O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Biden. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Biden. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

A questão palestina - Rubens Barbosa (Estadão)

 A QUESTÃO PALESTINA

Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 13/02/2024

       

        Continua a crescer a pressão da opinião pública mundial por uma solução a médio e longo prazo para a dramática situação no Oriente Médio, a fim de evitar a escalada do conflito entre Israel e Hamas e de buscar um entendimento que permita a estabilização política, econômica e militar na região.

       Os altos custos do apoio militar para a Ucrânia e a aproximação da eleição presidencial nos EUA, com forte impacto negativo à candidatura de Biden, são agravados, no curto prazo, pela multiplicação dos incidentes militares, com o risco da situação sair do controle, e pela necessidade de garantir a segurança de Israel e a viabilização do Estado Palestino.

        Com esse pano de fundo, o governo de Washington lançou um balão de ensaio com o vazamento de um esboço de proposta por meio de comentários no New York Times e no The Economist, com grande repercussão.

        Segundo se noticia, estaria havendo conversas sigilosas no sentido de viabilizar um amplo plano de paz - hoje de difícil aceitação por todas as partes envolvidas -, mas que poderá, com concessões de todos, tornar possível vislumbrar uma luz no fim do túnel, caso a posição do governo norte-americano se mantenha firme e os entendimentos se intensifiquem.

        Assim, a política dos EUA em relação a região parece estar evoluindo. O presidente Biden anunciou inéditas sanções contra colonos israelenses que promovem violência contra palestinos na Cisjordânia. Thomas Friedman, no New York Times, prevê uma nova “Doutrina Biden” para o Oriente Médio. As linhas principais dessa nova política americana passariam por uma atitude firme em relação ao Irã, por uma forte pressão sobre Israel, para que aceite a criação de um Estado Palestino, e pelo fortalecimento da aliança com a Arábia Saudita, que reconheceria diplomaticamente Israel. The Economist acrescenta que, em meio a intensa ação diplomática, lideradas pelos EUA e Arábia Saudita, o plano estaria tomando forma, a partir das negociações para a liberação dos reféns em poder do Hamas, (Netanyahu recusou a  última proposta do Hamas), para modificar a política interna israelense e permitir a possibilidade de criação do Estado Palestino.

        O primeiro passo seria uma posição dura em relação ao Irã, incluindo uma retaliação militar robusta contra aliados e agentes do Irã na região (Houthis, ISIS e outros grupos) em resposta às mortes dos três soldados americanos em uma base na Jordânia, por um drone aparentemente lançado por uma milícia pró-Irã ativa no Iraque. O segundo eixo consistiria em uma iniciativa diplomática sem precedentes, para promover um Estado palestino, que envolveria alguma forma de reconhecimento pelos EUA de um Estado palestino desmilitarizado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que passaria a existir somente depois que os palestinos tivessem desenvolvido um arcabouço de instituições definidas e críveis, assim como capacidades de garantir que esse Estado seja viável e incapaz de ameaçar Israel. O governo norte-americano estaria mantendo consultas dentro e fora do governo americano a respeito das diferentes formas que esse reconhecimento do estatuto de Estado dos palestinos poderia assumir. O terceiro eixo seria uma aliança de segurança ampliada dos EUA com a Arábia Saudita que também envolveria a normalização das relações dos sauditas com Israel, com reconhecimento mútuo e com garantias de segurança respaldadas pelo governo norte-americano. Seria a retomada dos entendimentos entre a Arabia Saudita e Israel (acordo de Abraão) para o reconhecimento do Estado de Israel, se o governo israelense estiver preparado para aceitar um processo diplomático que leve a criação de um Estado palestino desmilitarizado, liderado por uma Autoridade Palestina fortalecida.

       A primeira fase está em curso com os ataques dos EUA aos grupos terroristas no Iraque, na Síria e no Yemen. Como nem os EUA, nem o Irã, nem os países do Golfo querem uma escalada da guerra na região, a fase inicial teria de ser concluída com o controle dos grupos terroristas financiados por Teerã. As conversas reservadas entre EUA, Arabia Saudita, Irã e Israel mostrarão se as duas etapas seguintes da estratégia serão viáveis a médio prazo.

         O ataque terrorista de 7 de outubro contra Israel e seus desdobramentos estão forçando uma reformulação fundamental na maneira como a questão do Oriente Médio deve ser tratada. Se vencer as resistências, a Doutrina Biden produzirá um equilíbrio geopolítico e políticas domésticas mais seguras. Essa estratégia poderia dissuadir o Irã, tanto militarmente, quanto politicamente, ao tirar a carta palestina de Teerã. Poderia promover o estatuto do Estado palestino em termos consistentes com a segurança israelense e, simultaneamente, criar condições para a normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita, em termos que os palestinos possam aceitar. Mas para que a questão seja bem-sucedida é indispensável que esses três eixos estejam assegurados e interconectados. O plano promete uma nova arquitetura econômica e de segurança no Oriente Médio. Essa estratégia poderia se tornar o maior realinhamento estratégico na região desde o tratado de 1979 em Camp David.

 

Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE) e membro da Academia Paulista de Letras

       

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Ucrânia: haverá invasão russa, haverá guerra na Europa central? Uma entrevista-debate com Felipe Loureiro (Canal MyNews)

 Um debate sobre um tema do momento: 

1435. “Guerra Rússia vs. Ucrânia; alerta de Biden”, Participação em entrevista no Canal MyNews, com a jornalista Myrian Clark, na companhia do professor Felipe Loureiro, do IRI-USP (link: https://www.youtube.com/watch?v=mlupXkI31Uw; 20/02/2022; 12:00hs; 52mns). Sem original.


Felipe Loureiro e eu concordamos em muitas coisas em nosso debate-entrevista; a principal parece ser esta: Putin quer fazer da Ucrânia uma Belarus. Mas Ucrânia e Belarus vão fazer parte da UE em menos de dez anos. Não precisam aderir à OTAN, nem é desejável. Posso apostar…

sábado, 1 de janeiro de 2022

A última notícia do ano de 2021 é também a primeira de 2022: ameaça de invasão da Ucrânia pela Rússia

 Biden e Putin alertam para rompimento de relações

Folha de S.Paulo | Mundo
31 de dezembro de 2021


Presidente dos EUA, Joe Biden, fala ao telefone com mandatário da Rússia, Vladimir Putin Adam Schuw/Casa Branca/Reuters
Por telefone, líderes mantiveram tom incisivo em meio a tensões na Ucrânia
WILMINGTON (DELAWARE) E MOSCOU | Reuters 

Em meio ao aumento das tensões em torno da Ucrânia, os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da Rússia, Vladimir Putin, conversaram por telefone nesta quinta-feira (30) e alertaram para um possível rompimento na relação entre os dois países em decorrência da da escalada de ânimos no leste europeu.

EUA e Rússia passam por um dos momentos de maior tensão da história recente depois que Kiev e Washington acusaram Moscou de planejar um ataque contra a Ucrânia após posicionar dezenas de milhares de soldados próximos à fronteira da ex-república soviética. Na ligação, que durou 50 minutos, Biden "deixou claro que os EUAe seusaliadose parceiros responderão de forma decisiva se a Rússia avançar na invasão da Ucrânia", informou a Casa Branca, por meio de um comunicado.

A Rússia anexou em 2014 a península da Crimeia, em resposta a uma revolução pró-Ocidente, que derrubou um presidente alinhado ao Kremlin. Os russos também são acusados de apoiar separatistas ucranianos que lutam contra o governo de Kiev no leste do país. Biden voltou a ameaçar a Rússia com sanções econômicas em caso de ataque, o que Putin chamou de "um erro colossal".

"Nosso presidente respondeu imediatamente [à ameaça] que se o Ocidente decidir, nesta ou em outras circunstâncias, impor estas sanções sem precedentes que foram mencionadas então, isso poderia levar a um rompimento total dos laços entre nossos países e causar o dano mais sério para relações entre a Rússia e o Ocidente ", disse assessor do Kremlin, Iuri Ushakov.

Apesar das tensões de ambos os lados, Ushakov disse a repórteres que o Kremlin estava satisfeito com a conversa e que os os dois líderes pareciam prontos para avançar diplomaticamente.

Moscou nega que esteja preparando uma invasão à Ucrânia, apesar da movimentação militar na fronteira. "Esta não é a nossa escolha [preferida], não queremos isso", disse Putin na semana passada. A Rússia alega que tem direito de mover suas tropas como quiser em seu território.

O Kremlin, porém, não descarta uma resposta militar se a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), à qual a Ucrânia deseja se integrar, persistir com sua expansão para o leste. O presidente russo ameaçou adotar medidas "militares e técnicas" caso suas reivindicações não sejam atendidas.

Putin quer garantias de segurança no leste europeu por parte do Ocidente, o que foi mencionado no telefonema nesta quinta. Segundo o Kremlin, Biden concordou que Moscou precisa de tais garantias para avançar nas negociações, mesmo que ainda haja diferenças entre os dois países.

As tensões com Kiev levaram as relações Leste-Oeste ao seu pior momento nas três décadas desde o colapso da União Soviética. 

sábado, 16 de janeiro de 2021

Itamaraty espera que Biden entenda posições de Bolsonaro (claro, a obrigação é de Biden) - Valor Economico

 Itamaraty espera que Biden entenda posições de Bolsonaro

Governo brasileiro não vai mudar suas convicções em função da nova liderança nos EUA, sinaliza Ernesto Araújo em entrevista

Valor Econômico | 15/1/2021, 12h20

O governo de Jair Bolsonaro, que apoiou tanto Donald Trump quanto seus principais ideais, tem um recado para o presidente eleito Joe Biden: o Brasil não vai mudar suas posições em função da nova liderança nos Estados Unidos.

Pelo contrário, o governo brasileiro espera que Biden entenda que Brasil e Estados Unidos têm muitos interesses comuns, que Biden entenda que Brasil e Estados Unidos têm muitos interesses comuns, que incluem a promoção da democracia e da segurança na América Latina, e não estão em lados opostos em relação ao meio ambiente, disse o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

“A gente espera muito, por parte da nova administração americana, que o nosso governo seja percebido pelo que ele é realmente, por aquilo que o povo brasileiro é e pretende”, disse Araújo em entrevista em seu gabinete em Brasília na quinta-feira (14). “Os dois lados precisam fazer um esforço de compreensão mútua.”

A sintonia fluiu facilmente com Trump não apenas por conta da amizade com Bolsonaro, mas também porque o presidente dos EUA entendeu que os brasileiros fizeram uma escolha ao elegê-lo, disse Araújo. Em troca do alinhamento do Brasil com as posições dos EUA, Trump pôs fim à proibição das importações de carne in natura brasileira, apoiou a candidatura do país para ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e assinou acordos de cooperação em defesa e exploração espacial.

O comércio bilateral do Brasil com os EUA é maior do que com qualquer outro país, exceto a China. No entanto, Bolsonaro tem estado em rota de colisão com Biden desde que o presidente eleito ameaçou o governo brasileiro, durante debate de campanha, com “consequências econômicas significativas” se o Brasil não se empenhar em preservar a Amazônia.

Pessoas a par dos planos de Biden disseram em dezembro que o presidente eleito pretende liderar uma frente unida do Ocidente para pressionar Bolsonaro a adotar políticas ambientais que contenham os incêndios que destroem a Amazônia.

No entanto, Araújo disse que as preocupações ambientais são exageradas pela mídia local e internacional. O chanceler insistiu que o Brasil continua no Acordo de Paris e fez uma oferta importante para antecipar a meta de neutralidade em carbono em troca de US$ 10 bilhões por ano de países em desenvolvimento. Segundo o ministro, com os EUA prestes a aderirem novamente ao acordo global, haverá mais dinheiro na mesa para esses pagamentos.

Conservadores silenciados

Bolsonaro apoiou publicamente a candidatura de Trump e foi um dos últimos líderes mundiais a parabenizar Biden por sua vitória. Na semana passada, enquanto seguidores de Trump invadiam o Capitólio, Bolsonaro repetia alegações de que houve “muita fraude” nas eleições dos EUA, bem como durante sua própria eleição em 2018 que, segundo ele, deveria ter vencido no primeiro turno.

Araújo não quis comentar as acusações de fraude, mas disse que questionamentos sobre os sistemas de votação nos EUA, Brasil e outros países são legítimos e devem ser investigados. Ele condenou a violência em Washington na semana passada, mas advertiu que isso não pode ser usado como desculpa para calar as vozes conservadoras ao redor do mundo.

“Assim como nada justifica a invasão, nada justifica o cerceamento da liberdade de expressão, que é um valor democrático tão importante quanto a integridade física”, disse, criticando a decisão do Twitter de banir Trump da plataforma e acusando a empresa de remover milhares de seus seguidores sem um motivo claro”. 

“Surgiu um clima de caça às bruxas”, disse Araújo.

O ministro não descartou a possibilidade de que o tipo de protesto visto em Washington aconteça em outros países, inclusive na eleição presidencial de 2022 no Brasil.

“Se as pessoas se sentirem sufocadas na sua capacidade de falar e de ouvir, qualquer país pode ter problemas sérios”, afirmou.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/01/15/itamaraty-espera-que-biden-entenda-posicoes-de-bolsonaro.ghtml


sexta-feira, 27 de novembro de 2020

"I love you Trump" perde o seu objeto: Bolsonaro ainda insiste na resistência a Biden - Frederic Puglie (Washington Times)

 Newfound flexibility? Defiant Bolsonaro not rushing to embrace Biden

Thursday, November 26, 2020

In the wee hours of election night Nov. 3, the president’s son tweeted a screenshot of Michigan vote totals purporting to show a sudden jump in favor of former Vice President Joseph R. Biden.

“Strange,” he noted ironically.

But what may sound like Donald Trump Jr. in truth came from Eduardo Bolsonaro, the congressman and third son of a man who has long and enthusiastically embraced his “Trump of the Tropics” moniker: Brazilian President Jair Bolsonaro.

Several foreign leaders who forged strong personal bonds with President Trump — including Hungary’s Viktor Orban, Turkish President Recep Tayyip Erdogan and Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu — over the past four years face challenges adjusting to the prospect of a Biden administration. But nowhere may the whiplash be as severe as in Brasilia.

Having openly endorsed President Trump’s bid for reelection, the leader of South America’s largest and most populous nation now finds himself having to deal with a man he all but called a danger to his country as recently as two weeks ago — and one who has had some pointed criticisms of the populist Brazilian leader to boot.

“We heard a great candidate for head of state say that if I don’t put out the fire in the Amazon, he’ll put up trade barriers against Brazil. How can we react to all that?” Mr. Bolsonaro said on Nov. 10.

“Diplomacy alone won’t do,” he cautioned. “When you’re out of spit, you need gunpowder.”

The remark was but the latest sign the confrontational Mr. Bolsonaro sees no immediate intent to ingratiate himself with Mr. Biden, who had threatened the former army captain with “significant economic consequences” should he refuse to “stop tearing down the forest” in exchange for a $20 billion payment.

Not surprisingly, Mr. Bolsonaro is one of the last major holdouts who has yet to formally acknowledge Mr. Biden’s apparent electoral victory, so long as his friend Mr. Trump refuses to formally concede the race.

But also characteristically, Mr. Bolsonaro’s defiance is not so much about alienating Mr. Biden or placating Mr. Trump as it is about promoting none other than Mr. Bolsonaro, said Ambassador Paulo Roberto de Almeida, a former director of the IPRI think tank at Brazil’s foreign ministry.

“He must know that Trump lost and that Joe Biden will be the next president,” Mr. de Almeida said. “But since he embodied this ‘anti-multilateralist, anti-globalist, pro-American, anti-Chinese, anti-communist and so on’ position, he sticks to it.”

And while Mr. Bolsonaro’s refusal so far to congratulate — much less offer to work with — Mr. Bidenmay unnerve Brazil’s foreign policy establishment, his inner circle continues to egg him on, Mr. de Almeida added.

“Bolsonaro depends on his immediate advisers: [foreign policy adviser] Filipe Martins; son No. 3, Eduardo Bolsonaro; and Foreign Minister Ernesto Araujo,” he detailed. “Those three kept Bolsonaro from ending [his] silence about the [Biden] victory.”

And little suggests Mr. Bolsonaro is about to turn into a second Andres Manuel Lopez Obrador, Mexico’s leftist president who — despite his political leanings — was able to forge an unexpectedly respectful and productive relationship with Mr. Trump, his ideological opposite.

Mr. Bolsonaro “doesn’t seem like he’s really ready to backtrack and find ways of working with Biden,” said Peter Hakim, president emeritus of the Inter-American Dialogue, a Washington think tank. “In part, it’s [because] Brazil is certainly less dependent on the United States than Mexico.”

Running in 2022

In the medium term, then, the fate of Washington-Brasilia relations may well depend on what Mr. Bolsonaro concludes is his best campaign strategy to win a second term two years from now.

“Whatever he does with regard to relations with the United States — what he looks for in the United States — will be in reference to his [reelection],” Mr. Hakim cautioned.

The Brazilian president, who has remained buoyant in the polls despite the country’s devastating fight with the coronavirus, has shown a tactical ability to be flexible on the policy front.

Having initially championed his Economy Minister Paulo Guedes’s pro-market fiscal conservatism, Mr. Bolsonaro this year switched course to allow for generous government handouts amid the coronavirus pandemic — one big reason, analysts say, for an unprecedented bump in his approval numbers.

“After a blustery, Trump-like start that he is going to make these huge changes in the way Brazilfunctions and he’s not going to follow the rules,” Mr. Hakim quipped, “he has [now] recognized the value of getting something done.”

And though the Nov. 15 first round of municipal elections saw Bolsonaro-backed candidates lose key mayoral races, the overall success of center-right forces, ironically, turned out to be good news.

“In truth, he gained strength,” Brasilia-based political consultant Vera Galante noted. “He ends up strengthened in Congress, and also in the states, even though his candidates were defeated.”

Which version of Mr. Bolsonaro — the 2019 ideologue or the 2020 pragmatist — will show up for the 2022 campaign, then, is, more than ever, anybody’s guess.

“He has a real dilemma facing him,” Mr. Hakim said. “Does he use his populist strongman approach? … Or is the best to try to get the economy going again? He would like to do both, but there are trade-offs there for him.”

The dilemma is real, political scientist Lucas de Abreu Maia agreed. But economic realities will ultimately force Mr. Bolsonaro’s hand, the former O Estado de S. Paulo reporter added.

“He is in a very tough position, actually, because he has to please his domestic audience — but the Brazilian economy cannot afford to have anything but [a] good relationship with the U.S.,” Mr. de Abreu Maia said. “Brazil needs the U.S. a lot more than the U.S. needs Brazil.”

And plenty of influential forces will be pushing Mr. Bolsonaro to at least try to mend fences with his new American counterpart, Mr. Hakim said.

“The agricultural lobby, the business community and the military — and even many of the evangelicals,” he said, “are going to press him to find a way to patch up relations with Biden.”

To do that, though, all roads lead back to the Amazon, whose deforestation pits Mr. Bolsonaro’s trademark talking points — sovereignty, national pride, development — against Mr. Biden’s assertion of an “existential threat” from climate change and his determination to make climate change a centerpiece of U.S. economic and foreign policy.

“Trade relations, trade negotiations, trade agreements,” Mr. Hakim enumerated, “are going to be very hard for Brazil to secure without a real reversal on Bolsonaro’s Amazon policy.”

In fact, Mr. Biden’s mention of the Amazon in the first presidential debate was the first time he had seen a purportedly domestic issue come up so prominently in a foreign campaign, economist Marcio Pochmann said.

“The Amazon issue, in truth, is an international debate,” said Mr. Pochmann, the former president of the Perseu Abramo Foundation linked to the opposition Workers’ Party.

About-face?

And given Mr. Bolsonaro’s newfound flexibility on a variety of issues, another about-face is certainly within the realm of the possible, he suggested.

“I wouldn’t rule out Bolsonaro changing positions” on the international scene, Mr. Pochmann said.

Getting along with Mr. Biden could certainly help Brasilia stay at the top of the South American pecking order, Ms. Galante suggested.

“President Bolsonaro will want to re-establish [Brazilian] hegemony in the region, and for that he needs the United States,” she said.

But any “flexibility” could easily cut both ways, Mr. Pochmann cautioned, pointing to Russian President Vladimir Putin’s conspicuous display of camaraderie toward Mr. Bolsonaro at last week’s virtual BRICS summit of major emerging economies.

And if anything, the former congressman — who during his 20-year career in politics has switched party allegiances no fewer than eight times — has a history of digging in, not dropping out.

Mr. Bolsonaro’s animosity toward Argentine President Alberto Fernandez — by all accounts mutual — seems to have survived countless attempts at reconciliation. And his jabs against China have already cost Brazil dearly, Mr. de Almeida said. At the BRICS summit — a loose grouping of Brazil, Russia, India, China and South Africa — Beijing quietly withdrew its longstanding endorsement of an expanded role for Brasilia at the United Nations.

A telltale sign of what course Mr. Bolsonaro wants to take toward the Biden administration, analysts agreed, will likely be the fate of Mr. Araujo, his foreign minister.

A changing of the guard at the ministry’s famed Itamaraty Palace in Brasilia could come around Mr. Biden’s Jan. 20 inauguration and would signal Mr. Bolsonaro’s desire for a new beginning, Mr. de Almeida said.

“I would pay close attention to the Itamaraty,” Ms. Galante agreed, “because he could use this opportunity.”

But foreign policy and self-interest aside, embracing Mr. Biden will not come easy to Mr. Bolsonaro, who modeled much of his political success — his stunning 2018 electoral victory, his jabs at “fake-news” media, his Twitter tirades — on the Donald Trump model.

“He embodied this ‘Trumpist’ position not because he was Trump’s friend — he isn’t — [but because] he is Trump’s admirer,” Mr. de Almeida said.

“To the extent that either follows a playbook, Bolsonaro has been following Trump‘s,” Mr. de Abreu Maia said. “It’s going to be harder for [Mr. Bolsonaro] to win reelection without having really an inspiration — really a playbook to follow.”


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro: o cronista misterioso sobre a vitoria de Joe Biden

 [Nota PRA: Uma curta nota do cronista misterioso para antecipar a previsível vitória do Joe Biden, mas não sei quando exatamente foi composta esta nota; nenhuma delas tem data de calendário e eu apenas recebo tardiamente esses petardos bem humorados (quase sempre). Em todo caso, o Trump é pior que um dragão da maldade, pois ele ainda não foi preso, o que pode ocorrer, assim como para a famiglia muy amiga, que também perpetra suas pequenas e grandes falcatruas. Em todo caso, o chanceler acidental está ficando órfão, de pelo menos um dos seus chefes, talvez o principal...]


O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (Semana 27)

Não sou muito afeito a futurologia, mas hei de me aventurar pela seara das moiras e farei uma previsão. O ex-vice-presidente americano, Joe Biden, sairá vitorioso da batalha contra o grande dragão vermelho (como saiu vitorioso Lincoln da batalha contra os Grand Dragons originais da Ku Klux Klan). 

Não significa, é claro, que adentraremos uma nova era de progresso e paz, mas significa, ao menos, que o Fog of war de fake news e anti-iluminismo, que a alt-right criou, tenderá a dissipar-se. 

Assim como no clássico de Glauber Rocha, de quem roubo o título desta crônica, lançado há mais de 50 anos, não há heróis claros nessa luta, mas, ao fim, o ódio que o grande dragão vermelho da maldade representa será vencido. Está decretado o fim da indivina trindade que Ernesto coloca em seu altar de cristão herege: Trump, Bolsonaro e o “Deus de Trump”.

Apesar de nosso ministro parlapatão e da aura de insensatez e delírio que ainda emana de nosso palácio, o novo sempre vem.

E amanhã vai ser outro dia.

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Brasil longe da festa da eleição de Biden - Marcos Magalhães (Capital Político)

 Parece que quando o presidente Bolsonaro finalmente reconhecer a vitória (ugh!) de Biden e decidir apresentar seus cumprimentos, isso vai ser considerado totalmente inadequado e irrelevante.

Paulo Roberto de Almeida

 

Longe da festa

Marcos Magalhães

Capital Político, 10/11/2020


A primeira segunda-feira após o anúncio da vitória de Joe Biden amanheceu em festa. O fim da longa espera pelos resultados das eleições nos Estados Unidos e a notícia de que uma das vacinas em fase final de desenvolvimento demonstrou 90% de eficácia contra o coronavírus levaram o otimismo de volta aos mercados.

As bolsas subiram na Europa e na Ásia. No Brasil, o Ibovespa começou a semana em alta de 4%. O dólar, que andava arisco, caiu à menor cotação desde setembro. Tudo isso apesar do estado de negação do ainda presidente Donald Trump. E, no caso dos mercados brasileiros, do silêncio do presidente Jair Bolsonaro.

Durante o final de semana, líderes de várias partes do mundo enviaram mensagens de felicitação ao presidente eleito Joe Biden. A primeira-ministra Angela Merkel disse que os Estados Unidos e a Alemanha, como parte da União Europeia, devem enfrentar juntos “os grandes desafios do nosso tempo”.

De Tóquio, o primeiro-ministro Yoshihide Suga postou no Twitter que espera trabalhar com Biden para fortalecer as relações bilaterais e garantir “paz, liberdade e prosperidade” na região do Indo-Pacífico.

Os vizinhos argentinos também foram rápidos. “Saúdo Joe Biden, o próximo presidente dos Estados Unidos, e Kamala Harris, que será a primeira vice-presidente feminina daquele país”, escreveu o presidente Alberto Fernández em suas redes sociais. 

É bem verdade que o governo chinês optou inicialmente pelo silêncio. “Tomamos conhecimento de que Biden se declarou vencedor nas eleições”, disse o porta-voz Wang Wenbin. “Nosso entendimento é que o resultado da eleição será determinado de acordo com as leis e procedimentos dos Estados Unidos”.

Depois de experimentar um período de grande tensão no relacionamento com Trump, Pequim avalia o que esperar do novo momento político americano. “No curto prazo as relações serão menos tensas”, escreveu no Global Times o vice-diretor do Instituto de Estudos Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Yuan Zheng.

“Mas no longo prazo”, ressalvou o especialista, “os laços bilaterais deverão enfrentar maiores desafios, à medida que Biden ressalta a liderança americana, e ele não poupará esforços para se alinhar aos países aliados para conter a China, o que parece ser mais ameaçador para a China em comparação à administração Trump”.

Silêncio

Se o governo chinês ao menos apresentou uma declaração diplomática a respeito da eleição de Biden, Brasília permaneceu em silêncio. Apenas o vice-presidente Hamilton Mourão previu que, “na hora certa”, Bolsonaro transmitiria os “cumprimentos do Brasil a quem for eleito”.

Segundo Mourão, o presidente estaria apenas aguardando notícias sobre a possibilidade de serem detectados votos falsos nas eleições americanas. Uma precaução que não parece haver sido compartilhada pelos líderes das maiores democracias do mundo, que não só reconheceram os resultados das eleições como já enviaram saudações ao presidente eleito.

Sob o argumento do cuidado com possíveis fraudes eleitorais, Bolsonaro mantém a fidelidade a Trump e se cala. Seu silêncio serve como poderosa mensagem à sua base política, decepcionada com os resultados das urnas. Mas deixa todo um país refém dos sentimentos dos integrantes de seu núcleo duro de seguidores.

Ninguém duvida que o Brasil e os Estados Unidos manterão as suas tradicionais relações. Mas a postura inicial de Brasília em relação ao futuro governo americano pesará na hora de redefinir as bases desse relacionamento, agora sob uma administração democrata.

Prioridades

Na verdade, o governo brasileiro anda muito seletivo ao definir as suas prioridades externas. Até hoje Alberto Fernández espera uma mensagem de congratulações de Bolsonaro por sua eleição para a presidência da Argentina, há um ano. E a Argentina é a principal parceira do Brasil no Mercosul.

Fernández, por sinal, estava na cerimônia de posse no final de semana do novo presidente da Bolívia, Luis Arce. O governo brasileiro não enviou sequer um ministro a La Paz. Foi representado pelo embaixador na Bolívia, Octavio Cortes. Até mesmo o presidente da Colômbia, Iván Duque, politicamente próximo de Bolsonaro, esteve na capital boliviana.

O presidente brasileiro parece mais preocupado com as cores do redesenhado mapa político regional. Ele tem dito que anda atento à expansão do vermelho pela vizinhança.

Entre os motivos de sua apreensão estão as eleições de Fernández e Arce, além da recente decisão dos eleitores chilenos, em plebiscito, de convocar uma assembleia para dar ao país uma nova Constituição, que substitua o texto herdado do ditador Augusto Pinochet – que já foi elogiado publicamente por Bolsonaro.

O ambiente político na Bolívia ainda está longe da estabilidade. Houve manifestações na região opositora de Santa Cruz de la Sierra em defesa de uma auditoria das eleições presidenciais. Três dias antes da posse ocorreu um atentado contra o presidente eleito. Uma bomba de dinamite foi lançada contra o seu escritório de campanha.

Mesmo assim, Arce optou por um discurso de conciliação. “Iniciamos uma nova etapa em nossa História e queremos fazê-lo com um governo que seja para todos e para todas, sem discriminação”, disse o novo presidente da Bolívia.

A 6230 quilômetros dali o presidente Joe Biden também apostou na conciliação em seu primeiro pronunciamento após a divulgação dos resultados que lhe garantiram a vitória. “Precisamos parar de tratar os oponentes como inimigos”, recomendou. “É hora de deixar de lado a retórica inflamada, acalmar os ânimos, ouvirmos uns aos outros”.

Párias

Suas palavras espalharam uma sensação de alívio, que podia ser percebida em artigos, editoriais de grandes jornais e declarações de líderes de várias partes do mundo. Não porque se trate de um presidente mais liberal ou mais conservador, mas porque o presidente eleito indica preferência pelo diálogo e, sempre que possível, pela cooperação internacional.

O meio ambiente é um bom exemplo. Biden promete recolocar os Estados Unidos no Tratado de Paris sobre mudanças climáticas, em sintonia com aquilo que a atual liderança do Itamaraty vê como “globalismo”. E indica que terá atenção especial ao desmatamento da Amazônia, o que colocou o governo brasileiro em estado de prontidão.

Em discurso a jovens diplomatas, duas semanas antes das eleições americanas, o ministro Ernesto Araújo mostrou que não liga muito para os que acusam a sua gestão de ter promovido o isolamento do Brasil – com exceção, é claro, da aproximação com Donald Trump.

“Nos discursos de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas deste ano, os presidentes Bolsonaro e Trump foram praticamente os únicos a falar em liberdade”, disse Araújo. “Sim, o Brasil hoje fala em liberdade através do mundo. Se isso faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”.

Para Araújo, “é bom ser pária”. Ele é visto como um dos integrantes do chamado grupo ideológico do governo, esse mesmo que Bolsonaro procura agradar ao retardar o envio de saudações a Joe Biden por sua internacionalmente reconhecida eleição.

Os “ideológicos” vibravam quando Bolsonaro falava publicamente de seu apoio à reeleição de Trump, integrante da mesma direita radicalizada que aposta no confronto como método político. E aplaudiram o presidente quando ele criticou os eleitores argentinos por suas escolhas.

O Brasil não pode ficar refém dos “ideológicos”. O país levou décadas para moldar a reputação de um parceiro confiável na construção de consensos. Poderá ter de dedicar anos para reconstruir a sua imagem junto à comunidade internacional.

Marcos MagalhãesMarcos Magalhães

Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ magmarcos@outlook.com

 

 

domingo, 8 de novembro de 2020

Biden, o Brasil e a América Latina - Folha de Vitória, Paulo Roberto de Almeida

 https://www.folhavitoria.com.br/geral/noticia/11/2020/biden-um-conhecedor-do-brasil-e-da-america-latina

A matéria me cita, mas não sei quem foi o repórter; em todo caso, a transcrição é correta.

Biden, um conhecedor do Brasil e da América Latina

Joe Biden chega à Casa Branca como um conhecedor do Brasil e da América Latina. Há mais de 40 anos na vida pública norte-americana, ele é reconhecido como um político conciliador e dedicado ao relacionamento internacional. Liderou, como vice-presidente a diplomacia de Barack Obama na América Latina. Presidiu e foi membro do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA por 12 anos. E dá nome a um centro de pesquisa na Universidade da Pensilvânia, o Centro Penn Biden para a Diplomacia e o Engajamento Global.

Em 2013, o democrata atuou diretamente na relação com o Brasil. Numa visita a Brasília, Biden ajudou a abrir caminho para uma visita de Estado que Dilma faria, a contragosto de próceres petistas, aos Estados Unidos para melhorar o patamar das relações. Dilma, no entanto, abortaria a viagem. O motivo foi a revelação de que comunicações da presidente e da Petrobras haviam sido bisbilhotadas pela Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana.

Coube a Biden voltar ao Brasil, durante a Copa do Mundo de 2014, para apaziguar a relação. Eles já haviam conversado em Santiago meses antes, na posse da presidente chilena Michelle Bachelet. O pretexto era assistir ao jogo em que os Estados Unidos venceram Gana por 2 a 1 na Arena das Dunas, em Natal (RN).

Mas Biden não tinha assim tanto interesse no jogo - ele chegou atrasado ao estádio e perdeu o primeiro gol do atacante Dempsey, antes do primeiro minuto. Logo depois do futebol com a neta e um sobrinho, decolou a Brasília. No dia seguinte, conversou a sós longamente com Dilma. Biden usou da simpatia que conquistou - a presidente disse que ele era "sedutor" - para tentar convencê-la de que Obama ordenou uma "revisão imediata" no programa de vigilância. E que mudaria a abordagem com o Brasil.

Na ocasião, Biden trouxe um presente sob medida para a presidente. O vice de Obama entregou a Dilma um lote de documentos até então secretos dos arquivos dos EUA sobre violações na ditadura militar. Os papéis reforçariam a coleta de provas da Comissão Nacional da Verdade, para irritação de oficiais brasileiros.

Após superar o choque de espionagem, Biden voltaria a Brasília em janeiro de 2015, por ocasião da posse de Dilma no segundo mandato. Numa carta de agradecimento com linguagem diplomática, a presidente registrou que os "laços de amizade e apreço" uniam não só os dois povos, mas "a nós pessoalmente".

Dois anos depois, Biden foi encarregado de receber em Washington o presidente Michel Temer (2016-2018), empossado com o afastamento de Dilma, e dar o sinal de reconhecimento americano a sua legitimidade na presidência. No auge da Operação Lava Jato, Biden criticou escândalos de corrupção no continente e respaldou a transição de poder.

Ele afirmou que "o Brasil seguiu sua Constituição para navegar um momento econômico e político difícil". O embaixador Paulo Roberto de Almeida, ex-diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (Ipri), estudioso da história da diplomacia e crítico da atual gestão do Itamaraty, destaca que as diferenças entre republicanos e democratas são mais de "aparência" na relação com o Planalto.

Ele observa que houve períodos áureos e baixos nas relações entre os dois partidos. "Os Estados Unidos são um império, buscam segurança em primeiro lugar e abertura em segundo. Mas para eles, abertura é quando outros países se abrem para os investimentos e o comércio, os produtos americanos", analisa o embaixador, também adversário de gestões petistas no Itamaraty. "Depois eles impõem restrições, espionam a qualquer um, inimigos ou aliados."

A relação com Brasília sempre passou, nas gestões democratas afeitas ao multilateralismo, pela posição de influência regional do Brasil na América do Sul. Atualmente, Jair Bolsonaro vive em conflito político com a Argentina de Alberto Fernández e a Bolívia, de Luis Arce, ambos de esquerda. De imediato, ele tentará se reconectar aos socialistas bolivianos, ao enviar o chanceler Ernesto Araújo à posse de Arce. Analistas e diplomatas dos dois lados concordam que caberá a Bolsonaro mostrar abertura ao diálogo e moderação para acessar Biden.




domingo, 1 de novembro de 2020

Entre Biden e Trump, a América Latina fica na expectativa - Frederic Puglie (The Washington Times)

 Frederic Puglie é um jornalista americano que cobre a América Latina para o Washington Times, um jornal de direita americano. Ele sempre me telefona para pedir minha opinião sobre os temas de política externa, o que eu não me recuso a dar, embora ele selecione cuidadosamente apenas uma frase ou duas de uma conversa bem mais abrangente.

Eis a última matéria, cobrindo vários países latino-americanos.

Paulo Roberto de Almeida


 


 

'Heartfelt' views: Latin America watches, weighs in on U.S. election

Sharp policy shifts could be in the works after election

 

By Frederic Puglie - Special to The Washington Times - Wednesday, October 28, 2020

https://www.washingtontimes.com/news/2020/oct/28/latin-america-weighs-trump-biden-election

 

Americans choosing between President Trump and Vice President Joseph R. Biden on Tuesday will also have a say on what’s next for some 650 millions of their neighbors to the South, where the presidential race is a top topic of discussion on screens and around kitchen tables.

Any U.S. presidential election is bound to generate intense interest in Latin America, but leaders and ordinary citizens across Central and South America have tuned into — and sought to shape — the 2020 race in ways not previously seen. Issues such as immigration, trade and relations with problem states such as Cuba and Venezuela could take sharp turns next year depending on whether the U.S. is led by Republicans or Democrats.

Some are not just watching from the sidelines.

In a break with normal protocol, Brazilian President Jair Bolsonaro last week endorsed Mr. Trump for reelection. He said there was no “need to hide [his] heartfelt” views.

In Colombia, critics say some lawmakers have been actively “campaigning” for both Mr. Trump and Mr. Biden as the country’s troubled, U.S.-backed peace deal ending a long leftist insurgency hangs in the balance.

In Argentina, meanwhile, Buenos Aires college student Daniel Sandrea said he was keeping a close eye on the election unfolding on the other side of the hemisphere.

When the Biden fan told friends on social media that he was happy to be challenged on his views, he quickly found himself debating American politics not with his Florida-based relatives but with a fellow Venezuelan emigre living in Chile.

“We are in disagreement,” Mr. Sandrea said with a laugh. “He explained his position, and, well, I explained mine.”

Analysts say such cross-continental attention should come as no surprise. Mr. Trump’s style and record, which have long been catalysts of passion for backers and detractors alike, and a uniquely volatile campaign have made for compelling drama.

“There has never been anything remotely close in the level of attention, interest and concern … as there is with this election,” said Michael Shifter, president of the Inter-American Dialogue in Washington. “It’s just quite striking.”

Mr. Trump’s tough line, his supporters say, has forged an unexpectedly productive diplomacy with key Latin American states, leading the fight against illegal drugs and aggressively confronting leftist regimes in Venezuela and Cuba. As for Mr. Biden, he served as a point man to Central America as vice president and helped shepherd through a $750 million aid package for the region in 2015.

Mr. Biden’s campaign platform calls for a $4 billion aid package to struggling Central American states as a key plank in his immigration agenda.

The election’s impact on policy could be tested quickly no matter who wins the election. The U.S. is scheduled to host to the ninth Summit of the Americas next year. It will be the first time in more than a quarter century that the hemispherewide gathering will be on U.S. soil.

How a second Trump term or a Biden administration would turn out often depends on the idiosyncrasies of individual Latin American nations and leaders.

 

BRAZIL: The ‘other’ Trump

For the “Trump of the Tropics,” a moniker that the conservative maverick Mr. Bolsonaro has long embraced, the outcome of the U.S. election may make a particularly stark difference.

The close ties that the populist leader has sought with the United States contrast sharply with the lukewarm feelings that for decades — under U.S. and Brazilian presidents of all ideological stripes — defined Brasilia’s view of Washington.

The government, and Bolsonaro in particular, try hard to highlight this special relationship,” said Ambassador Paulo Roberto de Almeida, a former head of the IPRI think tank at Brazil’s foreign ministry.

Among other things, this helped Mr. Trump — who “launched a great offensive to guarantee Brazil’s support” — install American Mauricio Claver-Carone as president of the Inter-American Development Bank, a post traditionally held by a Latin American, Mr. de Almeida said.

“Bolsonaro and Trump have this bromance of sorts and have this affinity both ideological and temperamental,” Mr. Shifter said.

Although a pragmatic President Biden might be inclined to let bygones be bygones, it remains to be seen whether that would hold true for Mr. Bolsonaro, he added.

“There are going to be some strains on issues like the environment,” Mr. Shifter said. “To what extent Bolsonaro is prepared to accommodate to that changing agenda, that’s going to be a big question.”

 

MEXICO: An AMLO dilemma

Mr. Bolsonaro and Mr. Trump may be cut from the same cloth in style and substance, but one of the big surprises of Mr. Trump’s first term has been the cordial and productive relationship he forged with leftist Mexican President Andres Manuel Lopez Obrador, a critic in the past of what many see as overbearing U.S. policies.

Almost immediately upon taking office in late 2018, Mr. Lopez Obrador toned down his long-standing anti-Trumprhetoric, committed to ratifying the United States-Mexico-Canada Agreement and in July made his first foreign trip to sign the free trade pact alongside his counterpart in the White House.

Mr. Trump has praised Mexico’s efforts to crack down on streams of immigrants from Central America, and the two governments recently struck a deal on a water-sharing accord that threatened to incite tensions between the two countries’ powerful agricultural sectors.

By staying firmly on Mr. Trump’s good side, Mr. Lopez Obrador — widely known by his initials as “AMLO” — defied his base and the persistently negative views that most Mexicans hold of Mr. Trump, said Jose Del Tronco of the Latin American Faculty of Social Sciences in Mexico City.

“Because of [Mr. Trump‘s] positions on immigrants and ‘the wall,’ there is a kind of general expectation in Mexico that the Democrats will win the election,” said Mr. Del Tronco, leading critics to warn that Mr. Lopez Obrador’s accommodating attitude toward Mr. Trump could come back to haunt him.

The real challenge of a Biden administration, though, would be the expected renewed focus on human rights issues, where common ground is easier to find in theory than in practice, Mr. Del Tronco added.

“There would not be a conflict of visions” with Mr. Biden, he said, “[but] the real policies — the public-safety policies, such as the [new] national guard and the military presence in public spaces to fight crime — those could result in conflict.”

 

COLOMBIA: Florida calling

Such a mismatch also could spell trouble for conservative Colombian President Ivan Duque. Mr. Trump has dubbed him a “really good guy,” so he has had little to fear other than an occasional slap on the wrist over Bogota’s inability to rein in coca production.

Once again, that would likely change if Mr. Biden moves into the White House, Mr. Shifter said.

“Broadening the agenda in Mexico and Colombia is going to make AMLO and Duque uncomfortable,” he predicted. “They will not necessarily embrace greater scrutiny on human rights abuses and corruption, which Trump has largely ignored, [and] they like getting a free pass on these issues.”

Perhaps unsurprisingly, then, Mr. Duque’s ruling Democratic Center and the opposition Progressive Movement have been anything but coy about taking sides, said Juan Carlos Ruiz Vasquez of Bogota’s Del Rosario University.

“The Democratic Center is trying to campaign for Trump in Florida,” Mr. Ruiz Vasquez said, “mobilizing Colombians who already have the right to vote.”

Meanwhile, Sen. Gustavo Petro’s endorsement of Mr. Biden is playing in heavy rotation in Florida commercial breaks, he said, though probably not in the way the leader of the Progressive Movement intended.

“[His] statements were used in a Trump campaign ad,” Mr. Ruiz Vasquez marveled.

 

VENEZUELA: Side effects

Few issues move Colombian American voters like the ever-deteriorating meltdown in neighboring Venezuela. Mr. Trumphas tried to capitalize on the concern by repeatedly branding his opponent a “socialist.”

Although the Trump administration’s take-no-prisoners style has been compared at times to Nicolas Maduro’s, Mr. Trump’s hawkish approach to the Venezuelan leader and Mr. Maduro’s allies in Havana have earned him enduring support within the Venezuelan and Cuban diasporas in the U.S.

“We see that President Trump has taken positions of solidarity, and that has also generated a response of solidarity with Trump,” said Milos Alcalay, a former Venezuelan ambassador to the United Nations.

But the Trump administration’s tough sanctions “are more popular in Miami than they are in Caracas,” Mr. Shifter said. Mr. Biden might reduce the saber-rattling, he added, but he is unlikely to prove as dovish as Republicans would have voters believe.

“I don’t think Biden or his team have many illusions that Maduro is anything but a brutal, ruthless dictator,” Mr. Shifter said. “The difference is in style and approach. You’re not going to hear, ‘All options are on the table.’”

Still, even if Mr. Biden proves tough on Mr. Maduro, the possibility of a more accommodating approach to those who have propped up the strongman’s rule would concern him just as much, Mr. Alcalay said.

“It’s not just about the U.S.-Iran, U.S.-China and U.S.-Cuba bilateral relationships,” he said, “but about the negative effect these countries have maintaining the Maduro regime in power — with all its implications.”

 

ARGENTINA: Maps and money

A broader map, meanwhile, may also be on the mind of Cristina Fernandez, Argentina’s leftist vice president who — though nominally second in command to President Alberto Fernandez, no relation — is widely considered the driving force in Buenos Aires policy these days.

During her own presidency from 2007 to 2015, Ms. Fernandez forged close ties with Venezuela’s Hugo Chavez and Mr. Maduro, as well as leftist leaders in Brazil, Bolivia, Ecuador and Uruguay, before countries across the continent drove the left from power.

But the triumph of Evo Morales’s Movement for Socialism in Bolivia’s election this month has given Argentina’s left-leaning populist leaders new hope that the tide may be turning once again, said Mariano de Vedia of Buenos Aires‘ La Nacion daily.

“There is, of course, a bet on Trump losing [and on] a Democratic triumph giving the government a direct benefit [that] would help it form a friendlier regional map,” Mr. de Vedia said.

That a Biden administration would roll out the red carpet for the Fernandez government, though, may be little more than wishful thinking, the political commentator said.

“The scene being set is, in truth, hypothetical. There is no evidence they’ll have a better time” with Mr. Biden, Mr. de Vedia said. He noted that Ms. Fernandez endured a “pretty bad” relationship with President Obama, which “failed to yield her any advantage.”

Many in Buenos Aires seem to fail to appreciate that Mr. Trump lent a helping hand in recent talks to renegotiate its sovereign debt with the International Monetary Fund, said Gustavo Cardozo of the Argentine Center for International Studies.

“We needed the help of the White House to be able to make a deal with the IMF …,” Mr. Cardozo said. “Trump has not been opposed to helping Argentina, and that has been very positive.”

There is no guarantee that relations will improve markedly with a Democratic administration in Washington, Mr. Cardozo said, and many parts of the relationship may have to be renegotiated from scratch.

“Nobody knows where [Mr. Biden], if elected, will stand” on this, he said, “so it would mean drawing up these deals from zero.”

 

THE HEMISPHERE: Monroe or multilateralism?

Beyond individual issues and countries, analysts say, the picture is cloudy for how Tuesday’s vote will affect U.S. policy, attention and resources devoted to the region as a whole.

Mr. Trump would be bound to continue a “chairman of the board” approach in hemispheric fora such as the Organization for American States, Inter-American Dialogue President Emeritus Peter Hakim predicted. On issues such as immigration and security, the U.S. has proved more assertive since Mr. Trump took office.

After all, the Trump administration has “declared that the Monroe Doctrine is alive and well, thank you, after it had been really seen as obsolete by previous governments,” Mr. Hakim quipped.

Mr. Biden, on the other hand, might take more of a “first among equals” approach. Mr. Hakim predicted that there would be at least a “change in tone.”

“The notion that the U.S. plays a special role — that it has a certain leadership responsibility for the hemisphere — will diminish,” he said, “[though] it will not disappear.”

 

Copyright © 2020 The Washington Times, LLC.