O stalinismo redivivo, aliás eterno
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre a tirania de Putin, mais longa e mais elaborado do que a de Stalin.
A Rússia retornou ao eixo central do stalinismo totalitário, com a única exceção do Gulag, não mais necessário para controlar eventuais insatisfações do povo com as carências do regime. Sem recorrer a colônias penais, Putin domina cada aspecto da sociedade.
Um verdadeiro Stalin, mas sem Gulag, não mais necessário: Putin conseguiu instilar medo em todos e cada um, e os pouquíssimos liberais da era Ieltsin simplesmente evaporaram da paisagem.
Um novo Orwell poderia se dispor a reescrever 1984 com uma nova data: 2034.
Ali se chegaria ao ápice do Big Brother totalitário, com a morte do tirano, o mais longevo na história secular da tirania russa, o único regime registrado por aquela civilização secular que só conheceu lampejos fugazes de liberalização extremamente raros em um itinerário milenar.
O putinismo conseguiu superar o stalinismo, não apenas temporalmente, mas também metodologicamente, instituindo o terror preventivo, que passou a estar embebido na população, uma configuração do Príncipe que passou despercebida a um espírito atilado como Maquiavel.
Os futuros cientistas políticos vão debruçar-se sobre esse fenômeno.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4526, 9 dezembro 2023, 1 p.