Nota sobre a defesa feita por Lula da ditadura venezuelana (2023)
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor
Nota a propósito dos dizeres de Lula antes e durante a visita do ditador Nicolas Maduro ao Brasil.
Os brasileiros minimamente informados sobre a realidade regional e especificamente sobre a situação da República Bolivariana da Venezuela contemplam com indignação as palavras proferidas pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva em defesa e em homenagem ao ditador do país vizinho, Nicolas Maduro, quando de sua visita bilateral ao Brasil, na segunda feira 29 de maio de 2023, assim como por ocasião da reunião informal feita aos dirigentes da América do Sul, a convite da diplomacia brasileira, no dia 30 de maio subsequente.
As incongruências acumuladas por ocasião desses dois eventos diplomáticos, a visita e a reunião, começaram, aliás, pela própria recepção oferecida ao ditador venezuelano, típica de uma visita de Estado, quando este tipo de protocolo é normalmente reservado a dirigentes com os quais existe uma pauta relevante de assuntos de interesse de ambas as partes, o que não correspondeu minimamente ao que se sabe dessa visita improvisada em curto prazo. A estupefação de todos os democratas brasileiros foi em seguida exacerbada pelas palavras proferidas em defesa de um regime e de um ditador que destruiu a democracia no vizinho país irmão, que expulsou, pela miséria econômica ou pela repressão política, mais de 15% da população venezuelana, cifra talvez superior à dos refugiados no exterior por motivo da guerra civil na Síria, outra calamidade humanitária.
O regime ditatorial venezuelano, desde Hugo Chávez e continuando sob Maduro, é responsável por uma catástrofe humanitária jamais vista na América Latina, ademais pelo fato de ter construído um regime policialesco digno dos piores tempo do totalitarismo stalinista. Nesse particular, o regime venezuelano, assistido na prática da repressão pela ditadura comunista cubana, exacerbou em todas as vertentes do controle dos meios de comunicação e da vigilância política, excedendo até as piores ditaduras militares ou de direita conhecidas na história da América Latina. As palavras de Lula em defesa dessa ditadura e do seu representante, “eleito” em nítida fraude eleitoral, são inaceitáveis para quaisquer defensores dos verdadeiros regime democráticos. Os brasileiros repudiam veementemente as falas de Lula durante a visita bilateral e também por ocasião da reunião com os demais dirigentes do continente. Lula envergonha a diplomacia brasileira e diminui sua credibilidade em face do mundo.
31 de maio de 2023.