Zelenski viajará ao G7 por apoio e deve pressionar Índia e Brasil
Ucraniano busca fortalecer compromisso de EUA e do grupo após quase 16 meses de guerra, segundo jornais
Nelson de Sá
Folha de S. Paulo, 19.mai.2023
HIROSHIMA - Autoridades ocidentais divulgaram para jornais como Financial Times e The New York Times que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, irá viajar ao Japão para participar presencialmente da cúpula do G7, que vai até domingo (21) em Hiroshima. No momento, como ele próprio informou por mídia social, Zelenski está na Arábia Saudita.
O objetivo da ida ao G7 seria fortalecer o compromisso com a Ucrânia dos integrantes do grupo, que reúne algumas das maiores economias desenvolvidas, "e assegurar o apoio de Índia e Brasil, não integrantes do G7", de acordo com o FT, citando fontes anônimas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi estão na cúpula como convidados.
De acordo com o NYT, várias autoridades disseram que "a presença de Zelenski pode tornar mais difícil para os líderes de Índia, Brasil e outras nações se manterem relutantes em apoiar a Ucrânia" contra a Rússia. Desde o início da guerra, a Índia evitou se afastar do aliado tradicional, até ampliando a compra de petróleo russo, e o Brasil se recusou a enviar armas para Kiev, como proposto pela Alemanha. Tanto Modi como Lula, por outro lado, já conversaram com Zelenski por telefone.
A participação do ucraniano é esperada para o domingo. É quando Modi, Lula e outros convidados participam ao lado de EUA e dos demais integrantes do G7 da sessão de trabalho "Rumo a um mundo pacífico, estável e próspero". Lula deverá falar em favor das iniciativas de paz para a Ucrânia externas ao G7, lançadas por Brasil, China e agora países africanos, encabeçados pela África do Sul.
Prevista inicialmente para as 10h do domingo, horário local, a sessão foi transferida para as 11h45. Índia e Brasil, que vinham buscando viabilizar uma reunião bilateral durante a cúpula, marcaram o encontro de Modi e Lula para as 10h40, imediatamente antes. Espera-se agora que os dois países emergentes, integrantes do grupo Brics, conversem sobre a guerra antes de entrarem para a sessão de trabalho com os demais.
Zelenski vem de se encontrar no início da semana com o enviado chinês, Li Hui, para discutir uma saída para o conflito, durante visita de dois dias do representante de Pequim a Kiev. Em comunicado após as conversas, o ministério ucraniano do exterior disse que não irá aceitar perda de território ou congelar a guerra nas posições atuais. Li disse que não há panaceia para resolver a crise e "todas as partes precisam começar por si mesmas, criar condições para se engajar em negociações".
A participação presencial do ucraniano vinha sendo especulada, inclusive por autoridades de Kiev, sem confirmação formal em Hiroshima. Na quinta (18), o ministério japonês do exterior reafirmou que ele participaria apenas virtualmente, por vídeo, no domingo. Até o momento, não houve divulgação oficial, por parte de Japão, EUA ou de outros governos, sobre a viagem de Zelenski ao G7.
O G7 foi aberto nesta sexta-feira, com uma cerimônia no Memorial da Paz em Hiroshima, da qual participaram os líderes dos países do grupo, Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá. Em seguida, os sete governantes abordaram em reunião a Guerra da Ucrânia e divulgaram um comunicado.
Nele, reafirmaram o apoio a Kiev e anunciaram novas sanções econômicas, agora contra o comércio de diamantes russos. Mas o veto à retomada futura do fornecimento de gás russo à Europa, via gasoduto Nord Stream e outros, que chegou a ser noticiado por jornais ocidentais, ficou de fora.
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