Chineses
perderam US$ 35 bi em exportações até junho, diz Unctad. Maior prejuízo
à economia americana se deu pelo aumento dos preços de produtos
importados
Por Assis Moreira — De Genebra
Valor Econômico, 6/11/2019
A
guerra comercial entre os Estados Unidos e a China tem gerado perdas
bilionárias para as duas maiores economias do mundo e desvio de
comércio, segundo confirmado por um estudo da Agência das Nações Unidas
para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).
As
perdas dos EUA estão amplamente relacionadas a preços mais elevados
para os consumidores americanos, enquanto os prejuízos da China se
refletem em perda significativa de exportações.
Segundo
a Unctad, a sobretaxa de mais de 25% em importações procedentes da
China imposta pelo presidente Donald Trump infligiu uma perda de US$ 35
bilhões nas vendas chinesas para os EUA no primeiro semestre. A queda
nas vendas é de 25% em relação ao mesmo período do ano passado.
Por
sua vez, dados americanos indicam que as exportações em geral dos EUA
para o mercado chinês caíram US$ 15,1 bilhões, numa contração de 23,5%
entre janeiro e junho. A Unctad não examinou o lado das exportações
americanas, mas ao menos parte disso é resultado das sobretaxas chinesas
adotadas em retaliação às medidas americanas.
Para
o economista Alessandro Nicita, autor do estudo, no segundo semestre os
prejuízos devem ser ainda maiores para as exportações das duas grandes
economias, inclusive porque sobretaxas mais elevadas foram impostas.
Para
a Unctad, o estudo serve como uma advertência global de que guerra
comercial resulta em perdas para todos os beligerantes, além de afetar a
estabilidade e o crescimento da economia global. Daí a expectativa
quanto a um acordo, mesmo modesto, entre os presidentes Trump e Xi
Jinping proximamente, para reduzir a escalada de conflito.
Dos
US$ 35 bilhões de exportações chinesas perdidas ao mercado americano,
cerca de US$ 21 bilhões (63%) foram ocupadas com desvio de comércio, ou
seja, com importações de países não diretamente envolvidos na guerra
comercial. Os outros US$ 14 bilhões foram perdidos por menor demanda dos
EUA ou capacidade insuficiente de outros fornecedores.
Entre
os parceiros mais competitivos que se aproveitaram da alta de tarifas
contra a China, o estudo aponta Taiwan como o maior ganhador até agora.
As exportações taiwanesas para os EUA cresceram US$ 4,2 bilhões no
primeiro semestre, ocupando boa parte do espaço deixado pelos chineses
nos setores de equipamentos para escritórios e de comunicação.
Também
o México aumentou suas exportações para os EUA, em US$ 3,5 bilhões,
principalmente no agronegócio, equipamentos de transporte e máquinas
elétricas. A União Europeia (UE) vem em terceiro lugar, com ganho
adicional de US$ 2,7 bilhões. O Vietnã ganha quase tanto quanto os
europeus, com US$ 2,6 bilhões a mais de exportações, sobretudo móveis e
equipamentos de comunicação.
O desvio de comércio beneficiou também Coreia do Sul, Canadá e Índia, com ganhos entre US$ 900 milhões e US$ 1,5 bilhão.
Para
o autor do estudo, os consumidores americanos sofrem o maior impacto da
alta de tarifas sobre importações procedentes da China, à medida que os
custos adicionais são repassados na forma de preços maiores.
No
entanto, o estudo também mostra que as firmas chinesas começaram a
absorver parte dos custos das tarifas, reduzindo os preços de suas
exportações em cerca de 8 pontos percentuais.
A
Unctad destaca também a competitividade de empresas chinesas que,
apesar das sobretaxas, mantiveram 75% de suas exportações para os EUA.
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