Política
Diretor do Ipea pede exoneração após órgão se negar a divulgar estudo sobre desigualdade
A análise social dos dados da Pnad é feita anualmente logo após a divulgação da pesquisa; neste ano, Ipea afirmou que fará a análise só depois das eleições
Herton Araújo, diretor do Ipea que pediu exoneração nesta sexta (Ipea/Reprodução)
Veja.com, 17/10/2014
Uma decisão inédita tomada pela direção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de proibir a publicação de estudos realizados pelos pesquisadores envolvendo dados públicos divulgados entre julho e o fim das eleições presidenciais, deu origem a mais uma crise interna. O diretor de estudos e políticas sociais do Ipea, Herton Araújo, colocou seu cargo à disposição por discordar da definição da cúpula do Instituto e, nesta sexta-feira, pediu sua exoneração.
Disposto a publicar um estudo técnico com dados sobre miséria social no Brasil a partir da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada há três semanas, Araújo trouxe o assunto à reunião da diretoria colegiada do Ipea, realizada no dia 9 deste mês. Ele não conseguiu. A decisão do Ipea foi mantida: estudos somente serão divulgados a partir do dia 27 de outubro, após a realização do segundo turno eleitoral. Segundo nota do Ipea "o Sr. Araújo procurou convencer os demais membros do colegiado a rever a decisão, restando vencido".
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Não se trata do primeiro estudo preso nas gavetas do Ipea. O site de VEJA revelou, em setembro, que o Instituto havia engavetado outro levantamento, desta vez, feito com base nos dados das declarações de Imposto de Renda de brasileiros, e que mostrava que a concentração de renda havia aumentado no Brasil entre 2006 e 2012. A tese, curiosamente, contraria o discurso recorrente dos governos petistas.
A credibilidade do Instituto foi colocada em risco em outra ocasião em 2014. Levantamento divulgado em março deste ano mostrava que 65% dos brasileiros concordariam total ou parcialmente com a ideia de que mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. O dado correto, divulgado posteriormente, era de 26%.
O incidente ocorrido no Ipea se soma a outros deslizes em órgãos de pesquisa, em teoria, técnicos, que sofreram algum tipo de ingerência durante o governo do PT. Confira alguns casos:
Cinco institutos que 'pisaram na bola'
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IBGE
Presidente do IBGE, Wasmália Bivar
A corda no pescoço da presidente do IBGE, Wasmália Bivar, ficou ainda mais apertada após o desgaste gerado pela correção de dados Pnad de 2013, na semana passada. Um erro no cálculo do peso de sete regiões (Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul) na amostragem resultou em indicadores incorretos. Para o instituto, uma falha "grave". Para a ministra do Planejamento, Miriram Belchior, um "choque". Já Para a presidente Dilma, um erro "banal". O índice Gini, por exemplo, que mede a desigualdade no país, foi revisado de 0,498 para 0,495; em 2012 havia sido de 0,496. Ou seja, em vez de indicar leve alta, o resultado caiu 0,001 ponto porcentual, o que, segundo economistas, ainda reforça um cenário de estagnação da distribuição de riqueza. Ana Magni, diretora-executiva do sindicato de funcionários do IBGE (Assibge-SN), disse ao site de VEJA que os deslizes foram provocados pela pressão elevada sobre um quadro de funcionários reduzido. Ela lembra que, em 1990, o instituto contava com 14 mil colaboradores efetivos - o equivalente ao quadro atual do instituto nacional de estatísticas do México -, e que hoje esse número não alcança 6 mil. Outro agravante é que 70% deste total deve se aposentar nos próximos anos, já que têm mais de 26 anos de casa. "É um problema estrutural e generalizado, que tem uma repercussão muito dramática sobre o grande volume de dados que produzimos na sociedade. Nosso receio é de que, estrangulando mais as condições de trabalho, o cenário piore", afirmou.
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