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quarta-feira, 31 de março de 2021

Ditadura militar: nota zero em democracia, e zero também em economia - Felippe Hermes

 Felippe Hermes

Não há pontos positivos na ditadura – nem mesmo a economia no período

Período marca o início de um intervencionismo sem fim, responsável por produzir a ilusão, que reina até hoje, de que gerou evolução ao país, ao menos no campo econômico

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Doze trapalhadas econômicas históricas - John S. Chamberlain (Mises Brasil)

Doze trapalhadas econômicas históricas
Um museu de grandes novidades
Sempre que você ouvir um político falando sobre questões econômicas, esconda-se e proteja-se. Pode apostar que vem por aí alguma trapalhada.  
A sorte desses iluminados é que suas interferências erosivas geralmente são de efeito lento sobre a economia. Contudo, de vez em quando, os grandes sábios conseguem produzir um verdadeiro colosso, que, além de derrubá-los, destrói também todo o seu país. A seguir, doze exemplos históricos dessas trapalhadas.
1. Cobre muito caro e morra
No ano 301, o imperador romano Diocleciano publicou o seu Edictum De Pretiis Rerum Venalium, isto é, Édito Sobre os Preços dos Alimentos, o qual visava à reestruturação do sistema de cunhagem de moedas e determinava um congelamento de salários e preços de vários tipos de bens, especialmente alimentos. 
A penalidade para quem vendesse acima dos preços estipulados era a morte. Cópias desse édito foram insculpidas em pedras e em monumentos de todas as partes do império. 
Eis uma dica para futuros ditadores: jamais entalhem nas pedras suas trapalhadas, a menos que queiram que as pessoas riam de sua estupidez pelo resto da eternidade. 
O édito foi um desastre. Comerciantes estocaram seus bens, recusando-se a vendê-los pelo preço imposto pelo governo. Outros estocaram simplesmente para não correr o risco de serem erroneamente acusados de estarem vendendo a preços acima do determinado, ficando assim sujeitos a execuções. Os trabalhadores reagiram ao congelamento de salários desaparecendo do expediente ou simplesmente ficando sentados, sem fazer nada. Com o tempo, o édito passou a ser ignorado e se tornou objeto de escárnio e gozação, algo que diminuiu permanentemente o prestígio e a autoridade do império.
2. Tosando o Lobo Inglês
Você sabe que está fazendo algo de errado quando seus inimigos se tornam heróis populares como Robin Hood. 
O bom senso diz que é mais fácil tributar os fracos e repassar o dinheiro para os fortes; porém, após o fracasso de sua política de administração florestal, o Rei João I de Inglaterra decidiu tentar o inverso. Ele liberou os nobres da obrigatoriedade de fornecer soldados e material militar à coroa, mas, em troca, ordenou que eles pagassem uma pesada "scutage" — taxa paga em substituição ao serviço militar.  Rapidamente, surgiram 10.000 Robin Hoods querendo matá-lo, perseguindo-o de forma bem organizada. 
Ao ser humilhantemente obrigado a assinar a Magna Carta em 1215, que deu início à monarquia constitucional e limitou os poderes do rei, João I conseguiu ganhar algum tempo. Porém, já no ano seguinte, ele voltou a viver em fuga. Após perder todas as suas posses (ele havia confiscado algumas jóias da coroa) em uma intempestiva tentativa de atravessar um rio, ele enlouqueceu, teve disenteria e morreu pouco tempo depois.
3. Dinheiro de papel é incrível
O quinto Khan da Pérsia se chamava "Gaykhatu", o que significa "Incrível" em mongol. 
Em 1294, após esbanjar afobadamente todo o dinheiro deixado por seus predecessores, ele não tinha como enfrentar uma forte epidemia de peste bovina que começava a devastar o gado de seus cidadãos. Incrível propôs uma solução incrível para seus problemas financeiros: dinheiro de papel.  
Inventada por seu chefe Kublai Khan, na China, a ideia de um dinheiro de papel foi uma dádiva dos céus. Ele poderia imprimir notas de papel idênticas às chinesas, decretar pena de morte para qualquer um que se recusasse a aceitá-las, e todos os seus problemas estariam resolvidos. Incrível! 
Mas, para a infelicidade de Incrível, ele não se preocupou muito com detalhes técnicos como conversibilidade e controle de capitais, coisas com que Kublai Khan havia se preocupado em demasia; e o resultado foi o total fracasso do projeto. O caos econômico foi inevitável. Incrível foi deposto e executado no ano seguinte.
4. Comprarei todas as espadas que você fizer
No período Muromachi (1336 a 1573), os mandarins da dinastia Ming, na China, adotaram a política de comprar e importar espadas dos japoneses com o objetivo de impedir que os incômodos "bárbaros" que ocupavam aquelas ilhas tivessem acesso a essas armas. A reação dos japoneses foi um regozijo só, e se deu dentro do espírito daquele antigo comercial de Doritos, feito por Jay Leno: compre o quanto você quiser; vamos fazer mais.
5. Nenhum contrabando será permitido
Controle de preços sempre será algo estúpido, independente da época, mas é necessário um enorme grau de imbecilidade para se praticá-lo quando sua região está sitiada.  
Em 1584, as forças controladas por Alessandro Farnese, Duque de Parma e Piacenza, estavam cercando a maior cidade da Holanda, Antuérpia, durante a Revolta Holandesa (Guerra dos oitenta anos). De início, o cerco foi em vão, pois as formações em linha do exército do duque eram porosas, e a Antuérpia conseguia receber suprimentos por via marítima. 
Mas o duque era sortudo, pois a cidade decidiu voluntariamente se bloquear a si própria. Os magistrados da cidade decretaram um limite de preços para os cereais. Como consequência, os contrabandistas, que até então vinham furando o bloqueio, se tornaram consideravelmente menos entusiasmados para fazer entregas de alimentos. Em meio à fome geral que se seguiu, a cidade teve de se render no ano seguinte.
6. A fábrica de ouro de Veneza
Em 1590, a República de Veneza estava em declínio. Dezenove anos antes, ela havia gloriosamente se defendido dos turcos otomanos, vencendo a Batalha de Lepanto, porém tendo perdido o Chipre, a maior possessão da república.  
Em 1585, o recém-eleito doge (magistrado supremo), em vez de jogar para o público moedas de ouro — como era tradicional na cerimônia de ascensão —, havia jogado moedas de prata.  Sobrecarregada de impostos, tarifas, taxas, obrigações, dízimos, multas e comissões, a economia já havia vivido dias melhores.
Inesperadamente, de toda essa treva surgia uma nova esperança. Um veneziano chamado Marco Bragadini, há muito desaparecido, mas que estava morando na Lombardia, havia descoberto uma maneira de criar ouro. 
Porém a república tinha de agir rápido, alertou Bragadini, pois o duque de Mantua estava louco para pôr as mãos nesse invento valioso. Uma tropa de soldados foi enviada imediatamente, e Bragadini entrou seguro e triunfante na cidade, com mais três galés. Testes científicos rigorosos foram ordenados pelo senado para verificar o poder do "anima d'oro", o qual apenas Bragadini possuía. O alquimista despejou mercúrio em um cadinho, acrescentou uma pitada de seu pó secreto e colocou fogo na mistura. Rapidamente, o mercúrio se transformou em ouro. Era tudo verdade, afinal.  
Os preços das capas e dos frascos do alquimista dispararam. Signor Bragadini calmamente informou ao senado que ele poderia produzir seis milhões de ducados ou qualquer quantia que eles quisessem. Em troca, ele assegurou que não queria nada, mas apenas ser um humilde servo de seu país.
Naturalmente, o senado colocou todos os recursos de Veneza à disposição de Bragadini. Os nobres corriam em manada até o alquimista, implorando para que ele os incluísse em seu negócio. Porém, os meses se passaram e a produção de ouro revelou-se desapontadoramente escassa. 
Aparentemente, havia limites para a velocidade na qual o ouro poderia ser criado.  Sentindo uma crescente impaciência com os pífios resultados de seu trabalho, Bragadini fugiu sorrateiramente para Munique, onde o Duque Guilherme V da Baviera (também conhecido como Guilherme, o devoto) suplicava seus serviços. 
Infelizmente para o maestro Bragadini, nesse meio tempo o Papa Sisto V havia morrido e sido substituído pelo farisaico Papa Gregório XIV, que considerava o alquimista e seus dois cachorros crias do diabo. Gregório XIV imediatamente deu ordens para que os três — Bragadini e seus dois cães — fossem executados, ordem essa que Guilherme, o devoto, imediatamente cumpriu.  
O senado de Veneza decidiu fingir que a coisa toda jamais havia acontecido.
7. Como lidar com entesouradores
À medida que a fome gerada pela Revolução Francesa foi ficando fora de controle, em 1793, um grupo radical chamado "Comitê da Segurança Pública", liderada por Maximilien Robespierre, assumiu o controle. O comitê decidiu solucionar o problema da fome decretando a "Lei de Maximum", um conjunto de políticas decretando um limite de preços para o pão e outros bens comuns. 
Quando essas medidas se revelaram incapazes de aumentar a oferta de alimentos, o comitê enviou soldados para o interior do país com o intuito de confiscar violentamente os cereais dos perversos agricultores, que estavam "entesourando" tudo. Robespierre e seu comitê foram mandados para a guilhotina no ano seguinte.
8. O sonho de um desocupado, o fim de um império
Em 1880, a tecnologia ferroviária estava avançando rapidamente, e os russos receberam do Extremo Oriente inúmeros pedidos de autorização para a construção de ferrovias privadas.  Porém, para os paranóicos aristocratas de Moscou, não bastava apenas negar o pedido desses estrangeiros inconfiáveis; era necessário também que os russos construíssem sua própria ferrovia para o oriente, de modo a manter os orientais fora da Rússia. 
Sob a liderança de sua Paranóia Real, o Czar Alexandre III, o estado russo começou a pedir uma enormidade de empréstimos estrangeiros para construir a ferrovia Transiberiana, de 8.000 quilômetros, o maior projeto de obra pública desde as grandes pirâmides de Gizé.
Alexandre (e seu império) mais tarde morreria em decorrência de lesões sofridas em um acidente ferroviário. Quando esse projeto dominado pela corrupção foi finalizado em 1904, o filho de Alexandre, Nicolau II — o último czar russo —, estava tecnicamente falido. Guerras e revoltas começaram a assolar o império. Em vez de transportar artigos de comércio, a nova ferrovia estava transportando prisioneiros políticos e suprimentos para soldados. 
Quando a Rússia rolou suas dívidas em 1907, já era óbvio para os grandes bancos que o império estava financeiramente condenado. Apenas pequenos investidores se arriscavam a conceder novos empréstimos. Mesmo com a suspensão do pagamento da dívida, a economia da Rússia já estava tão debilitada, que ela não sobreviveria à Primeira Guerra Mundial.  
Nicolau II foi executado em 16 de julho de 1918.
9. É preciso uma vila para produzir a fome
Em 1984, o fracasso da colheita na Etiópia apresentou um novo conjunto de problemas para a junta marxista, chamada "Derga", que controlava o governo. Os programas de estatização e de controle de preços, que eles haviam implementado há anos, pareciam menos eficazes que nunca. 
Obviamente, o problema todo estava nos vestígios de capitalismo que ainda infectavam a economia. 
Portanto, a junta resolveu adotar medidas ainda mais vigorosas, como a proibição do comércio de cereais. Por mais estranho que pareça, tal medida não acabou com a fome. 
O ditador Mengistu Haile Mariam, inspirado pelo brilhante sucesso agrícola do camarada Stálin na década de 1930, imediatamente promulgou um novo conjunto de ideias batizado de "vilagização". Sob esse plano, os dispersos habitantes rurais da Etiópia seriam aglomerados em vilas modernizadas com infraestrutura de ponta. 
Como era de se esperar, nem todos os beneficiários desse plano compreendiam o charme utópico dessas vilas, o que fazia com que eles tivessem de ser levados à força para o local — para o bem deles próprios. Infelizmente, o esperado aumento na produção agrícola nunca se materializou, e milhões morreram de fome. O país sucumbiu a um permanente estado de guerra civil, que só acabou em 1990, após a União Soviética ter parado de subsidiar a Derga. 
Mengistu fugiu para o Zimbábue, onde se tornou um proeminente conselheiro dos governantes daquela nação, gerando humanitários resultados.
10. Reeditando Diocleciano[*]
Na ânsia de inovar, o presidente brasileiro José Sarney achou-se capaz de dar uma lição em Diocleciano. Em 1986, após anos de crescente inflação, Sua Excelência baixou um decreto congelando os preços de todos os bens e serviços da economia brasileira. Já que era impossível atacar as causas da febre — isto é, reduzir a expansão monetária praticada pelo Banco Central —, então que se quebrasse o termômetro: o simples congelamento de preços bastaria para acabar com os efeitos dessa inflação monetária. 
O resultado foi maravilhoso. Carros usados tornaram-se mais caros que carros novos, as carnes desapareceram dos açougues (mas prontamente reapareciam tão logo o comprador ofertasse uma quantia extra por baixo do balcão) e o governo acabou tendo de literalmente prender bois no pasto para impedir suas exportações, que eram bem mais vantajosas. 
Após noves meses de desabastecimento e escassez, o governo abandonou seu decreto. Como a expansão monetária jamais fora interrompida, os preços dispararam imediatamente e o presidente chegou a ser apedrejado dentro de um ônibus. 
Saiu do governo com 6% de aprovação.
11. Rublos: você os via, agora não os vê mais
Em 22 de janeiro de 1991, Mikhail Gorbachev, o presidente da União Soviética, decretou que todas as cédulas de 50 e 100 rublos não mais poderiam ser aceitas, e deveriam ser trocadas por novas cédulas durante os três dias seguintes apenas, e somente em pequenas quantias.  
O efeito de tal medida foi o de instantaneamente aniquilar uma grande parte da poupança e do capital acumulado dos cidadãos soviéticos. 
Em 26 de janeiro, ele deu sequência a essa medida genial, ordenando agora que a polícia fizesse buscas em todas as lojas e pontos de comércio, e exigisse os históricos de qualquer negócio a qualquer momento.  
Os problemas econômicos do regime se aceleraram e entraram em uma espiral de morte. Gorbachev renunciou a 25 de dezembro e, no dia seguinte, o Soviete Supremo se dissolveu, acabando com os quase 75 anos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
12. Um museu de grandes novidades[*]
Após quase uma década de crescimento econômico impulsionado por políticas macroeconômicas razoavelmente sensatas, a presidente do Brasil Dilma Rousseff decidiu inovar. No caso, "inovar" significava "regressar" a políticas econômicas que já haviam sido amplamente desacreditadas nas décadas de 1970 e 1980.
Adotando políticas econômicas que se resumiam a estimular o consumo sem estimular a oferta, aumentar os gastos públicos, maquiar as contas do governo, aumentar as tarifas de importação, aumentar o crédito concedido por bancos estatais, tabelar o lucro de empresas, congelar o preço da gasolina e baixar os preços da energia elétrica na caneta, a mandatária fez com que um país que até então apresentava bons indicadores econômicos passasse a apresentar dois anos seguidos contração econômica, taxa de inflação de preços próxima a dois dígitos, desemprego crescente e sem perspectiva de melhora, taxa de câmbio em forte desvalorização, custo de vida em forte ascensão, gasolina e tarifas de utilidade pública em disparada, endividamento recorde da população, e investimentos em prolongada contração.
Sua taxa de aprovação despencou a níveis próximos aos do Diocleciano brasileiro da década de 1980. Os apoiadores do seu partido, outrora os mais fanáticos do país, bateram em retirada, envergonhados. Apenas os militantes pagos ainda se arriscavam a fazer defesas pontuais da presidente e do partido, mas sempre enfatizando que se opunham vigorosamente à política econômica. Gerou-se o movimento dos "contrários a favor". 
Após implantar o seu museu de grandes novidades, a mandatária não concluiu o mandato. E estraçalhou a imagem do seu partido.
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[*] Acréscimo do editor
John S. Chamberlain
mora em Natick, Massachusetts, e trabalha como engenheiro de software especializado em ciências da terra e inteligência artificial.  Possui bacharelado em política pela Universidade de Princeton e mestrado em ciência da computação pela Universidade Northeastern.

sábado, 31 de maio de 2014

Piketty e seu erros elementares de teoria economica - Steve Kates

Retiro, de uma lista de discussão sobre história econômica, esta postagem de um professor que também gastou 25 dólares pensando comprar boa mercadoria. Acho que o produto vai conhecer uma alteração na sua curva de demanda rapidamente...
Paulo Roberto de Almeida

I think if might be of interest to this list to find that Thomas Piketty begins his Capital in the Twenty-First Century with a discussion of classical economic theory although of some dubious merit, but that he has also made a fundamental error in the use of supply and demand in that same discussion.
Only five pages in, he begins a section he titles, “Ricardo: the Principle of Scarcity” (Malthus shows up on page 3). He focuses on Ricardo in his book on income distribution because he interprets the Ricardian theory of land rents to mean that landowners will continuously earn a larger proportion of national income. He states that Ricardo’s “chief concern was the long-term evolution of land prices and land rents” (p. 5). I have my doubts about his interpretation of Ricardo, and I certainly don’t agree where he writes “David Ricardo and Karl Marx, who were surely the two most influential economists of the nineteenth century” (ibid.: p. 5). There is a case for Marx although not in terms of his influence on economics. Ricardo is superseded by J.S. Mill and if not Mill then certainly by Marshall if we are thinking about influence within economics, and that is only looking at economists in the English speaking world. 
But Piketty then, in discussing these notions, makes a fundamental error in basic economic theory. As can be seen from the passage quoted below, he has confused a shift in demand with a change in quantity demanded.

“To be sure, there exists in principle a quite simple economic mechanism that should restore economic equilibrium to the process: the mechanism of supply and demand. If the supply of any good is insufficient, and its price is too high, then demand for that good should decrease, whichshould lead to a decline in its price.” (p.6 - my bolding)

He has here basically stated that insufficient supply (a shortage) will lead to a fall in price which you can see from the bits in bolding. I find it absurd that Piketty cannot tell the difference between a shift of the demand curve and a movement along the demand curve. You really do have to wonder how much sound economics there actually is embedded in the hundreds of pages of stats and data he then compiles if he is prone to make such a startling error. Even more curious is to me is that no one so far as I know has bothered to point this out.
-- 

Dr Steven Kates
Associate Professor
School of Economics, Finance
    and Marketing
RMIT University

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Os erros de Keynes, por Juan Ramón Rallo - Philipp Bagus (Instituto Mises Brasil)

Os erros de Keynes

por , sexta-feira, 7 de junho de 2013

 

keynes.jpgA Escola Austríaca de economia já forneceu ao mundo devastadoras críticas à obra magna de Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (doravante Teoria Geral).  Friedrich A. von Hayek, Jacques Rueff, Henry Hazlitt, Murray Rothbard, Ludwig Lachmann, Ludwig von Mises e William Hutt já contribuíram com importantes e sólidos argumentos contra Keynes e o keynesianismo.
Para o júbilo dos defensores da liberdade, podemos agora acrescentar um novo nome a esta distinta lista.  Em 2012, o espanhol Juan Ramón Rallo, diretor do Instituto Juan de Mariana, professor associado de economia aplicada na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri, e graduado sob a orientação de Jesús Huerta de Soto, publicou uma nova crítica à Teoria Geralcom o título de Los Errores de la Vieja Economía em homenagem à obra de Henry Hazlitt intitulada The Failure of the 'New Economics'.
Na época de Hazlitt, o programa de Keynes ainda era revolucionário e foi descrito por Hazlitt como sendo um tipo de "Nova Economia" que rompia com as constatações da economia clássica, e especialmente com a Lei de Say.  Hoje, o keynesianismo já se tornou a corrente dominante.  O keynesianismo, e mais especificamente a sua ideia de que os gastos do governo reduzem o desemprego, é o programa majoritariamente ensinado nas universidades, jubilosamente aplicado por políticos (pode haver coisa melhor do que um economista dizendo a um político que ele tem de gastar mais?) e proeminentemente defendido pelo vencedor do Prêmio Nobel de 2008, Paul Krugman.
Com efeito, a imediata resposta política à atual crise financeira do mundo ocidental foi inspirada pela Teoria Geral.  Uma segunda Grande Depressão tinha de ser evitada, diziam os economistas, e as ideias de Keynes foram aplicadas.  Os governos então adotaram uma política monetária expansionista combinada a volumosos estímulos fiscais, e tudo em resposta àquilo que, aos olhos de Krugman, parecia ser uma bolha causada pela 'especulação temerária estimulada pelo mercado', fenômeno este que havia sido inspirado pelo "espírito animal" dos agentes de mercado. 
Sendo assim, ainda que o livro de Rallo fosse apenas um resumo dos velhos argumentos apresentados contra aTeoria Geral, o momento para a sua publicação seria mais do que apropriado, já que as ideias do passado ainda são a prática do presente.  No entanto, Los Errores de la Vieja Economía é muito mais do que um mero sumário e síntese dos argumentos expostos pelo supracitados autores austríacos.  Rallo aproveita, combina e aprimora estes argumentos de uma maneira metódica e ordenada.  Ainda mais importante, ele acrescenta suas próprias e inovadoras ideias para, no final, produzir um argumento devastador contra a Teoria Geral.
A crítica de Rallo à Teoria Geral utilizando a teoria austríaca é rigorosa, sistemática e profunda.  Importante ressaltar que as ideias de Keynes não são em nenhum momento do livro distorcidas ou mal interpretadas.  A completa ausência de espantalhos faz com que o ataque desferido por Rallo ao cerne das crenças keynesianas seja mais forte e poderoso do que o de seus pares.  Rallo também não sai à procura de contradições e inconsistências terminológicas.  Neste sentido, a crítica de Rallo é ainda mais profunda e devastadora do que, por exemplo, os trechos do brilhante livro de Henry Hazlitt que enfatizam as inconsistências, as imprecisões e toda a falta de clareza de Keynes.  Rallo possui um grande e genuíno interesse em fornecer um retrato claro e coerente do raciocínio de Keynes e, por isso, apresenta a teoria keynesiana sob uma luz extremamente favorável.
Vejamos agora alguns dos argumentos de Rallo, começando pela famosa crítica feita por Keynes à Lei de Say.  Para começar, Keynes distorceu a Lei de Say, e esta versão distorcida, que aparece na Teoria Geral, afirma que a oferta cria sua própria demanda.  Rallo corrige essa distorção e descreve a Lei de Say em sua versão original: no longo prazo, a oferta de bens se ajusta à demanda por eles.  Em última análise, bens são ofertados porque o indivíduo quer adquirir outros bens (entre eles, o dinheiro).  Um indivíduo produz com o intuito de demandar, o que significa que é impossível haver um excesso de produção.
A Lei de Say nos leva diretamente ao mais inovador argumento do livro de Rallo, que aborda a velha crítica ao entesouramento.  Até mesmo alguns severos críticos de Keynes — por exemplo, o pessoal do campo monetarista ou neoclássico — admitem que ele ao menos estava correto na questão de que o entesouramento — mais especificamente, o ato de guardar dinheiro dentro da gaveta — é uma atividade perigosa e desestabilizadora.
Rallo, no entanto, demonstra, comprova e enfatiza a função social do entesouramento.  Se as pessoas estão demandando dinheiro — isto é, se elas estão aumentando a quantidade de dinheiro vivo em seus encaixes — isso não significa que elas não estão demandando nada do mercado.  O entesouramento é uma reação natural dos poupadores e dos consumidores a uma estrutura de produção que não está se ajustando às suas reais necessidades.  Trata-se de um sinal de protesto enviado aos empreendedores: "Por favor, ofertem-nos outros bens de consumo e de capital!  Mudem a atual estrutura de produção, pois os bens que ela nos oferece hoje não nos é adequada."
Em uma situação de grande incerteza, é mais prudente entesourar do que imobilizar fundos para o longo prazo.  Rallo nos oferece um exemplo visual.  Suponhamos que a incerteza aumente porque as pessoas estão à espera de um terremoto.  Consequentemente, elas começam a entesourar, ou seja, elas aumentam seus encaixes em dinheiro vivo, o que dá a elas mais flexibilidade.  Tal atitude é completamente racional e benéfica do ponto de vista dos participantes do mercado.  A alternativa keynesiana seria dar este dinheiro para o governo para que ele pudesse gastar.  A construção de arranha-céus estatais não apenas iria contra a vontade da maioria das pessoas prudentes, como também se comprovaria desastrosa casso o terremoto ocorresse.
Entesourar é um seguro contra incertezas futuras.  Rallo argumenta que, se a demanda por dinheiro aumentar (em termos técnicos, se a preferência por liquidez aumentar) por causa desta maior cautela, as taxas de juros de curto prazo tenderão a cair, ao passo que as de longo prazo irão subir.  As pessoas irão investir mais em ativos de curto prazo e menos em ativos de longo prazo, pois elas querem se manter líquidas.  Isso leva a um reajuste na estrutura de produção.  Mais recursos serão direcionados para a produção de bens que apresentarem maior liquidez (em um padrão-ouro, por exemplo, este bem seria o ouro), e para a produção de bens de consumo.  A estrutura de produção será alterada, apresentando agora um maior número de processos mais curtos e menos arriscados e um menor número de processos mais longos e mais arriscados.
O entesouramento, portanto, não faz com que os fatores de produção fiquem ociosos.  No cenário acima, tais fatores serão alocados para a produção de ouro e para outros projetos de curto prazo.  Rallo insiste que não é nada irracional querer entesourar.  Com efeito, quando projetos de longo prazo são mantidos e as condições econômicas se alteram, estes projetos talvez tenham de ser liquidados.  Por exemplo, o terremoto destruiria o arranha-céu que está sendo construído.
Vale observar que a maioria dos austríacos não é adepta de uma teoria híbrida que diz que a taxa de juros é determinada tanto pela preferência pela liquidez quanto pela preferência temporal.  Rallo, porém, é adepto desta teoria híbrida, e acredita que a taxa de juros, ou a estrutura das taxas de juros, é determinada tanto pela preferência temporal quanto pela preferência pela liquidez.  A maioria dos austríacos defende apenas a teoria da preferência temporal como formadora das taxas de juros.  Devido à incerteza, um agente prefere estar líquido em vez de ilíquido.  E devido à preferência temporal, um agente prefere estar mais líquido agora do que no futuro.  Consequentemente, em condições normais, os juros de curto prazo tendem a ser menores do que os juros de longo prazo.  Quando a incerteza aumenta, os juros de longo prazo tendem a ficar ainda maiores.  No entanto, em uma crise financeira, um outro efeito tende a prevalecer sobre esta tendência.  Quando a sociedade em geral se torna ilíquida — em consequência do início da crise —, surge uma maior demanda por empréstimos de curto prazo.  Esta busca por liquidez imediata tende a fazer com que os juros de curto prazo aumentem e se tornem maiores do que os juros de longo prazo.
A questão dos recursos ociosos é outro tópico importante do livro de Rallo, uma vez que Keynes recomenda a inflação monetária como forma de evitar que os fatores de produção se tornem ociosos e o desemprego aumente.  Rallo pergunta por que, em primeiro lugar, os fatores se tornaram ociosos e o desemprego aumentou?  A resposta é que os proprietários destes fatores — no caso dos bens de capital, os donos das fábricas; e no caso da mão-de-obra, os desempregados — estão demandando um preço por seus serviços que é maior do que o valor presente de seu produto marginal.  Nestas circunstâncias, a inflação monetária irá apenas gerar uma redistribuição de renda em prol dos proprietários destes fatores, em nada ajudando a reestruturar a economia — ou seja, a estrutura de produção continuará desajustada e a economia vivenciará um consumo de capital, isto é, recursos escassos continuarão sendo utilizados em linhas de produção para a qual não há mais demanda.
Por outro lado, quando os fatores de produção têm seus preços reajustados, isto é, quando os preços dos bens de capital caem e os salários diminuem até chegar ao valor de seu produto marginal, a demanda agregada não cai, como sugere Keynes.  Ao contrário: a demanda aumenta porque, em decorrência do maior número de pessoas agora empregadas e do maior nível de investimentos em decorrência da queda no preço das máquinas, a produção total da economia também aumenta.
Rallo ataca impiedosamente outros conceitos keynesianos.  O famoso "multiplicador do investimento" é uma das vítimas.  Segundo esta teoria, um aumento unitário no volume de investimento de uma economia provoca ondas sucessivas de aumento da renda, cuja dimensão depende da propensão marginal a consumir ou poupar.  Esta teoria requer que todos os fatores de produção estejam apresentando alguma ociosidade.  Mais especificamente, para Keynes estar correto, é necessário que haja desemprego voluntário de todos os fatores de produção e que também haja capacidade ociosa nas indústrias de bens de consumo. 
Vejamos.  Se não houver desemprego voluntário de todos os fatores, o estímulo governamental a novos projetos de investimentos irá gerar apenas gargalos, uma vez que fatores de produção serão retirados de outros projetos mais lucrativos e direcionados para projetos artificiais.  Os keynesianos concordam com isso.  Se todos os tipos de fatores de produção estiverem apresentando alguma ociosidade, mas não houver mais capacidade produtiva nas indústrias de bens de consumo, então estímulos governamentais irão apenas elevar os preços dos bens de consumo e encurtar a estrutura de produção, tornando-a mais voltada para o presente.  Os keynesianos também concordam com isso.  E, finalmente, se os dois fenômenos ocorrerem conjuntamente — isto é, se houver uma ociosidade geral dos fatores e houver folga na capacidade produtiva das indústrias de bens de consumo, que é o pressuposto da teoria de Keynes —, por que então não há um acordo voluntário entre os proprietários dos fatores de produção e os empreendedores?  Keynes não respondeu a essa questão, e preferiu ir diretamente para a defesa do aumento dos gastos do governo e da inflação monetária para corrigir esta situação.
Outra importante ideia keynesiana que Rallo aborda é a famosa armadilha da liquidez.  Uma armadilha da liquidez ocorre quando, em uma economia em recessão, as taxas de juros estão muito baixas.  Nesta situação, Keynes diz que a política monetária se torna inútil, pois os especuladores irão simplesmente entesourar todo o dinheiro que o governo imprimir.  Os especuladores não irão investir em títulos porque eles já estão com preços máximos (os juros são mínimos), e os preços deles irão cair quando os juros finalmente voltarem a subir.  Neste ponto, a política monetária se torna impotente e o aumento do gasto público se torna necessário para estimular a demanda agregada.
Rallo mostra que, após um período de forte crescimento artificial estimulado pela expansão do crédito, em que vários investimentos errôneos foram feitos, a economia entra em recessão quando esta expansão do crédito é reduzida em decorrência da alta dos preços (que levam a um aumento dos juros cobrados pelos bancos).  Neste cenário, os preços estão mais altos e há um endividamento generalizado das pessoas e empresas.  Consequentemente, praticamente não há demanda por novos empréstimos, mesmo que as taxas de juros sejam acentuadamente reduzidas.  Neste caso, a economia na verdade se encontra em uma armadilha de iliquidez, uma vez que indivíduos e empresas estão preocupados em aumentar sua liquidez.  Eles querem reduzir suas dívidas e não pegar mais empréstimos.  A política monetária de redução dos juros irá na realidade piorar a situação, pois com juros baixos não há incentivo para pagar antecipadamente e cancelar as dívidas (pois uma redução dos juros eleva o valor presente da dívida).  A solução para esta situação de incerteza generalizada é o entesouramento, a estabilidade das instituições, a liquidação dos investimentos ruins e a redução das dívidas.
Uma alta incerteza não implica um alto desemprego, uma vez que até mesmo sob uma alta incerteza a redução dos preços dos fatores de produção faz com que novos projetos sejam mais lucrativos.  Sob uma alta incerteza, estes projetos de investimento serão a produção de ouro (se a economia estiver em um padrão-ouro) e a produção de bens de consumo voltada para o curto prazo.
Rallo demonstra que, ao contrário do que diz a Teoria Geral, não é a oferta agregada ou a demanda agregada o que importa, mas sim a composição das duas.  Em uma depressão em que a estrutura da produção está distorcida e a economia apresenta uma "armadilha da liquidez", se a demanda agregada for estimulada pelos gastos do governo, a estrutura existente não terá como produzir os bens que os consumidores querem com mais urgência.  Logo, a solução não é mais gastos e mais endividamento, mas sim uma redução da dívida e a liquidação dos investimentos ruins para fazer com que novos e mais sensatos investimentos sejam exequíveis.
Para Keynes, por outro lado, o problema sempre será de 'demanda insuficiente'.  Sendo assim, o que deve ser feito se consumidores e investidores não quiserem comprar os produtos que as empresas estão oferecendo, preferindo poupar?  Keynes recomenda reduzir os impostos, as taxas de juros e desvalorizar a moeda.  Se isso não funcionar, o governo deve sair comprando os produtos que os consumidores não querem comprar.  Porém, pergunta Rallo, por que os consumidores e investidores deveriam comprar bens que eles não querem?
A resposta de Keynes é que, se isso não for feito, o desemprego aumentará.  E Rallo contra-argumenta: mas se uma pessoa é forçada a gastar seu salário comprando algo que ela não quer, qual seria seu incentivo para trabalhar?  Por que ela sequer deveria ter um emprego?  A alternativa a forçar as pessoas a gastar é reduzir os salários até o valor de seu produto marginal, o que elevaria a produção e a demanda.  Como demonstra Rallo, a sociedade não se torna mais rica se o governo induzir ou forçar as pessoas a comprar bens que elas não querem. 
Logo, para Rallo, eis a essência da Teoria Geral: quando as pessoas não querem comprar aquilo que está sendo produzido, o governo deveria obrigá-las a agir contra sua vontade.
As observações sobre o livro de Rallo aqui demonstradas são apenas uma pequena amostra.  Dentre outras coisas, Rallo também apresenta uma análise das principais definições inventadas por Keynes e os erros teóricos de cada uma delas (como, por exemplo, seu viés pró-consumismo).  Ele apresenta uma análise austríaca dos mercados financeiros, discutindo as inter-relações que existem entre a estrutura da curva de juros, as taxa de juros, a taxa de redesconto, a estrutura do investimento, a armadilha da liquidez e a bolsa de valores.  Ele analisa a questão dos salários reais e nominais, os ciclos econômicos, as implicações políticas dos ciclos e todos os antecessores intelectuais da Teoria Geral de Keynes, e tudo utilizando a teoria austríaca.  Também extremamente útil é o guia criado por Rallo para os leitores da Teoria Geral, que torna mais fácil e mais eficiente ler e identificar os principais erros de Keynes, capítulo por capítulo.  Como extra, no final do livro, Rallo também apresenta uma crítica ao modelo IS-LM, desenvolvido por John Hicks e Franco Modigliani, que formalizou a teoria de Keynes e que ainda é maciçamente ensinado nas universidades ao redor do mundo.
O livro de Rallo, além de repleto de observações brilhantes, é hoje a obra que fornece a mais poderosa e completa demolição dos argumentos keynesianos.  Los Errores de la Vieja Economía será, no futuro, a referência, tanto dos estudiosos quanto dos leigos, para encontrar todos os erros no pensamento de Keynes e nas políticas adotadas pelos governos.  O único ponto negativo do livro é que, por enquanto, existe apenas a versão em espanhol.  É de se esperar que a obra rapidamente seja disponibilizada em outros idiomas.

Philipp Bagus 
é professor adjunto da Universidad Rey Juan Carlos, em Madri.  É o autor do livro A Tragédia do Euro.  Veja seu website.

Tradução de Leandro Roque

sábado, 27 de outubro de 2012

Politica Industrial (1): a visao a favor (simplista, claro)

Um debate que começa aqui e termina no próximo post. Os argumentos deste economista do BNDES são tão canhestros, tão contraditórios, tão enviesados a favor da gastança inútil, desnecessária, equivocada, no limite da estupidez, que o governo comete, em favor de piratas industriais, que não seriam necessários muitos contra-argumentos para desacreditar suas teses, todas elas carentes de lógica e de comprovação empírica.
Mas, enfim, como toda crença nacional, por mais irracional que seja, precisa ser combatida com a lógica irrefutável da teoria econômica e da experiência comprovada, traremos, no post seguinte, sua contra argumentação.
Por enquanto fiquem com a bondade industrial de um economista oficial. Mas não deixem de ler o próximo post.
Paulo Roberto de Almeida 

Desafios da política industrial

Marcelo Mitterhof
Folha de S.Paulo, 25/10/2012

Na semana passada, tratei do regime automotivo, argumentando que ele traz boas novidades por ser uma política setorial na qual, ante aos benefícios concedidos pelo governo, são exigidas contrapartidas por parte do setor privado. No entanto, foi ressaltado que o seu sucesso depende de ter havido uma boa calibragem na exigência das contrapartidas.
Além disso, será crucial o governo desenvolver instrumentos que aperfeiçoem o acompanhamento das atividades do setor em termos de compras locais, eficiência energética e atualização tecnológica.
Esse breve resumo mostra que não é simples conceber e executar uma política industrial, algo que é sempre sujeito a riscos. Isso ocorre porque há um inerente descasamento temporal entre os benefícios concedidos e os resultados desejados. Contribuintes e consumidores pagam de imediato, por meio de subsídios e proteção comercial, para que a produção local seja competitiva ante a importada. Mas os benefícios esperados --a transformação da estrutura industrial-- são de longo prazo.
Para mitigá-los, as experiências mais bem-sucedidas cobraram das empresas apoiadas metas de exportação, pois o mercado externo é o principal balizador da competitividade da indústria de transformação. Nas últimas décadas, porém, as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio) limitam o uso dessa estratégia, dificultando a formatação das políticas industriais.
Mais importante, nesses casos o foco no mercado externo foi frequentemente estabelecido em detrimento do mercado interno. Na Coreia do Sul, uma famosa história diz que o país exportava aparelhos de TV em cores nos anos 1970, mas não os vendia internamente, pois o governo entendia que não seria desejável incentivar um símbolo tão marcante de diferenciação social.
No Brasil, mesmo sob ditadura, esse tipo de restrição dificilmente seria aceitável. A industrialização brasileira foi voltada para desenvolvimento do mercado interno. Quer dizer, o avanço da estrutura produtiva foi em boa medida condicionado à ampliação do acesso dos brasileiros aos bens de consumo modernos.
Numa democracia, é ainda mais complexa a arbitragem de interesses com a qual a política industrial precisa lidar. Até para um indivíduo há um conflito entre as preocupações de consumidor e as de trabalhador, quanto mais sendo coletiva a percepção desses interesses. Nem todos estão dispostos a arcar no curto prazo com custos (fiscais ou de preços maiores) em troca de benefícios (melhores empregos e mais renda), que são futuros e algo incertos.
Evidentemente, governos são eleitos para decidir como ponderar objetivos que, ao menos em prazos mais curtos, podem ser conflitantes.
Nesse sentido, a abertura comercial nos anos 1990 foi um sintoma da interrupção do desenvolvimento na década anterior. Num ambiente de estagnação, a sociedade concluiu que não havia motivos para restringir o acesso a importações mais baratas e de mais qualidade.
De forma parecida, a retomada da política industrial a partir de 2005 ocorreu sob uma aparentemente paradoxal valorização do câmbio. O real apreciado dificultou que as cadeias produtivas da indústria se beneficiassem mais do crescimento econômico, mas também ajudou a promover a inclusão social.
Com isso, foram mais significativas suas ações transversais, como as associadas aos mecanismos de incentivo à inovação e as de desoneração tributária e redução de custo do investimento.
Agora, o novo regime automotivo reabre as perspectivas de uma atuação setorial que exija resultados do setor privado e que seja coerente com o estágio intermediário de desenvolvimento da indústria do país.
Essa atuação é importante porque, sem uma indústria poderosa e competitiva, um país populoso como o Brasil não conseguirá crescer para dobrar sua renda per capita num horizonte relativamente próximo e, assim, se tornar desenvolvido.
A indústria, como o mais importante setor para o avanço produtivo e para a difusão de inovações, precisa ser a motriz desse processo. Por isso, é preciso aprender a lidar com os conflitos e as dificuldades da política industrial, mas sem abrir mão dela.
Arquivo pessoal
Marcelo Miterhof, 38, é economista do BNDES. O artigo não reflete necessariamente a opinião do banco.