para ajudar a reduzir os custos de conversão de moeda.
Com um grande déficit comercial em favor da Rússia, Moscou acredita que terminará com um superávit anual de rúpias de mais de US$ 40 bilhões se tal mecanismo for trabalhado e sente que o acúmulo de rúpias é “indesejável”, disse um funcionário do governo indiano, que não quer ser identificado.
O Ministério das Finanças da Índia, o Banco Central da Reserva da Índia e as autoridades russas não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
A rupia não é totalmente conversível. A participação da Índia nas exportações globais de bens também é de apenas cerca de 2% e esses fatores reduzem a necessidade de outros países manterem rúpias.
A Índia começou a explorar um mecanismo de liquidação em rúpias com a Rússia logo após a invasão da Ucrânia em fevereiro do ano passado, mas não houve nenhum acordo relatado em rúpias.
A maior parte do comércio é em dólares, mas uma quantidade crescente está sendo realizada em outras moedas, como o dirham dos Emirados Árabes Unidos.

Os dois lados falaram sobre facilitar o comércio em moedas locais, mas as diretrizes não foram formalizadas.

A Rússia não se sente confortável em manter rúpias e quer ser paga em yuan chinês ou outras moedas, disse um segundo funcionário do governo indiano envolvido nas discussões.

“Não queremos mais forçar a liquidação de rúpias, esse mecanismo simplesmente não está funcionando. A Índia tentou tudo o que pôde para tentar fazer isso funcionar, mas não ajudou”, disse uma terceira fonte que está diretamente ciente dos desenvolvimentos. disse.

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro do ano passado, as importações da Índia da Rússia subiram para US$ 51,3 bilhões até 5 de abril, de US$ 10,6 bilhões no mesmo período do ano anterior, segundo outro funcionário do governo indiano.

O petróleo constituiu grande parte das importações da Índia, aumentando doze vezes no período. As exportações da Índia no mesmo período caíram ligeiramente para US$ 3,43 bilhões, de US$ 3,61 bilhões no ano anterior, disse o funcionário.

Outro funcionário disse que os dois países começaram a procurar alternativas depois que o mecanismo de liquidação em rúpias não funcionou, mas não deu detalhes.

As fontes disseram que o comércio com a Rússia continua, apesar das sanções e problemas de pagamento.
No momento, estamos fazendo alguns pagamentos em dirham e algumas outras moedas, mas a maioria ainda é em dólares. A liquidação está acontecendo de maneiras diferentes, países terceiros também estão sendo usados”, disse um dos funcionários do governo.

Os comerciantes indianos também estão liquidando alguns dos pagamentos comerciais fora da Rússia, disseram as autoridades.

“Terceiros estão sendo usados para liquidar o comércio com a Rússia. Não há proibição de transações com outros países via Swift. Portanto, os pagamentos estão sendo feitos a um terceiro país que o encaminha ou compensa para seu comércio com a Rússia”, disse outro funcionário.

Sobre se o dinheiro também estava sendo encaminhado via China, o funcionário disse: “Sim, incluindo a China”

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

As coisas no BRICS andam um pouco confusas, para dizer o mínimo...

 Heads of state from Brazil, Russia, India, China and South Africa will make a pronouncement on the enlargement of the group when they meet 


A planned announcement on the expansion of BRICS at a forthcoming summit in South Africa will mark a significant change in the global order, the nation’s ambassador to the five-nation bloc said, even as some of its members push back against new admissions.

Heads of state from Brazil, Russia, India, China and South Africa will make a pronouncement on the enlargement of the group when they meet Aug. 22-24, Anil Sooklal said in a lecture at the University of KwaZulu-Natal on Wednesday. Twenty-two nations have asked formally to become full-time members of the group, and more than 20 others have submitted informal requests.

China favors a rapid expansion of the bloc, which will require consensus among its members. But it has encountered opposition from India, which wants strict rules on how and when other nations could move closer to the group without formally enlarging it, and from Brazil, which is wary of alienating the US and European Union, according to officials with knowledge of the matter. 

“BRICS has been a catalyst for a tectonic change you will see in the global geopolitical architecture starting with the summit,” Sooklal said. While he emphasized that the bloc doesn’t see itself as a counterweight to any other organization, he said its expansion was stoking anxiety and opposition among nations in “privileged positions.” 

Russian leader Vladimir Putin will participate at the gathering virtually, avoiding the risk of possible arrest on a warrant from the International Criminal Court for alleged war crimes if he travels to South Africa, which is a member of the tribunal.

A decision on whether Indian Prime Minister Narendra Modi will attend has yet to be taken, although necessary security arrangements have been made and other pre-visit formalities have been completed, according to a person with knowledge of the matter. While Modi’s absence may be viewed as a snub to the host and he would miss out on bilateral meetings with other leaders, India isn’t comfortable with him holding talks with Chinese President Xi Jinping while a border dispute remains unresolved, they said. 

So far, representatives from 71 nations have been invited to attend the summit, according to Sooklal. 

“This will be the largest gathering in recent time of countries from the Global South coming together to discuss the current global challenges,” he said. 

Formed officially in 2009-2010, BRICS has struggled to have the kind of geopolitical influence that matches its collective economic reach. The bloc’s members represent more than 42% of the world’s population and account for 23% of global gross domestic product and 18% of trade.

An expanded BRICS will account for “almost 50% of the global population and over 35% of global GDP and that figure will grow,” Sooklal said. He also highlighted the role that the bloc’s leaders were playing in trying to end Russia’s war in Ukraine.

“There is no tangible evidence that any one of the BRICS countries, South Africa included, is feeding weapons into that conflict,” he said. “But there is clear evidence to the global community that the West is pumping billions of dollars into that conflict and the conflict is raging, so who is talking peace and who is talking war?”

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Zelenski viajará ao G7 por apoio e deve pressionar Índia e Brasil - Nelson de Sá (FSP)

 Zelenski viajará ao G7 por apoio e deve pressionar Índia e Brasil

Ucraniano busca fortalecer compromisso de EUA e do grupo após quase 16 meses de guerra, segundo jornais

Nelson de Sá
Folha de S. Paulo, 19.mai.2023

HIROSHIMA - Autoridades ocidentais divulgaram para jornais como Financial Times e The New York Times que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, irá viajar ao Japão para participar presencialmente da cúpula do G7, que vai até domingo (21) em Hiroshima. No momento, como ele próprio informou por mídia social, Zelenski está na Arábia Saudita.

O objetivo da ida ao G7 seria fortalecer o compromisso com a Ucrânia dos integrantes do grupo, que reúne algumas das maiores economias desenvolvidas, "e assegurar o apoio de Índia e Brasil, não integrantes do G7", de acordo com o FT, citando fontes anônimas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi estão na cúpula como convidados.

De acordo com o NYT, várias autoridades disseram que "a presença de Zelenski pode tornar mais difícil para os líderes de Índia, Brasil e outras nações se manterem relutantes em apoiar a Ucrânia" contra a Rússia. Desde o início da guerra, a Índia evitou se afastar do aliado tradicional, até ampliando a compra de petróleo russo, e o Brasil se recusou a enviar armas para Kiev, como proposto pela Alemanha. Tanto Modi como Lula, por outro lado, já conversaram com Zelenski por telefone.

A participação do ucraniano é esperada para o domingo. É quando Modi, Lula e outros convidados participam ao lado de EUA e dos demais integrantes do G7 da sessão de trabalho "Rumo a um mundo pacífico, estável e próspero". Lula deverá falar em favor das iniciativas de paz para a Ucrânia externas ao G7, lançadas por Brasil, China e agora países africanos, encabeçados pela África do Sul.

Prevista inicialmente para as 10h do domingo, horário local, a sessão foi transferida para as 11h45. Índia e Brasil, que vinham buscando viabilizar uma reunião bilateral durante a cúpula, marcaram o encontro de Modi e Lula para as 10h40, imediatamente antes. Espera-se agora que os dois países emergentes, integrantes do grupo Brics, conversem sobre a guerra antes de entrarem para a sessão de trabalho com os demais.

Zelenski vem de se encontrar no início da semana com o enviado chinês, Li Hui, para discutir uma saída para o conflito, durante visita de dois dias do representante de Pequim a Kiev. Em comunicado após as conversas, o ministério ucraniano do exterior disse que não irá aceitar perda de território ou congelar a guerra nas posições atuais. Li disse que não há panaceia para resolver a crise e "todas as partes precisam começar por si mesmas, criar condições para se engajar em negociações".

A participação presencial do ucraniano vinha sendo especulada, inclusive por autoridades de Kiev, sem confirmação formal em Hiroshima. Na quinta (18), o ministério japonês do exterior reafirmou que ele participaria apenas virtualmente, por vídeo, no domingo. Até o momento, não houve divulgação oficial, por parte de Japão, EUA ou de outros governos, sobre a viagem de Zelenski ao G7.

O G7 foi aberto nesta sexta-feira, com uma cerimônia no Memorial da Paz em Hiroshima, da qual participaram os líderes dos países do grupo, Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá. Em seguida, os sete governantes abordaram em reunião a Guerra da Ucrânia e divulgaram um comunicado.

Nele, reafirmaram o apoio a Kiev e anunciaram novas sanções econômicas, agora contra o comércio de diamantes russos. Mas o veto à retomada futura do fornecimento de gás russo à Europa, via gasoduto Nord Stream e outros, que chegou a ser noticiado por jornais ocidentais, ficou de fora.


sexta-feira, 5 de maio de 2023

Group led by China, Russia criticizes global institutions - ABC News (Índia)

Group led by China, Russia criticizes global institutions

Foreign ministers from a group of nations led by China and Russia have criticized the ability of world institutions to resolve geopolitical problems, including the coronavirus pandemic, and said their organization should do more to address such challenges


ByKRUTIKA PATHI Associated Press
May 5, 2023, 5:04 AM








PANAJI, India -- Foreign ministers from a group of nations led by China and Russia criticized on Friday the ability of world institutions to resolve geopolitical problems, including the coronavirus pandemic, and said their organization should do more to address such challenges.

Indian Foreign Minister Subhramanyam Jaishankar said in remarks at a meeting of the Shanghai Cooperation Organization that the crises have disrupted global supply chains and have hit developing nations the hardest.

They have “exposed a credibility and trust deficit in the ability of global institutions to manage challenges in a timely and efficient manner,” he said, adding that alternative organizations like the SCO can help address such challenges.

“With more than 40% of the world’s population within the SCO, our collective decisions will surely have a global impact,” he said.

Russia and China founded the SCO in 2001 as a counterweight to U.S. alliances across East Asia to the Indian Ocean. The group includes the four Central Asian nations of Kazakhstan, Kyrgyzstan, Tajikistan and Uzbekistan, which Russia considers its backyard. In 2017, India and Pakistan became members, and Iran and Belarus are set to join later this year.

Russia and China have sought to reduce the dominance of what they see as U.S. and Western-led global institutions and alliances, and China accuses Washington of attempting to contain its economic and military rise.

Chinese Foreign Minister Qin Gang told the foreign ministers that “the world is faced with multiple crises and challenges featuring a resurgence of the Cold War mentality, headwinds of unilateral protectionism, as well as rising hegemonism and power politics,” China's official Xinhua News Agency reported.

“SCO members should support each other in safeguarding sovereignty, security and development interests, and oppose external forces interfering in regional issues,” he said.

At a briefing after the meeting, Jaishankar dismissed questions about whether the SCO is anti-Western, saying, “how people perceive it is something I cannot answer for.” Instead, he stressed India's “multidirectional foreign policy” and said “it's not always possible that all our partners get along with other partners.”

India enjoys strong ties with Cold War ally Russia, while its relations with the United States have warmed in recent years and its ties with China have cooled over a border dispute. It is increasingly seen by the West as a counterweight to China's growing global ambitions.

Jaishankar did not mention Russia's war in Ukraine, and analysts said Moscow was unlikely to face a backlash over its invasion from the SCO and would instead use the meeting to flex its influence in the region. For Russia, the SCO remains one of the few international groups where it can still comfortably engage with members and further ties.

The visit by Pakistan's foreign minister to archrival India to attend the meeting was the first by a high-ranking Pakistani official in nearly a decade. Jaishankar stressed the need to stop cross-border terrorism in his remarks, a dig at Pakistan, which India accuses of arming and training rebels fighting for the independence of Indian-controlled Kashmir or its integration into Pakistan, a charge Islamabad denies.

“Let’s not get caught up in weaponizing terrorism for diplomatic point scoring,” Pakistan Foreign Minister Bilawal Bhutto Zardari said in his opening remarks.

Despite speculation, India and Pakistan did not hold bilateral talks on the sidelines of the meeting. “Victims of terrorism do not sit together with perpetrators of terrorism to discuss terrorism,” Jaishankar said at the briefing.

Jaishankar held separate talks with his Chinese and Russian counterparts on Thursday.

The meeting with Chinese Foreign Minister Qin came amid continued tensions along their disputed border, where a three-year standoff involves thousands of soldiers stationed in the eastern Ladakh region.

Qin earlier said the border situation was “stable overall” and that both sides should abide by existing agreements to “promote the further cooling and easing of the border situation and maintain sustainable peace and tranquility in the border area,” according to China’s Foreign Ministry.

India did not release a statement after the meeting, but Jaishankar said relations between the two countries were not normal and “cannot be if peace and tranquility in border areas is disturbed.”

Qin also met with Russian Foreign Minister Sergey Lavrov on Thursday. China is the biggest buyer of Russian oil and gas exports, pumping billions of dollars into the Russian treasury and helping the Kremlin resist Western sanctions over its invasion of Ukraine.

Beijing is also trying to present itself as a global diplomatic force and has said it is willing to serve as a mediator in the war.

Last month, Chinese leader Xi Jinping said Beijing will send an envoy to Ukraine to discuss a possible political settlement.

China has blamed the U.S. and NATO for provoking Russia and refused to criticize Moscow’s actions. However, it has refrained from issuing a full-throated endorsement of the invasion and is not known to have provided arms or other material assistance to the Russian military effort.