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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Prata da Casa: 3ro Trimestre de 2014 - Miniresenhas de livros de diplomatas


Prata da Casa - Boletim ADB: 3ro. trimestre 2014
 
Paulo Roberto de Almeida
Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros
(ano 21, n. 86, julho-agosto-setembro 2014, p. xx-xx; ISSN: 0104-8503)

(1) Paulo Roberto de Almeida:
Nunca Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais
(Curitiba: Appris, 2014, 289 p.; ISBN: 978-85-8192-429-8)

            Tudo o que você sempre quis saber sobre a diplomacia companheira e nunca teve a quem perguntar? Agora talvez já tenha, sobre quase tudo. Em todo caso, figura aqui uma avaliação do que representaram, para a política externa, os anos do lulo-petismo, com a independência de um acadêmico que também integra a diplomacia. Existem episódios que ainda vão requerer pesquisa em arquivos para saber como foram exatamente decididos, e provavelmente lacunas subsistirão, tendo em vista justamente as características especiais de uma diplomacia que não partiu essencialmente de sua casa de origem, mas andou combinada a outros estímulos, não arquivados. Parece que ela foi ativa, altiva e soberana, como nunca antes tinha acontecido. Outros traços emergirão num futuro balanço, ainda sem data. A História a absolverá? A ver...

(2) José Ricardo da Costa Aguiar Alves:
O Conselho Econômico e Social das Nações Unidas e suas propostas de reforma
(Brasília: Funag, 2014, 535 p.; ISBN 978-85-7631-504-9; Coleção CAE)

            Prefaciada pelo ex-ministro Pedro Malan, que já trabalhou na ONU, a tese representa a mais ambiciosa análise, histórica e estrutural, do papel do Conselho desde sua origem até 2007, período em que foram empreendidas 42 reformas. A revisão das Metas do Milênio, em 2015, provavelmente exigirá novas reformas. O órgão consome mais de dois terços dos recursos da ONU, comprometidos com o desenvolvimento, ao lado daqueles destinados à paz e segurança, no âmbito do seu Conselho de Segurança. A obra é minuciosa no exame dessas propostas de reforma, sem conter, porém, uma avaliação sobre a eficácia dos recursos investidos nessa missão, o que requereria um outro tipo de estudo, feito por economistas. É uma obra importante para o Itamaraty, que está sempre demandando mais recursos para o desenvolvimento, justamente.

(3) Erika Almeida Watanabe Patriota:
Bens Ambientais, OMC e o Brasil
(Brasília: Funag, 2013, 452 p.; ISBN 978-85-7631-476-9; Coleção CAE)

            Bens ambientais parecem estar no centro das angústias comerciais das próximas décadas, já que o planeta agora, para estar politicamente correto, precisa se guiar pelas regras do desenvolvimento sustentável. O Brasil tem, justamente, uma grande interface com o assunto, pelo seu potencial produtor e exportador desses bens (ainda que existam dúvidas sobre sua competitividade e avanços tecnológicos em energia solar e eólica). A tese mapeia as discussões multilaterais a respeito, a atuação da China e da Índia, as posições assumidas pelo Brasil e as implicações da regulação no lado doméstico da equação. A autora acha que as premissas da OCDE, entre elas a liberalização comercial, tendem a prejudicar os países em desenvolvimento: seria mais uma manifestação da velha teoria conspiratória que sempre coloca os ricos contra os interesses dos pobres?

(4) Renato L. R. Marques:
Memorábilia
(Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2013, 378 p.; ISBN 978-85-914949-1-0)

            Como diplomata, Renato Marques é bom um escritor, com sua prosa elegante, frases em latim, vasto conhecimento da cultura humanista, sobretudo da história, e grande tino para a observação dos seres humanos, como Balzac, Dickens ou Flaubert. Como escritor, ele não é um diplomata, já que escreve sem os trejeitos típicos dos colegas, falando tudo com grande sinceridade. Nestas suas memórias sentimentais, ele vai desde as origens familiares nos pagos gaúchos, até os últimos postos, que eram, não muito tempo atrás, partes do império soviético. Mais do que um recorrido pela sua vida em vários continentes, elas são reflexões intelectuais sobre países, pessoas, processos e eventos a que assistiu, de que participou, sobre os quais leu; a referência aos grandes escritores é constante, e as fotos são um complemento agradável ao seu texto cortante.

(5) José A. Lindgren Alves:
Os novos Bálcãs
(Brasília: Funag, 2013, 161 p.; ISBN 978-85-7631-478-3; Coleção Em Poucas Palavras)

            Os “novos Bálcãs” talvez se pareçam um pouco com os “velhos”, no sentido em que os muitos povos eslavos – católicos, ortodoxos, ou islamizados – voltaram a se dividir em meio a conflitos por vezes sanguinários. Depois de algumas décadas de socialismo, quando eles estavam “unidos” pela razão ou pela força, eles estão prontos para receber novamente o Orient Express, que ia das terras cristãs ao império dos otomanos justamente atravessando essas terras complicadas. Lindgren Alves esclarece como o fracionamento étnico reconstruiu a balcanização, com alguns massacres no caminho. Um alerta de como a Europa também pode recriar os velhos demônios da guerra e da violência étnica. O chauvinismo está na origem dessa utopia estilhaçada. Uma síntese que se apoia na melhor bibliografia e num conhecimento direto da região.

(6) Francisco Doratioto:
O Brasil no Rio da Prata (1822-1994)
(Brasília: Funag, 2014, 190 p.; ISBN 978-85-7631-489-9; Coleção Em Poucas Palavras)

            Metade, ou quase, de toda a política externa brasileira, das origens aos dias de hoje, se fez e se faz no Rio da Prata. Daí a escolha deste “semi-diplomata” para escrever uma história que começa na contenção de Buenos Aires, passa pela guerra do Paraguai – sobre a qual o autor publicou o clássico Maldita Guerra –, avança do americanismo ingênuo para o pragmatismo conciliador, nutre desconfiança e cautela (de 1930 a 1955), retoma o aprendizado da cooperação e da superação de divergências, para finalmente chegar à integração no Mercosul (pelo menos até 1994, numa fase ainda feliz). Mesmo “em poucas palavras”, o autor usou fontes primárias, mas várias das secundárias são de autores hermanos: eles são a nossa “circunstância”. A história trata mais de diplomacia do que de comércio e desenvolvimento; parece que é a política que move a economia.

Paulo Roberto de Almeida
[Hartford, 28/07/2014]

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