Depois
de mais de meio século de funcionamento, como resíduo da antiga redistribuição
de poder ao final da Grande Guerra, e a repartição dos antigos territórios
coloniais do finado Império Alemão, a ONU, que tinha recuperado o legado
imperialista da fracassada Liga das Nações, extinguiu, finalmente, o Comitê de
Tutela criado paralelamente ao início de seu funcionamento, na segunda metade
dos anos 1940, pela simples razão de que não existiam mais ex-colônias a serem
“tuteladas” por um órgão de deliberação coletiva.
Pois
bem: em 2019, membros militares do governo Bolsonaro, que pertencem, junto com
outros membros econômicos, ao chamado “núcleo racional” da Administração, estão
sugerindo a criação de um “Comitê de Tutela” na área internacional, em razão
das ameaças de desastres que podem ser deslanchados nessa área, dada a ação de
amadores, neófitos e inexperientes que se aventuraram nesse terreno sensível da
ação do Estado.
A
matéria está no Estadão deste sábado, resumida abaixo.
Paulo
Roberto de Almeida
Brasília,
12/01/2019
O
Estado de S. Paulo, 12/01/2019 - Manchete principal:
Governo
cogita criar conselho para assuntos internacionais
Governo
cogita conselho para área internacional”* - O desgaste que bateu à porta do
Palácio do Planalto, desta vez provocado pela troca de comando na Agência
Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), impulsionou a ala
do governo que quer blindar o Itamaraty de novos episódios negativos. A ideia,
agora, é criar um conselho de ministros para assessorar o presidente Jair
Bolsonaro em temas sensíveis da área internacional. À frente desse grupo estão
dois generais: o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI),
Augusto Heleno Ribeiro, e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Nos
bastidores, tanto Heleno quanto Mourão têm feito contatos externos para tentar
apaziguar os ânimos, contornar tropeços e até amenizar declarações dadas por
Bolsonaro sobre assuntos controversos ainda não resolvidos, como a
transferência da embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém. O risco de um
estremecimento com a China é outra preocupação, uma vez que traz maior
potencial de perdas para a economia.
Ao
Estado, Mourão pregou a instalação de um conselho de ministros para avaliar
temas estratégicos e evitar novas polêmicas. “Acho que, quando forem ser
tomadas decisões relativas à área internacional, o presidente tem que reunir um
conselho de ministros ligados ao tema em questão”, afirmou o vicepresidente. No
seu diagnóstico, a composição desse colegiado pode variar conforme o assunto em
pauta, mas, basicamente, o grupo seria formado por ele e pelos ministros
Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia), Fernando Azevedo
(Defesa) e Tereza Cristina (Agricultura). “O conselho teria a tarefa de
espancar ideias junto com o presidente para ele tomar uma decisão, ouvindo
todas as opiniões sobre o assunto”, disse Mourão. Questionado se estaria atuando
como uma espécie de contraponto a Araújo, o vice negou. Argumentou, no entanto,
que é o governo que fala pelo País em grandes questões internacionais. “Agora,
toda vez que o presidente me convocar, eu vou emitir a minha opinião.”
Matéria
completa:
Governo cogita criar conselho de ministros para assuntos internacionais
BRASÍLIA - O desgaste que bateu à
porta do Palácio do Planalto, desta vez provocado pela troca de comando
na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex),
impulsionou a ala do governo que quer blindar o Itamaraty de
novos episódios negativos. A ideia, agora, é criar um conselho de ministros
para assessorar o presidente Jair Bolsonaro em
temas sensíveis da área internacional. À frente desse grupo estão dois
generais: o ministro-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno
Ribeiro, e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão.
Nos bastidores, tanto Heleno quanto Mourão
têm feito contatos externos para tentar apaziguar os ânimos, contornar tropeços
e até amenizar declarações dadas por Bolsonaro sobre assuntos controversos
ainda não resolvidos, como a transferência da embaixada do Brasil de Tel-Aviv
para Jerusalém. O risco de um estremecimento com a China é outra preocupação,
uma vez que traz maior potencial de perdas para a economia.
Ao Estado, Mourão pregou a instalação
de um conselho de ministros para avaliar temas estratégicos e evitar novas
polêmicas. “Acho que, quando forem ser tomadas decisões relativas à área
internacional, o presidente tem que reunir um conselho de ministros ligados ao
tema em questão”, afirmou o vice-presidente. No seu diagnóstico, a composição
desse colegiado pode variar conforme o assunto em pauta, mas, basicamente, o
grupo seria formado por ele e pelos ministros Ernesto Araújo (Relações
Exteriores), Paulo Guedes (Economia), Fernando Azevedo (Defesa)
e Tereza Cristina(Agricultura).
“O conselho teria a tarefa de espancar
ideias junto com o presidente para ele tomar uma decisão, ouvindo todas as
opiniões sobre o assunto”, disse Mourão.
Questionado se estaria atuando como uma
espécie de contraponto a Araújo, o vice negou. Argumentou, no entanto, que é o
governo que fala pelo País em grandes questões internacionais. “Agora, toda vez
que o presidente me convocar, eu vou emitir a minha opinião.”
Baixa. No Palácio do Planalto, o
impasse que levou à demissão de Alex Carreiro da presidência da Apex,
agência subordinada ao Itamaraty e desde esta sexta-feira, 11, dirigida pelo
embaixador Mario Vilalva, foi visto como o estopim das trapalhadas no
setor internacional. A saída é a primeira baixa no Executivo em dez dias de
governo. Em conversas reservadas, auxiliares de Bolsonaro disseram não entender
como um assunto tão paroquial, que poderia ter sido resolvido com diplomacia,
teve de parar no gabinete do presidente.
Apesar das negativas oficiais, na prática
o Planalto já acompanha de perto os passos do Itamaraty. Demandas de outras
pastas, relacionadas ao comércio exterior, são levadas ao Gabinete de Segurança
Institucional (GSI). O general Augusto Heleno, chefe do GSI, tem resolvido
questões da área internacional, apresentadas por colegas de governo,
diretamente com Bolsonaro, sem a participação de Araújo. Discreto, ele não fala
sobre o assunto. “Sou o soldado do silêncio”, desconversou.
Nesta quinta-feira, 9, por exemplo, Heleno
recebeu o novo embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, como revelou
a Coluna do Estadão. Na pauta, o estreitamento da relação entre os
dois países. Quando ainda era candidato à Presidência, Bolsonaro acusou a China
de estar “comprando o Brasil”.
Antes de assumir o Itamaraty, Araújo
escreveu em artigos e ensaios que o país asiático estava sob um sistema de
dominação “disfarçado de pragmatismo e abertura econômica” e definiu o
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como um
“raro líder” que decidiu reagir após identificar um processo de decadência do
Ocidente.
Mourão também já se reuniu com integrantes
da Câmara de Comércio Árabe, além da chinesa. Em mais de uma ocasião, o vice
disse que o Brasil não pode se descuidar do relacionamento com outros atores da
arena internacional, como a China.
O Itamaraty é atualmente, na avaliação de
militares de alta patente ouvidos pelo Estado, o principal núcleo de
“vulnerabilidade” do novo governo. Assim como as Forças Armadas,
o Ministério das Relações Exteriores se destaca por ser uma instituição com
cultura própria arraigada, que agora passa por alterações de estrutura na nova
gestão.
Por decreto, Araújo extinguiu o
departamento responsável por negociações de acordos comerciais e abriu espaço
para contratar assessores de fora da carreira. Além disso, o chanceler permitiu
que diplomatas de cargos mais baixos ocupem postos antes restritos àqueles com
mais experiência. Em conversas reservadas, militares afirmaram que é como se um
praça pudesse agora chefiar um oficial. Argumentaram, ainda, que Araújo dispensou
a experiência de embaixadores que representam o País há anos no exterior e
agora estão “sem emprego no próprio Itamaraty”.
Davos. A preparação da viagem de
Bolsonaro, nos próximos dias, para o Fórum Econômico
Mundial, em Davos, também tem contado com a orientação dos titulares
da Economia e da Agricultura. Informalmente, a ministra Tereza Cristina tem
aconselhado o presidente especialmente no discurso sobre a questão indígena,
tema tratado pela imprensa internacional. Ela mostrou a Bolsonaro uma
reportagem do jornal americano The New York Times com críticas
à política indigenista e observou que o governo brasileiro está sendo mal
compreendido no exterior.
Procurado
pela reportagem, o Itamaraty não se pronunciou.
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