[Nota PRA: Mais um petardo que me chega defasado, e novamente com número duplicado, o que indica que deu comichão no Cronista Misterioso, sentiu necessidade de retomar da pluma, como um saudosista irado, contra o nefando capacho que está destruindo não só nossa imagem internacional, mas a própria credibilidade da diplomacia profissional, cujo corpo permanente, entre os quais eu me incluo, contempla com horror o desprezo que esse submisso de aloprado devota às nossas mais sensatas tradições. Ereto da Brocha não deixa de mencionar todos os vícios e deformações de uma Casa que eu sempre chamei de FEUDAL, mas ele reconhece que o capacho dos Bolsonaros se encarregou de chutar seus méritos e qualidades. O Itamaraty agoniza, mas como naquela famoso samba, não morre: vai renascer...]
40bis O Passado (semana 40-bis)
Agarro-me desesperadamente ao passado, às glórias que tivemos, às tradições e às histórias luminosas sobre um Itamaraty que me envaidasse e me aquece a alma. “Não tire de mim esse amor louco por aquilo que não é mais. O que foi é esplendidamente mais bonito do que tudo o que é!”, clamo aos berros as palavras do Imperador Juliano às paredes de meu apartamento, em português, pois nem eu, nem o leitor, nem meus pobres vizinhos, somos obrigados a saber as minúcias do Latim Bizantino.
Essa paixão louca pelo passado me domina pouco a pouco. Sou um saudosista, confesso. Ainda ouço meus discos do Cartola na Technics que comprei em Nova Iorque, ainda mando cartões postais e ainda lembro de um Itamaraty de glórias. Tudo isso remonta a um passado igualmente longínquo, tão distante quanto ficcional. Por vezes me pergunto se deveras vivi, ou se imaginei essa instituição que servi por tantos anos.
Lembrar do passado é uma tentação, mas não nos deixemos cair em tentação. Chuto esse saudosismo para fora e lembro que o Itamaraty é uma geringonça com enormes defeitos. Exclusão social, racismo, sexismo, violência moral, favoritismos e ignóbeis hierarquizações. Essa é verdade que não pode ser ignorada.
Pergunto-me, então, o porquê de estarmos tão enamorados de um passado que, malgrado reais glórias e contribuições ao progresso do país, é tão maculado por atitudes tão condenáveis? A resposta é simples… o presente é muito pior. Ernesto parece não somente ser capaz de potencializar todos os defeitos intrínsecos ao Itamaraty, que são muitos, mas também capaz de destruir todas as boas qualidades desta casa e, quiçá, criar novas e mais perniciosas mazelas de nossas almas.
Em nome de um Itamaraty ereto, reflitam.
Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN