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quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Brasil: de país agrícola a... país agrícola, passando pela indústria - Stephen Kanitz

Na minha infância, u seja, anos 1950, o Brasil era definido como um país essencialmente agrícola, e isso era uma vergonha para nós. Era uma agricultura atrasada, incapaz de alimentar o país, e tínhamos de importar muito alimento, a despeito do imenso território.
Aí embarcamos na aventura industrializante, uma espécie de stalinismo industrial, contra as recomendações de Eugênio Gudin, que preconizava modernização e capitalização da agricultura – que correspondência a nossas vantagens comparativas naturais, adquiridas (mas bem mal até ali), relativas – e educação da mão-de-obra, para melhorar a produtividade, contra as recomendações de Roberto Simonsen, dos militares, dos tecnocratas, dos industriais, que ganharam tudo o que queriam: proteção tarifária, câmbio favorável, subsídios, políticas setoriais. 
Deu certo: ou seja, o Brasil se industrializou, mas o custo para o país foi enorme.
Apenas nos anos 1990, com fracasso das políticas econômicas industrializantes, que o Brasil começou a mudar suas políticas, e a agricultura deslanchou, de maneira impressionante.
É ela hoje que SALVA o Brasil, e ficamos essencialmente agrícolas outra vez.
Mas, a agricultura atual é uma verdadeira indústria, ou melhor um complexo econômico que abrange TODAS as áreas da economia e da sociedade.
O artigo de Stephen Kanitz exagera nos contrastes, mas reflete a realidade, que não tem nada a ver com o governo atual, com a "bancada ruralista", a devastação ambiental. É uma realidade ESTRUTURAL, que aproxima o Brasil daquilo que pretendia Eugênio Gudin desde os anos 1940 e 50: ele venceu, embora com mais de meio século de atraso.
Um pouco como Raymond Aron, em relação ao debate socialismo-capitalismo dos anos 1950. Algumas ideias sensatas demoram para entrar na cabeça dos brasileiros.
Paulo Roberto de Almeida

É O Poder Mudando De Mão
Por Stephen Kanitz
09/06/2020 13:25

Stephen Charles Kanitz é consultor de empresas e conferencista brasileiro, mestre em Administração de Empresas da Harvard Business School e bacharel em Contabilidade pela Universidade de São Paulo
Essa súbita polarização na política, que deve estar assustando muitos dos meus seguidores, na realidade é simplesmente um fim de ciclo.

O poder reinante nesse pais nos últimos 25 anos está sucumbindo, lutando com todos os seus meios para impedir o inevitável.

Usam jogo sujo sim, mas é por puro desespero.

Quem está perdendo miseravelmente é a indústria, os sindicatos, os partidos desses trabalhadores chão de fábrica, as grandes cidades, os industriais cada vez mais falidos e subsidiados.

Quem está crescendo e ganhando é a Agricultura.

A agricultura por si já representa 25 % do PIB, contra 10% anos atrás.

O agro negócio, que incorpora as indústrias que a fornecem, como mineração de fertilizantes, a indústria de tratores, os bancos, as seguradoras, as transportadoras passa a ser 40% do PIB, tranquilo.

Ter 40% do PIB significa dinheiro, crescimento, poupança, prosperidade.

Significa crescente poder político, que ao contrário que a maioria das pessoas pensam, o setor Agrícola não tinha comensurável a esses 40%.

Foi sempre a agricultura que gerou exportações e superávit no câmbio, foi sempre a indústria que importava máquinas estrangeiras.

A Indústria sempre foi muito mais forte do que a Agricultura, mas agora ela definha, não apresenta lucros, não tem mais poder financeiro.

Isso explica as alianças desesperadas, como a do Paulo Scaf com Partido Socialista, da Globo com o Psol, da Folha com o PT, do Abílio com a Dilma.

Desespero total.

Foi sempre a Indústria que indicava os Ministros da Fazenda, normalmente economistas ligados a Fiesp como Delfim Neto e Dilson Funaro, por exemplo.

Foi esse total descaso pela nossa Agricultura que resultou no enorme êxodo rural, que tanto empobreceu esse país e fortaleceu esses partidos de esquerda.

Nada menos que 45% de nossa população teve que abandonar a agricultura, abandonada que foi pelos Ministros da Fazenda.

Que nem sabem mais o significado de “Fazenda”, apropriado para um país destinado a agricultura, como o Brasil e a Argentina.

Foi Raul Prebish, que convenceu economistas argentinos e brasileiros como Delfim, Celso Furtado, Jose Serra, FHC e toda a Unicamp, a esquecerem nossa agricultura a favor da “industrialização” para o mercado interno.

Por isso investirem fortunas com incentivos, leis Kandir, subsídios via o BNDES em indústrias antigas mas que “substituiriam as nossas importações”, dos mais ricos, num país constituído de pobres.

Somente a partir de 1994 , que passaram a produzir para a Classe C e D, movimento do qual fiz parte.

Foi esse êxodo rural que gerou a pobreza e as favelas nas grandes cidades, e que permitiu a esquerda cuidar dos mais pobres e se elegerem por 24 anos.

Mas não tendo percebido o erro de Prebish, é essa “substituição das importações” que irá gerar nossa estagnação e não inovação, e lentamente destruiu a nossa indústria nascente a partir de 1987.

De 27% do PIB, 45% com seus agregados, a Industria entrou numa espiral descendente para 14,5% hoje.

Em 40 anos passa de 45% do PIB para 14,5%.

Que reviravolta.

Essa atual crise política no fundo é a crise da indústria e das famílias ricas desesperadas, empobrecidas mas ainda com certo poder político.

É a crise dos sindicatos trabalhistas que vivia dessas contribuições sindicais.

Perderam poder econômico e percebem que estão perdendo o político, da qual nunca mais se recuperarão a curto prazo.

Quem acha o contrário que pense nos números.

Isso explica esse desespero da imprensa, dos artistas subsidiados, dos intelectuais das grandes cidades.

Ela é violenta por ser desesperada.

Mas é simplesmente o canto da sereia desse grupo que vivia da indústria e de seus impostos.

Os números que apontei são inquestionáveis e só tendem a crescer.

A Agricultura, justamente por ter sido esquecida pelo Estado, venceu a Presidencia em 15 Estados.

Ronaldo Caiado, representante eterno dos agricultores, vence em Goiás. As grandes cidades foram contra, elegendo Doria e Witzel.

“Bolsonaro é quase unanimidade no setor”, disse Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja).

Mais Brasil Menos Brasília, é o brado mais campo menos cidades em decadência.

Bolsonaro foi eleito não pelos liberais nem pelos conservadores das grandes cidades, que hoje se sentem enganados, e só falam mal dele.

Bolsonaro foi eleito pelo seu apoio aos anseios da Agricultura.

Que com esse sucesso da Agricultura em 2020 só irá crescer.

Com o Covid, haverá uma fuga das cidades para o campo, dos apartamentos para casas, dos escritórios para o Zoom.

E em mais 4 ou 5 anos, a Agricultura terá o poder político que merece, elegerá quem quiser, com ou sem Bolsonaro em 2022.

O poder da esquerda e da indústria vinham ultimamente pelo saque ao Estado, vide o mensalão e o petróleo.

E todos sabemos que no Brasil dinheiro é poder político.

“Follow the money”, como diria Sérgio Moro.

Moro não percebeu que não foi o combate a corrupção que elegeu Bolsonaro.

Foi a Agricultura.

Na cidade Agronômica, Bolsonaro ganhou com 79% dos votos.

Na cidade de Sorriso teve 74% dos votos.

Na cidade Rio Fortuna teve 68% dos votos.

Em Mato Grosso do Sul teve 61% dos votos.

Vejam os mapas da fronteira agrícola e os votos dados ao Bolsonaro em 2018.

Quem elegerá os nossos Presidentes em 2022, 2026, 2039 sera a bancada agrícola, não a bancada industrial quebrada e falida.

Quem mandará nesse pais será o pequeno agricultor, e não a FIESP, os Marinhos, os Gerdaus, os intelectuais e artistas da Globo que viram seus impérios empobrecerem de 1987 para cá e nada fizeram.

Que elegeram o Lula e a Dilma, achando que assim permaneceriam no poder político, manipulando os via corrupção.

A tese que Bolsonaro não foi eleito mas que foi Haddad que foi rejeitado, não se sustenta numericamente.

Haddad tinha 41% de rejeição contra 40% de Bolsonaro. Ou seja a diferença é de somente 1%.

Não são Bolsonaro e seus filhos que são a grande ameaça à esquerda, como a imprensa e o Supremo acham.

É a Agricultura.

E ninguém dará um golpe nela.

Ricardo Salles é que está dando um chega para lá aos ecologistas que querem destruir nossa agricultura, e foi quem ajudou termos esse superávit colossal.

Bolsonaro colocou uma engenheira agrônoma como Ministra Da Agricultura, em vez de um político e advogado como Wagner Rossi, indicado por ambos Lula e Dilma.

Será o constante crescimento do Comunitarismo da pequena cidade daqui para a frente, em detrimento da Esquerda das grandes cidades.

É o crescimento do interior Comunitário e Solidário, do Brasil e menos Brasília.

Um mais Brasil administrável, em detrimento das grandes cidades frias, solitárias, sem compaixão que alimentou os votos da esquerda.

Não é o Liberalismo e a Direita que são a grande ameaça para a esquerda, como a imprensa e o Supremo acham.

É a Agricultura.

Uma batalha que ela já ganhou, mas poucos perceberam.

Stephen Kanitz

Um comentário:

Clovis Terra disse...

Ótima visão. Seguramente é o Setor mais importante da economia e que no menor prazo possível, tirará o Brasil da Crise.