Guerra na Ucrânia – depois da batalha de Artyomovsk
Análise do estado atual do teatro de guerra e o significado da batalha de Artyomovsk para russos e ucranianos
A Rússia declarou vitória na Batalha de Artyomovsk no sábado, 21 de maio, depois de 224 dias de combates. Volodymyr Zelensky previu, no início de março, que seus oponentes poderiam avançar pelo resto do Donbass se isso acontecesse, razão pela qual o líder ucraniano ordenou às suas forças que lutassem até o fim, apesar de os Estados Unidos o terem aconselhado a retirar-se dali já em janeiro. Este artigo avalia o estado atual da situação com o objetivo de obter uma melhor ideia do que poderá vir a seguir.
Artyomovsk não é uma cidade estratégica
Não há nada de especial em Artyomovsk que a distinga de outras cidades de tamanho semelhante no Donbass, embora seu controle, de uma forma ou de outra, possa facilitar o acesso ao resto das posições mais estratégicas da região.
Em vez de retirar pragmaticamente suas forças para salvar vidas e reforçar posições muito mais facilmente defensáveis em outros locais, Volodymyr Zelensky decidiu transformar Artyomovsk em outra Mariupol por razões puramente políticas relacionadas com o reforço do moral de suas tropas e com o fomento da guerra de informação anti-russa.
A Rússia virou o jogo
À medida que a Batalha de Artyomovsk se arrastava, Volodymyr Zelensky tentou justificar sua decisão de não se retirar com o falso argumento de que queria esmagar as forças de seu adversário e ganhar tempo para a contraofensiva de Kiev, mas a Rússia virou o jogo, esmagando as forças dele e ganhando tempo para preparar seus próprios planos.
O plano de Volodymyr Zelensky para reforçar o moral de sua tropa ao longo desta batalha saiu totalmente pela culatra depois que a vitória da Rússia mostrou que milhares de ucranianos morreram literalmente por nada, o que pode levar a uma crise de confiança com implicações de longo alcance para este conflito se ele não reparar rapidamente este dano.
A cisão entre o Ministério da Defesa russo e o Grupo Wagner
Apesar dos receios de que a escalada da rivalidade entre o Ministério da Defesa e o Grupo Wagner pudesse fazer com que a Rússia perdesse a Batalha de Artyomovsk, ao final, ela não se revelou fatal e parece ter sido gerida discretamente pelo presidente Vladimir Putin, como demonstrado no domingo pelo agradecimento a ambos por esta vitória.
A contraofensiva de Kiev apoiada pela OTAN parece ser iminente
Volodymyr Zelensky precisa recuperar urgentemente o moral de sua tropa e mostrar à população de seus patronos ocidentais que a ajuda militar fornecida pelos contribuintes, no valor de 165 bilhões de dólares, foi utilizada para alguma coisa, talvez até mesmo para tentar invadir o território russo antes de 2014, razão pela qual a contraofensiva de Kiev apoiada pela OTAN parece ser iminente.
A proposta de Henry Kissinger para que a Ucrânia se junte à OTAN e o artigo do Politico prevendo um conflito congelado do tipo coreano sugerem que os EUA, o Reino Unido e/ou a Polônia farão promessas de segurança a Kiev na próxima cúpula do bloco, tal como as que os EUA fizeram à Finlândia e à Suécia em maio passado ou à Coreia do Sul após o armistício.
A pressão por um cessar-fogo
A China, a Arábia Saudita, alguns países africanos e o Vaticano pressionam por um cessar-fogo, mas as perspectivas de que isso seja bem sucedido (independentemente de quem desempenha esse papel) dependerão em grande medida do resultado da próxima contraofensiva de Kiev e da próxima Cúpula da OTAN.
A menos que Kiev, apoiada pela OTAN, ou a Rússia consiga um avanço militar até o final do ano, um cessar-fogo de algum tipo parece inevitável, tornando assim seus respectivos esforços de gestão da percepção fundamentais, uma vez que terão que convencer sua população de que ganharam mesmo que não tenham atingido seus objetivos máximos.
Teorias da conspiração
Quer se trate da teoria da conspiração “xadrez 5D”, que afirma que “tudo está acontecendo de acordo com o plano”, ou da teoria da “perdição e melancolia”, que diz a todos para “abandonarem todas as esperanças”, os apoiadores de ambos os lados vão certamente deparar-se com estas falsas narrativas com mais frequência à medida que a guerra por procuração entre a OTAN e a Rússia entra na sua próxima fase.
As observações acima partilhadas sobre o estado atual deste conflito sugerem que este se intensificará em breve com o início da contraofensiva de Kiev apoiada pela OTAN, mas que não é provável qualquer avanço de ambos os lados, a menos que o comando e controle e/ou a logística entrem em colapso. Qualquer uma destas situações pode acontecer devido aos ataques do adversário e/ou a intrigas internas, mas nenhuma delas deve ser considerada um fato consolidado. Assim sendo, um cessar-fogo ao longo da linha de contato poderá começar a ser seriamente discutido no final do ano.
*Andrew Korybko é mestre em Relações Internacionais pelo Instituto Estadual de Relações Internacionais de Moscou. Autor do livro Guerras Híbridas – Das Revoluções Coloridas aos Golpes(Expressão Popular).
Tradução: Fernando Lima das Neves.
Publicado originalmente na newsletter do autor.
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