sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Across the Empire (15): Adieu Vancouver (mas prometemos voltar)


Across the Empire (15): Adieu Vancouver 
(mas prometemos voltar)

Paulo Roberto de Almeida

            Hoje (ou melhor, ontem) foi um dia de passeios aos extremos (não do Canadá, mas nas cercanias). De manhã saímos do West End de Vancouver, exatamente da English Bay Beach, atravessamos a ponte em direção ao norte, e fomos pela Marine Drive até North Vancouver, e daí a West Vancouver, num ancoradouro chamado Horseshoe Bay, onde almoçamos. 
Carmen Lícia me fez uma foto e eu uma dela, mas valeu mesmo pelo lugar aprazível de veraneio dos canadenses (inclusive quebecois, e vários americanos) e pelo patê de lagosta que comprei nessa lojinha em frente à qual Carmen Lícia está fotografada. 
Tomei um expresso, e comprei um Lobster Paté (paté de homard, como explicam os politicamente corretos canadenses da Sea Change Seafoods), que degustei inteiramente sozinho (Carmen Lícia não quis, a despeito de meus oferecimentos), noite adentro, com torradas e a meia garrafa de Valpolicella que tinha sobrado de ontem (ainda estou acordado apesar disso).
De tarde, invertemos o itinerário, e fomos até o ponto extremo mais a oeste que nos foi dado chegar nesta viagem, onde está a Universidade de British Columbia, um lugar aprazível, entre os bosques. Diferente das universidades americanas, onde o álcool e tabaco são banidos, lá pudemos tomar vinho e cerveja, acompanhando um prato de queijos (um que não soubemos identificar, mas que parecia um dos vidros do Dale Chihuly).

 Antes tínhamos passado no Stanley Park (aliás, o nome da cerveja tipo belga, amber, que escolhi tomar), onde fomos visitar os totens indígenas feitos especialmente para sua inauguração, algumas décadas atrás. Não sou muito de fetichismos (em todo caso não no sentido marxiano), mas conheço a minha antropologia, e logo me lembrei dos escritos de Marcel Mauss sobre o potlacht dos índios canadenses, um oferecimento ritual que os marxistas adoram, pois vai no sentido anticapitalista da coisa, se é que vocês me entendem. Enfim, não vou explicar agora (pois o vinho está fazendo efeito: quem não sabe, procure ler Marcel Mauss).
Antes de voltar ao hotel, ainda passamos em vários outros lugares, como um pequeno promontório onde havia um museu (já fechado), um planetário, e umas tendas sendo preparadas para o Festival Shakespeare da cidade (não estaremos mais aqui para degustar o bardo, que eu acho genial, mesmo se nunca o li no original, apenas resumos e transcrições curtas, mas eu sempre o considerei o Maquiavel da dramaturgia). 


Vancouver foi o ponto alto desta viagem (so far), e certamente uma das melhores cidades do mundo para se viver, mas é verdade que só estivemos aqui no final do verão (mas dizem que tem um microclima especial, o que a torna menos inclemente do que as outras cidades canadenses, com menos 40, na média). A cidade é excelente, em todos os aspectos, para todos os gostos, mas não vi muitas livrarias, e nem frequentei bibliotecas, que para mim são dois critérios absolutos de civilização (junto com duchas decentes, não esquecendo). O hotel em que ficamos, English Bay Hotel, é modesto para os padrões a que estamos habituados, mas foi excelente sob todos os aspectos: na verdade, devia ser um antigo edifício de apartamentos (e estamos em um, de quatro peças, como disse), que foi transformado em hotel pelos chineses (ou seja lá quem for, mas é administrado por chineses). Tudo quase perfeito, com ampla cozinha e dois quartos, bem numa esquina de comércio, e garagem segura. Com a praia do lado.

Eu que não sou de praia, nem de natureza, apreciei, ainda assim, a natureza do Canadá: bem comportada, bem recortada, entretida, pintada de verde e sem mosquitos. Carmen Lícia aparece nesta foto do Rose Garden da British Columbia University, onde fomos em busca do Museu de Antropologia. 
Na verdade, ficamos no Wine Bar, Sage, da Universidade, tomando vinho, cerveja, e comendo um pequeno prato de queijos.
Despedimo-nos do Canadá já com certa nostalgia: eles são simpáticos os canadenses, e sobretudos de tamanho normal: agora voltamos aos XX large size do outro lado da fronteira, e o jeito americano de ser. Enfim, ninguém é perfeito, mas o Canadá se aproxima muito do modelo de país que eu pretenderia para o Brasil, sob vários aspectos (menos o frio, claro). Acho que vamos demorar mais uns 150 anos para nos aproximarmos do modelo canadense, mas se eu posso fazer um conselho eleitoral aos nossos candidatos, eu diria: estudem o modelo canadense, e tentem fazer igual. Não custa nada, ou melhor, só deve custar vergonha na cara e mais 150 anos de civilização.
O meu blog funcionou, o tempo todo, com o .cn ao final, mas amanhã deve voltar ao imperialismo americano, onde não existe um único .us que eu tenha encontrado (deve existir, mas eles não usam; para quê: para eles existe só os USA, ou America, como eles dizem, e o resto do mundo é the rest of the world, ou seja, não existe; e precisa?). Os estadounidenses, como diriam os companheiros, são simpaticamente arrogantes, não porque desprezem o mundo, mas porque não precisam dele, embora vivam de mensalão chinês e adorem um foie gras...
Já os canadenses são modestos, e essencialmente bons, para si mesmos e para o mundo. Acho que o mundo seria melhor se o império universal fosse mais canadense e menos americano, mas acho que não daria certo. A Suíça, por exemplo, é muito agradável para se viajar, para se visitar, mas seria ainda mais agradável se tivesse menos suíços alemânicos e mais italianos (mas acho que também não daria certo; ela não seria a Suíça, pois teria menos eficiência helvética e mais organização italiana, que às vezes é pior que a brasileira, sem exageros).
            Adieu Vancouver; prometemos voltar, Carmen Lícia e eu, de alguma forma.

Paulo Roberto de Almeida
Vancouver, 12/09/2014

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