Tendo recebido estas crônicas paulatinamente, ao longo das últimas semanas, desde agosto, resolvi compilar as duas dúzias recebidas numa brochura, que coloco agora à disposição dos interessados.
“Um Ornitorrinco no Itamaraty: crônicas do Itamaraty bolsolavista”, Brasília, 5 novembro 2020, 35 p. Compilação de 24 crônicas do cronista misterioso, um diplomata aposentado que se apresenta como “ministro Ereto da Brocha”, publicadas individualmente no blog Diplomatizzando, e agora reunidas em uma brochura.
Índice
Nota liminar à 2ª. edição das Crônicas do Itamaraty bolsolavista
Introdução pessoal às crônicas do diplomata anônimo
Paulo Roberto de Almeida
Crônicas recebidas até 4/11/2020
1. O papel do asno na sociedade brasileira (semana 01)
2. Gusmão rendido (semana 02)
3. Pela restauração! (semana 03)
4. Franjas lunáticas (semana 4)
5. O Anti-Barão (semana 05)
6. Alienáveis alienígenas (semana 06)
7. Nobel (semana 07)
8. Sussurram os Corredores (semana 08)
8bis. Bolo de Laranja Lima (semana 08-bis)
9. Meu caro amigo (semana 09)
10. Aos fatos (semana 10)
11. Kejserens nye Klæder (semana 11) [As Roupas Novas do Rei]
12. A Era do Rádio (semana 12)
13. Era uma vez na Arábia um homem chamado Abu (semana 13 - Parte 01)
14. ABU V, o heterônimo (semana 14 - Parte 02)
15. O estranho caso de Abu (semana 15)
16. A jornada do herói (semana 16)
17. Rumo à Idade Média (semana 17)
18. Patriotas (semana 18)
19. Os leitões de Niemöeller (semana 19)
20. Receita contra o globalismo (semana 20)
21. O Ig Nobel (semana 21)
22. O Discurso [na ONU] (semana 22)
23. As cinzas de Pompeia (semana 23)
24. Réquiem para um povo (semana 24)
Um cronista misterioso anima a RESISTÊNCIA no Itamaraty
Paulo Roberto de Almeida
Postado na plataforma Academia.edu; link:
https://www.academia.edu/44437505/Um_Ornitorrinco_no_Itamaraty_cronicas_do_Itamaraty_bolsolavista_Ereto_da_Brocha_2020_
Nota liminar à 2ª. edição das
Crônicas do Itamaraty bolsolavista
Um cronista (até aqui) misterioso
No dia 20 de agosto de 2020 recebi, de um colega de carreira, uma dúzia de arquivos assinados com um nom de plume, nitidamente de um diplomata aposentado, empenhado em criticar os descaminhos do Itamaraty bolsolavista. Eles foram seguidos, nas semanas seguintes, por mais uma dúzia, perfazendo, até aqui, 24 crônicas saborosas.
Li, gostei, e resolvi republicar, por minha conta e risco, no Diplomatizzando, uma por uma destas crônicas, que tratam todas da lamentável situação do Itamaraty sob a gestão atual governo aloprado. Elas foram redigidas certamente por um diplomata experiente, mas já aposentado, o que o coloca ao abrigo de retaliações maciças que possam aflorar no cérebro confuso do seu principal objeto, o ornitorrinco que vive submergido, fora do alcance da imprensa e do escrutínio dos próprios colegas.
Como detectei grande interesse no material, resolvi compor uma pequena brochura para colocar essas crônicas de um autor ainda desconhecido à disposição dos interessados, consolidando o material recebido com pequenas introduções a cada uma delas e uma introdução geral ao conjunto, todos esses textos feitos claramente de improviso, no calor da hora.
Acredito que o cronista anônimo vai continuar se exercendo nas doçuras da crítica sarcástica, mas não tenho contato com ele. Dependo de colegas que recebem e me repassam o material, que não sei exatamente como circulam. O fato é que essas crônicas são lidas com indizível prazer pela nossa corporação de ofício, que assim pode desfrutar (ainda que clandestinamente) do sarcasmo que são a sua marca irrecusável.
Numa conjuntura de tantos absurdos e bizarrices, a maior parte composta de declarações presidenciais imensamente constrangedoras para nosso país, internamente e externamente, uma das reações usadas em todas as épocas é a derrisão, ou seja, a ironia ferina, ou sarcástica, usada como armas da crítica, desde Erasmo e Swift, até nossos dias. Dois dos nossos saudosos cronistas de costumes, Stanislaw Ponte Preta – autor do (hoje de mais rara menção, mas inesquecível) Febeapá, o “Festival de Besteiras que Assola o País” – e Millôr Fernandes, também conhecido como Vão Gogo, se sentiriam à vontade e escreveriam novas crônicas impagáveis sobre os atuais pândegos do poder estabelecido.
Se eu tivesse de dar um conselho ao nosso cronista misterioso, eu pediria que ele datasse, pelo calendário efetivo, cada uma de suas saborosas crônicas, pois o registro cronológico é importante para a história, uma vez que o Brasil necessita ter um registro preciso destes tempos tão pouco memoráveis, não convencionais, em nossa vida de retinas fatigadas pelas pedras no caminho que temos de enfrentar em nossa incerta trajetória em direção a um vago futuro.
Em todo caso, desejo uma excelente continuidade no bom trabalho que vem sendo desenvolvido pelo cronista misterioso. Não sei se a Funag, em alguma administração futura, poderá publicar estar crônicas de costumes, mas fica a sugestão, talvez num estilo não muito diferente daquele seguido, no século XIX, por uma dupla que se exercia nesse tipo de crítica: Bouvard e Pecuchet.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 24 de agosto, 4 de novembro de 2020