Quando Milei assumiu, empunhando a sua motosserra, apontei uma inconsistência grave de sua política macroeconômica: ao invés de liberar o câmbio, Milei optou por uma maxidesvalorização do peso e subsequente regime de câmbio administrado. Era o justo oposto de alguém que havia prometido acabar com o Banco Central e adotar o dólar como moeda.
Seus fãs o defenderam, dizendo que não dava para liberar o câmbio logo de cara, com todas as distorções acumuladas pela economia argentina nas últimas décadas. Era preciso, primeiro, arrumar a casa, para, depois, liberar o câmbio. Justo. Ainda que, observei, esse tipo de política vai armando uma armadilha ao longo do tempo, pois o câmbio administrado é uma espécie de crack, que vai viciando o usuário ao longo do tempo, ao permitir ancorar a inflação sem muito esforço.
O gráfico do peso argentino (abaixo) é idêntico ao gráfico do Real entre 1995 e 1999, quando adotamos o mesmo regime de câmbio administrado.
Durou quase 4 anos, mas foi pelos ares depois da crise que se abateu sobre os mercados emergentes, atingindo México em 1995, tigres asiáticos em 1997, Rússia em 1998, Brasil em 1999 e, finalmente, Argentina em 2001, todos obrigados a abandonar regimes de câmbios administrados. No Brasil, substituímos o câmbio administrado pelas taxas de juros mais altas do mundo, pois não conseguimos eliminar as distorções de nossa economia. Deste grupo, a Argentina foi a única que voltou a administrar o câmbio, e, não coincidentemente, o único que ainda depende do FMI para enfrentar crises de balanço de pagamentos.
Milei chama de “trapaceiros econômicos” aqueles que apontam as distorções que voltam a se acumular na economia argentina. Na verdade, é o câmbio administrado a verdadeira trapaça econômica.
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