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quinta-feira, 20 de agosto de 2020

07) "Nobel" - um cronista secreto do Itamaraty bolsolavista

Nobel 

(semana 07)

Lembro-me da tristeza na fronte de meu pai ao comentar o episódio. Morávamos ainda no Rio, e teve de fazer gestões junto aos países escandinavos para impedir que Dom Helder Câmara recebesse o Nobel da Paz. Senti que lhe doeu.

As gestões não foram bem-sucedidas, é verdade. Os governos nórdicos recusaram-se a interferir na escolha do prêmio. Mas em Brasília, com murros na mesa, os generais ameaçaram empresas escandinavas com proibição de remessa de lucros. 

Meu pai nunca soube ao certo qual foi o grau de influência dessas pressões, mas Dom Helder não foi escolhido, e lembro-me bem de ouvir de Sizínio Nogueira, em um jantar, quando já me preparava para o vestibular do Itamaraty: "enquanto houver alguém na Fundação Nobel que se lembre do esforço do Brasil para não receber o prêmio, nenhum brasileiro será jamais agraciado". Assim tem sido.

Não entendia bem naquele tempo como podíamos ser patriotas e cristãos, ao mesmo tempo em que trabalhávamos contra um arcebispo de nossa pátria, conhecido por levantar a Palavra de Deus contra a tortura que sofreu o próprio Cristo.

Hoje, ao ver tremular bandeiras estrangeiras nas mãos de supostos patriotas, ao ver a imagem do Cristo acima das cabeças dos que bradam por ditadura, ao ouvir o Nome de Deus proferido em vão por quem idolatra torturadores, e ao imaginar as instruções que poderemos vir a receber, lembro-me da tristeza no semblante de meu pai.

Por uma nação verdadeiramente patriota e Cristã, reflitam.

Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN.

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