O Ministro do Exterior... era um homem desconhecido no país, e sua [designação] para o Itamaraty... causou, por isso, a todos, a maior surpresa. Ninguém podia explicar porque foram buscar esse apagado [diplomata] para colocá-lo à frente da política exterior do Brasil, num lugar até então ocupado, salvo as exceções..., por homens os mais eminentes. (...) A que título vinha ele agora para o Itamaraty, chefiar a política exterior do Brasil, num momento particularmente delicado da situação internacional...?
A razão que se dava para isso era que [o presidente] o havia conhecido... e guardava dele a melhor das impressões. Como explicação era pouco. Parecia mais plausível uma outra, que se dava, e era que pretendendo o novo presidente dirigir, ele mesmo, a política exterior do Brasil, colocara no Itamaraty um homem sabidamente medíocre e apagado, que não lhe pudesse fazer sombra e fosse, ao mesmo tempo, em suas mãos voluntariosas e absorventes, um acomodado e fiel cumpridor de suas ordens.
De fato [o ministro[ era a mediocridade em pessoa. Podia-se defini-lo com as palavras...: "Sem antecedentes, com a mais medíocre das capacidade políticas, não sabia sequer o que era um Despacho". Isso com relação à sua aptidão para o cargo. E quanto a obedecer [ao presidente], nenhum outro, de seus ministros de Estado, o excedia em zelo e submissão. (...)
... a mediocridade [dele] como Ministro do Exterior, foi além da expectativa [do presidente], e este acabou arrependido de o ter chamado para o Governo. Foi esta, pelo menos, a impressão que deu... quando ele se lamentou da desordem que andava pelo Itamaraty e confessou que na verdade não tinha "Ministro do Exterior". (...)
No Itamaraty tínhamos de contar não só com a falta de autoridade e a passividade do Ministro de Estado como ainda com a sua falta de capacidade para o cargo. (...)
Tinha um espírito confuso e trapalhão. Embaralhava as menores coisas.
Heitor Lyra:
Minha vida diplomática
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981
vol. 1, p.103-105
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