Meu trabalho mais recente, apenas terminado, para uma palestra online. Obviamente não será lido:
3739. “Duas diplomacias contrastadas: a do lulopetismo e a do bolsolavismo”, Brasília, 23 agosto 2020, 35 p. Exercício de comparação recapitulativa dos principais elementos de política externa e de diplomacia em cada uma das duas épocas, incluindo também a de FHC. Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43930886/3739_Duas_diplomacias_contrastadas_a_do_lulopetismo_e_a_do_bolsolavismo_2020_).
Duas diplomacias contrastadas: a do lulopetismo e a do bolsolavismo
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata; professor no Uniceub
Sumário:
1. Similaridades e diferenças entre uma e outra diplomacia
2. O que distingue, basicamente, a diplomacia lulopetista da bolsolavista?
3. Contrastes e confrontos entre a diplomacia lulopetista e a bolsolavista
(a) Multilateralismo e cooperação internacional: a quadratura do círculo
(b) OMC e questões comerciais em geral: muito barulho por quase nada
(c) Terrorismo: o que os EUA determinarem, está bem
(d) Globalização e “globalismo”: quando o besteirol chega ao Itamaraty
(e) Brasil na América do Sul e a questão da liderança regional
(f) Mercosul: supostamente relevante, mas de fato deixado de lado
(g) Argentina, o parceiro incontornável (mas contornado)
(h) Europa, União Europeia: esperanças e frustrações
(i) A relação bilateral com os Estados Unidos: subordinação em toda a linha
(j) relações com a China: entre o saldo comercial e o “comunavirus”
4. Instrumentos diplomáticos e características gerais das duas diplomacias
Resumo: Ensaio comparativo, contrastando as políticas externas das administrações Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro, com base em suas características gerais e nas tomadas de posição em relação a um conjunto de temas da agenda internacional, nomeadamente: multilateralismo (CSNU); OMC e negociações comerciais multilaterais; terrorismo; globalização; Brasil como líder na América do Sul; Mercosul; Argentina; Europa e União Europeia; relações com os Estados Unidos e China, ademais dos instrumentos diplomáticos mobilizados por cada um dos governos. Os elementos inéditos na fase recente são bem evidentes tanto no estilo quanto na substância, que passou a exibir diversos traços de ruptura com respeito aos padrões e tradições da diplomacia brasileira.
Palavras-chave: diplomacia brasileira; governo Luiz Inácio Lula da Silva; governo Jair Messias Bolsonaro; multilateralismo; globalização; regionalismo; negociações comerciais.
Abstract: Comparative essay, contrasting the foreign policies of Luiz Inácio Lula da Silva’s and Jair Messias Bolsonaro’s administrations. Besides the general features of each diplomacy, external policies and practices of each government are compared for a set of issues in the international agenda, namely: multilateralism (UNSC); WTO, and multilateral trade negotiations; terrorism; globalization; Brazil as a leader; South America; Mercosur; Argentina; Europe; relationship with the United States, and China, with a final section on diplomatic tools preferred by each government. There are unseen aspects in current diplomacy, both in style as well as substance, with breaking features with the traditional patterns and standards of Brazilian diplomacy.
Key-words: Brazilian diplomacy; Luiz Inácio Lula da Silva government; Jair Messias Bolsonaro government; multilateralism; globalization; regionalism, trade negotiations.
Duas diplomacias contrastadas: a do lulopetismo e a do bolsolavismo
Paulo Roberto de Almeida
1. Similaridades e diferenças entre uma e outra diplomacia
Em meados de 2004, ou seja, aproximadamente um ano e meio depois da inauguração do primeiro mandato do presidente Lula, procedi a uma avaliação de sua política externa, em perspectiva comparada com a diplomacia do recém findo governo de Fernando Henrique Cardoso, este ao final de seus dois mandatos. O artigo, “Uma política externa engajada: a diplomacia do governo Lula”, foi publicado na Revista Brasileira de Política Internacional (2004, vol.47, n.1, p. 162-184, link: http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v47n1/v47n1a08.pdf) e depois incorporado ao livro Nunca Antes na Diplomacia...: A política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014). Ele converteu-se num dos trabalhos mais acessados, segundo a listagem do Google Scholar (perto de trezentas citações), abrindo uma discussão colaborativa com diversos outros colegas acadêmicos trabalhando na mesma temática.
Um ano e meio após a inauguração do governo Bolsonaro, imaginei poder repetir o exercício, procedendo a uma comparação entre as duas diplomacias, a do lulopetismo e (à falta de melhor termo) a do bolsolavismo. De imediato, constatei que tal comparação, segundo os procedimentos metodológicos apropriados a esse tipo de abordagem, seria propriamente impossível, em vista da inexistência de base documental suficiente para o segundo elemento. Não obstante, como daquela primeira vez, vale o esforço analítico.
Cabe, antes de tudo, uma explicitação quanto à escolha do termo “bolsolavista”, em lugar de diplomacia bolsonarista. Ela é simples: não se tem nenhuma indicação de que o presidente, ou seus assessores mais próximos, tenham ideias próprias no terreno da política internacional, ao passo que muitas de suas posturas, inclusive na área externa, parecem ter recebido decisiva influência de conhecido influenciador e animador de movimentos da direita conservadora, que declarou abertamente que atuou como “patrono” da designação do chanceler escolhido; seja como for, nenhum deles, até aqui, ofereceu qualquer documento de trabalho ou discurso abrangente sobre as bases conceituais, as diretrizes operacionais ou as prioridades práticas do que normalmente se concebe como sendo uma política externa de um governo normalmente constituído.
(...)
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