[ Nota preliminar PRA: Incrível: apenas nesta data — 21/05/2021, quando redijo esta curta introdução a mais uma crônica do nosso herói desconhecido da casta dos diplomatas, o autointitulado Ombudsman Ereto da Brocha, a quem eu carinhosamente apelidei de “Batman do Itamaraty” —, me dou conta que ele a fez na 18a. semana de grande combate contra a estupidez ideológica que se abateu sobre a Casa de Rio Branco desde os primeiros dias de janeiro de 2019, e que aparentemente se encerrou no dia 29 de março de 2021. Como eu sempre recebi estas crônicas da resistência clandestina por vias traversas, e de maneira muito errática, havendo sempre um descompasso, uma decalagem temporal entre sua redação, nunca datada, e minhas reproduções neste quilombo de resistência intelectual, depois assembladas numa brochura, só agora me dou ao cuidado de publicá-la, ousando fazê-lo com uma introdução um pouco mais longa, pois esta crônica foi a mim dirigida, no título e na substância. O fato é que esta “pièce de résistence” leva a numeração “18bis”, o que indica que ela foi produzida ainda na primeira leva de petardos bem humorados contra o destruidor do Itamaraty e que eu reuni no primeiro conjunto de crônicas do nosso Cronista Misterioso do Itamaraty, uma pequena brochura divulgada em meados do segundo semestre de 2020, quase duas dúzias completas destas peças corrosivas contra o nosso verdugo finalmente defenestrado de uma cadeira na qual nunca deveria ter sido autorizado a sentar, e de onde nos envergonhou a todos, nós os diplomatas profissionais, nestes dois anos e três meses em que durou um indizível e inimaginável sofrimento diplomático. Ora, o cronista misterioso já se aproxima do final de sua obra mais que meritória de Defensor Geral da Diplomacia e dos Diplomatas Profissionais, tendo eu recebido já a 53a. crônica, que preciso ainda divulgar, e eu recém posso acusar recebimento desta peça que leva a ordem cronológica 18bis, embora não datada pelo calendário, cabendo-me, portanto, somente agora respondecer e agradecer com atraso aos elogios que o mosso Cronista Misterioso me faz. Sim ele esclarece que estivemos em campos opistos no passado — pois que dado meu caráter contrarianista eu nunca me deixei seduzir pelas bobagens ideológicas, ainda que memais amenas do que o horror esquizofrênico do bolsolavismo diplomático, representadas pelo que eu chamei de lulopetismo diplomático, uma moderada distorção de nossa política externa, comparada à destruição a que assistimos a partir de janeiro de 2019. Tanto é assim que eu intitulei meu livro de 2014 sobre o lulopetismo diplomático de “Nunca Antes na Diplomacia”, ao passo que minha mais recente peça de resistência contra os despautérios contra a nossa diplomacia leva o titulo de “O Itamaraty Sequestrado: a destruição da diplomacia pelo bolsolavismo, 2018-2021”. Reforço ainda a diferença abissal entre as duas “eras” pelo fato de que meu próximo livro sobre os itinerários diplomáticos das últimas três décadas deverá se chamar “Apogeu e Demolição da Política Externa”, e que o lulopetismo diplomático integra antes a primeira fase do que o infeliz ciclo bolsolavista na diplomacia e que agora parece perto de se encerrar. Agradeço pois ao Cronista Misterioso, já antecipando que recolherei suas derradeiras “pièces de résistence” numa quinta e última brochura de síntese abrangente de toda a sua defesa da nossa instituição, cujo título ainda vou definir. Somos ambos resistentes ao trabalho de sapa do ex-chanceler acidental e de seu inepto chefe, o Cronista de modo “misterioso”, eu de peito aberto, sofrendo todas as retaliações que o infeliz e desequilibrado ex-chanceler e seu nefando capataz de gabinete me impuseram. Continuaremos atentos aos desenvolvimentos desta aventura e prometo acelerar a produção de uma última brochura, assim que receber as duas ou três crônicas finais.]
Carta ao Paulo Roberto (Semana 18-bis)
O amigo leitor deve já ter percebido que, muito em função da idade, não sou lá muito afeito ao mundo digital. Conto, assim, com a ajuda indispensável de alguns fiéis colaboradores que repassam estas insólitas crônicas pelos corredores virtuais de nosso Ministério, quase como item de contrabando intelectual. Afinal, como que caçados pelo Ministério da Verdade, há perigo por todos os lados e nos sentimos sempre vigiados.
Qual não foi minha surpresa quando um amigo querido, com quem trabalhei por duas vezes, uma no exterior e outra na Secretaria de Estado, perguntou se eu conhecia o autor de umas tais crônicas que o Paulo Roberto estava divulgando. Fiquei pasmo. Meus contrabandistas do intelecto haviam, depois de certo tempo, conseguido fazer chegar meus solilóquios às mãos de nosso Enfant Terrible, quiçá, hoje, nosso Aîné Terrible (perdoe a troça Paulo Roberto, trata-se, sim, de um elogio, pois estamos todos velhos de corpo e temos que aceitar a velhice com leveza para permanecermos jovens de espírito, algo que você soube fazer como poucos).
Ainda maior que a surpresa deste velho, foi o brio de que me imbuí com as elogiosas linhas que você, Paulo Roberto, a mim dedicou. Acariciou-me, em especial, o ego o apelido que me destes: O Batman do Ministério (só ressalvo que, apesar de rir-me do apelido, renego qualquer ligação aos Batmans togados de nosso país). Malgrado as carícias a minha vaidade, fiquei especialmente tocado de perceber que meus desabafos encontravam ecos nos ouvidos de ilustres colegas com os quais muitas vezes discordei.
Muitas vezes discordamos, Paulo Roberto, e nos colocamos em campos opostos no âmbito de nossa política externa, embora sempre com respeito. Hoje, contudo, estamos juntos em oposição às ignóbeis asneiras que escorrem como pus das feridas abertas do gabinete. Trata-se de uma união óbvia, pois sempre estivemos contra à barbárie. Ainda que tenhamos discordado ao longo da carreira, estamos juntos contra as trevas.
Não me resta nada, senão agradecê-lo pelos elogios e pela propaganda que fizeste das balbuciantes baboseiras deste velho.
Juntos contra as trevas, reflitam a luz do pensamento.
Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN