terça-feira, 31 de janeiro de 2017

This Day in History: Emancipation Act, January 31, 1865 - 113 yeas, 58 nays (NYT)

On Jan. 31, 1865, the House of Representatives passed a constitutional amendment to abolish slavery.

From Washington
Abolition Of Slavery


Passage of the Constitutional Amendment
ONE HUNDRED AND NINETEEN YEAS AGAINST FIFTY-SIX NAYS
Exciting Scene in the House
Enthusiasm Over the Result
THE PEACE MISSION IN THE SENATE
A RESOLUTION CALLING FOR INFORMATION
Passage of Retaliation Resolutions in the Senate
Special Dispatches to the New York Times
OTHER HEADLINESThe Peace Question:Its Latest Aspect: Three Commissioners Coming from Richmond: They Apply for Admission to General Grant's Lines: A Flag of Truce and a Parley: General Grant In Communication With The Government: Respected Arrival of the Commissioners at Annapolis
Washington, Tuesday, Jan. 31.
THE PASSAGE OF THE CONSTITUTIONAL AMENDMENT
The great feature of the existing rebellion was the passage to-day by the House of Representatives of the resolutions submitting to the Legislatures of the several States an amendment to the Constitution abolishing slavery. It was an epoch in the history of the country, and will be remembered by the members of the House and spectators present as an event in their lives. At 3 o'clock, by general consent, all discussion having ceased, the preliminary votes to reconsider and second the demand for the previous question were agreed to by a vote of 113 yeas, to 58 nays; and amid profound silence the Speaker announced that the yeas and nays would be taken directly upon the pending proposition. During the call, when prominent Democrats voted aye, there was suppressed evidence of applause and gratification exhibited in the galleries, but it was evident that the great interest centered entirely upon the final result, and when the presiding officer announced that the resolution was agreed to by yeas 119, nays 56, the enthusiasm of all present, save a few disappointed politicians, knew no bounds, and for several moments the scene was grand and impressive beyond description. No attempt was made to suppress the applause which came from all sides, every one feeling that the occasion justified the fullest expression of approbation and joy.

Grande empresa e Estado: a promiscuidade "natural" - Augusto de Franco

DAGOBAH

NL 0039 - 31/01/2017


Dagobah.com.br


Grandes empresas: pouco de mercado, muito de poder

As grandes corporações empresariais do capitalismo não são propriamente entes de mercado e sim estruturas hierárquicas de poder autocrático. O assunto já foi tratado na introdução do artigo Reflexões sobre a natureza das empresas, sobre os casos da Odebrecht e da Oi, no Brasil. 

Quem analisar o caso da Odebrecht verá que não há nada ali que se possa chamar de livre mercado. O mesmo vale para a OAS, para a Carmargo Correia, para a Andrade Gutierrez, para a Engevix, para a Galvão Engenharia e a Queiroz Galvão, para a Iesa, para a Mendes Junior e para a UTC-Constran e dezenas de outras. Não são só as empreiteiras: existem centenas de empresas com o mesmo perfil, como a AG, a Alumni Engenharia, GDK, Promon Engenharia, Fidens Engenharia, Sanko Sider e SOG Óleo e Gás e a Schahin envolvidas no Brasil das últimas duas décadas em escândalos de corrupção. 

Mas a questão central não é a corrupção e sim a autocratização dos modos de regulação de conflitos que esses entes monstruosos, invariavelmente associados ao Estado, introduzem na sociedade. O mesmo que vale para as empresas que, no Brasil, se organizam e atuam como verdadeiras máfias, valia para empresas como a Krupp, a Ig Farben (Agfa, Casella, Basf, Bayer, Hoeschst, Huels, Kalle) e Siemens na Alemanha hitlerista. E vale para as atuais Exxonmobil, Apple inc., BHP, Billiton, Royal Dutch Shell, Chevron, Microsoft, General Electric, Berkshire Hathaway, Nestlé, IBM, Gazprom, JP Morgan Chase, HSBC, Wal-Mart, AT&T, Procter & Gamble, Oracle, Vale do Rio Doce, Wells Fargo, Johnson & Johnson, Pfizer, Coca Cola, Google, Vodafone, Rio Tinto, Novartis, Total, Toyota, Samsung Group, Roche, Schlumberger e, novamente… para a Siemens e centenas de milhares de outras menores. Petrochina, ICBC e China Construction Bank, se organizam e se comportam exatamente da mesma maneira. 

O capitalismo realmente existente (não o dos livros dos ideólogos da Economics) é, geneticamente, o fruto de uma associação entre a empresa monárquica e o Estado hobbesiano (no caso, a forma que conhecemos como Estado-nação). 

A grande empresa do capitalismo jamais foi violada pela ideia de democracia. Aliás, este é o conselho que o tarado Michael Porter deu a milhares de empresários do mundo todo que foram lá nos USA frequentar seus cursos nos últimos 40 anos: “se vocês quiserem vencer, esqueçam completamente a ideia de democracia”. Sim, Porter e seus empregados repetiam essa frase, literalmente. 

Os que acham que democracia é apenas um modo político de administração do Estado – e não um processo de desconstituição de autocracia – têm dificuldade de entender isso. Pensam que se a grande empresa hierárquica e autocrática for honesta, respeitar as leis, tudo bem (formalmente, porque elas nunca respeitam). Acham que se esses organismos sociais (na verdade, antissociais) monstruosos se subordinarem ao Estado democrático de direito, podem se organizar de forma hierárquica e se regular de modo autocrático. 

Mas não, não está tudo bem. A deformação no campo social que uma empresa desse tipo provoca é desumanizante. 

Num comentário a um resumo deste artigo no Facebook, Tito Costa Santos escreveu: 

Concordo com a crítica ao “capitalismo de compadres”. Entendo que a solução é mais livre mercado e menos intervenção estatal. 

Partindo do pressuposto de que uma organização em rede tende a gerar mais valor e a ser mais eficiente do que uma empresa autocrática e centralizada, se não houver proteção estatal aos “amigos do rei” através de isenções fiscais, crédito subsidiado, regulações tendenciosas, barreiras de entrada a novos empreendimentos e inovações etc, as corporações centralizadas tendem a perder competitividade, clientes, diminuir e mudar (ou morrer). 

Sim, mas é mais do que isso, muito mais. Há um embricamento entre grande empresa e Estado que vai além da proteção aos “amigos do rei”. Não se trata apenas da Odebrecht associada ao governo do PT, nem das empresas da curriola de Hugo Chávez na Venezuela, nem das empresas que se associaram à FSB (ex-KGB) de Putin (ou foram roubadas por ele) – sobretudo no setor de petróleo e gás, embora as relações do Estado russo protoditatorial com os chamados oligarcas sejam um capítulo a parte bastante instrutivo. Uma análise das trajetórias de Mikhail Khodorkovsky (Yukos), Vagit Alekperov e Leonid Fedun (Lukoil), Boris Berezovsky e Roman Abramovich (Sibneft), Mikhail Fridman e Viktor Vekselberg (TNK-BP) e Vladimir Bogdanov (Surgutneftgaz) seria capaz de revelar a mistura maligna de autocracia estatal e hierarquia empresarial ou vice-versa. 

Banditismo de Estado à parte (como ocorreu no Brasil, e ainda ocorre na Venezuela ou na Rússia), o mesmo padrão se repete nas mega-empresas consideradas normais, sediadas em Estados democráticos de direito. Porque o problema é a estrutura e a dinâmica da grande empresa e do Estado (cujos isomorfismos permitem a manifestação de fenômenos que não dependem da vontade dos atores, sejam ou não corruptos os dirigentes empresariais e os funcionários estatais: não se trata de simbiose alcançada por sintonia e sinergia e sim de uma espécie de coniunctioperversa ou degenerada, a custa de reverberação). São organismos que mutuamente se predam, se retroalimentam, se parasitam e, entre tapas e beijos, terminam abraçados copulando indecentemente (às vezes em praça pública, como se fosse a coisa mais normal do mundo). A corrupção ativa e passiva de funcionários empresariais e estatais é um mero efluxo do que está reverberando lá dentro, na intimidade do conúbio. 

Uma grande empresa é uma aberração que, em geral, não surge e se mantém “naturalmente”, sem a participação do Estado como tronco gerador de programas verticalizadores (ou de outro centro qualquer com alta gravitatem, em alguns casos históricos é possível encontrar uma igreja ou alguma ordem religiosa, como os Templários – mas mesmo assim há sempre alguma forma de Estado presente). 

O fluxo do mercado impede que se chegue a um nível de concentração capaz de gerar uma grande empresa. Isso só pode ocorrer quando se erigem armadilhas para capturar fluxos e quando há reverberação entre a dinâmica própria da estrutura que foi erigida com base na desigualdade de renda e riqueza, com a dinâmica própria de outra estrutura que foi erigida com base na desigualdade de poder (ou seja, em desliberdade). 

O fluxo do mercado não coagula, dissolve. A vida média das empresas (tomando-se como base um levantamento de 2011 feito nas 500 Standard & Poor’s) caiu de 75 anos em 1937 para 15 anos no final de 2011.

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Assim, um empreendimento – deixado ao sabor da dinâmica puramente mercantil – tende a morrer pelo esgotamento do seu ciclo de vida (e aí entra tudo, desde a aparição de novas tecnologias até a inviabilidade econômico-financeira por imperícia de gestão ou em razão do aumento dos chamados custos invisíveis, como os de transação, de atritos de gestão e de sinergia, até a conformação de ambientes desfavoráveis ao seu funcionamento – mas sempre por deficit de adaptação ou de capacidade de mudar tempestivamente em congruência com a mudança das circunstâncias). Quando não morre é porque virou outro empreendimento, seja por aquisição (por outra empresa), fusão ou por reinvenção. Para coagular a ponto de se agigantar – mantendo-se como foi (em vez de se adaptar continuamente para ser o que será) – é necessário capturar o fluxo, obrigá-lo a ficar rodando dentro de um mesmo ambiente, à revelia do mercado. Ora isso não se consegue por processos intrínsecos às condições variacionais do mercado. Isso só se consegue com poder (ou seja, com centralização da rede promovida por exclusão de nodos, eliminação de conexões ou desatalhamento de clusters, que é tudo que as mega-empresas fazem, no seu interior e no ecossistema de seus stakeholders, deformando o campo social no seu entorno próximo e distante e, assim, nos atingindo – reduzindo os graus de nossa liberdade, em especial da liberdade de empreender -, mesmo que não sejamos seus clientes ou consumidores). 

A introdução deste texto foi publicada originalmente no Face em 24/01/2016.

A "nova" anti-politica comercial de Trump e as oportunidades para a China - Alasdair Macleod

What Trump Means for Brexit, China, and the EU
by Alasdair Macleod
Mises Daily, January 31, 2017

The easy pattern of prolonged trade negotiations has been rudely interrupted by President Trump. Even before he had become president, his anticipated presence in the White House changed global attitudes and expectations. In Europe, EU officials are wrong-footed, while British trade officials cannot believe their luck.

EU officials were prepared to punish the UK knowing they could prevaricate for ever, because the EU should never, in its view, be challenged by a member state. The UK has been a disruptive member, and other members must be discouraged from following Britain’s exit at a time when there are increasing signs of rebellion by Europe’s "deplorables." Britain, having shocked its own establishment by voting for Brexit, faced the prospect of protracted negotiations with the EU that could, in the words of one British official who has since resigned, take a decade or more.

President Trump has dramatically changed the balance of power in Britain’s trade negotiations with the EU. It is probably no accident that the British approach was finally declared after Trump won the presidential election, and his attitude to trade with Britain was more friendly than Obama’s. The British negotiating strategy is remarkably sensible from a government that hasn’t until now believed in free markets, at least to the extent that it is prepared to back genuine free trade as a policy. Effectively, the EU has been told by Prime Minister Theresa May that Britain will propose, and they can take it or leave it, because Britain’s focus is now to trade relatively freely with the rest of the world. And if they don’t agree, Britain will cut corporation taxes to compensate British-based businesses from EU intransigence.

The threats from members of the European political establishment sound increasingly desperate, signaling they are waking up to the weakness of their position. They claim Britain will be cut out from the EU’s existing trade agreements. But when you look at them, you see there are only two of them with other G20 members — South Korea and Mexico. The rest are with small states, damning evidence of the failure of the EU to interact with the rest of the world. Big businesses in Europe are now switching sides, having unsuccessfully argued against a hard Brexit. They are now lobbying European governments instead for tariff-free trade with the UK.

Trump and Trade

Donald Trump apparently sees himself as bringing business priorities to government. He intends to run America in the manner of a nineteenth century mercantilist, where the priority is that America Inc. must become great again, with every able-bodied person regarded as potential contributors to the national enterprise. With respect to trade agreements, he will tear up the rules agreed between long-winded diplomats in favor of more effective business-driven resolutions, favoring America. Business negotiating strategies will be implemented, as we can see with the early signs of public negotiations between mercantilist Trump and China’s mercantilist Xi.

Britain’s free traders are likely to be at odds with Trump. He is signaling he is not interested in free trade. His attitude to the EU also marks a major change in American geopolitical thinking. Europe is now regarded as a leach, sucking America’s blood, not paying its way in NATO. Its socialism is alien to Trump. That’s the new world, as proposed by Trump, but the reality can be expected to turn out somewhat differently.

Trade Fallacies

All this would be fine, if President Trump based his understanding on the economics of trade imbalances. Like most people, he appears to think a trade deficit is the result of unfair foreign competition. It is not. It is the result of monetary expansion. In a sound money environment, everything is paid for out of real money. If I buy a foreign good, it must be matched by a fellow citizen’s export. If people change their preferences for real money, there will be a temporary surplus or deficit, but prices will rapidly adjust to find a new balance, the flows stop, and trade balances again.

In a sound-money environment, permanent or semi-permanent trade surpluses and deficits cannot exist. With unsound money, in other words if extra money is conjured up out of thin air and spent into the economy, excess demand is created, which either drives up prices domestically, or it is spent on imported goods. And given a country’s total production usually matches its total consumption, that extra money is certain to lead to an increase in imports.

It’s the cheat factor of fiat currency that’s responsible for trade imbalances, not unfair competition from foreigners. And because all countries cheat with their own fiat currencies, untangling the trade surpluses and deficits becomes a fruitless task.

We can conclude that however Trump’s trade policies turn out, America’s trade deficits will not go away. He will need to take a firm grasp of the budget deficit, and the Fed must take tighter control over the expansion of bank credit and money, both of which are unlikely.

Unintended Consequences

The Trump administration appears to be set to discourage imports by the introduction of a border tax, or discriminatory corporate income taxes. We know this will not achieve its objective, unless bank credit fails to grow. And if bank credit fails to grow despite the Fed’s desire for it to do so, a reduction in the trade deficit would be part and parcel of a contracting economy. America would then risk triggering a rerun of the depression of the 1930s, which was given an extra spin from the Smoot-Hawley tariff signed into law by President Hoover. In those days, both the dollar and sterling, as the two leading currencies, started the decade on the gold standard, which continued for the dollar after sterling abandoned it in 1931. This meant that commodity prices priced in both gold and dollars collapsed, impoverishing miners and agricultural producers worldwide. If the same thing happened today, the dollar would go down with commodity prices, because we know the Fed would expand money supply to avoid a slump. But measured in gold, commodity prices would still fall.

For now, this outcome is regarded by markets as a low risk, but given Trump’s contradictory statements on trade, it would be wrong to dismiss a Smoot-Hawley rerun. Trump’s rhetoric is indeed frighteningly similar.

China would be justified in taking the view that Trump’s intentions are protectionist, and therefore represent an escalation of the financial war between the two countries. That will depend on the outcome of negotiations between Presidents Trump and Xi. China could equally console herself with the knowledge that the dollar will become less important if gross American trade (as opposed to the net balance) diminishes because of protectionist measures. For the moment, the dollar is riding high, partly due to the declining use of the euro. But a higher dollar could be regarded as an opportunity for China to sell more Treasuries to invest in commodity stockpiles, before the dollar declines. And when the dollar declines, the yuan is likely to stabilize and become more attractive as a global trade settlement currency.

If, and it is an if, the Chinese take this view, they will not worry too much about Trump and his aggressive stance. He might be surprised that the Chinese give in on very little in the trade negotiations due to take place later this year. Their view could be that Trump is fighting yesterday’s trade war. Instead, China will be content with free trade agreements between the Pacific nations cut out of the Trans-Pacific Partnership. South-East Asia will manufacture the cheap goods China used to make, because China is already upscaling her economy into services and technology, redeploying capital from the manufacture of cheap goods.

Where are Europe and Britain likely to end up in all this? The will for a rapid resolution of an Anglo-American trade agreement is there at both the White House and Downing Street. However, under the terms of Brexit, a deal cannot be signed before March 2019, which is a long time in politics. The threat of a US/UK agreement is more important as a lever to pull the EU into line, than its eventual reality. Additionally, Britain can easily sign agreements with Commonwealth members, comprised of 52 countries and a third of the world’s population. Importantly, these are the growing economies of the future. South Korea, Mexico, and the minor nations that have existing agreements with the EU should also be ready signatories, assuming the EU does not successfully pressure them not to enter agreements with the UK. The ASEAN (Association of Southeast Asian Nations) countries and China total another two billion, again growing more rapidly than the advanced nations, taking the potential total to well over half the world’s population.

The opportunity for Britain presented by Brexit, and facilitated by Trump’s election, is truly extraordinary, but that’s not reckoning with the politics. Politicians do not define free trade in the way that free trade should be. To politicians, free trade is a complex agreement, regulating every provision of goods and services. Free trade without politicians is simple: we can all get on with buying and selling with each other what we truly desire.

The greatest threat to world trade comes not from the break-up of the EU, nor from China. It appears to be Trump’s lack of understanding of why trade imbalances exist, and his wrongheaded policy of American protectionism.

Alasdair Macleod is the head of research at GoldMoney.

sábado, 28 de janeiro de 2017

O PT cleptocrata encontra um socio do seu quilate: Cabral e seus zilhoes - Editorial Estadao

Nunca Antes Neste País: nunca antes no país um slogan vagabundo, mentiroso, vergonhoso, hipócrita e lamentável se revelou tão verdadeiro, tão apropriado, tão adequado aos dois grandes mafiosos mega-ultra-super-cleptocratas, cada um com seu estilo peculiar, mas ambos, juntos ou separadamente, combinados ou não, são os maiores representantes da mesma erva daninha, do mesmo estrume que emporcalha o Brasil, os grandes cleptocratas, e organizadores de roubos em escala tão gigantesca.
Coisa de levantar o chapéu, se me permitem a expressão: realmente, nunca antes no Brasil assistimos a assaltos dessa magnitude contra os recursos públicos, promiscuidade tão grande no roubo.
Um único desejo, se possível: que os dois partilhem a mesma cela por aproximadamente dez anos, como mínimo, para pagar pelos seus crimes...
Paulo Roberto de Almeida

Campeão da roubalheira
Editorial | O Estado de S. Paulo, sábado, 28 de janeiro de 2017

A história da República registra proezas de cleptocratas extremamente proficientes na arte de meter a mão nos cofres públicos – que o diga a São Paulo dos tempos do ademarismo e do malufismo. O que talvez não se esperasse é que sobre os protagonistas daquelas épocas reinasse agora, impávido, um fantástico “campeão nacional” da roubalheira, cujas proezas levaram à falência todo um Estado da Federação, o Rio de Janeiro: o hoje encarcerado ex-governador Sergio Cabral, em seus melhores dias amigo do peito dos presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff.

De acordo com o que foi até agora apurado pela força-tarefa da Lava Jato no âmbito da Operação Eficiência, o esquema de corrupção comandado por Cabral é simplesmente fantástico: pelo menos US$ 100 milhões foram encontrados em contas no exterior ligadas ao grupo criminoso, dos quais cerca de US$ 80 milhões pertenceriam ao ex-governador, dono também de US$ 1,8 milhão em diamantes que serão igualmente repatriados. Assim mesmo, segundo revelaram procuradores e delegados da operação, “o patrimônio da organização criminosa comandada por Cabral é um oceano não completamente mapeado”. Para o Ministério Público, “as cifras são indubitavelmente astronômicas” e “esses US$ 100 milhões são apenas uma parte do dinheiro do esquema”.

O jornal O Globo revela que Sergio Cabral, em 25 anos de carreira política, fez seu patrimônio crescer gradativamente, sempre por conta de recursos de origem suspeita. Como deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa fluminense, entre 1991 e 2002, inicialmente filiado ao PSDB e depois ao PMDB, Cabral acumulou um patrimônio de US$ 2 milhões em contas no exterior. Como senador, de 2003 a 2006, seu patrimônio não declarado fora do País já era de US$ 7 milhões. Como governador, de 2007 a 2014, a movimentação de suas contas secretas no exterior foi de US$ 152 milhões, o que equivale a inacreditáveis US$ 18,1 milhões por ano de governo. Dinheiro que financiou um alto padrão de vida não apenas para Sergio Cabral e família, mas também para parentes próximos, como um irmão, a ex-mulher e toda uma quadrilha que se encarregava da captação e distribuição dos recursos de origem escusa depositados em 12 contas no exterior.

Essas novas descobertas foram feitas pela Operação Eficiência – e, mais uma vez, não se trata de coincidência – a partir de investigações que tinham como objeto o empresário Eike Batista, que, conforme já havia sido anteriormente descoberto, teria pagado a Cabral propina de US$ 16,6 milhões por “favores” diversos. Por ironia, as novas revelações sobre o ex-governador fluminense vêm a público simultaneamente com aquelas relativas ao empresário, que cinco anos atrás, surfando nas prerrogativas de “campeão nacional” do empreendedorismo a que fora elevado pelo lulopetismo, foi apontado pela revista Forbes como o sétimo homem de negócios mais rico do mundo. Só o BNDES contribuiu com US$ 6 bilhões para os planos mirabolantes de Eike Batista que se revelaram inexequíveis e o acabaram levando à falência.

A prisão de Sergio Cabral e seu bando não chega a ser um consolo para a população do Estado do Rio de Janeiro, que não consegue honrar suas contas, nem mesmo a obrigação elementar de pagar em dia seus milhares de funcionários. Mas, se essa desgraça pode ser atribuída, em boa parte, à corrupção deslavada de quem governou o Estado por mais de sete anos, o conjunto da obra é responsabilidade de um poder central que anos a fio vendeu ao País a ilusão da Pátria Grande lastreada na gastança irresponsável que alimentou programas sociais, necessários, mas insustentáveis, e a ilusão de importantes empreendimentos privados reservados para “campeões nacionais” politicamente escolhidos e descuidadosamente financiados por abundantes recursos públicos.

Essa foi uma experiência dispendiosa e frustrada da qual Eike Batista e seu império de fachada são um triste exemplo. Assim, o título de “campeão nacional”, que o lulopetismo não conseguiu garantir para empreendedores amigos de Lula e Dilma, é ironicamente ostentado agora – finalmente por direito de conquista – por um político corrupto que privava da intimidade do gabinete presidencial.

Grande Guerra: a ordem internacional - Coloquio em Oxford (setembro)

CfP: Rethinking the World Order: International Law and International Relations at the End of the First World War
by Jan Stoeckmann

Type:  Call for Papers
Date: March 31, 2017
Location: United Kingdom
Subject Fields: Intellectual History, Law and Legal History, Political History / Studies, Political Science

Rethinking the World Order:
International Law and International Relations at the End of the First World War

Oxford, 31 August – 1 September 2017 (Apply by 31 March 2017)

The horrors of the Great War and the desire for peace shaped scholarship in International Law and International Relations (IR) during the late 1910s—a stimulating time for both disciplines. Scholars observed and analysed political events as they unfolded but also took an active part, as governmental advisors or diplomatic officials, in devising the new international order. The Paris Peace Conference and the subsequent birth of the League of Nations as well as the Permanent Court of International Justice served as testing grounds for new legal and political concepts. The end of the First World War was in many ways a milestone for both disciplines, prompting scholars to reflect on the consequences of the war on society, politics, and the world economy. How could another world war be avoided in the future? How could states be held accountable for violations of international law? What were the preconditions for peaceful international governance? These questions led to pioneering research on issues such as arbitration, sanctions, revision of treaties, supra-national governance, disarmament, self-determination, migration, and the protection of minorities. At the same time, the study of International Law and IR also advanced in terms of methodology and teaching, including new professorships, journals, conferences and research centres.

A century later, it is a good moment to reflect upon disciplinary histories and revisit some of the theoretical and practical debates that shaped the period from 1914 to 1945. The workshop conveners are particularly (but not exclusively) interested in the following research questions:

Was the First World War a watershed moment for the development of International Law and IR? 
Which were the key debates in both disciplines? And how can they be re-interpreted today? 
What were the connections and/or dividing lines between the two disciplines?
Did International Law and IR evolve similarly across different countries?
Who were the principle actors, both individuals and institutions, in the respective fields?
Which role did International Law and IR respectively play in shaping ‘real-world’ policy? And to what extent were theoretical developments shaped by political events?
How did ideas float between academia and politics?
How successful were non-governmental organisations—such as academic societies, arbitration clubs, political pressure groups, League of Nations clubs, the International Committee of the Red Cross (ICRC), etc.—in achieving their goals?
The two-day interdisciplinary workshop will be held at the European Studies Centre (ESC) at St Antony’s College, Oxford from 31 August to 1 September 2017. We invite abstracts from early career researchers and advanced postgraduate students in history, law, IR and other related disciplines to share their research in a multi-disciplinary environment. By facilitating this exchange we hope to open new avenues of research and to encourage new approaches to the history of both disciplines. We are planning to have six panels, one keynote address, and an open plenary session that allows all participants to pitch their research projects.

Please submit your proposal (including a title, 300 words abstract, and a short bio) to jan.stoeckmann@new.ox.ac.uk by 31 March 2017. Successful applicants will be notified by 30 April 2017. We are currently working on logistical details, including reimbursements and publication plans, and will keep you updated.

For updates see: www.rethinkingtheworldorder.wordpress.com

The convenors are Dr Gabriela Frei, British Academy Postdoctoral Research Fellow and Junior Research Fellow in History Jesus College, Oxford, and Jan Stöckmann, DPhil Candidate in History New College, Oxford.

Contact Info:
Jan Stöckmann, New College, Oxford

Contact Email:
jan.stoeckmann@new.ox.ac.uk
URL:
https://rethinkingtheworldorder.wordpress.com/

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Na faixa dos cem anos (ou seja: 1917-2017): Janio Quadros, por Ricardo Arnt

1917 foi um ano "fértil", para dizer o mínimo: entrada do Brasil na Grande Guerra, revolução russa de fevereiro e bolchevique de outubro (ou novembro), nascimento de Roberto de Oliveira Campos (em 17 de abril), e de Antonio Francisco Azeredo da Silveira (em 26 de setembro), e agora descubro que acaba de se passar o centenário do nascimento do Jânio Quadros, o político possivelmente mais xingado da história política brasileira.
Que seja, vamos redescobri-lo, com Ricardo Arnt.
Paulo Roberto de Almeida

25/01: 100 ANOS DE JÂNIO QUADROS!
RICARDO ARNT
Folha de S. Paulo, 25/01.2017

 1. Na Faculdade de Direito da USP, no Largo do São Francisco, suspeitava-se que Jânio Quadros fosse um agitador esquerdista devido à sua hostilidade à Espanha franquista. O professor de português do Colégio Dante Alighieri morava numa casa pobre, no Cambuci, com poltronas estouradas e molas aparecendo pelo estofamento rasgado. Em 1947, seus alunos se espalharam pela cidade, com mesinhas e cédulas eleitorais, para ajudar a elegê-lo vereador pelo Partido Democrata Cristão, numa campanha sem recursos, nem relações, nem apoios políticos. Conquistou a primeira suplência.
 
2. Jânio, nascido em 25 de janeiro de 1917, conjugava a formação clássica de colégio de padre com hábitos e intuição de pequena burguesia numa mistura incomum de magreza, olhar lunático, deselegância e dentes amarelos, cuja linguagem pernóstica e oratória arrebatada subia a extremos de possessão e da cólera. Numa ascensão sem igual, em 13 anos da sua carreira galgou os cargos de vereador (1947), deputado estadual (1950), prefeito (1953), governador (1954), deputado federal (1958) e presidente da República (1960), sempre condenando a política e defendendo a reforma política e a justiça social. Mal chegava a terminar os mandatos, antes de eles expirarem licenciava-se, candidatava-se a um cargo superior e era eleito de novo, sucessivamente, até alcançar o posto eleitoral mais alto, a Presidência.

3. Era mais eficiente com menos espaço. Foi excelente prefeito, bom governador e mau presidente. Era um reformista radical, anticomunista, aliado a socialistas e trabalhistas, que defendia os excluídos enquanto São Paulo crescia com levas de migrantes nordestinos. Intérprete do imaginário popular, ampliou a cidadania para os pobres defendendo as liberdades democráticas, a autonomia sindical e a meritocracia. Combatia o clientelismo e a corrupção. Foi precursor da responsabilidade fiscal. Multiplicou por quatro a quilometragem de estradas asfaltadas estaduais. Soube adiantar-se e construir hidrelétricas para oferecer energia e atrair a indústria automobilística que Juscelino Kubitschek queria levar para Minas Gerais. Foi o maquinista da locomotiva de São Paulo que puxou a industrialização brasileira. Seu populismo era "responsável", ao contrário de seu rival histórico, Adhemar de Barros. Era do tipo que acordava de madrugada para inspecionar obras.

4. "Eis que se inicia o governo honrado, diligente, inflexível, imparcial, áspero e impiedoso", anunciou-se ao assumir a prefeitura da capital. Gênio do marketing, seu ego transbordava quando chegou a Brasília em 1960. Durante o mandato de deputado federal fora ao Congresso só uma vez –para tomar posse– esnobando a chance de estabelecer relações com os políticos que desprezava - um erro que lhe custaria caro.

5. Jânio foi o pico culminante da cordilheira da vaidade brasileira, aquela formação rochosa de gênios, salvadores da pátria, artistas inquestionáveis e jornalistas prepotentes na qual se destacam os picos talentosos Gilberto Freyre, Assis Chateaubriand, Carlos Lacerda, Darcy Ribeiro, Glauber Rocha, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio da Silva. Jânio foi o Pico da Neblina. Ao desmoronar, consagrou-se pelo avesso, tornando-se uma caricatura de si mesmo. Para os brasileiros que não esquecem a história a cada vinte anos, sua renúncia à Presidência, em 1961, precipitou uma quase guerra civil descarrilhando a democracia tombada em 1964.

6. Jânio era sublime e sórdido. Tinha encenações geniais, como tomar injeção na veia em comício para simular esgotamento, ou comer sanduiche de banana para impressionar os pobres. Mas o corifeu da prosódia moralista não prestava contas sobre a sua moralidade. Perseguia as casas de massagem e os maiôs de misses, mas era um mulherengo agressivo. Voltou à política, em 1974, apoiando os militares que o cassaram, condenando a anistia. Reconquistou a prefeitura de São Paulo, em 1985, liderando uma coalização conservadora. Sua vida é um desfile de ironias. Foi denunciado como corrupto pela filha, que internou numa clínica psiquiátrica à força. Morreu em 1992 e a conta do seu internamento no Hospital Albert Einstein foi paga pela construtora Andrade Gutierrez. Deixou 66 imóveis para a família.

7. Nenhum político brasileiro foi tão injuriado, caluniado e difamado. Não é fácil entender uma figura tão complexa. O que diria a psicanálise de uma compulsão pela austeridade cultivada à sombra de um pai infame, o deputado estadual Gabriel Quadros, crítico violento do filho e médico de prostitutas especialista em abortos no Bom Retiro? Em 1957 o pai de Jânio foi morto a tiros, em legítima defesa, por um feirante cuja mulher era sua empregada. Gabriel invadira sua casa, acompanhado por capangas, para sequestrar os filhos da mulher, que alegava serem seus filhos naturais. Houve luta e o pai do governador se deu mal.

8. Quem se escandaliza com a política brasileira deveria conhecer o passado.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Argentina: de Mendoza a Buenos Aires em 12hs exatas

Não há nada mais aborrecido do que uma estrada argentina: não tem absolutamente nada para ver, a não ser estrada, uma longa linha que se estende durante centenas de quilômetros, sem nenhuma paisagem suíca, nenhum cenário canadense, nenhuma aldeia europeia, nenhuma favela brasileira, nada, absolutamente nada. Só campos, infinitos, algumas centenas de vacas aqui e ali, tratores ocasionalmente, caminhões, do tipo remorque, e o aborrecimento de um trajeto absolutamente aborrecedor.

Foram exatas 12hs de recorrido, da saída do Hotel Diplomatic em Mendoza, até o Holiday Inn Puerto Madero, na Av. Leandro Além, em Buenos Aires, com apenas uma parada um pouco mais demorada para comer "dos milanesas de ternera" em uma parrilla do meio do caminho, sem vinho dessa vez, já que eu estava ao volante. O vinho (Malbec Los Alamos) tomamos hoje, neste restaurante tradicional da Av. 25 de Mayo, depois de termos visitado o Museu do Cabildo, e antes de passar num sebo recomendado pelo nosso filho Pedro Paulo Palazzo.


Cortazar era um frequentador da Pasticeria London City, onde escreveu "Los Premios".

Até agora tudo correu bem, inclusive ao descobrir que uma inocente banca de revistas é banca só de fachada: atrás, dentro, da banca, escondida, existe um verdadeiro banco clandestino, para fazer câmbio. Troquei só mais 100 dólares, para completar o dinheiro do bolso, pois as grandes compras liquidamos em cartão de crédito.
Buenos Aires está um pouco mais engarrafado do que costume, pois demoramos mais de 40 mns para voltar ao hotel, quando o trajeto de ida tinha sido inacreditavelmente rápido.
O sebo era uma inacreditável bagunça, com tudo meio misturado, mas Carmen Lícia logo achou três de seu interesse: eu me contentei com uma história das relações entre a Argentina e os Estados Unidos, feita por um historiador americano dos anos 1940-60 (traduzido para o espanhol, em dois volumes, cobrindo todo o período 1810-1960) e um Thomas Sowell sobre a economia política clássica, em espanhol igualmente, perdido no meio da literatura a preços de liquidação.
Ainda temos muita coisa para ver, e não rever o que já visitamos anteriormente, que é um pouco aquelas coisas tradicionais.
Vamos nos encantando, e desencantando, com a Argentina e os argentinos: todos muito simpáticos, falando tanto quanto os italianos (eppur...), e fazendo do país algo inacreditável, como esse gigantesco prédio (Centro Cultural Nestor Kirchner) em homenagem ao homem que, supostamente herdeiro do peronismo, empenhou-se duramente em afundar o país um pouco mais, seguido da sua cara metade (hoje duplamente indiciada por crimes até menores do que a sua colega Madame Pasadena, do Brasil, embora tenha roubado muito mais do que ela).

Ironicamente, o prédio exibe uma frase, ilísivel à luz do dia, de Jorge Luís Borges, o escritor que tinha verdadeiro desprezo por tudo o que fosse peronismo.
A visita ao Museu do Cabildo (o nome oficial é muito maior, e a sugestão foi da Carmen Lícia) foi uma agradável surpresa; a despeito de estar em reforma (e a entrada ser gratuíta), a parte histórico descritiva é muito bem feita, contando todo o período de colonização, a rivalidade com Portugal, em torno do controle das margens do Prata, e a complementaridade com o porto de Montevideo (e Colônia), e o papel da revolução de 1810 no processo de independência das Províncias (des)Unidas, no contexto do antigo virreinato de la Plata. Excelente mesmo a visita ao Cabildo, que recomendamos vivamente. Da sacada da frente, de onde discursaram alguns personagens históricos da Argentina (inclusive aquele destruídor que foi Perón) se tem uma vista da horrível Casa Rosada, que não é bem rosada, e sim pintada de algo parecido a um carmin horroroso.
Gostamos muito do Cabildo e não demos nenhuma pelota para a Casa Rosada.

Bem, ainda temos coisas a ver...
Paulo Roberto de Almeida
Buenos Aires, 25 de janeiro de 2017, 16h30

Addendum importante:  Carmen Lícia me esclarece agora que o imponente Centro Cultural batizado com o nome do falecido presidente peronista (de araque), Nestor Kirchner, não foi, na verdade, construído por ele, para ele, ainda que possa ter sido iniciativa sua a reconstrução (com algum pagamento por fora, nunca sabemos): se tratava, na verdade, de um velho prédio dos Correios, abandonado e depredado, que foi recuperado durante a gestão, e re-inaugurado posteriormente, daí a homenagem a quem tomou a iniciativa. Dentro funcionam várias salas para artes, espetáculos, iniciativas culturais de diversos tipos. Feita a retificação, portanto, com mil desculpas pelos maus pensamentos (que se aplicam inteiramente para outras coisas).

Economia global: livros recentes, resenha de uma coletanea - Joerg Baten (ed.)

Published by EH.Net (January 2017)

Joerg Baten, editor, A History of the Global Economy: 1500 to the Present.  Cambridge:  Cambridge University Press, 2016.  xiv + 369 pp. $40 (paperback), ISBN: 978-1-107-50718-0.

Reviewed for EH.Net by Sumner La Croix, Department of Economics, University of Hawaii-Manoa.

In the past two years, there has been a boomlet in global economic histories targeted to a variety of audiences.  They include a handbook oriented towards academics and graduate students (Francesco Boldizzoni and Pat Hudson, editors, Routledge Handbook of Global Economic History (2016)) and two books more oriented to undergraduates and a general audience (Robert Allen, Global Economic History: A Very Short Introduction (2015) and Larry Neal and Rondo Cameron, A Concise Economic History of the World: From Paleolithic Times to the Present, fifth edition (2015)). A new addition to this field is A History of the Global Economy, a collection of 32 essays edited by Joerg Baten (University of Tübingen), which provides a sweeping introduction to the history of the global economy from 1500.  The volume was commissioned by the International Economic History Association and the editor states that his aim is to organize a “non-Eurocentric history” that presents “economic history in a balanced way.”  The volume is anchored by essays on ten regions that each have “circa 500 million inhabitants today,” although it might have been useful to split the Southeast-Asia-Australia-New Zealand region into two parts given the disparate development paths of economies in Southeast Asia and Australasia.  The regional essays are supplemented by “interlinking notes” that summarize critical debates among economic historians and “take a global perspective” on “core indicators” of development and growth and “highlight notes” that consider particularly interesting puzzles and topics. Senior scholars specializing in each region have written the ten anchor essays, while some of the most distinguished economic historians (e.g., Jeffrey Williamson and Steven Broadberry) were recruited to write some of the interlinking and highlight notes.

Anchor chapters are by Jan Luiten van Zanden (North-western Europe), Joerg Baten (Southern, eastern, and central Europe), Price Fishback (United States and Canada), Luis Bértola and José Antonio Ocampo (Latin America), Osamu Saito (Japan), Debin Ma (China), Rima Ghanem and Joerg Baten (Middle East, North Africa, and Central Asia), Tirthankar Roy (South Asia), Martin Shanahan (Southeast Asia and Australia/New Zealand), and Gareth Austin (Sub-Saharan Africa).  Each author makes a sustained effort to incorporate four measures of the “core dimensions of development” into their analysis: Gross domestic product per capita, height as an indicator of health and the quality of nutrition, basic numeracy as an indicator of education, and the Polity IV index as an indicator of democracy.  Baten argues that while these measures are not available for all regions and times, they are sufficiently available to allow the reader to compare the welfare of populations across regions over at least some of the four dimensions.  The core dimensions of development are presented in each chapter via a unified set of figures and maps.  Another common set of nicely-conceived maps is used to identify directions and compositions of trade flows within and across regions, centers of economic activity in each region, and specialization in production within regions.

One of the strengths of this book is that the text is kept to a manageable length of 355 pages, but this also means that some important topics receive sparse coverage.  For example, the chapter on North-western Europe devotes no space to cataloging major inventions of the industrial revolution while devoting considerable space to more general interpretations of its origins.  Not much space is devoted in any of the chapters to national or international macroeconomic policy.  Instead the emphasis is placed on broader demographic trends, market integration and international trade, and institutional change.  The chapter on Japan is lucid and informative on the 1500-1868 period, but then provides just two pages of analysis for the 1868-2010 period.  This is unfortunate, as a more complete discussion of Japan’s rapid pre-World War II development, its post-war economic miracle, and subsequent stagnation over the 1990-2010 period would surely have been of great interest to many readers.  The effects of war receive little attention except in the U.S./Canada essay.  All that aside, some of the missing topics are filled in by the ten highlight notes and the twelve interlinking notes.  Examples of topics covered by the notes include brain drain from India, the Sputnik shock, the natural resource curse in Latin America, trade and poverty in the third world, women in global economic history, Alfred Chandler’s insights into business history, state finances in civil wars, and Japanese industry during the Second World War.

In sum, Joerg Baten has brought together some of the best people in the field of economic history, and they have written a great set of essays that is surprising unified by the questions they consider as well as by the use of core indications of development and a unified set of maps and figures.  The book is particularly noteworthy for its avoidance of economic jargon and its clear writing.  Authors avoid extensive citation of sources in the text, keep footnotes to a minimum, and provide a brief list of references for each chapter. Students in an introductory or upper-division course in global economic history could easily digest its contents while specialists in economic history could also benefit from reading this volume, as its regional syntheses incorporate the larger literature on regional and economic growth that has emerged in the last 25 years.

Sumner La Croix is the author (with Alan Dye) of “The Political Economy of Land Privatization in Argentina and Australia, 1810-1850,” Journal of Economic History 73(4), 2013.

Copyright (c) 2017 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net (January 2017). All EH.Net reviews are archived at http://eh.net/book-reviews/

Significado da vitoria de Trump - Jonathan Haslam (Princeton IAS)

A vitória de Trump é o resultado do poder das ideias, antes que da ideia de poder, como sempre presente nos argumentos dos intelectuais. Podem até ser as más ideias, mas são essas as da maioria do povo americano, quer gostemos ou não.
Aliás, sempre vimos acontecer isso, seja em nossos países -- a América Latina é especialista em eleger os piores elementos, aqueles que praticam a surrada, e sempre frustrada, demagogia política e o populismo econômico -- seja na própria Europa, supostamente ilustrada e educada.
O que aconteceu na Alemanha entre os anos 1920 e 1945, finalmente, não estão tão distante assim, apenas três gerações nos separam da descida ao abismo em uma nação supostamente a mais filosófica, avançada cientificamente, tecnologicamente capaz, em todo o mundo. E os EUA então, que são um país diverso, com todos os tipos de pensamento, dos mais sublimes às piores loucuras de alucinados de carteirinha.
Vamos em frente...
Paulo Roberto de Almeida

POLICY Series
America and the World - 2017 and Beyond
 
The Significance of the Trump Presidency
Essay by Jonathan Haslam, Institute for Advanced Study, Princeton
Published on 24 January 2017 | issforum.org

A production of H-Diplo with the journals Security Studies, International Security, Journal of Strategic Studies, and the International Studies Association’s Security Studies Section (ISSS).

Editors: Robert Jervis, Francis Gavin, Joshua Rovner, and Diane Labrosse
Web and Production Editor: George Fujii

Shortlink:  tiny.cc/PR-1-5H
Permalink:  http://issforum.org/roundtables/policy/1-5H-trump-significance
PDF URL:  http://issforum.org/ISSF/PDF/Policy-Roundtable-1-5H.pdf

Those that did not foresee the likelihood or even the possibility of Donald Trump’s victory are going to find it hard to discipline themselves to a balanced projection of his forthcoming first term. To ardent liberals in the United States - not least most of those at the leading American universities - at worst it represents a conspiracy hatched by Russian President Vladimir Putin and at best a ‘Black Swan’ event that could not have been foreseen.

In which case the critics will not accept that it will have anything much to sustain it other than all the executive power the White House can muster. Need one look any deeper?

But what if the victory represents something much more significant? As someone who thought Trump’s election likely, being a stranger receptive alike to burgeoning blue collar resentment and dissentient opinion among longstanding Democrats, I believe it represents a sea change in American opinion. It signals an abrupt turning inward, entailing a narrower definition of the national interest than hitherto witnessed. No less a harbinger of major change than that other shock to the centre-left, Brexit from Europe.

Indeed, the longer view suggests it may well emanate from the same Zeitgeist responsible for the crumbling of the established postwar order: beginning with the upheaval in Central and Eastern Europe in 1989; continuing with the irresistible rise of Islamic fundamentalism; spurring the re-emergence of traditional Russian chauvinism; and re-energising the spirit of nationalism in Europe which threatens to undermine the top-heavy EU in its entirety; with arguably far greater consequences for the world.

Its impact long remained hidden from view because the Islamic revival seemed, mistakenly as it turned out, containable, even after 9/11 and before the execution of al-Qaeda founder Osama Bin Laden. Moreover, the profitable accession of the Second World and China to the global marketplace eclipsed the longer term impact of associated political realities and the subversive mindset at the very core of the change. In short, too much hope was placed on the triumph of liberal globalisation.

Liberal globalisation rested on assumptions derived from a very specific and by no means universal political culture: that of the English-speaking people. And, bear in mind, it was not its only political culture. As any educated American knows: Presidents Thomas Jefferson, James Monroe and John Quincy Adams may have been reluctant protectionists but their illiberal practices established a tradition of protectionism in the United States which only U.S. industrial supremacy could overcome after 1945, and, even then, reluctantly. The ultimate determinant of the swing of that pendulum was domestic, not international; and that pendulum has been slowly but surely swinging back to the mean.

As a counterpoint, perhaps we should also recognise that the power of ideas has long exerted a more fundamental effect than hitherto allowed. The predominantly materialist interpretation of the twentieth century is arguably misleading, focusing on the idea of power rather than the power of ideas. As such it provides us with few reliable sign posts to future developments. When stock market observers glimpse ‘animal spirits’ at work on the exchanges that have driven them to vertiginous levels, we should not ignore their political counterpart. Not everything is consciously conceived.

And before focusing in on Donald Trump, reflect for a moment on the impact of the Obama presidency. This was certainly not an unalloyed success across the globe.   

Let us not forget that Trump was a unique candidate who met with hysterical resistance to nomination within his own adoptive party, the establishment Republicans, as well as from the opposing Democrat Party, both hopelessly distracted from the emerging reality by an undeserved and complacent sense of entitlement.

The fact was that Trump’s entire campaign was unsavoury and seriously underfunded. He ignored minority interests and focused on states crucial to winning the Electoral College rather than the popular vote. So to say he lost that vote is beside the point since his choice of where to target his campaign showed that it was irrelevant. Trump, adroitly guided by his campaign manager Kellyanne Conway, clearly knew what he was doing. Others, including Hillary Clinton, clearly did not; as Vice President Joe Biden,[1] former President Bill Clinton[2] and Barack Obama[3] have more or less separately admitted without prompting. Hillary Clinton and her team ignored the forgotten, who had unfortunately for her been ignored one too many times before. Instead she paraded celebrities.

Such an unanticipated change in government in the United States for all its undoubted strength cannot, of course, alter overnight the entire course of international relations. The overwhelming fact is that the substance of change must answer the core needs of the neglected: cutting corporate and personal tax rates to re-energise the economy and attain genuine full employment. It has been in anticipation of this that the stock market has risen so fast and so high. But it will only sustain such levels if policy produces results. And those results will depend to some degree on a foreign policy that promotes stability, not disruption, in the international arena.

Certain fixed points of restraint do, of course, exist for U.S. foreign policy, even if an administration rides roughshod over prior treaty commitments: overwhelming American firepower is severely constrained by a strong public reluctance to use it in any way that puts foot soldiers in the line of fire; the massive, longstanding but often unspoken influence exerted by big business and finance on ‘the Hill’ can set its own limits on an administration’s freedom of action; and an unprecedented level of indebtedness on the public account ($20 trillion and growing) acts as a drag on government, including defence, expenditure.

These limiting factors make a reckless foreign policy based on cavalier adventurism and brusque confrontation vis-à-vis Iran, for instance, or directed against President Xi Jinping’s increasingly authoritarian China a costly and tricky enterprise. Though they certainly do not rule out a high degree of tension prior to renegotiating these testy relationships.

Tension is already rising in the case of China and will grow as a result of heavy pressure from Washington exerted to remove the three main irritants: blatant protectionism, the scandalously widespread theft of intellectual property, and the arbitrary use of cyber warfare. This fractious process will inevitably take time and damage commercial relations to some degree. The regime in Beijing is already nervous at such an unappealing prospect, given its own massive indebtedness, public and private - even larger than that of the United States at over $22 trillion - and the dire need to staunch capital flight. And Chinese leverage in the form of ownership of U.S. Treasury debt is no longer what it was, having ceded primacy of place to Japan.

Trump certainly barks a lot, mostly via Twitter. The old saw that barking dogs do not bite, at least not seriously, was in many respects borne out during the Reagan Presidency which, though almost obtusely hawkish, expanded upon the military build-up begun under his predecessor. Recall Britain’s Foreign Secretary Lord Carrington attacking the administration for ‘megaphone diplomacy.’[4]

Yet notoriously the Reagan administration restricted itself in open military engagements to those it was certain to win (Grenada) and pulled out speedily from hopeless situations that threatened incalculable future losses (Lebanon). It was only in covert military action that Reagan felt unconstrained (against Nicaragua), at one desperate point even using sales of arms to hated, fundamentalist Iran for payment. Reagan ratcheted up tension in relations with Moscow (notably, though not only, with the Strategic Defense Initiative) but, consciously or not, as a prelude to resettling relations on terms more favourable to U.S. power and influence. And few remembered the early promises to favour Taiwan over the People’s Republic of China.

Even if Trump follows Reagan’s example, problems do remain, however. A great deal in foreign policy can be attributed to blowback: the unanticipated consequences for relations with others of policies directed at chosen adversaries. It is this that should caution the President strongly against foreign policies made without sustained reflection and discussion and well before any extravagant public promises have been made.

To take one example. A forward policy against China that captures the President’s foreign agenda will inevitably result in Washington easing up on pressure against Russia, just as a more assertive policy in concert with Moscow directed against militant Islam will press the United States in the same direction. If a policy of appeasing Russia because fundamentalist Islam is the greatest threat has already been decided upon as a matter of prudence or if the Treasury is going into battle against Beijing, then no matter; if it has not, however, then the result will be disarray.

And even if appeasing Russia has been decided upon – and early signs are that it has - the European Powers are unlikely to accept entirely passively a weakening of resistance to revanchism by Russia against Ukraine without some hope of reciprocity from Moscow in the form of a lasting settlement. And the sight of the United States making the Pacific the first order of decision will itself have a further unsettling effect, as it always had in the past (not least the policy of non-recognition of China and the disastrous and domestically divisive war in Vietnam).

In current conditions the failure of the European Union collectively to resist and the failure of NATO to act cohesively against Russia will only encourage centripetal effects that may ultimately damage U.S. security interests in the hemisphere. The immediate fall-out, a chaotic collapse of the European Union, would undoubtedly allow Washington the advantage of a free hand and a level of bargaining power unseen for decades, but the resulting bickering and disarray will weaken the West and NATO as a whole and that will provide unforeseen future temptation to those seeking to reconstitute the borders of the former Soviet Union (Putin’s only election promise in 1999).

Jonathan Haslam is the George F. Kennan Professor at the School of Historical Studies, Institute for Advanced Study, Princeton. His most recent book is Near and Distant Neighbors (New York: Farrar, Straus and Giroux, 2015).

© Copyright 2017 The Authors

Rubens Barbosa: uma agenda completa para a diplomacia brasileira

Tudo o que está "servido" neste artigo constitui uma agenda de trabalho para a diplomacia brasileira, sem tirar nem por.
Paulo Roberto de Almeida

 O BRASIL EM UM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO

Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 24/01/2017

 

            O sistema internacional - político econômico e comercial - está em acelerada transformação como consequência das mudanças que ocorreram desde o desaparecimento da União Soviética em 1989 e o fim do mundo bipolar existente durante a Guerra Fria.

            A ordem global tradicional foi construída a partir do Tratado de Westfalia em 1648 (Estado/Nação) e do Congresso de Viena em 1815 (concerto europeu), em torno da proteção e das prerrogativas dos Estados. Mais tarde, depois da Segunda Grande Guerra a criação das instituições multilaterais (ONU, Banco Mundial e FMI), serviu para garantir a paz, a segurança e a ordem econômica e financeira mundial. Decisões dos países desenvolvidos impuseram suas visões geopolíticas e os conceitos de soberania, equilíbrio de poder, áreas de influência, lógica territorial, Ocidente, Guerra Fria, bipolaridade, unipolaridade, multipolaridade, hiperpotência, liderança norte-americana, rogue States, perigo amarelo, conflito de civilizações, protecionismo, entre outros.

            Nas últimas décadas, as mudanças ocorridas com a globalização, com a revolução tecnológica e nas comunicações, com o fim do mundo bipolar e agora com o terrorismo estão afetando o processo decisório interno nos países e estão obrigando os governos a repensar a maneira como os desafios externos devem ser encarados. Essa nova atitude forçará uma ampla coordenação que deverá levar em conta os interesses de todos os países.

            A defesa do interesse nacional - político, econômico e social - está levando ao reexame desses conceitos, a superação das obcessões geopolíticas e ao questionamento das ações dos países desenvolvidos de modo a refletir as necessidades e demandas que surgiram com a nova realidade global. O discurso nacionalista e populista de Trump na posse, anunciando que "os interesses dos EUA estarão acima de tudo" deixa para trás uma época em que os EUA "defenderam outras nações" e "subsidiaram seus exércitos" e indica a aceleração do fim da atual ordem global criada por Washington.

            Essa ordem em formação está adaptando conceitos vigentes até aqui às realidades de um mundo interconectado e às novas ameaças e desafios representados, em especial, pelo aumento da desigualdade, pelo regionalismo, drogas, violência, guerras localizadas, segurança, ataques cibernéticos, não proliferação e mudança de clima. E também pelas terrorismo, pelo nacionalismo xenófobo e pelas questões de imigração e dos refugiados. A soberania não é mais um conceito absoluto, as organizações internacionais, em crise, deverão ser reformuladas. E todos os países, e não apenas um grupo reduzido de países desenvolvidos, passarão a ter participação mais intensa nos problemas que afetam o sistema internacional. 

            No Brasil, ainda estamos presos a conceitos e percepções superadas. Não houve até aqui renovação do pensamento estratégico no âmbito de grande parte do governo, do setor empresarial e da comunidade acadêmica. Como inserir o Brasil nessa nova ordem internacional em mutação com novos conceitos e maneiras de ver o que está acontecendo ao nosso redor. Pouco se discute sobre isso.

            Como pano de fundo, deve-se reconhecer que nossa região (América do Sul) está na periferia das transformações econômicas e tecnológicas, que está longe dos principais centros dinâmicos de comércio (Asia) e que, até agora, não está contaminada pela ameaça terrorista e por grandes crises sociais (Europa e Oriente Médio). Em compensação, está mas perto dos EUA, principal potência militar, econômica, financeira, comercial e política, agora com enormes incertezas (Donald Trump) nos próximos anos. 

            Para o Brasil, enfrentar o desafio de encontrar seu lugar no mundo, compatível com o papel que deve desempenhar uma das dez maiores economias globais, não pode ser mais adiado. Urge a definição de nossos reais interesses. O que queremos do novo sistema internacional? O que queremos das relações com os EUA, com a China, com a União Europeia, com os vizinhos sul-americanos e com os BRICS? 

            Ao discutir o que queremos para o Brasil no novo cenário internacional, teríamos de examinar, em especial, como:

            - integrar o Brasil nos fluxos dinâmicos da economia global e de comércio exterior (o que significa discutir o grau de abertura da economia e sua competitividade);

            - assumir a efetiva liderança na América do Sul, segundo os interesses brasileiros, tendo presente que liderança não é dominação, nem hegemonia (o que significa discutir o papel do Mercosul);

            - ampliar a voz do Brasil nos organismos internacionais de paz e segurança, comércio, mudança de clima, não proliferação, direitos humanos, terrorismo, segurança cibernéticas e refugiados, entre outros (o que implica fortalecer a coordenação interna pelo Itamaraty);

            - colocar fim ao isolamento do Brasil nos entendimentos comerciais com a ampliação das negociações bilaterais e com acordos com megablocos, como a União Europeia e mesmo com a Asia, examinando a conveniência de aderir à Parceria Trans-Pacífica (com o reforço do papel da CAMEX);

            - aproveitar as facilidades financeiras oferecidas pelo BRICS para projetos de infraestrutura e ampliar a cooperação econômica entre o Brasil e os outros membros do grupo;

            O atual governo, com o Ministro Jose Serra à frente do Itamaraty, começou esse processo de correção de rumos e de redefinição do papel do Brasil no mundo. Essa ação deveria ser aprofundada nos próximos meses e anos na medida em que a economia voltar a se expandir e crescer. Assim como ocorre com política econômica, a discussão sobre o papel do Brasil no mundo e a definição do que queremos nas nossas relações externas deveriam estar na agenda da eleição presidencial de 2018 com os candidatos comprometidos com sua implementação a partir do próximo governo.

 

Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comercio Exterior

 

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Venezuela: o novo Secretario de Estado EUA faz o que os vizinhos nao fazem, dizer a verdade


 NUEVO SECRETARIO DE ESTADO EE.UU TILLERSON:
“CALAMIDAD EN VENEZUELA ES PRODUCTO DE SU INCOMPETENTE GOBIERNO”


“Creo que estamos totalmente de acuerdo en cuanto a la calamidad que ha sucedido a Venezuela, en gran medida producto de su incompetente y disfuncional gobierno -primero bajo Hugo Chávez, y ahora bajo su sucesor designado, Nicolás Maduro. De confirmarse (mi designación como Secretario de Estado) insto a una estrecha cooperación con nuestros amigos del hemisferio, en particular con los países vecinos de Venezuela, Brasil y Colombia, así como con organismos multilaterales como la OEA, para buscar una transición negociada a un gobierno democrático en Venezuela.
Al final, se reconstruirán las instituciones políticas, encabezadas por valientes defensores de la democracia y de los derechos humanos, que allanarán el camino para el tipo de reformas necesarias para poner a Venezuela en el camino de la recuperación económica”
A su juicio, “se reconstruirían las instituciones políticas” con “valientes defensores de la democracia y los derechos humanos”, lo que “abrirá el camino para el tipo de reformas necesarias para poner a Venezuela en el camino de la recuperación económica”, de acuerdo con la Agencia EFE.
Por otra parte, Tillerson sostuvo que “buscaría revisar los detalles del reciente acuerdo de paz” en Colombia y “determinar hasta qué punto Estados Unidos debería seguir apoyándolo”.
También prometió hacer “todo lo posible” para continuar con la “estrecha cooperación” de EE.UU. con el Gobierno colombiano, para que mantengan “sus compromisos de controlar la producción y el tráfico de drogas”.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Pedro Dutra: biografia de San Tiago Dantas (resenha-apresentação, 2014)

Livros


San Tiago Dantas - a razão vencida.

Resenhas
Valor Econômico de 30.09.2014
As variadas cores da vida política de San Tiago Dantas
 
Por Oscar Pilagallo
 
Revista Veja
          Carlos Graieb
“...Não por descuido, mas por falta de evidências, o livro é menos rico na descrição das atitudes e dos sentimentos do jovem Dantas do que na descrição de seu trabalho intelectual. Nesse ponto, contudo, é uma obra notável. ...”
Revista Veja Edição 2410 – 28 de janeiro de 2015


Editora Singular. 

Apresentação:


O homem, que muitos dizem ser o mais inteligente do Brasil, tem pressa. Assim uma reportagem na revista O Cruzeiro, a maior do País, se referia a San Tiago Dantas em 1960. Mas quem foi, ou melhor, quem é San Tiago Dantas?

Brilhante e precoce, sem dúvida. Líder estudantil aos dezessete anos, aos vinte editor de jornal e teórico fascista, um ano depois professor de Direito, a seguir prócer integralista e crítico do nazismo; catedrático aos vinte e cinco, fundador de duas faculdades e titular de três cátedras antes dos trinta anos e ainda diretor da Faculdade de Filosofia, no Rio de Janeiro. Um ano depois, em 1942, repudia publicamente o Integralismo, defende a declaração de guerra ao Eixo, propõe a união nacional das forças políticas, reunindo os comunistas inclusive, para afirmação de um regime democrático, e em 1945 elabora parecer firmado por seus colegas professores que nega fundamento jurídico à proposta continuísta do ditador Getúlio Vargas. E, explicitamente, defende substituir a propriedade privada pelo trabalho como núcleo de uma ampla reforma social.

A acusação de oportunista não demorou a lhe ser lançada, e será renovada e ampliada dez anos depois. Então, o alvo será o jovem jurisconsulto procurado por grandes empresas nacionais e estrangeiras convertido em banqueiro, que se alia aos trabalhadores ao ingressar no partido que Getúlio criara para abrigá-los; e, no início da década de 1960, ministro do Exterior, recusa-se a sancionar o novo regime cubano e reata relações diplomáticas com a União Soviética. No começo de 1964, depois de no ano anterior tentar controlar, sem êxito, a espiral inflacionária à frente do Ministério da Fazenda, já mortalmente doente, e agônica a República de 1946, tenta sensibilizar as forças partidárias e articulá-las em uma frente ampla de apoio às reformas democráticas para resgatá-las da polarização que já engolfara a política nacional. Em vão: a direita o vê como um trânsfuga, os conservadores como um ingênuo, e a esquerda desacredita os seus propósitos.

E quase todos o veem como o manipulador, senão o malversador de seus dotes intelectuais, que, diziam seus críticos, derramavam uma luz fria, que iluminava mas não aquecia, e justificavam todas as capitulações necessárias a satisfazer a sua premente ambição política. Entre essas capitulações, servir o seu talento à causa populista de líderes sindicais cevados nos cofres públicos e a um vice-presidente, depois presidente da República, cuja inépcia e tolerância com a agitação promovida pelo seu próprio partido teriam precipitado o País no descalabro administrativo e na convulsão política que teriam fermentado o golpe militar de abril de 1964.

Mas a trajetória política de San Tiago, que ele confundiu com a sua vida, autoriza ou desmente essa afirmação? Não teria ele senão buscado imprimir racionalidade e consistência ideológica ao debate político de seu tempo, nele intervindo e empenhando desassombradamente o vigor de sua inteligência, dos dezoito anos até a véspera da sua morte, há exatos cinquenta anos?

A resposta a essa questão está na história de sua vida, encerrada, precocemente também, aos cinquenta e três anos incompletos, em plena maturidade intelectual, quando já descera, em abril daquele ano de 1964, uma vez mais, a noite das liberdades públicas no País.

Este primeiro volume da biografia de Francisco Clementino de San Tiago Dantas, nascido no Rio de Janeiro em 1911, estende-se até 1945, um ano divisor em sua trajetória e também no curto século XX. Então, o jovem ideólogo da direita radical, nutrido pela reação ao legado da Revolução Francesa acrescido pela Igreja Católica e reafirmada pelo fascismo italiano, cedera lugar ao defensor de uma social-democracia nascida da dramática experiência da Segunda Guerra Mundial. O “catedrático menino” tornara-se o mestre consumado que desprezava os títulos professorais e amava os alunos e era por eles amado. E o jurisconsulto notável, que via na ciência jurídica nativa o maior entrave à realização do Direito entre nós, já encontrara na advocacia a retribuição material ao seu tenaz aprendizado, em medida raramente alcançada entre os seus pares.

Saber, ter e poder. Dessa tríade que San Tiago tomou para si como metro de sua trajetória, apenas o último elemento – o poder político – ele não alcançaria plenamente. Mas nesses primeiros trinta e quatro anos de vida ele se habilitou, como poucos antes ou depois, a buscar o fugidio poder político que o fascinara já ao pisar no pátio da Faculdade de Direito, aos dezesseis anos.

O aprendizado que lhe permitisse formular um projeto político consistente de reformas estruturais para o País – o saber; e o ter – a conquista dos meios que lhe possibilitassem cursar uma carreira política desembaraçada de sujeições materiais: reviver para o leitor de hoje essa saga invulgar na história da inteligência brasileira é o propósito e o desafio desta biografia que o Autor procura cumprir, com o lançamento deste primeiro de seus dois volumes.

Dar voz a San Tiago inscrevendo seus textos elegantes e precisos na narrativa e situando-o em seu contexto histórico mostrou-se o método indicado a descrever, com a fidelidade possível, a sua espantosa atividade intelectual. Nesse sentido, o recuo no tempo se impôs para identificar as suas origens familiares, cujo exemplo ele exaltava, e para mapear as matrizes ideológicas que cedo San Tiago se esforçou por dominar e o inspiraram a primeiro defender a “moderna obra da reação”: a Revolução Francesa e a reação às suas conquistas; o surgimento da nova direita no começo do século XX, precedendo as revoluções bolchevista, fascista e nazista; e, no rastro sangrento da Primeira Guerra Mundial, o embate ideológico que levaria à Segunda em 1939.

Ao jovem ideólogo somou-se o “catedrático menino” que não frequentou regularmente o ginásio e pouco frequentou a Faculdade de Direito, porém desde cedo acumulou espantosos e sucessivos “tempos de estudo” mais tarde desdobrados inclusive em aulas célebres transcritas em apostilas e ainda hoje, oito décadas depois, editadas em livro.

E sobre essas qualidades inegáveis, sobre a admiração e as controvérsias que se acenderam à sua trajetória, esse homem naturalmente grave e professoral difundia um afeto generoso e franco pela família, vendo nos sobrinhos, sempre próximos, os filhos que não pôde ter, e tendo nos amigos da escola os companheiros inseparáveis de toda a vida.

“De muitos, um”, dizia o sinete que San Tiago estampava em seus livros. Essa síntese ele procurou retirar das ideias e viveu plenamente essa busca, aprendendo para ensinar, ensinando para esclarecer, esclarecendo para transformar. E, no entanto, o poder político não foi alcançado. Mas San Tiago deixou a sua saga intelectual a crédito da história de seu País.