domingo, 31 de julho de 2022

Hitler e seus Comediantes, pelo jornalista José Jobim (1934): reedição pela Topboks (2022).

 Um livro praticamente desaparecido dos sebos, desde suas duas edições de 1934, e que constitui um primeiro testemunho, por um brasileiro, sobre o regime nazista em ascensão: 

Hitler e seus Comediantes (RJ: Cruzeiro do Sul, 1934).

Alguns anos depois, o político e jornalista Lindolfo Collor, faria também seus relatos, mas para o final da década, no limiar da nova guerra global. 

Hitler e seus comediantes

(Rio de Janeiro: Topbooks, 2022)

Apresentação da Editora:

Jornalista e diplomata, o autor trabalhou como repórter para vários órgãos de imprensa e entre 1930 e 1936 foi enviado especial de O Jornal à Ásia, África e Europa.

Na Alemanha, impressionou-se com a ascensão meteórica de Hitler e fez anotações importantes para uma grande reportagem, que pretendia publicar na imprensa carioca. Mas, ao voltar ao Rio com essa intenção, nenhum jornal quis se ariscar. Então transformou o excelente material num livro, que teve duas edições em 1934, virou raridade e só agora, quase nove décadas depois, retorna às livrarias. 

Nele, José Jobim fala de tudo que viu, dos discursos inflamados de Hitler e das muitas pessoas que lhe contaram histórias dramáticas. Sua carreira diplomática teve início em 1938, e no Itamaraty, entre outros postos, serviu no Paraguai, durante o início das negociações para a criação da Hidrelétrica de Itaipu, e como embaixador na Argélia, Vaticano e Marrocos, aposentando-se em 1975. 

Em 22 de março de 1979, aos 69 anos, saiu de casa para visitar um amigo e não mais retornou. Encontrado morto dois dias depois, a polícia tratou o caso como suicídio, mas na verdade ele fora sequestrado e assassinado pela ditadura empresarial-militar por estar escrevendo um livro onde denunciaria um esquema de corrupção no financiamento e construção da Itaipu Binacional. 

Depois de anos de luta de sua família, em 2018 se deu o reconhecimento de que José Jobim havia sido vítima da violência do Estado brasileiro. Sua certidão de óbito foi corrigida.

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Ele tinha publicado, no mesmo ano, seu livro imediatamente anterior, que tratou do caso de Portugal sob o Estado Novo: 

A Verdade sobre Salazar: entrevistas concedidas em Paris pelo Sr. Affonso Costa (RJ: Calvino Filho, 1934).

Também registrei as investigações sobre a sua morte, bem como a homenagem que lhe foi prestada pela turma que se formou no Instituto Rio Branco em 2021 em pelo menos quatro postagens de meu blog: 

José Jobim: o embaixador que sabia demais - André Bernardo 

A ferida aberta do Itamaraty : José Jobim, patrono da turma de 2021 - Ricardo Lessa (Piauí)

Cold Case no Itamaraty: a estranha morte do embaixador Jobim em 1979 - Hellen Guimarães (revista Epoca)

Nova turma do Instituto Rio Branco homenageia embaixador morto pela ditadura - Eliane Oliveira (Globo)


Pedro, o libertador? Em parte, e não sozinho. Harmoniosa separação? Nem tanto...

 

Os baianos, e outros do NE, certamente não concordariam com essa "harmoniosa separação", pois que pessoas morreram resistindo às tentativas de manutenção do status colonial que tropas portuguesas pretendiam manter. A luta armada não foi só em prol da defesa da legitimidade da coroa portuguesa para sua filha Maria da Gloria, contra seu irmão absolutista D. Miguel. 

O Conselho de Minerva deveria ter mais cuidado ao redigir seu anúncio.

Paulo Roberto de Almeida

A armadilha do falso conservadorismo - Editoral Estadão

Roger Scruton, autor de Como Ser um Conservador, poderia assinar este editorial do Estadão. Grato ao embaixador Flavio Perri por te-lo transcrito.

Paulo Roberto de Almeida 


A armadilha do falso conservadorismo

O Estado de S. Paulo, Editorial, 31 de julho de 2022 


No Brasil não há um partido verdadeiramente conservador, mas há cidadãos conservadores genuínos. E estes devem ter coragem de denunciar impostores que falam em seu nome:

Na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, presidente americano de inquestionáveis credenciais conservadoras, a deputada Liz Cheney fez em junho passado uma apaixonada defesa de seu partido, o Republicano, e dos valores conservadores que a agremiação historicamente representa – em especial o respeito às leis e à Constituição. 

“Sou uma republicana conservadora. Acredito profundamente no governo limitado, nos baixos impostos, na defesa nacional. Acredito na família como centro de nossa comunidade e de nossas vidas. Acredito que essas sejam as políticas certas para nossa nação”, discursou Liz Cheney, para, em seguida, referindo-se ao ex-presidente Donald Trump, fazer um grave alerta: “Neste momento, estamos enfrentando uma ameaça interna como jamais tivemos em nossa história. Essa ameaça é um ex-presidente que está tentando destruir os fundamentos de nossa República Constitucional”.

Essa ameaça, enfatizou Liz Cheney, só é possível porque há republicanos que apoiam Trump mesmo diante de seu evidente ataque à democracia americana. “Nenhum partido, nenhuma nação consegue defender uma República Constitucional se aceitar um líder que decidiu deflagrar uma guerra contra o império da lei, contra o processo democrático e contra a transição pacífica de poder”, discursou a deputada republicana.

Em resumo, nessas poucas palavras, Liz Cheney, que integra a comissão parlamentar que está desnudando a tentativa de golpe de Trump depois das eleições em 2020, fez um apaixonado chamamento a seus correligionários conservadores para que caiam em si e deixem de sustentar o discurso anticonservador e reacionário do ex-presidente.

É um chamamento que se deve fazer aqui no Brasil também. 

O presidente Jair Bolsonaro, que faz praça de sua truculência antidemocrática e de seu amor à ditadura militar, chegou ao poder dizendo-se “conservador”, e não poucos genuínos conservadores aceitaram essa impostura em nome da necessidade de impedir que o PT, com seus gritos de guerra contra a propriedade, o capital e o livre mercado, retomasse a Presidência. 

Todavia, se houve quem comprasse de boa-fé a falácia de Bolsonaro em 2018, agora, ao final de seu mandato, já não há mais qualquer dúvida de que o presidente não é liberal nem, muito menos, conservador. Bolsonaro é apenas um oportunista reacionário com evidente inclinação para o autoritarismo.

A fim de evitar que os verdadeiros conservadores caiam novamente na armadilha que o agora incumbente tenta rearmar, é preciso relembrar quais são, de fato, as ideias e os valores que o conservadorismo encerra e por que alguém como Jair Bolsonaro é a sua perfeita negação.

Ser conservador é rejeitar as transformações radicais do Estado e da sociedade, preservando as tradições construídas pela sociedade ao longo do tempo e repelindo as rupturas. Em outras palavras: ser conservador é curvar-se ao império das leis e ao Estado Democrático de Direito, é defender a estabilidade e a independência de instituições democráticas, é rejeitar governantes que incentivam a cizânia e a violência. Ora, isso é tudo o que Jair Bolsonaro, definitivamente, não representa. A desordem que ele instila vai na direção contrária do conservadorismo. Bolsonaro personifica o caos.

Por isso, é preciso que os conservadores brasileiros rejeitem o bolsonarismo como representante de seus valores. É preciso resgatar o verdadeiro conservadorismo, desvinculando-o urgentemente de Bolsonaro, líder desse simulacro mambembe de conservadorismo que, como toda farsa, faz o oposto do que apregoa – em vez de respeito pelas instituições democráticas, golpismo; em vez de reverência às leis e à Constituição, valorização de delinquentes; em vez de ordem, confusão.

Nos Estados Unidos, a deputada Liz Cheney teve coragem de liderar a luta para resgatar o Partido Republicano das garras de Trump. Aqui não temos um partido conservador nos moldes do Republicano, mas certamente há um conservadorismo a ser defendido da razia bolsonarista. Se os conservadores de verdade não querem ser confundidos com Bolsonaro e seu conservadorismo de fancaria, é hora de se manifestarem.


A economia socialmente regressiva do degenerado moral - Ricardo Bergamini

 Ricardo Bergamini fuzila a economia socialmente regressiva do desgoverno do degenerado moral:

A aberração da concentração de renda entre os indivíduos

A parcela dos 10% com os menores rendimentos da população detinham 0,7% da massa, vis-à-vis 42,7% dos 10% com os maiores rendimentos em 2021. Além disso, cabe destacar que este último grupo possuía uma parcela da massa de rendimento maior que a dos 80% da população com os menores rendimentos (41,4%). Contudo, entre 2020 e 2021, o grupo dos 10% com maiores rendimentos ganhou participação na massa de rendimento domiciliar per capita (1,1 ponto percentual), enquanto os décimos de menor rendimento tiveram variação negativa.

Prezados Senhores

Bolsonaro, de forma cristã, aprovou o Auxílio Brasil que concede R$ 600,00 mensais aos milhões de brasileiros miseráveis, que detém apenas 0,7% da renda nacional.

Ao mesmo tempo, nos porões do palácio, faz um pacto com o demônio para que os bancos sequestrem 47,47% ao ano (3,29% ao mês) de juros da falsa caridade concedida de R$ 600,00.

Finalmente acusa os bancos de lutarem contra o seu plano de golpe por vingança da austeridade fiscal do governo. 

Se Deus não estiver morto, alguém vai se foder muito nesse governo de milicianos.

O que é o Empréstimo Auxílio Brasil? 

O Empréstimo Auxílio Brasil é um novo tipo de crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil. O valor do empréstimo comprometerá até 40% do benefício, descontado diretamente da folha de pagamento do segurado. 

E na meutudo você poderá solicitar o seu Empréstimo Auxílio Brasil com a menor taxa do mercado, a partir de 3,29% a.m! 

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Ricardo Bergamini”

“ O Brasil é um país que está embrutecendo.” - Maud Chirio (Journal du Dimanche)

 Brasil e suas violências

José Horta Manzano

Chumbo Gordo, 27/07/2022


…“O Brasil não é um país sob um regime ditatorial. É um regime baseado na desconstrução do Estado, que permite que a violência social floresça e seja incentivada na sociedade.”…


É interessante notar que um observador afastado, independente e não envolvido emocionalmente com nosso país consegue ter uma visão desapaixonada do drama que enreda o povo brasileiro. Para nós outros, que estamos envolvidos emocionalmente, é praticamente impossível fazer um julgamento neutro e imparcial.


O JDD (Journal du Dimanche) é um jornal semanal francês. Seu forte são entrevistas e artigos de fundo. A mais recente edição traz uma entrevista de Maud Chirio, historiadora francesa especializada em analisar a realidade brasileira.


Ela começa discorrendo sobre o aumento da violência:

“É violência urbana, mas há também uma explosão de violência feminicida, homofóbica e transfóbica e um aumento da violência política.”


E dá sua avaliação do momento político:

“O Brasil não é um país sob um regime ditatorial. É um regime baseado na desconstrução do Estado, que permite que a violência social floresça e seja incentivada na sociedade.”


E prossegue:

“Se Jair Bolsonaro for reeleito, o que é extremamente improvável, ou se ele manipular ou pressionar as eleições, estaremos em um ponto de inflexão. O Brasil poderia sair completamente do caminho democrático.”


Até chegar à impiedosa conclusão de sua análise:

 “O Brasil é um país que está embrutecendo.”


É de arrepiar. E pensar que o capitão imagina poder contar suas lorotas aos quatro ventos sem que ninguém se dê conta da feia realidade. Temos um bobão no Planalto. Um bobão perigoso.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

sábado, 30 de julho de 2022

China: um universo à parte, sem qualquer possibilidade imitativa - livro sobre o "socialismo chinês"


 Um livro que tem recebido boa acolhida no Brasil é este sobre a China, do qual reproduzo mais abaixo o Press Release da Editora (na verdade feito pelos autores, que se pretendem “não ideológicos”).

 

Considero que ele possui a mesma incompreensão básica do famoso livro de Giovanni Arrighi sobre a China: Adam Smith vai a Pequim. O livro é interessante, mas o título é exatamente o contrário do que pretende. Não foi Adam Smith que foi a Pequim, mas a China que foi para a Escócia. 

Da mesma forma, não existe nenhum socialismo do século XXI, apenas o velho e duro capitalismo, com as deformações de um regime político ditatorial. Nada que o capitalismo não possa absorver.

Na verdade, falar de capitalismo nesse caso é um erro, como ensinava Fernand Braudel. O que se trata é de uma economia de mercado, em seus diferentes formatos.

Paulo Roberto de Almeida

 

China: O socialismo do século XXI

 

Resenha da Editora

Escrito para o público geral, o livro China: o socialismo do século XXI é um meticuloso trabalho teórico e estatístico de Elias Jabbour e Alberto Gabriele. A obra analisa a República Popular da China, gigante que se tornou, nas últimas duas décadas, a locomotiva do sistema econômico mundial. Afinal, o que é o socialismo chinês? É possível afirmar que difere do capitalismo tal qual o conhecemos até aqui, embora ainda seja prematuro defini-lo como alternativa consolidada. Com uma postura crítica, os autores não desconsideram a complexidade da China e fogem de preconceitos ideológicos como enquadrar o país como mais um fracasso socialista ou, na via oposta, como um paraíso do comunismo realizado. Oferecem ao leitor uma abordagem materialista, que analisa a peculiaridade das relações de propriedade e das ferramentas de planejamento/projetamento vigentes no país. Tudo isso para apontar seu papel crucial como alternativa realista à anarquia do capital. A obra apresenta um país que conseguiu, durante décadas, alcançar uma das taxas de crescimentos mais estáveis da história, passando de um dos mais pobres do mundo a segunda economia do planeta e que possui vasta base industrial e científica, sem ignorar que o sistema socioeconômico chinês também carrega contradições sérias que precisam ser analisadas e criticadas. Silvio Almeida, que assina a quarta capa, afirma que "o livro de Elias Jabbour e Alberto Gabriele é um trabalho corajoso. E aqui não se trata de exaltar um aspecto moral, externo à obra. A coragem a que me refiro é um atributo essencial às grandes empreitadas intelectuais que objetivam iniciar um debate público e orientado pela ciência em torno de temas fundamentais. É com esse propósito que os autores enfrentam o desafio de analisar a formação econômico-social da China e os sentidos do socialismo. É um livro que tende a tornar-se ponto incontornável nas discussões sobre as singularidades da economia chinesa e, por consequência, das possibilidades de ressignificação do socialismo”. Já Luiz Gonzaga Belluzzo escreve “este livro, magnificamente organizado e escrito por Elias Jabbour e Alberto Gabriele, gratificará o leitor com os sabores incomparáveis da aventura intelectual. Na vida do conhecimento e da compreensão da sociedade e da economia devemos sempre almejar à desconstrução do estabelecido e buscar os desafios do novo que nasce do movimento dos homens e de suas relações. É isso o que nos oferecem Jabbour e Gabriele. A aventura dos autores empenha-se em descobrir no socialismo da China a construção de uma nova formação econômica e social que instiga a perplexidade dos conformistas que não se cansam de indagar: Capitalismo de Estado ou Socialismo de Mercado?”

 

Contracapa

Trecho da orelha “Elias Jabbour e Alberto Gabriele estão entre os mais destacados estudiosos da China contemporânea e dos processos de transformação em curso, que ultrapassam suas fronteiras e abrem as perspectivas de novas formas de existência. Os autores entregam neste livro um rico material analítico e empírico e propõem uma síntese original entre o marxismo, o estruturalismo e o keynesianismo que não pode ser ignorada pelos cientistas sociais”. – Carlos Eduardo Martins


Corrida para liquidar tudo no 1o turno? (Estadão)

 Bolsonaro, como  inepto que é, ao insistir em atacar o processo eleitoral, pode ter selado o fim de suas aventuras antidemocráticas. A sociedade reagiu, e ele vai ficar sozinho.

Convergência pró-democracia favorece uma solução eleitoral no 1o turno

Matéria do Estadão:


FORMALIZAÇÃO DA CHAPA LULA-ALCKMIN SELA UMA BUSCA FRENÉTICA PELO VOTO ÚTIL CONTRA BOLSONARO 

ESTADÃO, 30/07/2022


Ausente no lançamento oficial de sua própria candidatura pelo PT, o ex-presidente LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA foi a estrela e fez o discurso contundente na convenção do PSB que formalizou, nesta sexta-feira, 29, o nome do ex-tucano e ex-governador de São Paulo GERALDO ALCKMIN como vice em sua chapa, justamente quando a principal estratégia da campanha petista é buscar o voto útil de líderes e eleitores do ex-PSDB de Alckmin e do MDB, Cidadania, Avante, União Brasil e PSD, sem contar o PDT.


Se CIRO GOMES (PDT) é o mais duro na queda, os candidatos do Avante, ANDRÉ JANONES, e do União Brasil, LUCIANO BIVAR, estão com um pé no barco de Lula contra o presidente Jair Bolsonaro, que disputa a reeleição. GILBERTO KASSAB, manda-chuva do PSD, já está nesse barco desde o início, sem alardear, e Lula também tem sólidos apoios no PSDB e no MDB, o que pode deixar o CIDADANIA sem alternativa.


Lula sendo Lula, bradou que os moradores de rua “tratam melhor dos seus cachorros do que o Estado brasileiro cuida deles mesmos”, defendeu “amor, carinho generosidade” e aprofundou as comparações entre ele e Bolsonaro e entre os dois governos, conclamando os aliados a irem para a rua, mas advertindo que não quer uma campanha de ódio e dando uma ordem: “não vamos aceitar provocações”.


Segundo Lula, Bolsonaro não visitou uma só família vítima de covid, um único órfão, assim como não se reuniu com centrais sindicais, reitores, professores. E, apesar de o lançamento ser da chapa Lula-Alckmin, ou Lula-chuchu (apelido do ex-governador), e de ele ter elogiado os empresários que lideram o manifesto pela democracia, com mais de 400 mil assinaturas, Lula deixou claro que vai governar para os pobres e criará um ministério dos Povos Indígenas, com um ministro indígena.


Se Lula foi Lula, Alckmin foi Alckmin: comedido, sem estridência, definiu a convenção como “a confraternização da esperança no futuro” e bradou: “a esperança é Lula!”. Também descarregou as baterias contra o atual presidente, dizendo que “é hora de Bolsonaro ir embora para casa pelo mal que fez ao País” e atribuindo a ele “barbaridades, erros, desastres, mentiras e um plano ardiloso contra a democracia, que fracassou”.


A improvável aliança Lula-Alckmin é o principal movimento político das eleições de 2022 e consolida a determinação de Lula de ampliar

sua campanha para além do PT e das esquerdas e assim garantir desde cedo um grande leque de forças políticas para ter governabilidade e estabilidade em seu eventual governo a partir de 2023.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Eleições 2022: discurso da candidata do MDB, senadora Simone Tebet, na convenção do partido

Não recebi discursos dos demais candidatos, ou não tive acesso a seus pronunciamentos, sobretudo dos dois líderes da campanha. Publicarei indistintamente os discursos dos principais candidatos, sempre quando disponíveis, mas também posso buscar nos sites dos partidos.

Paulo Roberto de Almeida


Íntegra do discurso de Simone Tebet na convenção do MDB que oficializou a sua candidatura à Presidência da República

Brasília, 27.07.2022

Eu não poderia iniciar a minha fala sem antes dizer que eu recebo hoje, sem dúvida nenhuma, a mais árdua, mas mais importante missão da minha vida. Não imaginei, nunca, que uma filha do interior do interior do Brasil, apaixonada por política desde sempre, que carregava bandeiras, mexia no som, que estimulava mulheres a fazer política, que dentro de sala de aulas explicava pra juventude a importância de amar o seu país, de servir ao seu povo, de dar o seu melhor, pudesse, um dia, estar nesse momento, naquele que é o maior, o mais democrático partido do Brasil, ser alçada, pela primeira vez, uma mulher candidata a presidência da República. 

Quero dizer, Baleia, que você não tem noção da importância para nós, mulheres, neste momento e do quanto você se iguala aos grandes homens públicos que passaram pelo nosso partido. E faço uma referência especial a Ulysses Guimarães, a Teotônio, a Tancredo, a Covas, vamos colocar todos, a Montoro, a Itamar. Para não deixar, aqui, de citar duas grandes lendas vivas da nossa história, Fernando Henrique Cardoso e Pedro Simon. Você se iguala pela ética, você se iguala pela coragem, você se iguala porque não aceitou pressão, não aceitou conchavos, não aceitou, como disse Roberto Freire, negociatas. Muitos acreditaram que nós não iríamos até o fim. Eu quero começar e terminar com a mesma frase: hoje eu sou candidata à presidência da República pelo MDB, pelo PSDB e pelo Cidadania; pelo campo democrático. Estou candidata a presidente da República e como candidata eu coloco neste momento a minha vida, a minha vida, a favor do Brasil, da democracia e do povo brasileiro. (palmas)

    A minha responsabilidade é imensa. De saber que um partido da grandeza do PSDB, que tradicionalmente sempre lançou candidato à presidência da República, abre mão pra se somar conosco, tendo pela jovialidade e competência de Bruno Araújo, a perspicácia e a concepção de que unidos que podemos ganhar essa disputa. A você e a todos os, agora, meus amigos, companheiros e filiados do meu partido, PSDB, muito obrigada! 

Estar ao lado de Roberto Freire, que, repito, com essa energia, com essa sabedoria, com essa experiência, tendo visto de “tudo e mais um pouco” do Brasil, tendo visto uma redemocratização, 30 anos avanços. Agora, olhar para os índices sociais: O Brasil retrocedeu aos patamares dos anos 90. Continuar olhando para você, Roberto, que consigue continuar a acreditar no Brasil como otimista que é, isso me dá a certeza de que o Brasil tem jeito e que nós vamos transformar este Brasil.  E vamos transformar o Brasil com amor e com coragem. Com coragem e com amor, nós vamos reconstruir o Brasil. 

Eu quero fazer um agradecimento especial a todos os que acreditaram nessa caminhada. Aqui, os núcleos foram os primeiros a dizer que chegou a hora, tinha chegado a hora, do partido voltar a ter uma candidatura à presidência da República. E eu quero aqui agradecer os núcleos, na pessoa da Kátia Lobo, quero agradecer os núcleos na pessoa do Nestor, na pessoa do Maradona, na pessoa da Janaína, na pessoa do Assis, e todos os números que aqui estão, fazendo referência, também, aos núcleos do PSDB e do Cidadania. Agradecer os meus companheiros. Regina, querida, muito obrigada! Os deputados federais, em nome do Nilton Rocha. O Marun, em nome de todos os meus conterrâneos de Mato Grosso do Sul, Ministro Marun. Filipelli, muito obrigada! Obrigada a vocês, que são tantos, e eu posso aqui só dizer a vocês, muito obrigada, em nome da pessoa que para mim é mais importante hoje aqui neste dia, que é em nome do meu marido, Eduardo Rocha. 

Caros amigos e caras amigas, além dos agradecimentos sinceros que faço a todos vocês, permitam me dirigir agora neste momento ao Brasil. Esta é uma caminhada cívica, é uma caminhada cívica que se inspira nos grandes homens públicos que abriram caminhos para que nós pudéssemos chegar nesse momento. Em todos os momentos mais difíceis da nossa história, o MDB se fez presente. O MDB gritou: presente! Tomamos as rédeas a favor da anistia ampla, plena e irrestrita. Fomos nós a lutar por democracia, pela Constituição Cidadã. Fomos nós a erguer a Constituição Brasileira. Fomos nós, no Congresso Nacional, a implantar as políticas de direitos fundamentais e sociais. Fomos nós, ao lado do PSDB e do PPS, a garantir a estabilidade da moeda, da economia, com a implantação do plano real. Nós somos os gigantes que estávamos adormecidos, mas como todos os gigantes, nos momentos difíceis, nós somos capazes de nos erguer e defender aquilo em que acreditamos. A história novamente nos chama. O Brasil precisa novamente de nós, porque nós não aceitamos  retrocessos. Estamos aqui pelo Brasil, sim, mas estamos aqui para falar pela defesa intransigente da democracia e dos valores democráticos. Somos nós, este é o campo democrático, que há 35 anos abriu as portas para que nós, ainda jovens, pudéssemos ter liberdade. Porque democracia, é preciso explicar para juventude, é isso: é o direito de liberdade de expressão, de estarmos reunidos num partido político, sem termos preocupação com que estamos dizendo, sem ter preocupação de sair por essa porta e ter alguém aqui da censura nos levando, buscar no privado.(palmas)

Democracia significa o meu, o seu, o nosso direito de ir e vir. De garantir soberania popular através do voto. É isso que significa democracia. Todo mundo fala, e fala bonito, e nós esquecemos do que significa. Significa o governo do povo pelo povo, mas um governo servo da lei, da Constituição.Não é um governo que um homem acha que pode ditar para outros poderes o que se pode e o que não se pode fazer. Democracia significa nós podemos ir às urnas, escolher a cada quatro anos quem vai dirigir os nossos destinos. E significa, acima de tudo, nós declararmos e aceitarmos o resultado das urnas seja ele qual for. É por isso que nós estamos aqui. 

Houve um tempo em que essas bandeiras – que são nossas - foram ocupadas por outros. Agora nós estamos de volta. Estamos de volta porque o Brasil da fome, da miséria, da desigualdade social, das desigualdades, das maiores desigualdades sociais, raciais e regionais do planeta, neste Brasil não cabe omissão.

Não cabe omissão, quando no chamado celeiro do mundo, onde 33 milhões de brasileiros estão passando fome; 11 milhões de brasileiros estão as filas intermináveis a busca de uma única vaga de emprego; e cinco milhões já desistiram, desalentados que estão, porque não aguentam mais caminhar pelas ruas vazias e não encontrar nenhuma oportunidade. Não cabe omissão quando as nossas crianças e jovens estão fora da sala de aula e quando estão dentro, estão tendo ensino público de má quantidade. Não cabe omissão quando o SUS, que deveria ser universal, deveria ser público para todos, mata os nossos cidadãos pelo tempo de espera na fila pelos exames, por médicos e por cirurgias. Não cabe omissão quando apenas no ano passado 47 mil brasileiros foram mortos, assassinados, no País mais violento por seu próprio povo, que é o Brasil. Fomos líderes mundiais de assassinatos no ano passado. Não cabe omissão quando um país tão rico não cresce nem 1% na última década, e muito menos, cabe omissão porque estamos diante de uma inflação de dois dígitos que come o salário do trabalhador brasileiro. Aliás, ele está deixando metade do seu salário para comprar comida. 

As turbulências, é verdade, não começaram agora. Elas vieram do governo do PT, elas vieram com a recessão, com o mau governo, com a corrupção, com descaminhos do mensalão, do petrolão, é verdade, mas elas se multiplicaram com essa gestão. A fome, a miséria, a desigualdade social se multiplicaram. Mas ainda é mais grave. Soma-se a isso a insensibilidade social do governo; a devastação ambiental; a irresponsabilidade fiscal; o descrédito internacional. Imaginem, 30 anos de retrocesso. Um coquetel molotov que tomou na pandemia proporções devastadoras, quando aqui, no Brasil, quase 700 mil pessoas morreram de Covid-19, porque temos hoje um presidente que não acredita na ciência, não acreditou nas vacinas e atrasou 45 dias a compra delas. Mais grave do que isso, um governo que tem hoje sobre a sua hoste uma mancha que um dia a história vai revelar: um grave esquema de corrupção na compra dessas vacinas, como se a vida pudesse valer um dólar. 

Nós vamos fazer diferente. Acredite, é possível. Vamos, porque só nós, do campo democrático, temos condições de pacificar Brasil. Unir o nosso povo e a nossa gente, garantir a estabilidade, a segurança jurídica tão necessária para fazer o Brasil voltar a crescer, gerar emprego e renda pra nossa população. A nossa receita? Experiência e trabalho, é verdade. Experiência e trabalho aliado à solidariedade e afeto. Vamos trocar esses improvisos pela experiência; o ódio pela união. 

Coragem nunca me faltou. O que me trouxe até aqui é a mesma coisa que me fez entrar na política. Entrei na política por amor ao Brasil e continua nela por coragem, porque não é fácil fazer política como mulher. Hoje o que me traz até aqui, apesar de todos os percalços, é o mesmo amor e a mesma coragem. Nós estamos prontos para mudar o Brasil. Com amor e com coragem nós vamos reconstruir a história do Brasil. Temos experiência, sabemos como fazer maioria Congresso Nacional, estou lá há oito anos. Presidi diversas comissões, entre elas, a mais importante da Casa, que é a de Constituição e Justiça, quando votamos as reformas. Tenho experiência como gestora,  prefeita que fui duas vezes e vice-governadora. Tenho experiência como professora de Direito Público. Mas, mais do que a experiência que eu tenho como mãe, como mulher e como professora, o sentimento da indicação de ver um país tão rico, com um povo tão pobre. Por isso, faço aqui o primeiro compromisso: como presidente da República, a minha principal e absoluta missão será acabar com a fome no Brasil. Erradicar a miséria, diminuir a pobreza e faço um juramento como mãe, como mãe de duas Marias, Presidente da República, nenhuma criança vai dormir mais com fome no Brasil (palmas). Nenhuma criança vai dormir mais com fome num País que exporta e alimenta 800 milhões de pessoas no planeta.  

Temos a melhor e maior transferência de renda do universo, do planeta, iniciada com Fernando Henrique Cardoso. Não se trata de uma política de governo mais uma política de estado. É um direito do cidadão, vamos melhorá-lo. Vamos garantir a todos que precisam o Bolsa Família, mas ensinando a pescar. Fazendo com que o jovem, o trabalhador e a mulher possam estar inseridos no mercado de trabalho, com curso profissionalizante. Como professora, não posso deixar de falar que a lado disso a nossa prioridade absoluta: educação. A educação será prioridade nacional pela primeira vez na história. A União irá coordenar com os estados e municípios uma ampla frente para ajudar na qualidade de ensino básico e médio. 

Nosso tripé, muito simples, agenda social, economia verde e um governo afetivo, parceiro da sociedade e da iniciativa privada. Dinheiro, não falta. Sabemos e saberemos fazer. Orçamento transparente, equilibrado, com regras claras para gastar bem e para gastar melhor. Gastar onde mais precisa, com olhar diferenciado pro Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde nós temos os piores índices de desenvolvimento social. 

Na saúde, vamos reforçar o financiamento do SUS. Vamos estar lá, porque sou municipalista por essência, ao lado dos prefeitos na prevenção, na atenção básica; e ao lado dos governadores, na média e alta complexidade, nas cirurgias, nos exames, utilizando o governo digital e a telemedicina. Nosso governo representará aquilo que que o Brasil mais precisa: criatividade, responsabilidade, previsibilidade e segurança jurídica. Estamos prontos para pacificar o Brasil. Estamos prontos para unir o Brasil.  

O Brasil depende da indústria, pouco se tem falado nisso. Estamos com o nosso programa de governo pronto com uma agenda de competitividade, que garanta, através de um sistema de logística em parceria com a iniciativa privada, com concessões, com PPPs, que possamos transformar esse país num canteiros obras com ferrovias, rodovias duplicadas, com cabotagem. Isso não é papel do Estado. Estado tem que cuidar da saúde, da educação, da segurança pública. Esse dinheiro tem que vir de investimentos, um fundos de investimentos estrangeiros e nacionais. Vamos flexibilizar as regras porque sabemos o quanto a construção civil é fundamental para gerar os empregos e renda que a população tanto precisa.

Vai aqui mais um compromisso. O DNA das reformas está na minha veia. Sem reformas o Brasil não volta a crescer, a economia não é aquecida, os empregos não aparecem. Assumimos um compromisso, isso estará no nosso plano de governo. Faremos a reforma tributária nos seis primeiros meses da nossa gestão. Os gastos, como disse, serão direcionados a quem mais precisa. 

Mas aqui eu preciso falar de uma coisa. Nós vamos desmistificar para a juventude, para o Brasil e para todos, que agenda de sustentabilidade é incompatível com o agronegócio brasileiro. A agenda de sustentabilidade vai estar no coração de todas as políticas públicas da nossa gestão – todas - sem exceção, por uma única razão: sem preservação do meio ambiente não há vida, sem a vida não há futuro. Nós, infelizmente, nunca destruímos tanto o meio ambiente com agora. Basta! Mas nós vamos estar mostrando que não é “meio ambiente ou agronegócio”; é “meio ambiente e agronegócio”, porque o nosso agronegócio é sustentável. O agricultor, o pecuarista, a agricultura familiar, são o nosso apoio. Com financiamento, com logística, com juros subsidiados, porque sem isso não tem comida barata na mesa da população brasileira. Mas não se engane. Seremos intransigentes com invasores de áreas públicas. Serão intransigentes com quem desmata, com o desmatamento ilegal, estaremos protegendo Amazônia os biomas brasileiros. Os órgãos de fiscalização e controle serão reativados. Nós vamos cumprir o acordo de Paris. 

Indo para as minhas palavras finais, deixei mais importante para o final. O nosso governo será o governo voltado para quem precisa. Um governo que olhe para essa sociedade que é diversa e daí a nossa beleza, a nossa riqueza. A nossa maior vergonha é a nossa desigualdade social, racial e regional. A nossa maior riqueza é a nossa diversidade. Diante disso, o nosso compromisso é com uma sociedade justa, inclusiva, uma sociedade plural e tolerante. 

Seremos também intransigentes no combate a todo tipo de preconceito. Estaremos ao lado, sim, protegendo o direito das minorias. Combateremos o racismo estrutural e institucional no Brasil, porque a cara do povo brasileiro, o que corre no nosso sangue. Nós somos um povo negro na sua maioria. Mas, infelizmente, são aqueles que menos recebem salários, os primeiros a serem mandados embora, os que são mais encarcerados. Nós estaremos combatendo o racismo estrutural com políticas e ações afirmativas.

Como disse, deixei pro final o mais importante. Espero ter podido agradecer a todos. Gostaria de dirigir uma palavra especial às mulheres brasileiras. Somos a maioria da população brasileira. Somos a maioria do eleitorado, mas somos minoria em absolutamente tudo na vida. Essa conta não fecha. Ela precisa fechar. Quero aqui conclamar as mulheres do Brasil, que elas se somem conosco por Mais Mulheres na Política. Nós vamos eleger o maior número possível de deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores da nossa coligação. Mas a nossa coligação tem que ser também a campeã na eleição de parlamentares mulheres por Congresso Nacional e para as Assembleias Legislativas (palmas).

Às mulheres brasileiras: fomos sempre eco, chegou a hora de sermos voz. Fomos sempre coadjuvantes, chegou a hora de sermos protagonistas da nossa própria história, ao lado dos homens. Nem menor, nem maior. Ao lado, de forma diferente, porque é o diferente que se somar a grandeza e por isso eu encerro definitivamente dizendo que a política se faz com competência, com experiência e com trabalho, mas com solidariedade, com amor e com afeto. É disso que o Brasil precisa e é por isso que o Brasil precisa de Mais Mulheres na Política. 

O Brasil precisa de união, o Brasil precisa de paz, o Brasil precisa de amor. O caminho, a verdade e a vida de milhões de brasileiros depende de nós e nós estamos prontos.  Baleia, eu estou pronta; Bruno, eu estou pronta; Roberto, eu estou pronta. Sou do interior do interior do Brasil, mas sou professora, sou advogada, sou política, vamos abrir esses caminhos e vamos  transformar efetivamente a vida das pessoas. Terminarei da mesma forma que comecei. Eu disse e repito aqui para vocês, com todo o amor de uma mãe para com o Brasil, como candidata à presidência da República, pelo MDB, pelo PSDB e pelo Cidadania, como candidata a presidente eu agora coloco a minha vida a favor do Brasil, da Democracia e do povo brasileiro. Muito obrigada e vamos à vitória! 

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Russia locked up Vladimir Kara-Murza for telling the truth about Ukraine - Christian Caryl (WP)

A história de um líder oposicionista à ditadura de Vladimir Putin, o czar de todas as Rússia, e criminoso de guerra e tirano feroz contra o seu próprio povo.

OpinionRussia locked up Vladimir Kara-Murza for telling the truth about Ukraine

Op-ed Editor/International
The Washington Post, July 28, 2022

On a cold spring evening in April, Russian opposition leader Vladimir Kara-Murza was parking outside his Moscow apartment building when five uniformed police officers surrounded his car. The officers yanked him from the vehicle and hustled him into a waiting van. Next thing he knew, he was occupying a 6-by-9-foot cell in Moscow’s notorious Khamovniki police station.

Initially, he was detained on a spurious charge: disobeying the police. But on April 22, 11 days after his arrest, Kara-Murza was indicted on a charge of “spreading deliberately false information” under a law passed in the wake of Russia’s Feb. 24 invasion of Ukraine. It’s a charge that could bring 10 years in prison.

The charging document cited a speech that Kara-Murza, a Post contributing columnist, had given weeks earlier to the Arizona House of Representatives. His remarks accused Russian forces of dropping cluster bombs on residential areas in Ukraine and staging airstrikes on maternity wards, hospitals and schools. He did not mince words: “These are war crimes that are being committed by the dictatorial regime in the Kremlin against a nation in the middle of Europe.”

The atrocities Kara-Murza described have been verified by news organizations around the world and have led to international war crimes investigations. But Vladimir Putin’s Kremlin couldn’t bear the spectacle of a Russian citizen airing these uncomfortable facts — so it locked him up for telling the truth.

Read this essay in Russian: Кремль отправил Владимира Кара-Мурзу в тюрьму за правду об Украине

If telling the truth qualifies as a “crime,” it is one that the 40-year-old Kara-Murza has committed proudly and consistently. For two decades, he has been an outspoken opponent of the Putin regime. His efforts have come at a huge price: He was poisoned in 2015 and again in 2017, narrowly surviving both attempts on his life. Over the years, associates and friends have been attacked, jailed or killed — experiences that have hardened his ideological rejection of Putin’s Kremlin.

Yet he’s not afraid to say so. The day before his latest arrest, he told CNN in an April 10 interview that Russia’s current government “is a regime of murderers.”

Even when it has been clear that pursuing his ideals might put his life at risk, Kara-Murza — a historian and documentary filmmaker as well as a journalist and activist — has continued to campaign for human rights and liberal democracy. Meanwhile, many politicians in the West have abandoned these values, whether by appeasing dictators such as Putin or by eroding democratic principles in their own societies.

Kara-Murza didn’t have to take this path. Years ago, he settled his family — his wife, Evgenia, and three children, now ages 16, 13 and 10 — in a Northern Virginia suburb. He holds a British passport as well as a Russian one; he easily could have embraced a full-time life in the West. His friends often express dismay over his insistence on returning to Russia — but Kara-Murza maintained that he could not advocate for the rights and freedoms of the Russian people without enduring the same travails they face.

Even when it has been clear that pursuing his ideals might put his life at risk, Kara-Murza — a historian and documentary filmmaker as well as a journalist and activist — has continued to campaign for human rights and liberal democracy. Meanwhile, many politicians in the West have abandoned these values, whether by appeasing dictators such as Putin or by eroding democratic principles in their own societies.

Kara-Murza didn’t have to take this path. Years ago, he settled his family — his wife, Evgenia, and three children, now ages 16, 13 and 10 — in a Northern Virginia suburb. He holds a British passport as well as a Russian one; he easily could have embraced a full-time life in the West. His friends often express dismay over his insistence on returning to Russia — but Kara-Murza maintained that he could not advocate for the rights and freedoms of the Russian people without enduring the same travails they face.

Kara-Murza recently described his imprisonment as a kind of badge of honor worn by an illustrious line of Russian oppositionists before him. In a letter sent from prison, he cited the example of dissident Vladimir Bukovsky, who proudly recalled being charged with “anti-Soviet activity”: “I wear these convictions like medals!”

As he recovered, Kara-Murza continued his opposition work. He traveled, organizing grass-roots activists for Open Russia, a pro-democracy group funded by Mikhail Khodorkovsky, the former oligarch who was imprisoned for 10 years for defying Putin. Kara-Murza made a film about Nemtsov that celebrated his mentor’s achievements as a defender of democracy, screening it to audiences inside Russia and abroad. And he continued lobbying foreign governments to pass Magnitsky Act-style personal sanctions.

Then, on Feb. 1, 2017, he was attacked again. After eating in a Moscow cafe with a fellow activist, Kara-Murza suddenly began experiencing familiar symptoms: difficulty breathing, plummeting blood pressure, a racing heart rate. Before he lost consciousness, he managed to call Evgenia, who swiftly boarded a flight for Moscow. Before she arrived, doctors placed Kara-Murza in an artificial coma to aid their treatment of his failing lungs and kidney. Their diagnosis: “acute intoxication with an unknown substance.”

Vladimir Kara-Murza: Prison doesn’t give me many views of the sun

Kara-Murza fought his way back to health after the 2017 poisoning and again rejoined opposition efforts. In public appearances in Russia and elsewhere, he persisted in calling out the Putin regime for falsifying election results and other distortions of the truth — despite the obvious risk. He also began to write regularly for The Post. His opinion columns vividly portrayed Russia’s real political life, with all its complexity and turmoil, and its contradictions with the official image of a people seamlessly united behind a strong leader.

In a 2018 column about Putin’s suppression of political opponents, for example, Kara-Murza wrote: “A leader with real popular support would not be afraid of real competition at the ballot box.”




Vladimir Kara-Murza, 
recovering in 2017 after
 he was poisoned 
for the second time, 
is visited in the hospital 
by, from left, his wife, 
Evgenia; his lawyer 
and friend Vadim 
Prokhorov; and Aleksandr Podrabinek, an activist 
and Soviet-era dissident. 
(Family photo)

An impressive array of U.S. legislators has called for Kara-Murza’s release, as have politicians and human rights organizations around the world. “As I said at the time of Vladimir Kara-Murza’s arrest, the Kremlin’s charges against him are a cynical attempt to silence him,” U.S. Secretary of State Antony Blinken said this month. “Vladimir should be released, as should all of those who have been detained for doing nothing more than speaking the truth.” Fred Ryan, publisher of The Post, said: “The Biden administration and Congress must use all the levers at their disposal — including tougher sanctions on those closest to Putin — to secure Kara-Murza’s freedom immediately.”

Putin, however, shows little sign of relenting. On June 8, a Moscow court extended Kara-Murza’s pretrial detention by two months. His lawyer, Vadim Prokhorov, recently announced that investigators in Moscow opened another criminal case against Kara-Murza this month based on his alleged membership “in an undesirable organization."

All this has tragically vindicated Kara-Murza’s two decades of warnings about Putin. Meanwhile, the Magnitsky Act-style sanctions he has long advocated are serving as the model for a host of international measures punishing Russia for its invasion of Ukraine. An unprecedented wave of internal repression has put more than 16,000 Russians behind bars. And it has put Kara-Murza on a collision course with a ruthless dictator who acts as though he has little left to lose.

Yet Kara-Murza remains upbeat. In a recent letter from prison, he characteristically noted others who have dared to speak out against tyranny. “Each of the thousands of Russian antiwar protesters is standing up not only for the people of Ukraine and for the international rule of law but also for the future of our own country,” he wrote. “Each one is giving another reason to hope that a renewed, reformed post-Putin Russia can one day take its place in the community of democratic nations — and in a Europe that would finally become whole, free and at peace.”

Such optimism might sound misplaced at a moment when Russia is once again reverting to despotism. Knowing Vladimir Kara-Murza, though, I know how he would respond to my skepticism: The night, he would say, is always darkest before the dawn.