Líder do grupo Wagner afirma que perdeu 20 mil homens em Bakhmut e que invasão à Ucrânia criou um dos Exércitos mais poderosos do mundo
Em entrevista a um blogueiro militar russo, Yevgeny Prigojin afirmou que objetivo de desmilitarizar Ucrânia falhou, defendeu decreto de lei marcial e apontou risco de revolução na Rússia
Por O Globo, com agências internacionais
O líder do Grupo Wagner, unidade paramilitar que combate ao lado das tropas russas na Ucrânia, Yevgeny Prigojin, afirmou que a invasão ordenada por Moscou contra seu vizinho do oeste falhou no objetivo de desmilitarizar Kiev, transformando as forças armadas inimigas em uma das "mais poderosas do mundo". A declaração de Prigojin foi feita em uma entrevista ao blogueiro militar russo Konstantin Dolgov, publicada em uma plataforma de vídeos russa nesta quarta-feira, na qual ele também admitiu ter perdido 20 mil homens durante os confrontos em Bakhmut.
— No que diz respeito à desmilitarização... se eles tinham 500 tanques no início da operação especial, [agora] eles têm 5 mil tanques. Se eles tinham 20 mil pessoas capazes e treinadas para lutar, agora 400 mil pessoas sabem como lutar. Como nós os desmilitarizamos? Acontece que o oposto é verdadeiro - nós os militarizamos — disse o chefe do grupo Wagner.
Prigojin ainda descreveu o Exército do país vizinho como forças com "alto nível de habilidades organizacionais, um alto nível de treinamento e um alto nível de inteligência", além de terem sido capacitados a utilizar uma vasta gama de equipamentos militares, aos quais tiveram acesso.
— Eles têm diferentes tipos de armas e, o que é mais importante, eles podem trabalhar com facilidade e sucesso com todos os sistemas: soviético, Sistemas da Otan... você escolhe.
Risco de revolução
Diante das dificuldades no campo de batalha e vendo os objetivos militares estabelecidos no início da operação especial para desnazificar a Ucrânia (como o Kremlin oficialmente de refere à invasão) cada vez mais distantes, o líder mercenário também fez previsões catastróficas sobre o possível futuro da Rússia, apontando a possibilidade de rebeliões internas desestabilizarem o país.
— Estamos em uma situação em que nós podemos simplesmente perder a Rússia — disse Prigojin, defendendo que o governo decrete Lei Marcial enquanto durar o conflito — Nós precisamos introduzir a lei marcial. Nós, infelizmente, precisamos anunciar novas ondas de mobilização militar; nós precisamos colocar todo mundo que é capaz de trabalhar para aumentar a produção de munição. A Rússia precisa viver como a Coreia do norte por alguns anos, no sentido de fronteiras fechadas e trabalho duro.
O líder paramilitar também aproveitou a entrevista para alfinetar integrantes da alta cúpula do poder militar russo, como o Ministro da Defesa, Serguei Shoigu — com quem discutiu publicamente outras vezes durante a guerra, pedindo mais apoio e munição a suas tropas.
De acordo com Prigojin, a elite russa continua a esbanjar um padrão de vida muito acima dos cidadãos comuns, que estão sendo diretamente afetados pela guerra e pelas sanções impostas à Rússia.
— Os filhos da elite fecham ficam calados na melhor das hipóteses, e alguns se permitem uma vida pública, farta e despreocupada. Esta divisão pode terminar como em 1917, com uma revolução, quando primeiro os soldados se levantarem e depois seus entes queridos o seguirem.
Perdas no campo de batalha
O líder do grupo mercenário também afirmou que a conquista de Bakhmut cobrou um preço alto em vidas, causando uma baixa de aproximadamente 20 mil homens em suas tropas. Segundo Prigojin, cerca de 10 mil dos prisioneiros recrutados nas prisões russas morreram na linha de frente, enquanto uma proporção semelhante de combatentes profissionais também tombou.
— Selecionei 50 mil detentos, dos quais 20% morreram — disse Prigozhin na entrevista, que teve mais de uma hora de duração.
Apesar disso, garantiu, o número de baixas no grupo Wagner foi inferior às registradas no lado ucraniano: — Tenho três vezes menos mortos (...) e cerca de duas vezes menos feridos — disse.
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