terça-feira, 16 de setembro de 2014

Across the Empire (18): de South Dakota a Minnesota, terras de cowboys, gado e milharais



Paulo Roberto de Almeida

Hoje a viagem foi tremendamente aborrecida: de Rapid City, onde tínhamos dormido, no extremo oeste de South Dakota, 25 milhas acima do Mount Rushmore, até Minnesota, onde viemos descansar depois de um dia em estradas aborrecidas, a paisagem é pouco variada. Estamos nas grandes planícies do Mid-West, e nestas paragens do norte, só tem uma coisa: gado, e milho, milho e gado, vacas esparsas ou fazendo assembleia, e milho em todas as partes, como naquele estado que é só um milharal de uma ponta a outra, e que dizem ter uma importância crucial no processo eleitoral americano, Iowa, que fica um pouco mais abaixo de nós, na I-80. Nós viemos pela I-90 o tempo todo, e a paisagem é uma só: amarela de milho, amarela de grama seca, com alguns verdes aqui e ali, o gado preto, e rolos de feno por todos os lados.
Nada, a não ser essa desolação dos espaços rurais dominados pela monocultura. Aqui e ali o apelo às tradições da fronteira, totalmente fetichizadas atualmente, mas que ainda atraem os americanos de todas as categorias, alguns acreditando sinceramente naquilo tudo, outros provavelmente considerando tudo aquilo muito brega, muito kitsch, mas entrando no jogo de qualquer forma.
Bem, não tínhamos muito a fazer. South Dakota é bastante larga, assim que a maior parte do trajeto foi feita nesse estado: paramos em Wall, onde em 1931 uma família, para estimular o seu trading post, começou a oferecer água gelada gratuitamente aos viajantes dessa desolação. Pegou! Hoje o Wall Drugs é um imenso complexo de mais de um quarteirão, todo ao estilo velho oeste, mas com milhares, milhões, zilhões de bugigangas de todos os tipos, para todos os gostos. Tem muito made in America, inclusive muito artesanato tipicamente indígena, legítimo, mas tem muito mais coisas made in China, como é inevitável nos tempos que correm. Compramos algumas pequenas peças e nada mais. Esquecemos de pedir água gelada, como era nosso direito, e o menu do restaurante, tipicamente americano, não nos atraiu.
Preferi tomar um bourbon com este cowboy, que me ofereceu gentilmente o seu copo, mas muito pequeno, como vocês podem ver (mas, como ele tinha cara de poucos amigos, e estava armado, resolvi não reclamar).

Continuamos na desolação da I-90, atravessamos o rio Missouri um pouco mais adiante, em Chamberlain -- onde paramos para comer numa franquia do maior indicador das taxas de câmbio universais, imortalizado no índice BigMac da Economist --, e fomos adiante, já entrando no estado do Minnesota, até decidirmos parar em Worthington, o último pedaço de civilização antes de envergar por nova desolação, numa estrada nacional a caminho de Minneapolis (onde vamos chegar amanhã, ou melhor hoje, terça-feira 16).
Esse Mid-West americano sabe ser aborrecido: Carmen Lícia disse que sabe agora porque esses jovens americanos, que vão aos 17 ou 18 anos para uma universidade qualquer em outro estado, passam metade do tempo em esbórnias etílicas. Deve ser para descontar os anos que passaram nessas paragens aborrecidíssimas, onde todos sabem a vida de todos, e onde o sheriff controla o comportamento de todos (inclusive e principalmente dos jovens, que não podem nem chegar perto de bebida; eles se vingam depois...).
            Finalmente, tomei leite com aveia antes de dormir, o que vou fazer agora, não sem passar toda a noite revisando um livro que meu amigo sociólogo da Rutgers Ted Goertzel pretende que eu publique com ele sobre a política brasileira. Depois eu informo o conteúdo. Estamos tentando fazer uma edição Kindle antes das eleições. Ao trabalho, enfants de la patrie...

Paulo Roberto de Almeida
Worthington, Minnesota, 16 de setembro de 2014

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