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sábado, 19 de julho de 2014
Os mercados e o governo companheiro: desafinidades eletivas? - Paulo Roberto de Almeida e Reinaldo Azevedo
Um só não, tem vários, ou melhor dizendo: os mercados incomodam os companheiros. Eles sabem disso, e eles têm aquela conversa de que os mercados não podem "dominar" a sociedade, que cabe ao governo "disciplinar" os mercados porque eles seriam inerentemente concentradores, desiguais, injustos e sabe-se lá o que mais.
Sabemos, nós, o que essa hostilidade marxiana, marxista, leninista, cubana e companheira, aos mercados produziu ao longo da história: só miséria, opressão, desastres econômicos e sociais, mas fundamentalmente falta de liberdades, e em consequência, sociedades miseráveis, como a cubana, por exemplo.
Os companheiros sabem disso, e é por isso que, mesmo não gostando dos mercados -- para eles, os mercados são aqueles capitalistas de cartola e charuto, explorando trabalhadores, ou então os especuladores de Wall Street, os tais "loiros de olhos azuis", de que falava o Guia Genial dos Povos, que ocorreu de também ser presidente de um paíseco neste nosso planetinha redondo -- mesmo eles não gostando dos mercados, dizia eu, eles sabem que têm de "suportar" os mercados. Do contrário, de onde é que sairia a grana dos capitalistas que os sustentam, e até fazem alguns ficar muito ricos (não é, chefe da quadrilha?).
Por isso, de vez em quando, ou sempre, eles dizem que não querem ir contra os mercados, apenas construir, no Brasil, um "grande mercado de massas", como se houvesse alguma diferença, para o capitalista, entre mercado interno e mercados externos (por isso que o comércio exterior também está essa porcaria, é porque eles estão construindo o tal de "mercado interno de massas").
Mas, enfim, os tais mercado se vingam dos companheiros, e ai está a soberana tendo de amargar esse lado bisonho do nosso panorama eleitoral: cada vez que sai uma pesquisa desfavorável aos companheiros, e à soberana sua candidata, os mercados se "excitam" (se ouso dizer).
Um pouco como se os capitalistas e os tais de especuladores de Wall Street dissessem:
"Oba, a soberana caiu mais um pouco. Ótimo, vamos ver se conseguimos reverter nossas perdas!" (e aqui entra não só as ações da Petrobras, mas todos os outros ativos que são negociados, e que já perderam muito valor por causa da política econômica esquizofrênica dos companheiros).
Eles vão aprender?
Provavelmente não, mas vão tentar ser bonzinhos e dizer: "Olha pessoal, nós não somos contra os mercados, só estamos tentando redistribuir um pouco em favor dos pobres."
Claro que nesse "só tentando" entram todas as tentativas de "pikettyzação" da política redistributiva, à la Robin Hood, tirar dos ricos para dar aos pobres.
Isso, eles não vão perder. São os Robin Hoods de circo, incompetentes em economia, e sempre vão tentar tirar um pouco mais dos ricos (eles redistribuem primeiro para eles, claro) e da classe média.
Bem, eu só acho que os mercados já se vacinaram contra os companheiros.
O único problema é que o eleitorado brasileiro é muito diferente dos "mercados"; num certo sentido, eles são anti-mercado, e pró-Estado. Todo mundo quer favores, ou até uma boquinha no Estado (que paga mais, exige pouco, promete tranquilidade, estabilidade, boa aposentadoria, essas coisas).
É isso, justamente, que está afundando o Brasil, ou pelo menos deixando-o para trás, relativamente a outros países de crescimento dinâmico.
Pior para nós, que só veremos a renda dobrar em três gerações, ou seja, para os nossos netos...
É isso que queremos?
Não creio, mas é isso que temos.
Que tal mudar um pouco?
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 19/07/2014
Mercado reage bem à possibilidade de derrota de Dilma; é parte da reação da sociedade a um governo caduco
Reinaldo Azevedo, 18/07/2014
Vou aqui fazer algumas considerações que, creiam, nada têm de campanha eleitoral ou de expressão de afinidades eletivas, embora eu, como toda gente, faça as minhas opções. Na democracia, desde que os candidatos transitem no escopo democrático e se coloquem na defesa dos valores que essa democracia pode abraçar, todas as escolhas são igualmente legítimas, como legítimas são as divergências ideológicas. Em ciências humanas, e a economia também é uma ciência humana, quase nunca se tem uma resposta única para um problema. Mas é certo que essa resposta tenderá a ser ineficaz ou mesmo contraproducente se contrariar a matemática, a lógica, a história e, eventualmente, a experiência.
Já há algum tempo estamos diante de um dado eloquente. Aquilo a que chamamos “mercado” tem reagido muito bem à queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais e à possibilidade de a oposição vencer a disputa em 2014. Às vezes, para rimar os números com a esperança de mudança, nem se precisa do fato; basta o boato. E não foi diferente nesta sexta. Como a pesquisa Datafolha apontou um empate técnico no segundo turno entre o tucano Aécio Neves e a presidente — 40% a 44% para ela — e uma diferença de apenas sete pontos entre a petista e Eduardo Campos — 38% a 45% —, o Ibovespa passou a operar em alta. Às 15h1o, estava aos 57.175 pontos. Na máxima do dia, o índice chegou a 3,31%. Os destaques, vejam vocês, ficaram com as estatais: a Petrobras, por exemplo, exibia ganhos de 5,56% nas ações ON (as ordinárias nominativas), aquelas que dão direito a voto, e 5,6% na PN, a preferencial nominativa, a que não dá e é a mais negociada por investidores não profissionais.
Por que é assim? Ninguém precisa ser deste ou daquele partido para saber que, infelizmente, hoje e há muito tempo já, o governo usa as estatais brasileiras não apenas para fazer política de desenvolvimento, não apenas para cuidar do interesse nacional. Ele as utiliza também para cuidar de interesses bem mais mesquinhos, partidários, e como elemento de ajuste — precário e temporário — dos desacertos da política econômica. É sabido, por exemplo, que as tarifas estão represadas para evitar uma elevação da inflação, que já ultrapassa o teto da meta. Como malefício adicional, seguem intocados os fatores que causam a elevação do índice inflacionário.
É claro que isso tem um preço. Até agora, a presidente Dilma e o PT não deram sinais de que vão mudar essa política caduca caso obtenham mais quatro anos de mandato. Ao contrário até: aqui e ali, lideranças do partido, como o próprio Lula, têm preferido atacar o tal “mercado”, como se ele fizesse um mal ao Brasil. Ao contrário. Felizmente temos um mercado relativamente forte no país, que serve de radar e de advertência. A cada bobagem ou medida atabalhoada que o governo toma na economia, ele reage. Mais importante: reage também a expectativas, a partir de alguns indícios. Isso serve de freio à tendência autocrática dos governos. Sabem quem não tem mercado? Cuba! Sabem quem praticamente não tem mercado? A Venezuela! Já a tirania chinesa tem um, sim, e é gigantesco! A existência de um mercado, em suma, não garante a democracia. Mas só existe democracia onde ele atua e serve de instrumento de leitura da realidade.
Quando os investidores reagem bem à perspectiva de alternância de poder, é preciso que o governo ponha a mão na consciência. Em vez de sair por aí demonizando os agentes econômicos e mesmo seus adversários, talvez fosse o caso de tomar medidas efetivas para mudar de rumo. O que vemos, no entanto, infelizmente, são escolhas que caminham no sentido contrário. Além de tentar atrelar a administração pública federal e seus entes a conselhos formados por militantes políticos, o governo já pensa abertamente em estatizá-los, subordinando ainda mais o interesse público às militâncias organizadas.
A reação do mercado é, na verdade, a reação de uma fatia considerável e legítima da sociedade, que contribui de modo efetivo para gerar as riquezas com as quais se administra a máquina pública e que, inclusive, geram os bens necessários para as políticas de compensação e de distribuição de renda. Atacar os seus fundamentos também corresponde a atuar contra os interesses dos mais pobres.
A reação dos mercados é parte importante da reação de uma sociedade que quer mudar porque sente que, hoje, o estado e o governo viraram seu adversário.
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