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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 17 de abril de 2021

Reflexão sobre grandes tiranos e um protótipo incompleto - Paulo Roberto de Almeida

 Frequentemente leio comparações acerca do degenerado que nos desgoverna com outros tiranos do passado e concluo que elas não se aplicam, não porque lhe falte vontade de ser déspota, mas porque não tem sequer condições de aspirar a ser um.

Mussolini e Hitler possuíam realmente projetos de nação, ainda que patológicos e demenciais. Mao Tsetung também, ao lançar o seu Grande Salto para a Frente, que produziu mais mortos do que todos os demais tiranos reunidos, incluindo Stalin, que levou adiante seu projeto de nação a ferro e a fogo, à base de uma moderna escravidão. 

Não é o caso de Bolsonaro: ele não tem qualquer projeto de nação, qualquer programa de governo, qualquer doutrina legitimadora, como tinham todos os demais monstros. 

Ele é a negação absoluta de qualquer projeto, programa ou ação pensada, ele é a pura expressão dos instintos mais primitivos, e o resultado é esse, demolição, eliminação, destruição, muitas vezes sem a intenção expressa de fazê-lo, a não ser em direção daqueles que ele vê como inimigos (e são muitos, todos os que não concordam com sua visão torpe do mundo e que não se lhe submetem). 

Ele é o niilismo no estado mais antifilosófico do termo, a extirpação de qualquer pensamento ou razão, a selvageria de alguém acometido de loucura incurável. Ele consegue reunir em si mesmo vários cavaleiros do apocalipse, mas sequer tem consciência disso. 

O Brasil foi entregue a um demente!

Gostaria de complementar o que escrevi, e postei, abaixo, dando nomes, ou pelo menos “profissões”, aos “bois” (com perdão da palavra, talvez sugestiva demais):

“Diagnóstico da situação: creio que o terreno já está mapeado e claro. Todos os sensatos já desembarcaram da nau desgarrada do capitão. Só sobraram os muito ignorantes, os fanáticos de sempre e os oportunistas de todos os matizes. O homem vai ficar desesperado, mas é o que sobrou!”

Era isso, apenas, mas vamos aos bois:

A principal base política do capitão é constituída pela segunda categoria , ou seja, o gado propriamente dito, que também pode compreender elementos bípedes da primeira e da terceira categorias. Mas não se sabe bem quantos seriam: tem muitos idiotas das três categorias que participam de marchas e manifestações, e o curralzinho do Alvorada tem ficado cada vez mais rarefeito (será que muitos já morreram, com o “kit Bolsovirus?); eles parecem muito mais numerosos nas redes sociais, pois aí tem algum trabalho dos mercenários que manipulam robôs e replicadores, o que pode dar essa impressão de quantidade (quando de fato pode ser dez ou cem vezes menor o volume do gado).

Os evangélicos se distribuem por todas as três categorias, mas a diferenciação se faz pelas faixas de renda: os pobres estão na primeira, os pastores na dos espertalhões, o que não os impede também de serem cavalgaduras completas.

Os milicos entram majoritariamente na terceira categoria, mas de suboficiais para baixo, e nas PMs, também devem entrar ignorantes e fanáticos. Uma coisa não impede a outra entre fardados, mas dificilmente oficiais que fizeram os cursos de Estado-Maior poderiam ser sinceramente bolsonaristas: seria muito difícil para gente instruída.

Capitalistas, do campo ou da cidade, se situam igualmente na terceira categoria, o que não impede empresários e ruralistas bolsonaristas de serem perfeitamente estúpidos, como ele próprio aliás.

Nem o pessoal do chamado Gabinete do Ódio é fanático: eles apenas estão fazendo o seu trabalho mercenário, e não podem ser tão estúpidos quanto os chefes da famiglia: eles precisam ser pelo menos eficientes, para abastecer as redes e alguns ministros mais idiotas.

Se contarmos que, com o mau exemplo do capitão, sua nau vai ficando sem grumetes, remadores ou marinheiros, que vão morrendo ou desistindo pelo caminho, talvez tenhamos um “navio fantasma” até o final do ano. Vai navegar a esmo pelos mares do Brasil? É provável!

Vai sobrar aquilo que Barbara Tuchman poderia chamar de marcha dos insensatos! 

Titanic já era: virou uma caravela toda estropiada, dentro em pouco um barquinho desmilinguido, a jangada de Medusa...

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3893, 17 de abril de 2021


sexta-feira, 16 de abril de 2021

Mini-reflexão sobre o Impeachment e a Justiça Divina - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre o Impeachment e a Justiça Divina

 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivo: debate sobre impeachment no Brasil; finalidadevisão histórica]

 

 

O que fariam Deus ou São Pedro, supostos controladores do ingresso no Paraíso, com dezenas de pedidos de ingresso naquela augusta última residência final por parte de indivíduos de reputação duvidosa, que talvez merecessem destino melhor, ou mais adequado em retribuição de seus crimes e malfeitos, junto aos domínios de Satanás? 

Deixariam os caras esperando indefinidamente numa longa fila à entrada do Paraíso ou tomariam uma decisão imediata, à vista das fichas desses indivíduos de reputação duvidosa?

O mais justo, para todos — Deus, São Pedro e os candidatos ao Paraíso ou ao Inferno —, seria uma decisão imediata, para evitar aglomerações no caminho de tão importante recinto: liquide-se imediatamente a agonia de quem espera tão importante decisão. 

Bolsonaro merece uma decisão quanto à centena de pedidos de impeachment contra seu desgoverno — que se aproxima do Genocídio, dependendo dos trabalhos da CPI do Juízo Final — e não viver agoniado, em face da indecisão de um mero porteiro dos escritórios onde realmente se decide a questão: o plenário da Câmara.

Olhando o retrospecto dos pedidos de impeachment na CD, o que temos é isto:

1) Getúlio Vargas, 1954: votado, recusado;

2) Jânio Quadros, 1961: renunciou antes de qualquer pedido, numa estratégia caolha, para retornar com poderes ampliados, à la De Gaulle; estratégia não funcionou;

3) João Goulart, 1963-64: foi derrubado por um golpe militar, antes que se decidisse pela manutenção das eleições de 1965, como previsto constitucionalmente; governadores e militares golpistas se assanharam ilegalmente, pois JK ameaçava voltar triunfalmente nas eleições;

4) Collor, 1992: o presidente não foi afastado porque seu tesoureiro, Paulo Cesar Farias, começou a roubar demais; foi porque ele não se entendia com o Parlamento, assim como ocorreu com Jânio e Goulart e ocorreria depois com Madame Pasadena, vulgo Dona Dilma (ou vice-versa); 

5) FHC, 1995-2002: dezenas de pedidos de impeachment por parte do PT ficaram se acumulando nas gavetas dos presidentes da CD, por não cumprirem requisitos formais segundo a Lei do Impeachment, ao não se ter crimes tipificados constitucionalmente;

6) Lula, 2005, no Mensalão, uma sucessão de crimes contra o patrimônio público e a honra e a dignidade do cargo: FHC mandou desistir da ideia de impeachment, pois gostava de Lula (ainda gosta, e vai fazer campanha por ele em 2022);

7) Dona Dilma, 2015-16: se desentendeu com o Satanás Eduardo Cunha, não porque fosse corrupta, mas porque o PT falhou em protegê-lo na Comissão de “Ética” da CD, o que lhe foi insuportável e resolveu se vingar; Bolsonaro votou elogiando um torturador condenado;

8) Bolsonaro, 2021-22: os pedidos de impeachment se acumulam, e Deus mandou avisar que não é com ele; uma auxiliar de Deus no STF, pediu explicações sobre a fila dos pedidos;

9) Eleições 2022: serão realizadas na santa paz dos ritos constitucionais, ou perturbadas pela polarização ameaçadora, ou ainda, o incumbente atual será degolado por seus muitos crimes já verificados?

Oh Deus, oh céus: quem poderá nos salvar dessas dúvidas crueis? O Centrão? Os milicos? O Grande Capital? A Justiça Divina? O dedo de Satanás?

Talvez um astrólogo possa ajudar...

Pela especulação:

Paulo Roberto de Almeida

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3892, 16 de abril de 2021


sábado, 27 de março de 2021

O Cronista Misterioso já decretou: “A moléstia brasileira tem um nome: o Bolsonarismo.” - Tem Vacina para esse mal horrível?

 47 Moléstia Brasileira (semana 47)

 

 

[Nota PRA: O Cronista Misterioso já decretou: “A moléstia brasileira tem um nome: o Bolsonarismo.” Ele acha que essa grave doença nos infectou em outubro de 2018 e segue contaminando todo mundo. O Brasil não tem salvação se não eliminar essa doença terrível, que invade o cérebro, paralisa o pensamento e torna os contaminados como que abestalhados. Ele não tratou da questão de uma vacina para esse mal, mas eu acho que o Bolsovirus precisa ser eliminado completamente, erradicado totalmente, extirpado da vida da nação, como a varíola.]

 

 

O Brasil está doente. Não me refiro aqui apenas à óbvia destruição que o covid vem nos causando. A moléstia brasileira não é a causadora da pandemia, mas é, ao menos, sua agravadora. Trata-se de uma doença da alma, da política e da sociedade. Algo que deixamos que nos dominasse sem que pudéssemos lutar contra. Obviamente houve alertas e houve aqueles que buscaram tratamentos de conscientização da população, mas, mesmo assim, a maioria foi contaminada em outubro de 2018 e acabou por os infectar a todos. Agora, todos pagamos o preço.

 

Temos dois ministros da saúde que, em tempos normais, deveriam nos auxiliar a combater todas as moléstias que afligem essa pátria, já tão exaurida de por percalços históricos. Contudo, o ministro demissionário é um lambe-botas incompetente e cúmplice do excelentíssimo senhor genocida da República e o futuro ministro é mais um assecla acéfalo do bolsonarismo tacanho. E mais, Queiroga já prometeu que seguirá todas as ordens do poderoso chefinho, bem como irá pessoalmente a hospitais investigar se as pessoas estão realmente morrendo de covid ou se seria mais um complô do comunismo internacional.

 

Eu me daria por aliviado se esses fossem os únicos problemas no horizonte, mas não, o “terra a vista” desta nau infectada ainda está muito longe. Uma odisseia própria ainda nos aguarda. Nesse meio tempo, ainda temos que lidar com os efeitos colaterais da moléstia brasileira. 

 

Mais do que os quase 300 mil que já perderam suas vidas, somos obrigados a ver os militares se recusando a oferecer leitos para covid em seus hospitais. É tamanho o grau de canalhice desses estrupícios que, além de defenderem o genocídio bolsonarista e de emitirem notinhas repugnantes onde fazem ameaças pouco veladas de que podem fazer um golpe a qualquer momento, ainda se recusam a ceder seus leitos ociosos para a salvar a vida da população (isso não sou eu quem diz, são, sim, as investigações do TCU). Peço perdão pela digressão, mas absurdos como esse me tiram do prumo…

 

Somos obrigados a ver Bolsonaro recorrendo ao STF para barrar acertadas políticas de lockdown postas em prática pelos governadores. Somos obrigados a ver, vez após vez, a redução das previsões de vacina que serão oferecidas. Somos obrigados a ver a defesa desenvergonhada do absurdo. Somos obrigados a ver os mortos tombando pelas filas de UTIs…   

 

A moléstia brasileira tem um nome: o Bolsonarismo. Resta saber se ela nos consumirá até os ossos ou se tomaremos o antídoto de razão que expurgará este facínora.

 

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Bolsovirus mete as patas na Petrobras - Editorial Estadão (23/02/2021)

 Uma intervenção desastrosa

 Opinião / O Estado de S. Paulo, 23/02/2021

A intervenção na Petrobrás combina com o fracasso econômico da gestão Bolsonaro, evidente já antes da pandemia

Gente esforçada, os americanos acordaram cedo para se livrar de papéis da Petrobrás ontem de manhã. Títulos da empresa despencaram 16% no pré-mercado, isto é, antes da abertura oficial do pregão. Ao mexer na empresa, como sempre desastrado, o presidente Jair Bolsonaro assustou também os estrangeiros, importantes fontes de capital para a estatal brasileira. Talvez ele ignorasse, ou ainda ignore, também esse detalhe. No Brasil ações da petroleira estavam em queda de 19% por volta do meio-dia, arrastando para baixo papéis de estatais, como o Banco do Brasil (BB) e Eletrobrás, e o Ibovespa. Esse índice, o principal da bolsa brasileira, recuou 4,84% durante a manhã.

Nessa altura, a Petrobrás acumulava perda de cerca de R$ 100 bilhões de valor de mercado, iniciada no último fim de semana. No fechamento da quinta-feira, a empresa ainda valia R$ 382,99 bilhões. Só na sexta-feira foram perdidos R$ 28,2 bilhões. O presidente prometeu novas intervenções e mencionou o setor de energia elétrica. Mas, no fim de semana, circulou no mercado a hipótese de mudança na direção do Banco do Brasil, ensaiada recentemente, mas ainda irrealizada.

O motivo dessa intervenção seria o programa de fechamento de agências físicas e de redução de pessoal apresentado recentemente pela presidência do banco. O presidente Bolsonaro já havia interferido na gestão do BB ao condenar moralmente uma campanha publicitária. A censura foi aceita e cumprida, embora incompatível com as normas de administração de empresas como o BB. O presidente da instituição acabou renunciando ao posto, bem mais tarde, por outro motivo.

Mas os danos causados pelo presidente Bolsonaro, incapaz de entender as funções presidenciais e, mais amplamente, a própria noção de governo, vão muito além dos males causados diretamente à Petrobrás ou a qualquer outra entidade vinculada ao poder federal. A incompetência presidencial, manifestada com o máximo de truculência e nenhuma percepção das questões econômicas, legais, sociais e empresariais mais importantes em cada caso, afeta largamente o funcionamento da economia brasileira e as expectativas de quase todos os grupos de agentes.

A piora das expectativas foi claramente mostrada, ontem, no último boletim Focus divulgado pelo Banco Central. Em uma semana, a mediana das projeções da inflação oficial passou de 3,62% para 3,82%. O dólar estimado para o fim do ano subiu de R$ 5,01 para R$ 5,05. A taxa básica de juros esperada para dezembro aumentou de 3,75% para 4%, o dobro daquela em vigor neste momento. O déficit primário (sem juros) do setor público voltou a 2,80% do Produto Interno Bruto (PIB), depois de haver recuado para 2,70%. O crescimento do PIB foi revisto de 3,43% para 3,29%. Quatro semanas antes ainda se apostava em 3,49%.

Resumindo: as expectativas são de inflação maior, dólar mais caro, rombo fiscal mais amplo, juros mais altos e menor expansão econômica. Outras pesquisas já indicaram piora das expectativas dos empresários industriais e aceleração dos preços por atacado.

Ao comentar reações do mercado, o vice-presidente Hamilton Mourão falou em “rebanho eletrônico”. É um comentário estranho, quando se vê a mudança de orientação de grandes instituições financeiras. Analistas da XP Investimentos, do Bradesco e do Crédit Suisse passaram a recomendar a venda de papéis da Petrobrás. Seus colegas do BTG Pactual e da Mirae Asset foram mais contidos, mas deixaram de recomendar a compra. Nada, no currículo do vice-presidente, parece credenciá-lo para menosprezar dessa maneira a resposta de tantos analistas.

Afinal, trata-se mesmo de uma intervenção grosseira, confirmada pela demissão do presidente da empresa antes do fim de seu mandato. Esse episódio combina com o fracasso econômico da gestão Bolsonaro, evidente já antes da pandemia, com a grotesca propaganda da cloroquina, com a imprevidência no caso da vacinação, com sua política armamentista e com a fixação nos assuntos familiares e na reeleição. Nenhum vice-presidente contemporizador poderá disfarçar essas barbaridades.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Crime de responsabilidade para Bolsovirus e Sargento Tainha - Ricardo Noblat

 CRIME DE RESPONSABILIDADE éo que incorrem tanto o capitão cloroquina, o insano, inepto e degenerado dirigente do país e “comandante supremo” das FFAA (que decidem sozinhas se há democracia ou ditadura no Brasil), quanto seu capacho da Saúde, um general incompetente e MENTIROSO, que não deveria ter passado de sargento. São os dois os maiores responsáveis por metade da mortandade atual no Brasil.

Paulo Roberto de Almeida 


Do que mais têm medo Bolsonaro e Pazuello

Ricardo Noblat, 19/01/2021

Crime de responsabilidade

Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello têm em comum a formação militar e o fato de serem no momento as duas figuras públicas de maior relevo em meio a uma pandemia que colheu até ontem no Brasil mais de 210 mil vidas. E que poderá colher muito mais, uma vez que mal começou, a vacinação poderá ser suspensa em breve devido à falta de doses suficientes para imunizar tanta gente.


Faltam insumos para que o Instituto Butantan possa fabricar a Coronavac no volume necessário. A Fundação Oswaldo Cruz também não tem para fabricar a AstraZeneca. Os insumos para as duas vacinas dependem da China que os produz, e, por lá, menos de 1% da população foi imunizada. Fracassou a operação de compra da AstraZeneca à Índia. Era fake. Um golpe. 

Apesar do uso da farda, seria uma injustiça com Pazuello comparar sua trajetória nos quartéis com a de Bolsonaro. Pazuello é um general ainda na ativa, para constrangimento dos seus pares que preferiam vê-lo na reserva dada às circunstâncias que ele enfrenta. Bolsonaro ganhou o título de capitão quando foi afastado do Exército por ter planejado atentados à bomba a quartéis.

Mas o general aceitou servir ao ex-capitão depois que dois médicos deixaram o Ministério da Saúde ao se recusarem a fazer o que Bolsonaro mandava – entre outras coisas, recomendar o tratamento precoce de casos da Covid-19 com drogas ineficazes. Sabe-se lá porque Bolsonaro ordenou ao Exército a fabricação em massa de cloroquina. Sabia-se que era uma fraude.

Bolsonaro acostumou-se à fama de mentiroso e não liga mais. Nada mais fácil do que provar que ele mente. Mente sempre. Mente descaradamente. Mente displicentemente. Mente naturalmente. Mente irresponsavelmente. E de tanto enxovalhar a verdade, tornou-se incapaz de reconhecer quando encontra uma pela frente por mais robusta que ela seja.

Isso obriga ao restabelecimento de certas verdades. Em abril último, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal decidiu que governadores e prefeitos TAMBÉM poderiam adotar medidas contra a pandemia, NÃO APENAS o governo federal. Como Bolsonaro insiste em dizer que o tribunal esvaziou seu poder de combater o vírus, o Supremo voltou a desmenti-lo em nota oficial.

Chamar Pazuello de mentiroso o incomoda muito. Pega muito mal para um militar, mais ainda quando ele é detentor da mais alta patente de sua Arma. É uma ofensa que nenhum deles engole calado. Infelizmente para ele, está provado que o general mentiu ao afirmar que nunca receitou o tratamento precoce com cloroquina para pacientes com sintomas da doença.

Que Pazuello queira culpar o clima da Amazônia pela falta de oxigênio que matou dezenas de pessoas em Manaus e começa a matar também em cidades do Pará, não é propriamente uma mentira. Seria um exagero, digamos com boa vontade, ou ignorância. Que ele culpe o fuso horário pela demora em importar vacina da Índia pode ser entendido como uma desculpa.

Porém, o general mente ao negar que patrocinou o que agora batiza de “atendimento precoce” com remédios rejeitados pelo mundo inteiro. No final de maio passado, o Ministério da Saúde incluiu nos seus protocolos a sugestão de uso da cloroquina em pacientes hospitalizados com gravidade média e alta. E remeteu aos Estados  pelo menos 3,4 milhões de doses da droga.

Não lembra? Leia aqui (https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-05/governo-inclui-cloroquina-para-tratamento-de-casos-leves-de-covid-19)  a notícia publicada pela Agência Brasil, um órgão de informação do governo. Isso aconteceu depois que o médico Nelson Teich cedeu a Pazuello a vaga de ministro da Saúde. Quer mais? Na madrugada de hoje, no site do ministério, ainda poderia ser encontrado um manual de orientação sobre o uso da cloroquina para tratamento precoce.(http://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2020/August/12/COVID-11ago2020-17h16.pdf) 

A troca de “tratamento precoce” por “atendimento precoce” tem a ver com o medo de Pazuello de ser denunciado por crime de responsabilidade. O mesmo medo passou a ser compartilhado por Bolsonaro. Crime de responsabilidade pode abreviar seu mandato porque a Constituição considera inviolável o direito à vida, à liberdade, à igualdade e à segurança.