O texto que eu preparei como guia, previamente distribuído (mas não lido, obviamente), é este aqui:
2800. “Por
Que a América Latina é Pobre e a América do Norte Rica?”, Hartford, 28
março 2015, 19 p. Notas para aula virtual. Disponibilizado no Academia.edu (link: https://www.academia.edu/11712694/2800_Por_Que_a_Am%C3%A9rica_Latina_%C3%A9_Pobre_e_a_Am%C3%A9rica_do_Norte_Rica_2015_).
Para apoiar a aula, preparei um PowerPoint, transmitido na ocasião, mas que também esteve e está disponível no seguinte canal:
2801. “Por
Que a América Latina é Pobre e a América do Norte Rica?”, Hartford, 29
março 2015, 63 slides. Apresentação em PowerPoint para a aula virtual. Disponibilizado no Academia.edu (link: https://www.academia.edu/11712721/2801_Por_Que_a_Am%C3%A9rica_Latina_%C3%A9_Pobre_e_a_Am%C3%A9rica_do_Norte_Rica_2015_).
Na ocasião, e depois, os alunos fizeram várias perguntas, que eu respondi oralmente, outras pelo Facebook criado para isso na ocasião, e outras me foram enviadas posteriormente. Coletei todas as perguntas e fiz respostas agrupadas, que agora seguem abaixo, para quem tiver interesse.Apenas retirei os nomes completos dos perguntadores, deixando apenas as iniciais.
Paulo Roberto de Almeida
Magistro Institute
Estimulando a Inteligência e
a Sabedoria
Aula ao Vivo com o Doutor
Paulo Roberto de Almeida
17/04/2015
Respostas em
29/04/2015
Perguntas sobre Por Que a
América Latina é Pobre e a América do Norte Rica?
1.
Sobre o
Brasil e América Latina
a)
Economia
AM
Até que ponto a privatização
de setores e aplicações de investimentos estrangeiros seria benéfico para a
economia brasileira?
PRA: Existe uma verdade quase
axiomática em matéria de políticas econômicas que pretende que se você quiser
maior eficiência, economia, fiabilidade, qualidade de bens ou serviços, e
sobretudo a melhor relação custo-benefício, você tem de obter tudo isso do lado
do setor privado, não do lado do governo. Empresas públicas e serviços
prestados pelo Estado, de maneira geral, são ineficientes, custosos, não
guardam nenhuma relação com os insumos (ou seja, os bens e serviços usados para
sua prestação ou fabricação) e tendem a ser objeto de desperdício, corrupção,
desvio de recursos e muita ineficiência. Concordo com a tese, em gênero, número
e grau. Como se diz popularmente, o que engorda o gado é o olho do dono.
Serviços coletivos em geral, como não pertencem a ninguém em particular, e como
não usam critérios de mercado – ou seja, concorrência pelo menor preço e maior
qualidade – tendem a ser de pior qualidade do que os mesmos serviços prestados
por empresas privadas, isso por definição, e desde que o setor seja aberto à
competição, e não objeto de monopólios e carteis – como são certos serviços,
como bancos, telefonia, etc. – e desde que as regras para investimento sejam
claras e estáveis. Não é preciso ir muito longe: é evidente que uma única
estatal de telefonia não poderia NUNCA oferecer a profusão de aparelhos e de
serviços de que se dispõe hoje na telefonia celular. Antes de o setor ser
privatizado, vivíamos em monopólios telefônicos, e o custo de uma LINHA
residencial era absurdo – podendo chegar a 2 mil dólares no mercado negro, uma
vez que não existia oferta suficiente – e isso quando havia disponibilidade. É
evidente, portanto, que quanto maior o número de serviços privados, isso tende
a melhorar a oferta a preços satisfatórios para os consumidos, e quando não
houver possibilidade de ter concorrência – eletricidade, saneamento, afins – o
ideal é que a oferta se aproxime o mais possível das soluções de mercado
(eficiência, relação qualidade-preço, etc.).
Quanto ao capital estrangeiro, a
resposta é muito simples: apenas um nacionalismo tacanho pretende que certos
serviços devem ser reservados apenas ao capital nacional. Se estamos falando de
mercados cada vez mais integrados, nos planos nacional, regional e mundial, não
deveria haver NENHUMA distinção entre capital nacional e capital estrangeiro.
TODAS as empresas deveriam ser tratadas nas mesmas bases, uma vez que a maior
competição sempre é melhor para qualquer bem ou serviço que você consuma. Quer
uma prova muito simples: imagine você viver num socialismo sob o regime do
capital nacional. Entre num supermercado, qualquer supermercado, e vá à seção
dos iogurtes. Lá você encontra dezenas, virtualmente, de tipos e marcas para
todos os gostos. Se fosse unicamente nacional, essa oferta seria reduzida a
menos da metade, e se fosse estatal, se teria unicamente um ou dois tipos de
iogurte. Simples assim. Devemos a variedade de bens e produtos disponíveis em
nossos supermercados à existência de marcas estrangeiras, que disputam com as
marcas nacionais as preferências do consumidor. Melhor assim, não é mesmo?
No Brasil haveria um setor de
produção ou setores de produções que poderiam alavancar o desenvolvimento
econômico de maneira acelerada, ao ponto de transformar positivamente o cenário
econômico atual?
PRA: Respondo imediatamente por
um NÃO, um grande não, pois não é possível, numa economia livre, e
concorrencial, aberta a todos os talentos, ficar selecionando setores para
serem beneficiados por burocratas governamentais, com base em critérios
políticos muito duvidosos. Aponto apenas um exemplo: o governo emprestou, ou
aplicou, bilhões de nossos recursos – pois os do BNDES são de todo o povo
brasileiro, com base no FGTS e outras transferências do Tesouro, ou seja,
nossos impostos – nas empresas do grupo OGX, do famoso empresário Eike Batista,
que tinha sido apontado como o brasileiro mais rico, e que pretendia estar
entre os mais ricos do mundo. Supostamente porque ele iria aplicar em setores
prioritários, ditos estratégicos, e isso apenas por indução autoproclamada. Deu
no que deu: todos perdemos e bilhões de recursos que poderiam estar sendo
aplicados em outras áreas foram parar nas mãos, e nos bolsos, quando não nos
cofres de bancos no exterior, de um capitalista promíscuo, que deve ter dado
muito dinheiro a políticos e burocratas, e ao partido do governo, para
conseguir esses favores.
Eu só um ÚNICO setor que merece
receber apoio para alavancar o desenvolvimento nacional e ele é a EDUCAÇÃO,
simples assim. Falo da educação primária, elementar, universal, obrigatória, em
primeiríssimo lugar. Depois falo da educação secundária, que também deveria ser
compulsória e aberta a todos. Em último lugar vem a educação superior, que deve
ser uma opção familiar, e apoiada pelo governo UNICAMENTE no que se refere à
pesquisa e projetos aplicados. Considero que a educação superior deva ser paga,
e quem não puder pagar receberá ou uma bolsa (de acordo com os seus resultados
do secundário), ou fará um empréstimos para pagamento futuro, na vida
profissional.
Sou contra, terminantemente, contra
qualquer política indústria, que significa geralmente dar dinheiro para quem já
é rico.
TA
Qual seria as práticas essenciais
para que a economia brasileira possa sair da estagnação?
PRA:
Já escrevi muito sobre isso. Estamos atolados no baixo crescimento, na alta
inflação, no baixo investimento e no desequilíbrio de contas públicas. O mais
importante, porém, é o intervencionismo do governo, que tira confiança do setor
privado – que é quem pode investir – sobre a transparência e estabilidade de
regras na economia. Então, em primeiro lugar, se tem de fazer o tal ajuste, que
não é para retomar o crescimento, apenas para evitar que a situação piore ainda
mais.
Depois, como regras gerais, para o
crescimento, eu recomendaria: 1) estabilidade macroeconômica (inflação baixa,
contas púbicas equilibradas, juros e câmbio de mercado, não manipulados pelo
governo); 2) competição microeconômica (extinção de monopólios e carteis,
abertura da economia à competição, inclusive estrangeira, tarifas baixas,
impostos baixos, sobretudo sobre o emprego e o lucro, regras estáveis); 3)
governança de boa qualidade (parlamento não corrupto, justiça funcionando,
rapidamente, transparência em todos os procedimentos, baixo intervencionismo do
Estado no setor privado, etc.); 4) alta qualidade dos recursos humanos (o que
significa simplesmente uma revolução na educação, que é catastrófica); 5)
finalmente, abertura ao comércio internacional e aos investimentos
estrangeiros.
Estas são as minhas regras básicas
para um processo sustentado de crescimento econômico.
JK
Que reformas do processo
orçamentário no Brasil melhorariam a transparência e a qualidade do gasto
público?
PRA: Existem dezenas de medidas a
serem tomadas em relação ao nosso absurdo processo orçamentário. Para não ter
de tocar em detalhe nesses aspectos, que são muito complexos e mereceriam
longas respostas, eu recomendaria ler o livro de Marcos Mendes (org). Gasto Público Eficiente (Fundação
Fernand Braudel). Recomendo, igualmente, seu outro livro: Por que o Brasil cresce
pouco? Desigualdade, democracia e baixo crescimento no país do futuro (Elsevier).
LL
Visto que a taxa de inflação
está em alta, há uma maneira do governo reduzi-la? Como seria possível essa
redução sem atrapalhar a economia brasileira drasticamente?
PRA: Sim, a única forma de o
governo reduzir a inflação seria não fazer o que ele faz continuamente: criar
crédito e injetar dinheiro na economia. O que cria a inflação é a
disponibilidade de dinheiro, e infelizmente esse governo – como todos os outros
aliás – gasta mais dinheiro do que deve, sobretudo gasta o dinheiro que não é
seu, e sim nosso, retirado dos nossos bolsos com os impostos.
Todo processo de ajuste
anti-inflacionário impõe certos custos momentâneos, pois as pessoas gostam de
ter crédito para poder gastar mais do que deveriam. Uma vez adaptado o meio
circulante (quantidade de dinheiro na economia) às necessidades efetivas do
sistema produtivo, a economia poderia crescer sem pressão inflacionária.
Kaline Renaly
Há alguma saída prática pra
correção da economia mediante o cenário atual?
PRA: Já respondi a essa pergunta
para Thuanne Angelo, veja acima.
Como se avalia o ato de redução
das rotas comerciais do Brasil com os países desenvolvidos?
PRA: Rotas comerciais já dizem a que
vieram: para atender a uma demanda de mercado: quando esse mercado não comporta
os custos incorridos pelas despesas fixas implícitas a uma oferta determinada
por acordo político – como são os acordos de navegação aérea entre países – as
empresas fazem o que têm de fazer, adaptar a sua oferta à demanda efetiva. Não
deve ser uma área determinada pelo governo, mas sim aberta a total
concorrência, TOTAL, ainda que a operação possa ser controlada por razões de segurança.
GV (respondida na aula do
dia 17).
O plano real foi o melhor ate
hoje criado? Houve outro melhor?
PRA: No Brasil nunca houve nada
melhor, o que não quer dizer que seja perfeito. Recomendo a leitura de dois
livros sobre isso. Maria Clara Prado, A Real História do Real. Miriam Leitão, Saga, a luta do povo
brasileiro em defesa da moeda.
Todos os demais planos se baseavam
em medidas artificiais, como controles de preços, salários, câmbio, o que só
gera desequilíbrios e penúria, quando não distorções enormes. O melhor plano é
aquele que amplia as liberdades econômicas para que todos possam trabalhar e ganhar
dinheiro no mercado. Existe algum sentido nos monopólios de transportes (ônibus
e taxis)? Nenhum. Total liberdade de oferta melhoria o serviço e diminuiria os
preços.
JL (respondida na aula do dia 17).
Os outros países investiram em
maquinário e mão de obra, estamos fadados a essa "pobreza"
"eternamente" ou é possível reverter à situação, mesmo levando em
consideração, que nos países desenvolvidos temos o império da lei, enquanto no
Brasil as leis são desrespeitas, principalmente pelo Estado?
PRA: Uma coisa precisa ficar
muito clara. NÃO SÃO os países que investiram em maquinário e mão-de-obra, e
sim pessoas, empreendedores, empresários, trabalhadores, simples indivíduos que
queriam melhorar de vida. Governos, no máximo podem investir em educação, mas
isso também é falso, pois eles o fazem com o dinheiro das pessoas, que
poderiam, elas mesmas criar serviços nessa área, como já existe atual e
concretamente; mais da metade da oferta educacional é feito pelo setor privado.
Quanto ao problema do “rule of Law”,
o respeito à lei, esse é realmente um problema cultural de nossa formação
ibérica. Nos países anglo-saxões, houve a Magna Carta (1215), que diz que nem o
rei está acima da lei, e só pode impor medidas (impostos, justiça, etc.) no
respeito do devido processo legal, com o consentimento dos governados. No
Brasil ainda não chegamos na Magna Carta...
CF
A
vinda de italianos para o Brasil foi uma medida para tentar “branquear” a
população e resultante da situação econômica da Europa, em particular na
Itália?
PRA: Os movimentos migratórios do
final do século 19 e início do 20 foram um fenômeno universal, ou se quisermos
europeu e atlântico, pois implicou no deslocamento de milhões de europeus para
as Américas, o Novo Mundo. Esse desejo de “branqueamento” existiu realmente,
pois correspondeu a um estágio do desenvolvimento do pensamento “científico”,
de base racialista, a partir do predomínio da civilização europeia sobre o
resto do mundo – o que é apenas um fato histórico – em que se identificou a
“raça branca” (na verdade europeia) como superior, o que também era uma
constatação de fato a partir do avanço da tecnologia e do conhecimento
científico, que deu a esses povos maior domínio sobre processos produtivos.
Sugiro ler Jared Diamond – Armas, Germes e Aço – sobre o desenvolvimento
diferenciado das sociedades humanas, ler David Landes – A Riqueza e a Pobreza
das Nações –, sobre o desenvolvimento desigual das economias, e ler Stephem Jay
Gould – A Má Medida do Homem – sobre as ideologias racialistas do século 19.
Qual seria a definição mais
correta do Programa Bolsa Família: uma medida de emergência em curto prazo ou
uma manipulação política? Quais países adotaram programas semelhantes?
PRA: Vários países adotam medidas
paliativas desse tipo, que implicam em distribuição de subsídios à população
mais pobre. Não considero esse tipo de medida mais eficaz, e sim o investimento
direto na educação dos mais pobres e em sua qualificação técnica e
profissional, para que eles possam trabalhar e ganhar o seu dinheiro. Se trata
de um paliativo, não de uma solução, se não vem acompanhada pelas medidas
corretas.
Mas políticos em geral são
populistas e demagogos, e tiram dinheiro de uns para dar a outros, e com isso
recolhem votos.
Repito: não diminui a miséria,
apenas subsidia o consumo dos mais pobres.
AB
No caso do Brasil o pobre
passou a ser uma solução, voltando a ser um problema para econômica e por isso
não se meche nestas políticas públicas voltadas a eles?
PRA: Isso é inevitável se o
objetivo é, como foi no Brasil, criar um curral eleitoral, que na verdade
perpetua a pobreza e a dependência. Qual é o país sério que pode sentir orgulho
de ter UM QUARTO de sua população na dependência de transferências
governamentais? Isso é um fracasso completo, não uma glória.
HN
Quais são os principais motivos
que os brasileiros que tem a experiência de viver ou apenas visitar outro pais
como o Estados Unidos e Alemanha, de não possuir o desejo voltar ou
permanecerem no Brasil?
PRA: Muito simples: oportunidade de melhorar de vida, de ter
segurança, de viver num país sem corrupção, com melhores serviços. Milhões de
miseráveis de todo o mundo procuram desesperadamente chegar à Europa e viver
nos EUA. Por que será?
b)
Política
Externa Brasileira
GV (respondida na aula do
dia 17).
Na atualidade, como o Brasil
esta sendo visto no cenário internacional? Qual foi a melhor fase?
PRA: O Brasil está sendo visto
como sempre foi: como aquele país que realiza certos avanços e depois recua
novamente. Poderíamos estar melhor, certamente, e só não estamos devido à
inépcia e incapacidade de nossos governantes. Infelizmente é simples assim:
eles não conseguem manter o país crescendo, com políticas corretas. A melhor
fase foi a de FHC, quando finalmente estabilizamos e tínhamos um presidente
sensato, aberto, e depois com o Lula, na primeira fase, que gerou um entusiasmo
exagerado e totalmente indevido, porque a casa estava em ordem para crescer,
porque a demanda chinesa trouxe crescimento ao Brasil, e porque parecia a
história ideal de todo país pobre: ter um dirigente saído dos meios populares
que finalmente realiza justiça social, o grande problema do Brasil. Sabemos
hoje que foi tudo ilusão, mas as pessoas – sobretudo os estrangeiros mal informados
– acreditavam que fosse verdade.
AR
Você citou o Petrolão em um dos
exemplos de como enriquecer até em um tom de brincadeira. Diante de vários
escândalos por parte do governo em relação ao dinheiro público, como se avalia
a imagem do Brasil nos países desenvolvidos? Qual a sua credibilidade? É missão
de a diplomacia agir para mudar essa imagem negativa e buscar recursos para o
país, ou apenas analisar esse cenário sem ter interferência direta?
PRA: Essa imagem é a pior
possível, pois ficamos sendo equiparados a esses países africanos notoriamente
corruptos, e talvez não esteja longe disso. A diplomacia não pode fazer boa
propaganda de uma realidade deplorável e esconder fatos que estão sendo
veiculados na imprensa internacional. A missão da diplomacia não é fazer
propaganda enganosa, e sim informar o governo brasileiro sobre o que se diz do
Brasil lá fora, de bem ou de mal.
PF (respondida na aula do dia 17).
Nas ideias apresentadas, um
grande passo para crescimento econômico e social da AL parece ser a repetição
de modelos asiáticos. Essas sociedades regem não apenas
politicamente/economicamente a população, mas principalmente de modo cultural.
E pensar em mudança cultural no Brasil ainda esta nos patamares de uma utopia.
O professor acredita que uma
evolução econômica eficaz seria mais eficiente se boas condutas em questões
culturais fossem amplamente incentivadas?
PRA: Já disse que seria
impossível repetir modelos, quaisquer modelos, sobretudo os asiáticos. Não
acredito em mudanças culturais vindas do alto, por fiat. Isso não existe
simplesmente, só se processa no longo prazo, lentamente. A única solução é a
elevação contínua, intensa, extensa, dos padrões educacionais da população. Não
existem milagres fora do crescimento da produtividade, e este só vem com boa
educação para todos. Eu nunca tentaria mudar a cultura, pois isso é impossível
e um sonho equivocado. Simplesmente eduquemos a população: ela verá o que é
melhor para si mesmo, sem que ninguém precise dizer. Já estamos vendo, aliás:
por que é que as pessoas estão indo embora do país? Porque são bem informadas,
e reconhecem que o Brasil é um país fracassado, com políticos corruptos. Elas
preferem recomeçar a vida em outros lugares, nos quais não tenham a sensação de
estar sendo roubadas todos os dias por mentirosos no poder.
AA
Pode-se dizer que o gasto
excessivo por parte de algumas nações da América Latina torne suas economias
fragilizadas ou pobres por ultrapassarem suas receitas?
PRA: Não apenas da América Latina:
estamos vendo isso agora mesmo na Europa, e não apenas em países fracassados
como a Grécia, mas também em países aparentemente prósperos como a França. A
França recolhe 45% da riqueza nacional em impostos e gasta mais de 53% em
despesas, ou seja, produz déficits contínuos. Tem um futuro um país assim?
Obviamente que não: estão indo para uma inexorável decadência.
AB
Grande parte dos países da
América Latina foram colonizados e explorados, por Portugal e Espanha. Por isso
seguiram passos diferentes dos Estados Unidos no Século XVIII?
PRA: Estes são fatos históricos
que não podemos mais mudar. O que podemos fazer, para suprir as desvantagens de
termos sido colonizados – a palavra certa é criados, pois não existiam
sociedades antes dele, e sim tribos primitivas, esparsas – por ibéricos, e
fazer o que fizeram outros povos: construir riquezas através do trabalho duro,
apenas isso. Não há condenação eterna por termos nascido pobres e deseducados.
Basta nos educarmos e nos tornarmos ricos. Muitos o fizeram, aqui mesmo, com
base no seu próprio trabalho. O governo
atrapalha um bocado, mas isso é possível corrigir também, bastando que as
pessoas tomem consciência disso. O governo não facilitar nada, e ele só retira
dinheiro das pessoas e obstrui o nosso desenvolvimento.
CF
Existem teorias que explicam o
baixo desenvolvimento do Brasil por causa do caráter explorador da colonização
portuguesa e o pouco investimento no crescimento do país. O senhor concorda?
PRA: Apenas em parte, mas veja a
resposta acima. Nada é eterno...
FC
Até que ponto pode comparar as
explicações para pobreza da América Latina com a África?
PRA: Não se pode comparar coisas
incomparáveis. Somos de formações totalmente distintas. Leia Jared Diamond para
saber como exatamente.
2.
Sobre os EUA
e Países Desenvolvidos
FC
Pode-se
dizer que a crise de 29 foi uma ruptura do super desenvolvimento dos EUA? E até
que ponto afetou a sociedade americana, mais precisamente a classe média?
PRA: Crises econômicas são
inevitáveis em sistema abertos: se você gastar todo o seu dinheiro em loterias,
estará criando uma crise para você mesmo também. Foi um pouco o que fizeram as
pessoas nos anos 1920: apostaram muito dinheiro nas bolsas, pretendendo ficar
ricos rapidamente, pois as ações estava, subindo exponencialmente. Ora, não
existe possibilidade física de ganhos exponenciais continuamente: um dia, se
tem o limite. Afetou enormemente todos naquele país. Mas ele se recuperou, e se
tornou ainda mais rico, com base nas mesmas regras, o que significa novas
crises, que sempre são o resultado de bolhas especulativas. As pessoas são
assim...
EM
O liberalismo clássico prega
uma economia livre, sem intervenção do estado. Prega um estado mínimo. A minha
dúvida é, diante da situação econômica atual no Brasil. Como conseguiríamos ter
no Brasil, uma economia mais livre? O que deveríamos fazer para o Brasil adotar
essa política de livre-mercado? É possível o governo brasileiro sair totalmente
da economia?
PRA: É possível, sim ter uma
economia mais livre. Basta comparar o Brasil com outros países e ver o que
fazemos de errado. Muita coisa. Recomendo a leitura atenta do relatório do
Banco Mundial, Fazendo Negócios, Doing Business, para ter um retrato do nosso
inferno empresarial e regulatório. Depois tem o relatório Economic Freedom of
the World, talvez exista em português, mas também indica tudo o que fazemos de
errado. Nenhum país no mundo é inteiramente livre, laissez-faire, mas certamente
os EUA, por exemplo, são infinitamente mais livres do que o Brasil em termos
econômicos. Até a China comunista é economicamente mais livre do que o Brasil.
Professor,
vemos que países com uma política liberal econômica tiveram um maior
desenvolvimento de suas economias em relação a países que não empregou tal
política; quais seriam, se caso existam, as questões negativas em relação a
política econômica liberal?
PRA: Existem dezenas e dezenas, e
recomendo a leitura dos relatórios citados acima, bem como o do World Economic
Forum sobre Competitividade. Estamos sempre nos mais baixos escalões. Isso é
uma praga? Certamente que não. Se outros países tem outras regulações, mais
efetivas para o crescimento, isso significa que nós também podemos fazer. Basta
ver o que funciona e o que não funciona Simples assim.
Começo por um exemplo muito simples:
por que a Anvisa tem de proibir farmácias de vender chiclete? Existe uma razão
ponderável para isso? Nenhuma.
Isso se chama fascismo.
As pessoas precisam descobrir que
vivemos num país fascista, submetidos a ordem de burocratas idiotas.
Os EUA teme a criação do banco do BRICS?
PRA: Isso é bobagem. Podem até
temer, no que estarão errados. Vejamos: quanto mais concorrência, melhor,
correto? Então, maior número de bancos, competindo entre si para emprestar
dinheiro para bons projetos deveria ser positivo, até para empresas americanas
que podem fazer esses projetos. Mas, seria muito ruim, para TODOS, mas
sobretudo para os POVOS dos países do Brics, que esse banco passasse a
financiar projetos por critérios políticos, e não técnicos. Simples assim: de onde
vai sair o dinheiro? Dos governos (ou seja nosso)? Ou de investidores privados?
Acho que se o dinheiro do banco dos Brics sair do mercado, e os projetos forem
sólidos, está bem. Se o banco for político, vamos perder dinheiro, todos nós.
CF
Se os americanos não tivessem
envolvidos na Segunda Guerra, os russos conseguiriam reverter a situação de
conquistas da Alemanha?
PRA: Talvez, mas com um
sacrifício muito maior em termos de mortos e destruição material. Napoleão
perdeu a guerra contra o inverno, e a falta de alimento. Não contra o exército
russo. Os alemães poderiam ter avançado ainda mais, conquistado Moscou,
Leningrado, etc. Mas seria difícil converter milhões de russos em escravos e
eles acabariam sendo derrotados mais cedo ou mais tarde. Mas sem dúvida alguma
que a ajuda dos EUA e da GB salvou Stalin de uma derrota vergonhosa. Se tivesse
perdido, naquela fase, teria sido simplesmente eliminado do cenário, e teriam
sido outros líderes russos a fazer a reconquista, como ocorreu, aliás.
Os alemães também perderam não tanto
por incapacidade de seus militares, mas por erros estratégicos dos nazistas, de
Hitler, em primeiro lugar, que se julgava um grande líder militar. Cometeu
muitos erros e isso apressou sua queda, pois do contrário, a derrota do nazismo
teria sido muito mais difícil e muito mais longa.
Da mesma forma, se pode dizer que as
bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki apressaram o fim da guerra e
SALVARAM vidas. Sem bombas atômicas, a guerra no Pacífico demoraria talvez um
ano mais, ou talvez seis meses, com muito mais mortes, igualmente horríveis, de
japoneses e americanos. Eles não se renderiam, e os americanos teriam muito
mais perdas para conquistar as várias ilhas.
Estou lidando com fatos, apenas
isto.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 29 de abril de 2015
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