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sexta-feira, 21 de agosto de 2020

12) "A Era do Rádio" - um cronista secreto do Itamaraty bolsolavista

A Era do Rádio 

(semana 12)

Tenho um televisor moderno e ando abusando de canais de notícias e de filmes antigos. Mas eu sou mesmo do tempo do rádio. “Um piano ao cair da Tarde”, da Eldorado. O clássico da Bandeirantes, “Os brotos Comandam”, pois afinal eu era jovem.  O “Repórter Esso”. Foram longas horas entre as novidades, os clássicos, as notícias e tantas outras vozes que povoavam o imaginário daquela época e que ainda me aquecem a alma.

Em minha nostalgia, resolvi sintonizar alguma estação. “Enquanto os homens exercem seus podres poderes, motos e fuscas avançam os sinais vermelhos e perdem os verdes. Somos uns boçais”.

Era Caetano. “Queria querer gritar setecentas mil vezes  como são lindos, como são lindos os burgueses e os japoneses, mas tudo é muito mais!”

Meu corpo aqueceu-se. “Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos? Será, será que será que será que será, será que essa minha estúpida retórica terá que soar, terá que se ouvir por mais zil anos?”

A essa altura, meus dedos batucavam acompanhando Caetano: “Enquanto os homens exercem seus podres poderes, Índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazem o carnaval! Queria querer cantar afinado com Ellis! Silenciar em respeito ao seu transe, num êxtase! Ser indecente! Mas tudo é muito mau! Ou então cada paisano e cada capataz, com sua burrice fará jorrar sangue demais nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos Gerais?”

Arrepiado, escutei até o fim. “Será que apenas os hermetismos pascoais, os tons, os mil tons, seus sons e seus dons geniais, nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais? Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede são tantas vezes gestos naturais! Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo, daqueles que velam pela alegria do mundo. Indo mais fundo, Tins e Bens e tais!”

Contra os homens e seus podres poderes, reflitam.

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN

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