[Nota PRA: Acabou-se o que era doce (por vezes amargo): nosso cronista misterioso, o Batman do Itamaraty, aquele que se chamava pelo estranho nome de Ereto da Brocha, e se classificava como Ombudsman (foi mais do que isso) se despede de seus inúmeros leitores, a maior parte diplomatas, que se sentiram vingados pelas suas ferinas diatribes contra aquele que já ganhou o galardão de "PIOR CHANCELER" de toda a história do Itamaraty (impossível que tenha havido alguém tão ruim no passado, improvável que um idiota semelhante se apresente novamente (ainda que o Brasil tenha o péssimo costume de nos surpreender para tudo o que é ruim).
Vamos dar adeus a nosso impoluto guerreiro de capa e espada (neste caso uma pluma acerada, embora o mais provável seja um computador anódino), nosso vingador mascarado, nunca revelado e até hoje procurado incessantemente pelos esbirros da ABIN, daquele escritório ridículo que é feito para a segurança de um energúmeno, cercado de novos bárbaros, que não conseguiram ainda se vingar do nosso Pimpinela Escarlate, nosso Arsène Lupin, nosso Zorro (sem o Tonto), um Lone Ranger dos bons, que nos divertiu durante um ano inteiro, e que sempre li defasado e perdido numa cronologia não explícita.
Mixed feelings nesta despedida: por um lado, aliviado que o objeto obscuro e medíocre destas crônicas desabusadas já não forneça matéria-prima gratuita para os lances mais ousados do cronista misterioso; por outro lado, preocupado em que ainda tenhamos motivos para requisitar os serviços do nosso Chapolim diplomático.
Adieu Batman, o que posso prometer é que farei um volume sintético com todas as suas crônicas, coisa para ficar na memória dos viventes e dos infelizes diplomatas destes tempos ainda mais infelizes, pois é preciso registrar para as futuras gerações que nem todos foram passivos e indiferentes; a chama da resistência aliviou nossas agruras de dois anos e três meses de recuerdos miseráveis.
Paulo Roberto de Almeida, um resistente de primeira hora.
56 O fim (Semana 56 - a derradeira)
Nestas 56 semanas, pouco mais de um ano completo, pelas quais submeti você, companheiro leitor, às minhas 61 lamúrias e ressentimentos (56 semanais e mais 5 desaforos adicionais), tive a honra de receber elogios de irmãs e irmãos diplomatas e o escárnio de parasitas da casa de Rio Branco. Juntos, leitora e leitor, reclamamos, choramigamos, rimos e lamentamos. Pusemos uma pedra, ainda que pequeníssima, no sapato, quiçá ferradura, de Ernesto. É pouco, mas acalenta a alma.
Só posso agradecer aos que me acompanharam até aqui e pedir perdão pelas por vezes porcas linhas que escrevi. É nesse tom que digo, é chegada a hora de parar. É chegada a minha hora de repousar e lamentar os amigos que perdi nesta pandemia. É chegada a hora de relegar Ernesto e sua corja à lata de lixo da história. É chegada a hora de abraçar a esperança de que nosso povo não reeleja Bolsonaro. É chegada a hora de propor ao invés de reclamar.
Sei que alguns jovens, bravas e bravos colegas, têm preparado uma série de propostas interessantes para uma política externa pós-Bolsonaro e, por esta razão, não adentrarei nessas questões, já que os jovens sabem melhor como lidar com elas. Farei apenas três sugestões, quiçá três conselhos, mais ao sabor da tradição do Itamaraty, que, embora singelos, acredito indispensáveis para a reconstrução que se faz imprescindível. A eles.
1 - Parece óbvio, mas devemos cumprir os Princípios de Relações Internacionais elencados no artigo 4º de nossa carta magna. Os 10 princípios neste artigo elencados foram defenestrados por Ernesto e devem ser recuperados com a força da lei.
2 - Não deve mais haver a possibilidade de que o Chanceler de turno tome decisões evidentemente deletérias ao interesse nacional. Assim, deve tornar-se regra que as posições tomadas na política externa tenham embasamento em estudos substantivos realizados por diplomatas especializados em cada tema e coordenados por uma análise holística das áreas geográficas (novamente uma obviedade, mas que vem sendo desrespeitada). Para isso, será necessário abandonar a ideia do “craque” do Itamaraty que mata tudo o peito e que, com tacadas de suposto “brilhantismo” e pouquíssimo trabalho, tem epifanias geniais, pois isso, meus caros amigos, não existe. Será necessário criar áreas analítica de inteligência comercial, social, política e etc… Embasadas, sempre, por aálises estatísticas, qualitativas e qualitativas. Além do fim do “craquismo”, incompatível com o mundo atual, aproximações moralísticas a governos (como ao trumpismo) e a ideologias (como o olavismo) não podem mais serem aceitas como premissas válidas para a elaboração de políticas.
3 - O prefeito do palácio, nosso calado SG, mostrou que não podemos mais contar com a sabedoria do Chanceler da vez para garantir o bom funcionamento desses dois pilares que sustentam nossa casa. Me parece que é chegada a hora de mudarmos. Devemos aprender com alguns dos outros órgãos da República e propor tanto mandato determinado quanto ampla votação da casa para a formação de lista tríplice para o cargo de SG. Trata-se de um cargo técnico que exige confiança da casa e que deve ter a força para contornar possíveis ingerências estapafúrdias dos governos. Obviamente o Chanceler é um cargo político e deve continuar de livre indicação da presidência, mas o SG deveria ter mandato fixo (quiçá dois anos com possível recondução para mais dois) e ser escolhido por meio de lista tríplice elaborada por meio de votação da casa.
É assim que me despeço, companheiro leitor, com os parcos e óbvios conselhos de um velho.
Adeus e ao futuro.
Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN