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quinta-feira, 27 de março de 2025

O duplo desafio do século XXI - Paulo Roberto de Almeida

O duplo desafio do século XXI

Paulo Roberto de Almeida


Depois de séculos e séculos de guerras, massacres e hostilidades, o mundo caminhava para certa tranquilidade sob as regras mais ou menos aceitáveis do multilateralismo onusiano, quando irrompe a vontade reconquistadora de um cleptocrata frustrado com a diminuição do velho império das estepes e começa a avançar sobre terras vizinhas, as da Europa central e oriental. Os modos são os mais violentos jamais vistos desde a IIGM. É a morte novamente.

Não bastasse a violência armada, irrompe do outro lado do cenário um touro desembestado que começa a disparar mísseis tarifários contra antigos aliados e grandes parceiros comerciais, causando grande caos na economia mundial, destruindo as bases do multilateralismo comercial criado simultaneamente à ONU.

Nenhum dos dois autocratas respeita as regras penosamente costuradas ao cabo do maior conflito global da história da Humanidade. Ambos continuam a se guiar mais por seus instintos agressivos do que pelas normas mais elementares de um Direito internacional dificilmente erigido sobre os escombros da IIGM.

Atento à espreita, medindo as ações, está um velho império do passado que se prepara para recolher os ganhos de oportunidade que os dois impérios turbulentos do presente lhe estão oferecendo praticamente de graça.

À margem, sem qualquer capacidade de reação coordenada, contemplam o cenário desolador atores médios e pequenos que observam a luta dos dois gigantes, não um contra o outro, mas ambos contra a racionalidade, a paz e a segurança da humanidade. 

Tempos difíceis e imprevisíveis, mas não haverá um novo conflito global, apenas a autodestruição irracional do que foi construído nos últimos 80 anos de uma paz precária, indefesa em face de déspotas egocêntricos.

Não sabemos ainda a extensão do desastre e o que perdurará a despeito da ação dos elefantes loucos. Cabe apenas recomendar resiliência e cautela, até que eles se esgotem em suas iniciativas autodestruidoras.

Ao Brasil não cabe escolher nenhum dos lados irracionais, apenas manter valores e princípios de sua postura diplomática tradicional. 

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 27/03/2025


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