Leandro Narloch apresenta este texto como um bom resumo das ideias do ganhador do Prêmio Nobel. Não acho. Ou o resumo, ou o economista possuem um problema de conceitualização do papel daqueles que ficaram na frente dos demais: a tal de história de "chutar a escada" para impedir outros de alcançar os vanguardeiros. Desafio o Leandro Narloch, o autor do resumo, ou o próprio Angus Deaton a provar, empiricamente, que um fenômeno desse tipo -- ou seja, um complô, ou conspiração, entre os que estão na frente para impedir que outros os sigam -- já ocorreu na história da humanidade. Quando, exatamente? A Inglaterra impediu a Alemanha e os EUA de a superarem no final do século 19? Os três impediram o Japão de igualmente galgar a escada do desenvolvimento? O Japão impediu a Coreia de segui-lo na capacitação tecnológica? Alguém está impedindo a China de alcançar seus objetivos de upgrade industrial e científico? Algum país, senão nós mesmos, estaria dificultando o processo brasileiro de desenvolvimento?
Essa história da escada é uma imensa bobagem...
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 12/10/2015
PS: Acabo de comprar o livro de Angus Deaton em Kindle Edition, e verifiquei que ele realmente diz essa bobagem em sua introdução:
"This book is about the endless dance between progress and inequality, about how progress creates inequality, and how inequality can sometimes be helpful -- showing others the way, or providing incentives for catching up -- and sometimes unhelpful -- when those who have escaped protect their positions by destroying the escape routes behind them."
Ou seja, Angus Deaton realmente disse isso, e deve pensar assim, portanto. Agora vou ler o seu livro para que ele demonstre casos dessa teoria conspiratória do "chutando a escada" e o papel desse ato, ou atitude, no impedimento fundamental a que outros povos ou países também galgassem a escada do desenvolvimento, ou seja, fizessem a grande escapada feita pelos retardatários de sucesso, e quais seriam os retardatários impedidos de fazê-lo.
O que pensa Angus Deaton, o Nobel de Economia de 2015
"Boas notícias às vezes geram desigualdade" e outras ideias do novo Nobel
1. Desigualdade é uma consequência inevitável da prosperidade
No filme A Grande Fuga, 250 prisioneiros da Segunda Guerra Mundial escapam de um campo nazista. A fuga foi uma excelente notícia para os que conseguiram escapar, mas provocou uma desigualdade entre os prisioneiros. Se antes estavam todos igualmente presos, com o episódio alguns conquistaram a liberdade, enquanto outros foram deixados para trás. Na soma geral, porém, nenhum prisioneiro ficou numa situação pior.
Angus Deaton, economista que ganhou o Nobel de Economia esta semana, se inspirou nesse filme para dar o título do seu livro mais famoso – A Grande Fuga: saúde, riqueza e as origens de desigualdade. Até a Revolução Industrial, o mundo todo era igualmente miserável. A prosperidade que surgiu a partir de então tirou alguns países da miséria, enquanto outros seguiram pobres. A desigualdade aumentou, ainda que ninguém tenha piorado de situação. Diz ele:
Desigualdade é frequentemente uma consequência do progresso. Nem todos enriquecem ao mesmo tempo, e nem todos tem acesso imediato às medidas profiláticas mais recentes, seja o acesso a água limpa, vacinas ou a novas drogas de prevenção a doenças. Desigualdade, por sua vez, afeta o progresso. Ela pode ser boa; crianças indianas percebem o que a educação pode fazer e também vão para a escola. E pode ser má se os vencedores tentam impedir os outros de segui-los, puxando para cima as escadas atrás deles.
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A Revolução Industrial, começando na Inglaterra nos séculos 18 e 19, iniciou o crescimento econômico que tem sido responsável por centenas de milhões de pessoas escapando da privação material. O outro lado da mesma Revolução Industrial é o que os historiadores chamam de ‘Grande Divergência’, quando a Inglaterra, seguida um pouco depois pelo noroeste da Europa e pelos Estados Unidos, se afastou do resto do mundo, criando um enorme golfo entre o Ocidente e o resto.
2. Mais que a riqueza, foi o conhecimento que nos tornou mais saudáveis
Uma ideia bem aceita entre demógrafos e economistas é que o aumento da renda a partir da Revolução Industrial causou a enorme melhoria da saúde e da expectativa de vida nos últimos três séculos. Com mais comida na mesa e dinheiro para bancar descobertas médicas, as pessoas viveram mais e melhor. Um europeu médio hoje é 11 centímetros mais alto e vive quatro décadas mais que no século 18. Angus Deaton concorda que a renda contribui para a saúde, mas dá pouca importância a essa relação. Mostra, por exemplo, que em 1750 famílias ricas e bem alimentadas tinham a mesma expectativa de vida que os pobres. Para ele, o que nos tornou mais saudáveis não foi tanto o crescimento econômico, mas o maior conhecimento sobre germes e doenças.
3. A ajuda à África atrapalha
Angus Deaton abraça a ideia de que a maior parte da ajuda humanitária mais prejudica que contribui com o desenvolvimento da África. Para ele, o que os países mais pobres precisam é de instituições que propiciem o crescimento econômico, e muitas vezes a ajuda humanitária enfraquece ainda mais as instituições:
A ajuda estrangeira mina o desenvolvimento da capacidade do estado. Isso é mais óbvio nos países onde o governo recebe grandes quantias de ajuda direta. Esses governos não precisam de contato com os seus cidadãos, nem parlamento e nem sistema de coleta de impostos.
@lnarloch
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