Alienáveis alienígenas
(semana 06)
Preciso admitir que Ernesto estava certo. Sei que parece improvável, mas peço vênia para pequena digressão que o haverá de convencer.
Imagine você, amigo leitor, um dia retornar, após breve viagem, a sua pequena e pacata cidade. Ao chegar, amigos alertam que coisas estranhas têm ocorrido. Relatam que algumas pessoas vêm agindo de forma estranha, como se não tivessem alma… Como se respondessem de forma conjunta, acéfala e coordenada a todas as situações, como se perdessem a individualidade e se tornassem zumbis; passivos e desumanos… É isso que acontece no filme “Invasion of the Body Snatchers”, que assisti no cinema, nos anos 70, e revistei essa semana, no original dos anos 50.
Ao longo da trama, o espectador acompanha o médico Miles, que descobre que seus conterrâneos estão sendo, pouco a pouco, substituídos por duplicatas alienígenas desprovidas de qualquer sentimento. A descoberta e a recusa de se unir ao pensamento único da colmeia extraterrestre faz com que seja perseguido e caçado pelas duplicatas acéfalas.
Peço perdão, caro leitor, por esta digressão, mas recomendo que você assista ao filme, pois, creio, o Itamaraty também foi invadido. Como já nos alertava nosso psicopata-chanceler quando palestrou para uma plateia de riobranquinos, os alienígenas estão entre nós!
Como Miles, vejo hoje um Itamaraty sem alma. E vejo colegas, que tanto prezava, comportarem-se como cópias inanimadas de si mesmos, reproduzindo uma doutrina totalizantemente ideologizada, sem lastro em nossa boa tradição diplomática.
Vejo alguns colegas aderirem ao pensamento interplanetário-terraplanístico da colmeia ernestiana, vagando como zumbis acéfalos. Vejo também alguns bravos que, irridentos como o Dr. Miles, são perseguidos como se fossem eles os loucos. Ernesto estava certo, a invasão alienígena já começou.
Aos terráqueos que ainda não foram invadidos pelo pensamento alienígena, encareço, reflitam.
Ministro Ereto da Brocha, OMBUDSMAN
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