O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador valores e princípios. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador valores e princípios. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Valores e princípios de Norberto Bobbio, segundo Celso Lafer (OESP)

 A AGENDA DE BOBBIO E O MOMENTO BRASILEIRO!


Celso Lafer professor emérito da faculdade de direito da USP e ex-ministro de relações exteriores
O Estado de S. Paulo, 16/10/2022 

Relevante a ressonância da obra de Bobbio entre nós. Amplamente acessível em português, ocupa espaço próprio na lúcida clarificação da Política e do Direito. Conjuga-se com o papel de Bobbio, que transcende a Itália, de intelectual público voltado para a afirmação da democracia, dos direitos humanos e da paz.

Acaba de ser publicada a edição brasileira de Norberto Bobbio – uma biografia cultural, de Mario Losano, eminente professor emérito italiano de Filosofia e Direito. São características de Losano o admirável escrúpulo da pesquisa e a medida no julgar e apreciar a complexidade das coisas. Foi o que norteou a elaboração desta biografia cultural na qual traçou com precisão cartográfica o mapa de sua abrangente obra e os significativos caminhos de sua vida.

Instigado pelo livro de Losano e pela minha conhecida dedicação a Bobbio, vou elencar alguns dos temas recorrentes de sua agenda que são um pano de fundo relevante para o Brasil nesta antevéspera de segundo turno das eleições presidenciais. Começo pelo fascismo.

Os anos de formação e do início do magistério de Bobbio transcorreram na Itália do fascismo de Mussolini, que ele identificou como um dos paradigmas da era dos extremos do século 20. Foram características dos valores e práticas do regime fascista na análise de Bobbio: a glorificação da violência; a contestação da democracia, do Estado de Direito e da divisão dos Poderes; a afirmação belicosa de um Estado potência no plano internacional; a hiperpersonalização do poder como desdobramento do apreço incontido pelo chefe; o apelo aos ressentidos e desenraizados; a substituição do pensamento pelo primado da ação e do movimento.

A obra de Bobbio é uma contestação às práticas e valores do fascismo e do que representou e representa. Foi nesta linha que afirmou a primazia do governo das leis em contraposição ao governo dos homens.

A forma institucional moderna do governo das leis é o constitucionalismo. Num regime constitucional, governantes e governados atuam sob o império da lei, e o poder dos governantes é regulado por normas jurídicas e deve ser exercido em conformidade com elas. Num Estado de Direito constitucional, a ação política submete-se não apenas aos juízos de eficiência, mas também ao da conformidade com as normas fundamentais da Constituição. A dimensão institucional do constitucionalismo pressupõe a separação dos Poderes e a tutela dos direitos humanos que consagra a vigência da perspectiva dos governados e dos seus direitos políticos e sociais.

Bobbio aprofunda o alcance do governo das leis mediante a formulação das regras do jogo democrático como regras de procedimento para a formação da decisão coletiva. Isso inclui o sufrágio universal em eleições periódicas, a regra de maioria que dela resulta, o respeito aos adversários que podem se tornar maioria, o livre debate das alternativas e a preservação das instituições sob a égide do Estado de Direito.

Bobbio define o governo de democracia, que conta cabeças e não corta cabeças, como aquele que postula visibilidade e transparência do poder, ou seja, o exercício em público do poder comum, pois aquilo que é de interesse de todos deve ser do conhecimento de todos. Daí a contestação ao segredo: ao poder que oculta as coisas nas arcas do Estado e ao poder que se esconde, escondendo por meio da mentira.

Bobbio analisa os riscos da guerra no mundo contemporâneo que se magnificaram com o inédito poder aniquilador das armas nucleares, ampliadas pelo impacto destruidor que a inovação científicotecnológica confere às armas tidas como convencionais. Explicita que é instável e precária a paz lastreada na balança de uma geopolítica de poder.

Por isso, para Bobbio, a paz não se circunscreve à momentânea ausência de guerra. A paz é um valor e precisa ser construída por um pacifismo ativo. O que anima o pacifismo de Bobbio é um pacifismo de meios e de fins que leva em conta que a violência não é parteira da história, e “está se tornando cada vez mais o seu coveiro”.

Bobbio discute a laicidade e o espírito laico como uma regra de comportamento num Estado Democrático não confessional. O espírito laico contrapõe-se a todas as formas de intolerância, exclusivismos e fanatismos, impeditivos da convivência inerente ao pluralismo da sociedade. A laicidade assegura a plena liberdade religiosa no espaço do privado e da sensibilidade dos fiéis, mas postula que no âmbito do espaço público as alternativas e as opções se dão no mundo dos homens e não provêm da palavra de Deus.

Bobbio fez o elogio da mitezza, palavra que foi traduzida em português por serenidade e em espanhol por temperança. É uma virtude do espírito laico que se corporifica numa postura de respeitar as ideias alheias, de empenhar-se em compreender antes de discutir, de discutir antes de condenar e de ter medida no julgar perante a complexidade das coisas. A temperança se contrapõe à violência. É a virtude que se exige para conter a onipresença atual do ânimo dos extremos.

quarta-feira, 31 de março de 2021

Xi Thought: China's push to be a modern, socialist superpower - Reuters

Pergunto: o que tem de socialismo nisto tudo? 

"patriotism, democracy, civility, harmony, power through wealth, justice, freedom, equality, rule of law, industriousness, sincerity and friendliness."

A igualdade? Mas o capitalismo trouxe muito mais igualdade do que qualquer regime socialista do mundo, em qualquer época.

Todos, invariavelmente todos os princípios e valores de Xi Jinping são, inquestionavelmente princípios meritórios, que também deveriam estar sendo impulsionados por qualquer democracia de mercado das mais conservadoras.

Paulo Roberto de Almeida

Xi Thought: China's push to be a modern, socialist superpower

BEIJING (Reuters) - The political “thought” of President Xi Jinping, China’s most powerful leader in decades, is encapsulated in two weighty tomes and dozens of published “important speeches”.

Chinese President Xi Jinping speaks to Papua New Guinea's Prime Minister Peter O'Neill (not pictured) during a meeting at the Diaoyutai State Guesthouse in Beijing, China June 21, 2018. Fred DUFOUR/Pool via REUTERS

“Xi Jinping Thought on Socialism with Chinese Characteristics for a New Era,” as it is officially known, is an all encompassing theory guiding China to become a global military and economic power under the leadership of the Chinese Communist Party.

The end goal is the “Chinese dream of the great rejuvenation of the Chinese nation”, set for 2050, when Xi expects China will return to its rightful status after over a century of bowing to the demands of Western powers.

All former top leaders of the party have had guiding theories. Before Xi, Hu Jintao put forward a “scientific outlook on development”, and Jiang Zemin, before him, had the “three represents”.

But Xi Thought differs from previous ideologies in that it carries his name and was written into the party charter while he was still in office - honors only given to Mao previously.

Xi Thought is a smorgasbord of sayings, slogans, historic allusions and literary references, all of which are the subject of numerous dedicated social media accounts and spin-off books explaining exactly what Xi means.

Below is a selection of some key tenets.

CORE SOCIALIST VALUES

A set of 12 values to guide individuals, society and the nation: patriotism, democracy, civility, harmony, power through wealth, justice, freedom, equality, rule of law, industriousness, sincerity and friendliness.

THE FOUR COMPREHENSIVES

This slogan guides Xi’s twin drives to clean out the rot of corruption in the Chinese Communist Party and set up an even-firmer system of party rule. Four aspects of political rule must be followed: strict governance by the party, rule of law, pushing forward reform, and building a moderately prosperous society, an ancient Confucian term for everyone being basically well-off.

THE CHINESE DREAM

This is arguably the core of Xi’s thinking.

It says that all people should strive to make China “prosperous, strong, democratic, culturally advanced, harmonious and beautiful” by 2050. Similar in aspects to the American dream, China’s version is about achieving prosperity for the Chinese people, but rather than the freedom to pursue individual wealth and happiness, being well-off is inextricably tied to the “great rejuvenation” of the nation.

THE FIVE DEVELOPMENT CONCEPTS

Xi’s theoretical underpinning for the practical questions about how China’s economy should develop - in a green, innovative, coordinated, shared and open manner. These ideas are meant to guide China to avoid a hard landing for a slowing economy, boost consumption, improve innovation and services-based growth, and tackle hazardous pollution.

COMMUNITY OF COMMON DESTINY FOR MANKIND

This is the lofty concept that is meant to guide China’s relations with the rest of the world. A “new style” of international relations is proposed that is “win-win” and of “mutual benefit” for all, but many Western nations remain critical of China’s regional behavior over issues such as the contested waters of the South China Sea. Some academics say the concept is an attempt to counter fears of China’s rise and to avoid conflict with existing powers.

Reporting by Christian Shepherd; Editing by Philip McClellan