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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 9 de dezembro de 2023

O stalinismo redivivo, aliás eterno - Paulo Roberto de Almeida

O stalinismo redivivo, aliás eterno

 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a tirania de Putin, mais longa e mais elaborado do que a de Stalin.

 

 

A Rússia retornou ao eixo central do stalinismo totalitário, com a única exceção do Gulag, não mais necessário para controlar eventuais insatisfações do povo com as carências do regime. Sem recorrer a colônias penais, Putin domina cada aspecto da sociedade. 

Um verdadeiro Stalin, mas sem Gulag, não mais necessário: Putin conseguiu instilar medo em todos e cada um, e os pouquíssimos liberais da era Ieltsin simplesmente evaporaram da paisagem. 

Um novo Orwell poderia se dispor a reescrever 1984 com uma nova data: 2034.

Ali se chegaria ao ápice do Big Brother totalitário, com a morte do tirano, o mais longevo na história secular da tirania russa, o único regime registrado por aquela civilização secular que só conheceu lampejos fugazes de liberalização extremamente raros em um itinerário milenar.

O putinismo conseguiu superar o stalinismo, não apenas temporalmente, mas também metodologicamente, instituindo o terror preventivo, que passou a estar embebido na população, uma configuração do Príncipe que passou despercebida a um espírito atilado como Maquiavel. 

Os futuros cientistas políticos vão debruçar-se sobre esse fenômeno.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4526, 9 dezembro 2023, 1 p.


segunda-feira, 6 de março de 2023

A permanência do Stalinismo na Rússia de hoje — CDS

 International diplomatic aspects

On the 5th of March 1953, the brutal Soviet dictator Joseph Stalin died. Almost 27 million of the Soviet subjects were killed or put to death in GULAGs and by Holodomors-genocides. Only the Holodomor genocide of 1932-33 caused the death of 4 to 6 million innocent Ukrainians. Some 26.6 million were killed during the Second World War. Though the Nazis and their allies killed a lot of military personnel and soldiers, the way how the Soviet rulers treated their population should be noted. "Countrywomen-will-give-birth", a phrase coined by Marshall Georgiy Zhukov, perfectly describes the Russian attitude towards human life and explains abnormal casualties during the Second World War. It's still true for the Russian war in Ukraine 2014-2023.

But in modern-day Russia, we see Stalinism on the march. Firstly, almost two-thirds of Russians (56%) believe that Stalin was a great leader, while only 14% thought he was not, and a third (27%) partially agree with the two previous groups, according to a Levada Centre poll of 2021. Two- thirds feel admiration, respect, or sympathy toward Stalin, while almost a third (28%) are indifferent, and 11% feel fear, irritation, or hate. Stalin is ahead of Vladimir Lenin, another bloody tyrant, and even Alexander Pushkin, the beloved Russian poet in the ranking of the greatest people of "any" nation "ever." At least 60 monuments, bas-reliefs, and busts of Stalin were installed on Vladimir Putin's watch (since 2000). Russians erected at least five statues on the illegally occupied territories of Ukraine (Donetsk, Luhansk, and Crimea).

According to CNN, two Ukrainian pilots are now in Arizona for a test of what time is required for pilots with their skills to begin operating F-16s. During the US House Armed Services Committee hearing last week, Under Secretary of Defense for Policy Colin Kahl said that the Defense Department believes it would take eighteen to twenty months to prepare pilots and technical personnel. However, he stated that the Administration currently doesn't prioritize providing Ukraine with modern fighter jets for various reasons, including financial restraints.

"My view, it is necessary that Putin understands that he will not succeed with this invasion and his imperialistic aggression — that he has to withdraw troops. This is the basis for talks," Olaf Scholz told Fareed Zakaria of CNN. "If you look at the proposal of the Ukrainians, it is easy to understand that they are ready for peace." Answering whether Ukraine should concede Crimea for a "deal," the German Chancellor replied, "we will not take decisions instead of them. We support them." Olaf Scholz indicated to "organize a certain way of security guarantees for the country, in times of peace, to come, but we are not there yet."

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Centre for Defence Strategies (CDS) is a Ukrainian security think tank. We operate since 2020 We publish this brief daily. If you would like to subscribe, please send us an email at cds.dailybrief@gmail.com

The CDC Daily Brief is produced with the support of the Kyiv School of Economics https://kse.ua 

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Já que estamos falando dos 70 anos da morte do Stalin, que tal ver um filme que retrata o declínio do socialismo no Leste Europeu em seus últimos anos de vida?


A Confissão (L'aveau) (1970) - Filme Completo.
O livro tem edição brasileira:
Sinopse
Artur London, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Checoslováquia a partir de 1949,foi preso em Janeiro de 1951 juntamente com o ministro Clementis, e julgado no processo do chamado «Centro de Conspiração contra o Estado dirigido por Slansky».
Condenado a trabalhos forçados perpétuos, viria a ser reabilitado em 1956.
Artur London, uma vítima paradigmática do estalinismo, descreve em A Confissão o impiedoso mecanismo que triturou muitos dos melhores militantes do movimento revolucionário na engrenagem da autoacusação.
Estamos perante um documento histórico que denuncia um sistema e retrata uma época que não podem nem devem esquecer-se, e um documento profundamente humano onde palpita a tragédia de um homem e de uma família presos nas malhas de ferro de um processo kafkiano que foi realidade.
A Confissão deu origem ao célebre filme homónimo de Costa-Gavras, com Yves Montand e Simone Signoret.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Conversações com Stalin, Milovan Djilas - GUILLERMO BELCORE (La Prensa, 2021)

 

LA FELICIDAD DE LOS LIBROS

Cara a cara con Stalin

Ciertos hechos y ciertos personajes de la historia atrapan por completo nuestra imaginación. Tienen fulgor hipnótico; una y otra vez volvemos a ellos tratando de descifrarlos. Iósif Vissariónovich Dzhugashvili, mejor conocido como Stalin, es uno de ellos. “Desde el punto de vista del humanismo y de la libertad, la historia no ha conocido un déspota tan brutal y cínico como él. Metódico, como los criminales que lo subordinan todo a la realización de una pasión delictuosa, era uno de esos dogmáticos extraños y terribles, que son capaces de destruir al noventa y nueve por ciento de los seres humanos para dar la ‘felicidad’ al uno por ciento restante“, lo describió un idealista que lo admiraba, se reunió cuatro veces cara a cara con el monstruo y terminó repudiándolo, incluso en letra impresa, lo que le valió más años de cárcel, no en la Unión Soviética, sino en otra dictadura roja, la del croata Josip Broz Tito.

El autor de la cita es el escritor y revolucionario 
Milovan Djilas (Mojkovac 1911-Belgrado, 1995), uno de los cuatro dirigentes más poderosos de la Yugoslavia comunista que emergió de la Segunda Guerra Mundial, pero una década más tarde cayó en desgracia por haber denunciado los vicios del sistema, en particular la llamadanomenklatura, condenada con toda razón y justicia en un libro que dio vuelta al mundo a partir de 1957: La nueva clase.

En uno de los mejores artículos periodísticos publicados en 2020 (http://www.laprensa.com.ar/493030-La-nueva-clase.note.aspx), Dardo Gasparré ha demostrado que los filosas denuncias de Djilas respecto a la nueva casta gobernante que se había enseñoreado detrás de la Cortina de Hierro podrían aplicarse perfectamente a la Argentina de nuestro tiempo.
 

La nueva clase ofendió a los Señores Bolcheviques que se vengaron extendiendo los años de cárcel de Djilas. En 1961, el régimen de Tito liberó al pensador montenegrino (al fin y al cabo era uno de los suyos), quien aprovechó la ocasión para escribir Conversaciones con Stalin con el propósito de ilustrar a los investigadores, “y en especial a los que luchan por una existencia humana más libre”.

Seix Barral lo publicó en España en 1963, edición de ciento setenta páginas que ha llegado a nuestras manos y nos gustaría recomendar a todo lector amante de la Historia en general, y al interesado en particular en esa aberración llamada “comunismo”.

Djilas, que nunca abjuró de sus ideas marxistas, organizó el libro en cuatro partes que lo dicen todo: Entusiasmo (1944); Dudas (1945); Desilusión (1948); Conclusiones. Y añadió una esclarecedora sección de ‘Notas biográficas‘.

El libro ofrece información de primera mano sobre el monstruo, con quien el vicario de Tito compartió no sólo discusiones políticas y estratégicas en el Kremlin, sino también esas cenas grotescas de más seis horas con que se relajaban Stalin, el glotón, y su camarilla, árbitros de la vida o la muerte de millones de personas:

 “En estas cenas se decidía la suerte del gran imperio ruso, la de los nuevos territorios adquiridos y, hasta cierto punto, la de la raza humana. Lo más seguro es que aquellas cenas no les inspirarán a aquellos ‘ingenieros del espíritu’ grandes empresas pero allí, probablemente, se enterraron muchas’.

PEQUEÑO BARRIGON


 Así describe el montenegrino a Stalin en su primer encuentro:
 

“Me sorprendió lo pequeño y mal construido que era. Tenía el tórax estrecho y los brazos las piernas, largos. Movía el brazo y el hombro izquierdos con dificultad y rigidez. Gozaba de una buena barriga y tenía poco pelo aunque no llegaba a la calvicie. Su cara era blanca, excepto las mejillas, coloreadas de un rosa intenso. Más tarde supe que ese colorido tan característico de quienes permanecen mucho sentados mucho tiempo en trabajos de oficina, era conocido como ‘tez del Kremlin’ en las altas esferas soviéticas. Los dientes de Stalin eran oscuros, irregulares y metidos hacia dentro. Su bigote no era muy espeso y tendía a ser lacio. Pese a todo, su cabeza no desagradaba; había en ella algo popular, campesino y patriarcal, que, junto a sus ojos pardos, constituía una curiosa mezcla de severidad y picardía”.


Los retratos de los serviles colaboradores del tirano son interesantísimos: Dimitrov, Molotov, Beria, Zadanov, Malenkov, Jruschev, entre otros. Una curiosidad: casi todos eran petisos, en el Politburó estaliniano casi no había hombres altos.

El libro parece una novela de aprendizaje. Djilas va de la fe del carbonero al escepticismo. “En aquella época creía aun que era posible ser comunista sin dejar de ser hombre libre”, escribe en la página ochenta y cinco. Le desagrada especialmente la rusificación de la Revolución de Octubre, lo que implicaba “atraso, primitivismo, chauvinismo, sentido de superioridad‘. Pero halla en el Gran Jefe una cualidad honorable: “tenía gran sentido del humor; humor áspero, seguro de sí mismo pero dotado de finura y profundidad”. Como el diablo, añadimos.

Una se va de este libro necesario con una obsesión en la cabeza. El régimen comunista de ayer y el neocomunismo de hoy es una calamidad para la especie humana, que favorece el ascenso de los chiflados en los que “cualquier delito es posible”, por lo tanto debe ser combatido con todas las armas intelectuales a nuestro alcance allí donde se encuentre, en La Habana, Caracas o Pyongyang. Stalin, “cuyo gusto por los crímenes gratuitos era propio de un Calígula, y poseía además la refinada crueldad de un Borgia y la brutalidad de Iván el Terrible“, fue la consecuencia lógica de un régimen de partido único. La alternancia en el poder es nuestro mejor seguro de vida.

Hay un pensamiento del tirano, delineado en 1945, que quizás explique mucho del mundo actual:
 

Hoy en día el socialismo es posible incluso bajo la monarquía inglesa. La revolución no es siempre necesaria...

 

domingo, 25 de abril de 2021

Conversações com Stalin - Milova Djilas (La prensa)

 

LA FELICIDAD DE LOS LIBROS

Cara a cara con Stalin

Ciertos hechos y ciertos personajes de la historia atrapan por completo nuestra imaginación. Tienen fulgor hipnótico; una y otra vez volvemos a ellos tratando de descifrarlos. Iósif Vissariónovich Dzhugashvili, mejor conocido como Stalin, es uno de ellos. “Desde el punto de vista del humanismo y de la libertad, la historia no ha conocido un déspota tan brutal y cínico como él. Metódico, como los criminales que lo subordinan todo a la realización de una pasión delictuosa, era uno de esos dogmáticos extraños y terribles, que son capaces de destruir al noventa y nueve por ciento de los seres humanos para dar la ‘felicidad’ al uno por ciento restante“, lo describió un idealista que lo admiraba, se reunió cuatro veces cara a cara con el monstruo y terminó repudiándolo, incluso en letra impresa, lo que le valió más años de cárcel, no en la Unión Soviética, sino en otra dictadura roja, la del croata Josip Broz Tito.

El autor de la cita es el escritor y revolucionario 
Milovan Djilas (Mojkovac 1911-Belgrado, 1995), uno de los cuatro dirigentes más poderosos de la Yugoslavia comunista que emergió de la Segunda Guerra Mundial, pero una década más tarde cayó en desgracia por haber denunciado los vicios del sistema, en particular la llamadanomenklatura, condenada con toda razón y justicia en un libro que dio vuelta al mundo a partir de 1957: La nueva clase.

En uno de los mejores artículos periodísticos publicados en 2020 (http://www.laprensa.com.ar/493030-La-nueva-clase.note.aspx), Dardo Gasparré ha demostrado que los filosas denuncias de Djilas respecto a la nueva casta gobernante que se había enseñoreado detrás de la Cortina de Hierro podrían aplicarse perfectamente a la Argentina de nuestro tiempo.
 

La nueva clase ofendió a los Señores Bolcheviques que se vengaron extendiendo los años de cárcel de Djilas. En 1961, el régimen de Tito liberó al pensador montenegrino (al fin y al cabo era uno de los suyos), quien aprovechó la ocasión para escribir Conversaciones con Stalin con el propósito de ilustrar a los investigadores, “y en especial a los que luchan por una existencia humana más libre”.

Seix Barral lo publicó en España en 1963, edición de ciento setenta páginas que ha llegado a nuestras manos y nos gustaría recomendar a todo lector amante de la Historia en general, y al interesado en particular en esa aberración llamada “comunismo”.

Djilas, que nunca abjuró de sus ideas marxistas, organizó el libro en cuatro partes que lo dicen todo: Entusiasmo (1944); Dudas (1945); Desilusión (1948); Conclusiones. Y añadió una esclarecedora sección de ‘Notas biográficas‘.

El libro ofrece información de primera mano sobre el monstruo, con quien el vicario de Tito compartió no sólo discusiones políticas y estratégicas en el Kremlin, sino también esas cenas grotescas de más seis horas con que se relajaban Stalin, el glotón, y su camarilla, árbitros de la vida o la muerte de millones de personas:

 “En estas cenas se decidía la suerte del gran imperio ruso, la de los nuevos territorios adquiridos y, hasta cierto punto, la de la raza humana. Lo más seguro es que aquellas cenas no les inspirarán a aquellos ‘ingenieros del espíritu’ grandes empresas pero allí, probablemente, se enterraron muchas’.

PEQUEÑO BARRIGON

 Así describe el montenegrino a Stalin en su primer encuentro:

“Me sorprendió lo pequeño y mal construido que era. Tenía el tórax estrecho y los brazos las piernas, largos. Movía el brazo y el hombro izquierdos con dificultad y rigidez. Gozaba de una buena barriga y tenía poco pelo aunque no llegaba a la calvicie. Su cara era blanca, excepto las mejillas, coloreadas de un rosa intenso. Más tarde supe que ese colorido tan característico de quienes permanecen mucho sentados mucho tiempo en trabajos de oficina, era conocido como ‘tez del Kremlin’ en las altas esferas soviéticas. Los dientes de Stalin eran oscuros, irregulares y metidos hacia dentro. Su bigote no era muy espeso y tendía a ser lacio. Pese a todo, su cabeza no desagradaba; había en ella algo popular, campesino y patriarcal, que, junto a sus ojos pardos, constituía una curiosa mezcla de severidad y picardía”.

Los retratos de los serviles colaboradores del tirano son interesantísimos: Dimitrov, Molotov, Beria, Zadanov, Malenkov, Jruschev, entre otros. Una curiosidad: casi todos eran petisos, en el Politburó estaliniano casi no había hombres altos.

El libro parece una novela de aprendizaje. Djilas va de la fe del carbonero al escepticismo. “En aquella época creía aun que era posible ser comunista sin dejar de ser hombre libre”, escribe en la página ochenta y cinco. Le desagrada especialmente la rusificación de la Revolución de Octubre, lo que implicaba “atraso, primitivismo, chauvinismo, sentido de superioridad‘. Pero halla en el Gran Jefe una cualidad honorable: “tenía gran sentido del humor; humor áspero, seguro de sí mismo pero dotado de finura y profundidad”. Como el diablo, añadimos.

Una se va de este libro necesario con una obsesión en la cabeza. El régimen comunista de ayer y el neocomunismo de hoy es una calamidad para la especie humana, que favorece el ascenso de los chiflados en los que “cualquier delito es posible”, por lo tanto debe ser combatido con todas las armas intelectuales a nuestro alcance allí donde se encuentre, en La Habana, Caracas o Pyongyang. Stalin, “cuyo gusto por los crímenes gratuitos era propio de un Calígula, y poseía además la refinada crueldad de un Borgia y la brutalidad de Iván el Terrible“, fue la consecuencia lógica de un régimen de partido único. La alternancia en el poder es nuestro mejor seguro de vida.

Hay un pensamiento del tirano, delineado en 1945, que quizás explique mucho del mundo actual:
 

Hoy en día el socialismo es posible incluso bajo la monarquía inglesa. La revolución no es siempre necesaria...

sábado, 17 de abril de 2021

Reflexão sobre grandes tiranos e um protótipo incompleto - Paulo Roberto de Almeida

 Frequentemente leio comparações acerca do degenerado que nos desgoverna com outros tiranos do passado e concluo que elas não se aplicam, não porque lhe falte vontade de ser déspota, mas porque não tem sequer condições de aspirar a ser um.

Mussolini e Hitler possuíam realmente projetos de nação, ainda que patológicos e demenciais. Mao Tsetung também, ao lançar o seu Grande Salto para a Frente, que produziu mais mortos do que todos os demais tiranos reunidos, incluindo Stalin, que levou adiante seu projeto de nação a ferro e a fogo, à base de uma moderna escravidão. 

Não é o caso de Bolsonaro: ele não tem qualquer projeto de nação, qualquer programa de governo, qualquer doutrina legitimadora, como tinham todos os demais monstros. 

Ele é a negação absoluta de qualquer projeto, programa ou ação pensada, ele é a pura expressão dos instintos mais primitivos, e o resultado é esse, demolição, eliminação, destruição, muitas vezes sem a intenção expressa de fazê-lo, a não ser em direção daqueles que ele vê como inimigos (e são muitos, todos os que não concordam com sua visão torpe do mundo e que não se lhe submetem). 

Ele é o niilismo no estado mais antifilosófico do termo, a extirpação de qualquer pensamento ou razão, a selvageria de alguém acometido de loucura incurável. Ele consegue reunir em si mesmo vários cavaleiros do apocalipse, mas sequer tem consciência disso. 

O Brasil foi entregue a um demente!

Gostaria de complementar o que escrevi, e postei, abaixo, dando nomes, ou pelo menos “profissões”, aos “bois” (com perdão da palavra, talvez sugestiva demais):

“Diagnóstico da situação: creio que o terreno já está mapeado e claro. Todos os sensatos já desembarcaram da nau desgarrada do capitão. Só sobraram os muito ignorantes, os fanáticos de sempre e os oportunistas de todos os matizes. O homem vai ficar desesperado, mas é o que sobrou!”

Era isso, apenas, mas vamos aos bois:

A principal base política do capitão é constituída pela segunda categoria , ou seja, o gado propriamente dito, que também pode compreender elementos bípedes da primeira e da terceira categorias. Mas não se sabe bem quantos seriam: tem muitos idiotas das três categorias que participam de marchas e manifestações, e o curralzinho do Alvorada tem ficado cada vez mais rarefeito (será que muitos já morreram, com o “kit Bolsovirus?); eles parecem muito mais numerosos nas redes sociais, pois aí tem algum trabalho dos mercenários que manipulam robôs e replicadores, o que pode dar essa impressão de quantidade (quando de fato pode ser dez ou cem vezes menor o volume do gado).

Os evangélicos se distribuem por todas as três categorias, mas a diferenciação se faz pelas faixas de renda: os pobres estão na primeira, os pastores na dos espertalhões, o que não os impede também de serem cavalgaduras completas.

Os milicos entram majoritariamente na terceira categoria, mas de suboficiais para baixo, e nas PMs, também devem entrar ignorantes e fanáticos. Uma coisa não impede a outra entre fardados, mas dificilmente oficiais que fizeram os cursos de Estado-Maior poderiam ser sinceramente bolsonaristas: seria muito difícil para gente instruída.

Capitalistas, do campo ou da cidade, se situam igualmente na terceira categoria, o que não impede empresários e ruralistas bolsonaristas de serem perfeitamente estúpidos, como ele próprio aliás.

Nem o pessoal do chamado Gabinete do Ódio é fanático: eles apenas estão fazendo o seu trabalho mercenário, e não podem ser tão estúpidos quanto os chefes da famiglia: eles precisam ser pelo menos eficientes, para abastecer as redes e alguns ministros mais idiotas.

Se contarmos que, com o mau exemplo do capitão, sua nau vai ficando sem grumetes, remadores ou marinheiros, que vão morrendo ou desistindo pelo caminho, talvez tenhamos um “navio fantasma” até o final do ano. Vai navegar a esmo pelos mares do Brasil? É provável!

Vai sobrar aquilo que Barbara Tuchman poderia chamar de marcha dos insensatos! 

Titanic já era: virou uma caravela toda estropiada, dentro em pouco um barquinho desmilinguido, a jangada de Medusa...

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3893, 17 de abril de 2021


sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Stalin e os judeus: evento no Wilson Center, Washington (29/01)

Stalin and the Black Book of Soviet Jewry

Wilson Center, January 29, 2019, 3pm-5:30pm

In 1944, Soviet writers Ilya Ehrenburg and Vasily Grossman together with the Jewish Anti-Fascist Committee prepared a 500-page book of testimonials about the mass murder and resistance of the Soviet Jews during the Holocaust. Shortly before publication, Stalin reversed his decision to publish the book, members of the Jewish Anti-Fascist Committee were executed, and silence descended upon the memory of the Holocaust. The Black Book would not be published in Russia until 2014. In this event, we will screen excerpts from Israeli filmmaker Boris Maftsir’s upcoming documentary exploring the fate of the Black Book and consider Stalin’s views and policies vis-à-vis Soviet Jewry.
This event is part of a series organized by the Kennan Institute in honor of the International Holocaust Remembrance Day, with support from the Embassy of Israel in the United States and Rabin Chair Forum at George Washington University. For more information about the series, please visit our website.
 

Speakers

  • Boris Maftsir

    Documentary Filmmaker
  • Zvi Gitelman

    Short-Term Scholar, Kennan Institute
    Professor Emeritus, Department of Political Science, University of Michigan, Ann Arbor
  • Joshua Rubenstein

    Associate at the Davis Center for Russian and Eurasian Studies, Harvard University

Event Co-sponsors

Sponsors: 
EMBASSY OF ISRAEL IN THE UNITED STATES
RABIN CHAIR FORUM AT GEORGE WASHINGTON UNIVERSITY
JEWISH COMMUNITY CENTER OF NORTHERN VIRGINIA
LEADERSHIP, ETHICS, AND PRACTICE INITIATIVE AT THE ELLIOTT SCHOOL OF INTERNATIONAL AFFAIRS
INSTITUTE FOR EUROPEAN, RUSSIAN, AND EURASIAN STUDIES
EDLAVITCH JEWISH COMMUNITY CENTER OF WASHINGTON, DC

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Novo livro de Anne Applebaum: Red Famine - Stalin's War on Ukraine (em outubro)

Da mesma autora de Gulag, que já resenhei (ver abaixo), e de Iron Curtain, que já li, mas não resenhei:

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Stalin nazista? Quase: um novo livro vai trazer a extensão de sua colaboracao...

Eu já havia feito aqui um resumo de uma pequena nota na revista da BBC, History, a propósito deste livro que vai ser publicado pela Yale University Press, e que documenta a extensão da colaboração de Stalin com Hitler e o projeto nazista de dominação europeia (possivelmente mundial).
Vejam aqui:
http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/06/stalin-colaborou-ativamente-com-hitler.html
Reproduzo abaixo uma image da matéria.
Paulo Roberto de Almeida





segunda-feira, 23 de junho de 2014

Stalin colaborou ativamente com Hitler, traindo os partidos comunistas - Secret Cables of the Comintern

Leio um dos números recentes da revista britânica History Magazine (vol. 14, n. 4, April 2014), onde na p. 9 encontro uma nota anunciando um novo livro em publicação pela Yale University:

Fridrikh Firsov (arquivista e historiador russo), Harvet Klehr; John Earl Haynes:
Secret Cables of the Comintern, 1933-1943

1943 foi o ano em que o Comintern foi dissolvido, para que Stalin fizesse boa figura junto aos seus novos aliados ocidentais, inimigos comuns do nazismo, que ainda tinha milhares de soldados na União Soviética.

A matéria se chama "Stalin pushed for closer ties with the Nazis, study shows", e relata detalhes até aqui desconhecidos da colaboração voluntária de Stalin para com Hitler, que só queria eliminá-lo da face da terra, junto com o bolchevismo, que era considerado, junto com a "peste judia", o principal inimigo da humanidade, ou pelo menos da concepção que Hitler se fazia da humanidade (para ele com a raça ariana no comando, sendo os eslavos literalmente isso mesmo, escravos).

Stalin chegou ao ponto de pretender se juntar ao Pacto de Aço, com a Itália, e deu ordens aos partidos comunistas sob influência da URSS para que colaborassem ativamente com os nazistas, nos quase três anos durante os quais vigorou o pacto Ribbentrop-Molotov. Ele até empurrou o governo pró-fascista da Bulgária a se juntar ao Pacto, dizendo ao líder do Comintern, o búlgaro Georgi Dimitrov que a própria URSS pretendia se juntar, uma demanda que os nazistas ignoraram.

Quando algum comunista disser que o partido é anti-fascista, não custa nada lembrar essa pequena história. Na verdade, comunismo e fascismo são irmãos siameses, se não irmãos gêmeos em tudo, pensamento e ação.
Paulo Roberto de Almeida

domingo, 1 de junho de 2014

O Grande Terror Stalinista - Simon Sebag Montefiore

O Terror Comunista

A matéria acima é um resumo das páginas 245 a 269 do livro "Stalin, a Corte do Czar Vermelho", Simon Sebag Montefiore, editora Companhia das Letras, 2003.

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

sábado, 31 de maio de 2014

Por Carlos I. S. Azambuja

Em 29 de janeiro de 1937, em Moscou, 13 supostos membros de uma conspiração trotskistaforam condenados à morte e 200 mil pessoas, deslumbradas pela propaganda da luta de Stalin contra o terror, reuniram-se na Praça Vermelha, apesar da temperatura de -27 graus Celsius, carregando estandartes que diziam: "O veredicto da corte é o veredicto do povo". Kruschev falou para a massa, denunciando o "Judas Trotsky", expressão que implicava fortemente que Stalin era o Jesus metafórico. "Ao erguer a mão contra o camarada Stalin", disse Kruschev à multidão,"eles levantaram a mão contra tudo que há de melhor na humanidade, porque Stalin é esperança (...). Stalin é nossa bandeira. Stalin é nossa vontade. Stalin é nossa vitória" .
Nikita Kruschev, como se sabe, posteriormente, em fevereiro de 1956, no XX Congresso do PCUS condenou por seus crimes o kamarada Stalin, que assim, 19 anos depois, não era mais "a nossa bandeira, a esperança, a nossa vontade e a nossa vitória".

A regra no mundo de Stalin era a de que, quando um homem caía, todos os que tinham ligação com ele, fossem amigos, amantes ou protegidos, cairiam junto. Seu cunhado e seu sogro foram fuzilados. Sua esposa, sua irmã e seus pais foram exilados.
Nas Forças Armadas o terror atingiu três dos cinco marechais, quinze dos dezesseis comandantes de Unidades e os dezessete comissários políticos. Todos foram fuzilados. Eles não foram mortos pelo que haviam feito, mas pelo que poderiam fazer. Ou seja, foram mortos por uma traição em potencial.

Politburo nem especificava os nomes. Simplesmente fixava cotas de morte aos milhares. Em 2 de julho de 1937, o Politburo ordenou que os secretários locais prendessem e fuzilassem "os elementos anti-soviéticos mais hostis", que deveriam ser sentenciados por troikas, tribunais de três homens que incluíam usualmente o secretário do partido, o Procurador e o chefe local do NKVD. Os "elementos anti-soviéticos mais hostis" eram apontados pelo secretário do partido na região.

O objetivo era "acabar de uma vez por todas" com todos os inimigos e com aqueles impossíveis de educar no socialismo, de modo a acelerar o desaparecimento das barreiras de classe e, portanto, a instauração do paraíso para as massas. Essa solução final era um massacre que fazia sentido em termos da fé e do idealismo do bolchevismo, que era uma religião baseada na destruição sistemática das classes. O princípio de ordenar o assassinato como cotas industriais do Plano Qüinqüenal era, portanto, natural. Os detalhes não importavam: se a destruição dos judeus por Hitler foi um genocídio, então aquilo foi um democídio (*), a luta de classes se transformando em canibalismo.

A 30 de julho de 1937, Iejov, chefe do NKVD, encaminhou a Ordem 00447 ao Politburopropondo que, entre 5 e 15 de agosto, as regiões deveriam receber cotas para duas categorias: Categoria Um, fuzilamento; Categoria Dois, deportação. Sugeriu que 72.950 deveriam ser fuzilados e 259.450 presos. Não havia como deixar de cumprir uma sugestão do NKVD confirmada pelo Politburo do partido. As regiões deveriam apresentar mais listas. As famílias dessas pessoas deveriam ser também deportadas.

Politburo confirmou essa Ordem no dia seguinte.

Não demorou para que esse moedor de carne adquirisse tal impulso que, conforme a caça às bruxas se aproximava de seu auge e os ciúmes e as ambições locais se atiçavam, cada vez mais gente era jogada no moedor.

As cotas foram logo cumpridas pelas regiões que pediram então números maiores: entre 28 de agosto e 15 de dezembro, o Politburo concordou com o fuzilamento de outras 22.500 pessoas e, depois, com mais 48 mil. As regiões estavam matando rápido demais: Nikita Kruschev, líder de Moscou, ordenou efetivamente o fuzilamento de 55.741 funcionários, mais do que estipulava a cota original do Politburo, que era de apenas 50 mil. Em 10 de julho de 1937, Kruschev escreveu a Stalin pedindo o fuzilamento de 2 mil ex-kulaks, a fim de cumprir sua cota. Os arquivos do NKVD mostram-no dando entrada em muitos documentos propondo prisões. Na primavera de 1938, ele já supervisionara a prisão de 35 dos 38 secretários provinciais e municipais, o que dá uma idéia do moedor de carne. Kruschev, uma vez que estava em Moscou, levava as listas diretamente a Stalin. "Não pode haver tantos!", exclamou Stalin, certa vez. "Na verdade, há mais", retrucou Kruschev. "Você não pode imaginar quantos existem". A seguir, a cidade de Stalinabad recebeu uma cota de 6.277 para fuzilar, mas executou 13.259.

grande terror, todavia, foi diferente dos crimes de Hitler que destruíram sistematicamente um alvo limitado: judeus e ciganos. Na Rússia, ao contrário, a morte era aleatória: o comentário esquecido há muito tempo, o flerte com a oposição, a inveja do emprego, da mulher ou da casa de outro homem. Vingança ou simplesmente pura coincidência causaram a morte de famílias inteiras. Isso pouco importava: "Melhor ir longe demais do que não ir longe o suficiente", disse o chefe do NKVD, Iejov, aos seus homens, enquanto a cota original de prisões da Ordem 00447 inflava para 767.307 prisões e 386.798 execuções.

Ao mesmo tempo, Iejov atacava contingentes nacionais, ou seja, a execução por nacionalidades, contra poloneses e alemães que viviam na Rússia, entre outros. Em 11 de agosto, ele assinou a Ordem 00485, para liquidar "diversionistas e grupos de espionagem poloneses", Ordem que consumiria a maior parte do Partido Comunista Polonês, a maioria dos poloneses no interior da liderança bolchevique, qualquer um que tivesse "contatos consulares" ou sociais e, é claro, também suas esposas e filhos. Cerca de 350 mil pessoas (das quais 144 mil poloneses) foram presas nessa operação, com 247.137 fuzilados (110 mil poloneses). Um minigenocídio. Poloneses foram os mais atingidos mas a operação incluiu a deportação de curdos, gregos, finlandeses, estonianos, letões, chineses e romenos. Na Mongólia, o NKVD fuzilou 6.311 padres, lordes e funcionários comunistas, cerca de 4% de sua população.
"Batam, destruam sem escolher!", ordenou Iejov a seus capangas. Aqueles que mostravam "inércia operacional" na prisão de "formações contra-revolucionárias dentro e fora do partido", seriam eles mesmos destruídos mas a maioria da capangada tentava ultrapassar uns aos outros com relatórios com números gigantescos de pessoas presas. Iejov chegou a especificar que "se, durante a operação, umas mil pessoas a mais forem fuziladas, não é um grande problema". Uma vez que Stalin e Iejov aumentavam constantemente as cotas, uns mil a mais aqui e ali eram inevitáveis...

Uma vez iniciado o massacre, Stalin quase sumiu da vida pública, aparecendo apenas para saudar crianças e delegações. Espalhou-se o rumor de que ele não sabia de nada (no Brasil também existiu um governante que não sabia de nada).

Em 1937 falou em público apenas duas vezes e em 1938 apenas uma. Stalin era o mentor, mas não estava sozinho. Com efeito, não é correto e nem útil pôr a culpa do terror em um único homem, uma vez que o assassinato sistemático começou logo depois de Lênin ter assumido o poder, em 1917, e só parou depois da morte de Stalin. Aquele era um "sistema social baseado no derramamento de sangue". O terror, assim, não foi apenas uma conseqüência da monstruosidade de Stalin, mas com certeza se formou, expandiu e acelerou graças ao seu caráter peculiarmente dominador, refletindo seu rancor e seu espírito vingativo. "A maior delícia", disse Stalin a Kamenev - um dos que não escaparia do moedor de carne - "é marcar o inimigo, preparar tudo, vingar-se por completo e depois ir dormir".

Enquanto as regiões cumpriam suas cotas anônimas, Stalin também matava milhares que conhecia bem. Em um ano e meio, 5 dos 15 membros do Politburo, 98 dos 139 membros do Comitê Central e 1.108 dos 1.966 delegados do XVII Congresso foram presos. Iejov entregou aoPolitburo 383 listas específicas dessas vítimas, com o pedido: "Peço sanção ao Politburo para condená-los todos dentro da Primeira Categoria".

Foi isso que diferenciou Lênin de Stalin: Lênin matou todos os seus inimigos; Stalin matou os inimigos e os amigos.

A maioria das listas foi assinada por Stalin, Molotov, Kaganovitch e Vorochilov. No dia 12 de dezembro de 1938, por exemplo, Stalin e Molotov assinaram 3.167 execuções. Em geral, escreviam simplesmente: "A favor". Molotov admitiu: "Assinei a maioria - na verdade, todas - listas de prisão. Debatemos e tomamos uma decisão. A pressa dominava. Seria impossível entrar em todos os detalhes? (...) Às vezes, gente inocente era presa. É óbvio que um ou dois em cada dez eram presos erradamente, mas o resto está certo". Como disse Stalin: "É melhor uma cabeça inocente a menos do que hesitações numa guerra". Kaganovitch lembrava o frenesi da época: "Que emoções!"

A 5 de julho de 1937, o Politburo mandou o NKVD "confinar todas as esposas dos traidores condenados (...) em campos por cinco, oito anos" e tomar sob a proteção do Estado as crianças com menos de quinze anos: 18 mil esposas e 25 mil crianças foram levadas embora. Isso, porém, não foi suficiente. Em 15 de agosto, Iejov decretou que as crianças entre um e três anos de idade seriam confinadas em orfanatos, mas "crianças socialmente perigosas, com idade entre três e quinze anos, poderiam ser aprisionadas, dependendo do grau de perigo". Quase um milhão dessas crianças foi criada em orfanatos e, com freqüência, não viram suas mães durante vinte anos. Tudo isso atingiu um clímax quando sessenta crianças com idades entre dez e doze anos foram acusadas de formar "um grupo contra-revolucionário terrorista" e ficaram presas durante oito meses.

Em 8 de outubro de 1938, uma comissão do Politburo denunciou "erros muito graves no trabalho dos órgãos do NKVD" (trabalhos que ele, Politiburo, sempre convalidou) As troikasmortíferas que alimentavam o moedor de carne foram dissolvidas. Iejov, renunciou à chefia do NKVD em 23 de novembro de 1938, permanecendo, no entanto, como Comissário do Transporte de Água e membro candidato ao Politburo.

Dois dias depois, em 25 de novembro, Laurenti Beria, a quem Stalin apelidou de "Promotor", foi nomeado chefe do NKVD, trazendo seus capangas georgianos para Moscou. Nessa mesma data, Stalin e Molotov assinalaram o fuzilamento de 3.176 pessoas. Estiveram, portanto, muito ocupados.

Beria logo começou a trabalhar. Entre 24 de fevereiro e 16 de março de 1939, comandou a execução de 439 prisioneiros importantes, entre os quais o marechal Iegórov e os ex-membros do Politburo Kosior, Póstichev e Tchubar. Quando dessa execução, ele já estava morando nadatcha de Tchubar.

Finalmente, em 10 de março de 1939, os 1.900 delegados ao XVIII Congresso se reuniram para declarar o fim de uma carnificina que fora um sucesso, ainda que levemente prejudicada pelos excessos maníacos de Iejov. Nesse Congresso, Nikita Kruschev tornou-se membro doPolitburo, enquanto Beria era eleito candidato a ele. Essa liderança governou o país por toda a década seguinte sem nenhuma baixa. Afinal, o Congresso não havia declarado o fim da carnificina?

A morte de Stalin, em 8 de março de 1953, provocou consternação nacional. O novo grupo de dirigentes que assumiu o poder - Malenkov, Molotov, Bulganin e Kruschev - tratou logo de dar um fim em Laurenti Beria, o policial-chefe de Stalin, determinando sua prisão e o pronto fuzilamento, o que ocorreu em setembro de 1953.

Três anos depois, em fevereiro de 1956, no XX Congresso do PCUS, Kruschev lançaria as suas famosas denúncias contra Stalin, indicando que a nova sociedade soviética, dos engenheiros, dos técnicos, dos intelectuais, dos trabalhadores qualificados, do satélite e da bomba atômica, não mais podia conviver com as práticas estigmatizadas que Stalin deixara como herança. Mais tarde, Kruschev iria admitir que a era Stalin "deixou todos com sangue até os cotovelos".

A verdade é que o grande terror não teria acontecido sem Stalin. Contudo, ele também refletiu os ódios provincianos da incestuosa seita bolchevique, em que os crimes fervilhavam desde muito antes, desde os anos de exílio e guerra. A responsabilidade, no entanto, ficaria com as centenas de funcionários - os capangas de Iejov e, depois, de Béria - que ordenaram o perpetraram as mortes. Stalin e seus assessores mataram com entusiasmo, inconseqüência, quase com alegria e, em geral, assassinaram mais do que lhes foi pedido. Ninguém jamais foi processado por esses crimes, mesmo depois do desmonte do socialismo real e do desaparecimento da União Soviética.

(*) Democidio é um termo criado pelo investigador político R. J. Rummel com a intenção de criar um conceito mais amplo que a definição legal de genocidio. O democídio se define como o assassinato de qualquer pessoa ou pessoas por parte de um governo, incluindo genocidio, assassinatos políticos e assassinatos massivos.


Carlos I. S. Azambuja é Historiador.