A política externa do Brasil a caminho do delírio
Reina a maior confusão na política externa do Brasil; não existe nenhuma voz coerente e a culpa principal sabemos de quem é...
Paulo Roberto de Almeida
A omissão do presidente Jair Bolsonaro em criticar a Rússia ou condenar a guerra na Ucrânia é explicada em parte pela afinidade ideológica que ele tem com Vladimir Putin e é vista com incômodo pelos Estados Unidos, diz Michael Shifter, presidente do The InterAmerican Dialogue, centro de estudos em Washington. Shifter, afirma ao jornal Valor Econômico, que o governo americano vê com preocupação a postura de Bolsonaro, que deve deteriorar as relações bilaterais.
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Entre o WhatsApp e a ONU, os sinais difusos de Bolsonaro na guerra
O Globo | Política, 03 de março de 2022
Enquanto o Brasil condena formalmente invasão à Ucrânia, presidente repassa texto com viés 'olavista' e acena para a Rússia
Ao mesmo tempo que o Brasil votou a favor da resolução do Conselho de Segurança da ONU para condenar a invasão da Rússia à Ucrânia, o presidente Jair Bolsonaro resolveu repassar para alguns grupos de WhatsApp de que participa um texto sobre o que seria o contexto do conflito. Conforme publicou o colunista do GLOBO Lauro Jardim em seu blog, a postagem traz uma visão "olavista" - corrente do ideólogo de direita Olavo de Carvalho, que morreu em janeiro - e logo no início já adverte: "Os Estados Unidos não são mais uma nação virtuosa." Apócrifo e intitulado "A única verdade", o texto alerta que "o comunismo tem outro nome, se chama Progressismo e seu berço é a Europa". O tom alinhado às ideias de Olavo de Carvalho prossegue com a afirmação: "Só existem a Rússia, a China e a Liga Árabe capazes de enfrentar a NOM (Nova Ordem Mundial). O Brasil está no radar da NOM e de toda a esquerda. Três ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e a mídia brasileira (via fraude eleitoral), estão prontos a entregá-lo pela metade do preço que o presidente da Ucrânia entregou seu país."
Em outro trecho, cita a soberania do Brasil sobre a Amazônia, que estaria ameaçada: "Os mesmos que desejam que o presidente brasileiro tome uma posição firme no conflito Rússia X Ucrânia, são aqueles que desejam tomar de nós a Amazônia". Por fim, a publicação diz que o comunismo passou por uma transformação e que a alegada nova ordem mundial está pronta para "instalar um governo hegemônico mundial", do qual o Brasil seria parte fundamental.
"Não vamos tomar partido, vamos continuar pela neutralidade e ajudar, na medida do possível, a busca da solução "
Foto: Jair Bolsonaro, durante entrevista coletiva, ao falar sobre a invasão da Rússia à Ucrânia
Desde o início da invasão russa à Ucrânia, Bolsonaro tem feito declarações que seguem em sentido contrário às posições do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Para diplomatas, o Itamaraty vocaliza uma atuação ligada às tradições e aos valores constitucionais. As afirmações do presidente sobre solidariedade à Rússia e "neutralidade" diante da invasão têm sido consideradas uma narrativa para um público interno que, inevitavelmente, causa dano à imagem do país no exterior.
Durante entrevista no último domingo no Guarujá (SP), cidade em que passou o carnaval, Bolsonaro disse que o Brasil "não vai tomar partido" e deve manter posição neutra em relação ao conflito. Na declaração, a primeira manifestação pública sobre o conflito, Bolsonaro fez referência a uma conversa que teve com o presidente russo, Vladimir Putin:
- Não vamos tomar partido, vamos continuar pela neutralidade e ajudar, na medida do possível, a busca da solução.
O desencontro de declarações entre o que diz Bolsonaro e o Itamaraty levou auxiliares do presidente a esclarecer a embaixadores estrangeiros e autoridades de outros países que, em momentos divergentes, o que vale é a posição do Ministério das Relações Exteriores, e não os discursos do presidente. Em entrevista à GloboNews, o chanceler Carlos França explicou que a posição do Brasil não é de neutralidade, e sim equilíbrio. Diplomatas de países do G7 também cobraram que o país adotasse uma postura mais firme.
"Nossa posição é de equilíbrio. Ela não é de neutralidade. Eu penso que quando o presidente (Jair Bolsonaro) falou em neutralidade ele pensava em imparcialidade. Nossa posição é dedicada à busca do diálogo e da reconciliação. Essa é a nossa fortaleza".
Aliados antigos de Bolsonaro também se manifestaram, como o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo. O ex-chanceler fez críticas ao comportamento do presidente. Nas redes sociais, Araújo destacou que Bolsonaro reproduz "desinformação russa" e que a posição de "neutralidade" demonstra preferência pela Rússia: "Me parece que a posição correta do Brasil, compatível com nossos valores morais e interesses materiais, seria um apoio à Ucrânia, junto com as grandes democracias ocidentais".
O fato de Bolsonaro não condenar diretamente os ataques também provocou reflexos na corrida eleitoral. O ex-presidente Lula afirmou no Twitter que "ninguém pode concordar com guerra", enquanto Sérgio Moro (Podemos) acusou Bolsonaro e o PT de estarem do lado de ditaduras que apoiam os ataques à Ucrânia: Venezuela, Nicarágua e Cuba. Ciro Gomes (PDT) preferiu focar os comentários nas consequências diretas da guerra ao Brasil, e João Doria (PSDB) disse que a invasão da Ucrânia pela Rússia é "condenável".
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