segunda-feira, 8 de abril de 2019

Sobre as intervencoes de militares na politica brasileira: comentarios de leitores

Depois da postagem deste meu paper:


3442. “Sobre as intervenções de militares na política brasileira”, Brasília, 31 março 2019, 5+6 p. Introdução histórica e política e comentários de Mario Sabino (Crusoé, n. 48, 31/03/2019) ao texto da Ordem do Dia das FFAA a propósito do dia 31 de março. Publicado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/para-ler-os-militares-em-1964-e-em-2019.html); disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/f60c55b452/sobre-as-intervencoes-de-militares-na-politica-brasileira).

recebi uma série de comentários, dos quais destaco os seguintes: 

Como sempre, há tantas interpretações quanto os que as oferecem. Não me inclino a concordar com Paulo Roberto sobre 1889. Devia existir uma forte vontade, da parte das forças armadas, de assumir a direção do país. Se não, por que aderiram os militares tão entusiasticamente, tão rapidamente - pode-se até dizer instantaneamente - ao "Viva a República" de Deodoro? Por que interpretaram aquilo como um sinal para mudar o regime político do Brasil? Por que tiveram a vergonhosa pressa de exilar o Imperador e família? Para mim, isso denota uma determinação de fazer o país engolir o fato consumado, o que por sua vez e ao meu ver, denota uma orientação política, Sobre o que diz Pedro Scuro, quero lembrar aos que eram muito jovens, ou ainda nascituros, durante a presidência do hoje santificado JK, que foi ele quem iniciou nossa longa convivência com a inflação desenfreada. A construção de Brasília a toque de caixa, quase sempre a preços exagerados, levou a uma inflação beirando os 50% anuais no fim do mandato JK. Jânio não pôde (nem teve tempo) para freá-la, o incompetente Jango nem o tentou e assim, quem recebeu uma "herança maldita" foi o governo militar... Quanto aos erros da nossa atual presidência da república, nada me admira. Querer ser o trump dos trópicos e repetir todas as besteiras que o outro faz ... não recomenda.
Minha resposta: 
Caro Marcelo Raffaelli, suas ponderações são absolutamente legítimas, mas o que eu quis dizer é que não havia, na alta cúpula das FFAA (na verdade só Exército e Marinha, que era, esta, aristocrática e monarquista), um projeto republicano claramente definido. Havia muitos oficiais republicanos, é verdade, mas eles deveriam ter voto de fidelidade ao chefe de Estado, se devessem respeitar a ética e os códigos militares. Ou seja, a proclamação da República não foi um ato essencialmente das FFAA como o foram os três outros episódios mencionados, e sim uma intervenção de militares na política, e que lograram levar o Exército no novo caminho (não a Marinha).
31 de março - 2 de abril: JORNADAS DA VERGONHA NACIONAL. Datas em que o país sofreu um AVC do qual ainda não se recuperou, pois além de termos votado maciçamente em um capitãozinho energúmeno ainda suportamos centenas de milhares de militares parasitas, cujo regime nos deixou uma inflação "incontrolável", uma dívida externa "impagável", a sociedade de joelhos, o país envergonhado no exterior, e um legado ainda não resolvido de corrupção, violência e impunidade. Para não falar do rombo na previdência, mais uma das nefastas obras desses sanguessugas, agentes do atraso, da subserviência, da opressão, e da burrice.
Caro Pedro Scuro, não atribuo todas as responsabilidades pela nossa má trajetória econômica, política e social, desde 1964, unicamente aos militares, ou ao regime de 1964-1985 como sendo um produto unicamente militar. Todas as elites brasileiras, das chamadas "classes produtoras", junto com tecnocratas civis (tipo Delfim, e outros) foram extremamente influentes na conformação de uma via, equivocada, por certo, que nos legou todos esses pontos negativos que você menciona.

Muito oportuna sua analise. Estas nuances e os contextos históricos dos eventos são muito importantes para nos afastarmos dos cliches que nutrem os debates atuais.
Excelente reflexão sobre este momento tão delicado da nossa pátria! Concordo com o entendimento de que os militares não queriam permanecer no poder por tanto tempo e que fatores inicialmente externos e posteriormente internos às corporações contribuíram para esta demorada permanência no poder. Com isto não estou defendendo o regime militar, estando apenas interpretando o assunto aqui discutido, haja vista que as ações adotadas para o enfrentamento dos grupos extremistas (fatores internos) sempre serão contestadas pela esquerda brasileira e a longa permanência no poder (fatores internos) acabaram por ofuscar (não eliminar) os pontos positivos que levaram as FFAA ao poder. Ressaltando que abordar este assunto nunca foi difícil para mim, pois nasci no final de 1964 e cresci sob o regime militar, sendo que devido morar em uma pequena cidade do interior paulista, esta situação não era tão evidente para nós, pacatos moradores daquela cidade. Um ponto que entendo somente hoje é que o enfrentamento aos grupos extremistas conduzido em campo aberto, também tinha que ter sido conduzido na área educacional, que acabou sendo tomada, salvo valorosas exceções, pela esquerda brasileira. Mas isto é motivo para outra discussão. Enfim, toda discussão é sempre bem vinda, desde que conduzida com respeito à divergência de opiniões.
Absolutamente correto.
"Knowledge is knowing that a tomato is a fruit; Wisdom is knowing not to put it in a fruit salad" Knowledge means awareness of facts. This is context insensitive. Whereas wisdom is very much contextual. Something wise in one context can be a foolish act in a different context. You can think of knowledge as tools. The more knowledge you have, the more tools you have in your arsenal. The ability, to pick the appropriate tool for a particular job in right time at a given place with some set of constraints, is wisdom. Não tenho dúvidas que discutir isto sempre vai ser uma salada mista Na metáfora acima, quando trocamos o tomate por abacate, no contexto mexicano salada parece ser a unica utilidade do abacate, no brasileiro, nem se sabe que isto é possível. Incrivelmente, você converte a fábula dos três cegos e o elefante num conto de um único observador, e não estou dizendo que você é cego, mas que cria uma perspectiva que se assemelha à da fábula indiana https://en.wikipedia.org/wiki/Blind_men_and_an_elephant
Sinto muito poder replicar pois suas colocações genéricas demais não me permitem fazê-lo . Eu defendi uma tese muito simples, a da distinção entre intervenções das FFAA e intervenções de militares na política. Se vc tiver algo de importante a dizer, aguardo...
Eu quis discordar sem contraria-lo frontalmente. Você tem noção clara dos fatos, mas contextualiza de forma, a meu ver, sem julgar corretamente. Nao existe FFAA e militares, pois só existem militares nas forças armadas. Se algumas vezes apenas parte dos militares intervém, e os outros se acomodam, elas vão junto e por inércia ficam responsáveis. O que houve em todos casos, foi uma graduação de quantidade de intervenção que eventualmente se transformou noutra coisa diferente do que originou o desvio. Em 64 não houve golpe, da para engolir, mas em 68, o AI 5 não deixa duvidas, para citar um exemplo. As intervenções que voce lista não podem ser julgadas sob o quadrante que voce propõe, não so porque ele é dificil de ser configurado, senao impossivel, mas porque cada caso foi um caso e teria que usar um critério mais voltado para história do que lógica de poder. Eu não me sinto capaz de fazer isto, mas o que você escreveu não bate com o que consigo distinguir.
I had hoped that the events of 1964 and the military regime that followed had been turned over to the historians and archivists, but apparently there are people in the Bolsonaro government, likely the man himself, who can not let go of the past. I have lived observing and studying these events since 1962. Early on it seemed to me that the few real communists in Brazil did not have the capability to take over the government. Joao Goulart was inept but he was not a communist and did not have the ability to impose a dictatorship. If there was a Russian plan to impose such a regime on Brazil I think it would have bubbled out of the Russian archives by now. 1964 was the result of a lot of heated propaganda and over excitement by the Brazilian press, encouraged by the American right wing (e.g. Reader's Digest) and French military thought about suppressing subversion. The armed left in Brazil appeared after 1964 not before as a response to the violent repression. It is worth remembering that Humberto Castello Branco agreed to serve as president only to the limit of Goulart's term of office. I wonder what his reaction would have been to the events of 1968-69 if he had not been killed in 1967? It is time for politicians to leave all this to historians and get on to solving Brazil's current problems. Frank D. McCann, University of New Hampshire
Minha resposta a ele: 
Dear Frank,
Many thanks for your thoughtful remarks about 1964 and afterwards. I agree with you in most of your arguments, but I beg your attention to only two remarks of mine, one negligible, the other most important. First, is the mention  of Castello Branco being "killed" in 1967. If you accept the conspiratorial theory of assassination, which I discard, the verb could be applied, but I think he was really the victim of an aerial accident, without the purpose of killing him.
As for this phrase: " The armed left in Brazil appeared after 1964 not before as a response to the violent repression", I also disagree. The Castroites were financing, training and stimulation guerrilla in Brazil, Venezuela and some Central American Countries. Venezuela is at the origin of denunciation of Cuban ventures at OAS, which led to the Punta del Este suspension of Cuba in 1962 (with the abstention of Brazil). But in 1963, people from Julião's Ligas Camponesas were being trained in Mexico by Cuban  agents.
In the same year, or in 1963, PCdoB sent people to Maoist China to be trained in guerrilla warfare at the Military Academy of the People's Army. Many of them formed the initial group at Araguaia later on.
Almost as immediately after the military coup in 1964, Cuba gave huge money to Brizola, in Uruguay, to finance groups of former military in trying to start an armed detachment in Minas Gerais, disrupted easily by Armed Forces. Brizola retained most of the money to buy ranches in Uruguay, which led Fidel Castro to call him El Ratón. In 1965, Carlos Marighella went to Cuba, in one of the first attempt to create a Tricontinental organization, joining armed struggle against imperialism in Latin America, Asia (Vietnam) and Africa. Che Guevara tried to do this in Congo, in the same year, with a complete failure, and then he started to prepare his Bolivian venture. In 1966, when Castello Branco was still in power, Cuba organised a big meeting of "guerrilla candidates", under the banner of OLAS, Organización Latino-americana de Solidaridad.
The armed struggle in Brazil started very early, and it were that various attempts by new dissident movements from the Brazilian Communist Party that were the very responsible factor for the violent repression by the military that ensued. I know it: I was one of the candidates to become replicas of Ché Guevara. Of course, I left Brazil in 1970, not to being caught in the harsh repression that followed the kidnapping of US ambassador in 1969.
Again, I thank you for your interest in my paper.
How was your meeting with Mourão, a prospective president?
All the best.
Paulo Roberto de Almeida
Brasilia, April 8, 2019


O debate continua...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de abril de 2019

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